A ressurreição de Jesus e nós – Jo 20. 1-16
Introdução
1)
A
ressurreição e Mateus
Os autores dos evangelhos – Mateus, Marcos, Lucas e João –
descrevem a ressurreição de Jesus por ângulos diferentes, mas há um elemento
que não falta em nenhuma dessas histórias: a sensação do fascínio,
perplexidade, surpresa. Ninguém esperava a ressurreição de Jesus, embora ele
fizera previsões explicitas “e começou a ensinar-lhes que importava que o Filho
do homem padecesse muito, e que fosse rejeitado pelos anciãos e príncipes dos
sacerdotes, e pelos escribas, e que fosse morto, mas que depois de três dias
ressuscitaria” (Mc 8.31).
Mateus apresenta-nos Maria Madalena e uma que ele chama de “a
outra Maria”. No domingo logo cedo, elas vão fazer uma visita ao tumulo onde,
na sexta-feira de tarde, tinham visto José de Arimatéia colocar o corpo crucificado
de Jesus. Quando chegam ao tumulo, de repente “um forte terremoto; na
sequencia, veem o brilho de um relâmpago, que na verdade era um anjo”.
Essa mistura de terremoto com relâmpago faz os soldados
romanos, que tomavam conta do tumulo, abandonarem o plantão “...tomados de
grande pavor e ficaram paralisados de medo, como mortos” (Mt 28.4). Mas as duas
Marias estão ali de pé e ouvem o anjo, que lhes fala duas coisas: “Não temais”
e “Ele ressuscitou” (vs. 5 e 6). Em seguida, o anjo lhes dá um recado que devem
levar aos discípulos “ide caminhando depressa e anunciai aos seus discípulos que
ele ressuscitou dentre os mortos...estará com eles na Galiléia”.
Mas são obrigadas a parar ao ouvir alguém que as cumprimenta: “Alegrai-vos” (Mt 28.9). E, notando um tom de cordialidade no cumprimento, caem de joelhos diante de Jesus ressurreto. A primeira atitude diante do Cristo ressurreto foi cair de joelho em atitude de temor e reverencia. Mas também houve certa dose de intimidade naquela reação, pois elas se atreveram a abraçar-lhe os pés e “o adoravam” (v.9).
2)
A ressurreição em João
O apostolo João, faz algo diferente dos outros evangelistas
(Jo 20.1-19). Ele começa com Maria Madalena
que chega ao tumulo no domingo pela manhã e não entende nada do que vê.
Ela descobre que o tumulo está vazio e logo tira a conclusão mais obvia numa situação daquela – roubo. “Tiraram
do tumulo o corpo do Senhor, e não sabemos onde o colocaram” (Jo 20.2).
Então Maria sai contando tudo a Pedro e ao “outro discípulo”, João. Na mesma hora, os dois saem em disparada para o tumulo. Assim, o “outro discípulo” “correu mais do que Pedro e chegou primeiro ao sepulcro. E inclinando-se, viu as faixas de linho ali, mas não entrou” (v.5). A palavra “viu” aparece três vezes nesse relato, e a cada vez, é usada uma palavra diferente do texto grego original.
O primeiro “viu” aparece no versículo 5: “Ele viu as faixas
de linho ali”. No original, a palavra grega é Blepo, que indica uma olhada
casual. João veio à tumba, olhou e viu. Mas ele estava dando uma olhada casual “abaixou-se,
olhou para dentro e viu ali as faixas de linho, mas não entrou” (v.5).
O próximo aparece no versículo seis: “Simão Pedro... entrou no sepulcro e viu as faixas de linho”. Pedro, com seu jeito inimitável, correu direito para dentro da tumba e contemplou o que havia lá. O termo aqui vem da palavra theoreo, que sugere pensamento profundo, ou uma observação cuidadosa. Pedro olhou para aqueles panos observando-os cuidadosamente, teorizando sobre o que teria acontecido, para tentar chegar à conclusão.
Agora chegamos ao terceiro “viu” citado no versículo oito. Depois o
outro discípulo, João, que chegara primeiro ao sepulcro, também entrou. Ele viu
e creu. O verbo traduzido por “viu” vem de uma palavra grega inteiramente diferente
das outras duas, oida, que significa ter uma percepção mental, compreender,
perceber na mente o que havia acontecido. “Pois até então não haviam
compreendido as escrituras segundo as quais era necessário que Jesus
ressuscitasse dos mortos” (v.9).
No entanto, “Maria continuava do lado de fora do sepulcro, chorando”
(v.11). Então, abaixando-se para olhar dentro do tumulo, ela vê dois anjos. “Então
os anjos perguntaram: Mulher, por que choras?” Ela lhes explica a razão e em
seguida se vira ainda dentro de seu campo de visão periférica, repara na figura
de um homem, não o reconhece e supõe ser o jardineiro.
ENTÃO ELE PRONUNCIA SEU NOME: “MARIA” (V.16). Ela enxerga Jesus e responde: “Raboni” – mestre. O termo raboni denota a mistura de uma profunda reverencia pela pessoa (Rabino) com uma intimidade afetiva, como “meu mestre querido”.
Conclusão:
O medo é a reação mais mencionada no contexto da ressureição, seis vezes
nos quatro relatos. A palavra medo inclui todas as emoções que surgem quando se
fica apavorado, desorientação, incapacidade de saber o que vai acontecer em
seguida e a constatação de que existe algo mais que não pensávamos existir. Mas
esse “algo mais” é Deus.
O temor do Senhor deixa-nos em estado de alerta, de olhos bem abertos. O
temor do Senhor nos impede de pensar que sabemos todas as coisas. E, portanto
impede que fechemos nossa mente e nossa capacidade de perceber o que é novo.
O temor do Senhor impede que nos comportemos com arrogância, destruindo
ou violando algum aspecto do que é belo,
verdadeiro ou bom e que nos passa despercebido ou fica acima da nossa
capacidade de compreensão.
O Temor do Senhor é medo, sem o elemento do pavor. Por isso, ele muitas vezes vem acompanhado por uma palavra tranquilizadora: “Não Temas”. Transforma o medo em temor do Senhor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário