A coragem de Maria – Lc 1.26-45
Introdução
Estamos diante de um dos personagens mais complexos da
história, Maria. Não, pelo que lemos nas escrituras, mas pela personagem construída
ao longo da história pela igreja católica. Mas, quando olhamos para o texto da
anunciação, muito de Maria se assemelha a nós, ou não. Porque ela ainda não
conhecia a pessoa terrena de Jesus, e recebe uma mensagem a respeito dEle.
Basicamente é a mensagem do evangelho, descrevendo quem é Jesus e o que ele
fará.
1)
Anunciação
O que aprendemos com o anjo sobre quem é Jesus? A mensagem o
chama de Filho do Altissimo. No Antigo Testamento, chamava-se de filho a alguém
que se assemelhasse muito com outra pessoa ou que cresse nela com fervor. “Ele
é o resplendor da glória de Deus e a expressão exata do seu ser” (Hb 1.3). Em
João 8, Jesus chama os lideres religiosos de filhos do diabo porque mentiam
como ele “...quando mente fala a sua própria língua, pois é mentiroso e o pai
da mentira” (Jo 8.44).
No entanto, o titulo representa muito mais do que o simples fato de Jesus ser um seguidor de Deus, porque o anjo acrescenta: “Ele reinará eternamente sobre a descendência de Jacó” (v.33). ETERNAMENTE? Em seguida – talvez sabendo que Maria não consegue acreditar nos próprios ouvidos – ele repete a declaração de outro modo: “...seu reino não terá fim”.
Então o anjo diz: “...O PODER DO ALTISSIMO TE COBRIRÁ COM A
SUA SOMBRA; POR ISSO AQUELE QUE NASCERÁ SERÁ SANTO E SERÁ CHAMADO FILHO DE DEUS”(V.35).
Deus poderia ter enviado um anjo poderoso, sob forma de um homem, mas esse não
teria sido humano. Poderia ter escolhido um individuo extremamente talentoso e
piedoso que exemplificasse tudo que Deus queria que os seres humanos fossem,
mas essa pessoa não teria sido divina. Nascido de uma mulher, Jesus era
completamente humano, concebido pelo Espírito Santo, era ao mesmo tempo,
completamente Deus.
“...Darás o nome de Jesus”. Que quer dizer “Deus que salva”. Os fundadores de todas as demais religiões vêm ao mundo na condição de seres humanos, como guias para nos mostrar o caminho da salvação. Nenhum deles – Maomé, Buda, Confúcio, etc – JAMAIS AFIRMOU SER DEUS OU MESMO UM REDENTOR OU SALVADOR. No entanto, a Bíblia sustenta que Jesus é o caminho da salvação, vivendo a vida que você deveria viver e até morrendo a morte que você deveria morrer por seus pecados.
Observe, por exemplo, as palavras de Isabel para Maria. No versículo
45, ela chama Maria de bem-aventurada por crer nas coisas “que lhe foram
faladas da parte do Senhor”. Isso é espantoso. Como pode o filho ainda não
nascido (nem concebido ele fora!) de Maria ser o Senhor que lhe enviara a
mensagem sobre o próprio nascimento?
Portanto, ou você afirma que Jesus Cristo é, como a Biblia
diz, o Deus criador singular que veio em carne – o que torna o cristianismo uma
revelação melhor de Deus do que as outras religiões -, ou você é obrigado a
declarar que ele estava errado ou mentindo, o que faz seguidores uma revelação
pior de Deus. Mas o cristianismo não pode ser uma religião como as demais.
Maria, uma moça pobre, camponesa, além disso enfrentará a
desgraça com a noticia que o anjo lhe deu. No entanto, essa simples camponesa,
uma menina humilhada, gravida e solteira é hoje um dos seres humanos mais
famosos da história humana. O que a torna tão extraordinária? O modo como
reagiu e sua mensagem. Ela faz quatro coisas:
Logo após a aparição do anjo, o texto diz: “Mas, ao ouvir
essas palavras, ela ficou muito perturbada e começou a pensar que saudação seria essa”
(Lc 1.29). A expressão COMEÇOU A PENSAR significa usar a lógica, raciocinar com
intensidade. Quer dizer que Maria tentava descobrir como tudo isso poderia ser
verdade.
A noticia com certeza não se encaixava no que sabia, porque a
mensagem dizia que um ser humano seria divino. A idéia de que o Deus do Monte
Sinai se tornaria humano era impossível para a razão e repugnante para a
sensibilidade moral dos judeus. Como fora difícil aos discípulos aceitarem a
ressurreição de Jesus!
O Deus criador do universo está entrando no útero de uma moça para nascer como ser humano através dela. Assim, a anunciação toma de assalto todas as narrativas e exige um duro trabalho intelectual. Maria não se esquiva, foge disso. Pondera as evidencias, pesa a consistência interna das afirmações e conclui que é verdade.
MARIA EXPRESSOU SUA DÚVIDA
Ela questiona o anjo: “Como acontecerá, já que sou virgem”.
Ou seja, como pode ter um filho se não faz sexo? Isso mostra a disposição para
ser sincera acerca de suas incertezas e questionamentos. Há dois tipos de
duvidas: as desonestas e as honestas.
As desonestas são ao mesmo tempo orgulhosas e covardes;
demonstrando desdém e arrogância. Como: “Que idéia maluca!” e ir embora, ou, “Isso é impossível”, ou uma versão contemporânea
“Que burrice”. No entanto, as duvidas sinceras são humildes, porque levam você a
indagar, não erguer um muro apenas. E, quando você propõe uma pergunta sincera,
fica vulnerável de certa forma. A pergunta de Maria para o anjo na verdade
solicita informações e deixa aberta para a possibilidade de uma boa resposta
que talvez mudasse seus pontos de vista.
CUMPRA-SE EM MIM A TUA PALAVRA
Após ouvir que “para Deus nada é impossível”, ela age. Voce crê em Deus, Maria? Sim. Bem, se há um Deus que criou o mundo, libertou o seu povo e o protegeu durante séculos, por que ele não pode fazer isso? E isso fez sentido para ela. Por isso Maria diz: “... Aqui está a serva do Senhor, cumpra-se em mim a tua palavra...” (Lc 1.38).
As vezes as pessoas comentam: “Gostaria de ser cristão, mas
terei de fazer isso? Serei obrigado a abrir mão daquilo? Terei de orar, deixar
de lado o sexo, desistir do meu emprego, mudar meus pontos de vista/ Na versão
King James, lemos: “Eis aqui a serva do Senhor; que se realize em mim tudo
conforme a tua palavra”.
“Quando se trata de seguir a Jesus, o mais difícil de
entregar é entregar-se a si mesmo. Deus chega para Abraão e ordena: Abraão, sai
da tua terra, da terra dos caldeus, e segue-me. Abraão pergunta: Onde estou
indo. Ao que Deus responde apenas: eu lhe mostrarei mais tarde. Deus quer que
Abraão abra mão do direito de determinar por si próprio a melhor maneira de
viver.
A decisão de Maria era aceitar e acolher essa criança e tudo
o que viesse com ela. O que custou de verdade ter “Deus conosco” em seu meio”
(Mt 1.23)?O que custou estar com ele? A resposta do texto é coragem. E disposição
para fazer a vontade dele a qualquer preço.
Quando Maria chega as montanhas da Judéia para passar algum tempo com Isabel, em sua saudação a criança no ventre de Isabel se agitou de alegria. Logo, Isabel lhe diz: “Bendito és tu entre todas as mulheres, e bendito é o fruto do teu ventre” ()v.42). Maria não parece compreender o que está passando até visitar outra irmã na fé e elas conversam e adoram juntas.
Maria irrompe um cântico magnifico, ele costuma ser chamado
de Magnificat. Ela se põe adorar e exaltar a Deus de todo coração: “...a minha
alma engradece ao Senhor, e o meu espírito exulta em Deus meu Salvador”(vs.
46,47).
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