domingo, 25 de outubro de 2020

 

O artista e a jovem cigana e a conversão zinzerdorf



Há muitos anos, na antiga cidade de Dusseldorf, no noroeste da Alemanha, vivia um artista chamado Stenburg. Ele era católico romano e havia aprendido a doutrina e o cerimonial, mas não sabia nada sobre Jesus como seu Salvador pessoal que pudesse livrá-lo do poder e da culpa do pecado.

Ele havia sido contratado para pintar um grande quadro com a cena da crucificação, e estava fazendo isso não por causa de um amor real por Cristo ou de uma fé n’Ele, mas só por dinheiro e fama.

 Numa bela manhã de primavera, quando passeava por uma floresta perto de Dusseldorf, ele se deparou com uma jovem cigana chamada Pepita, que fazia cestos de palha trançada. Ela era de rara beleza, e Stenburg empenhou-se em convencê-la a ser sua modelo. Ele queria pintar um quadro de uma dançarina espanhola. Depois de alguma negociação, ela concordou em ir ao seu estúdio três vezes por semana.

 No horário combinado, Pepita apareceu. Seus olhos grandes percorreram o estúdio cheios de admiração até que pararam diante do grande quadro da crucificação. Olhando fixamente para ele e apontando para a figura sobre a cruz, ela perguntou num tom estupefato: “Quem é ele?”.

“Cristo”, respondeu Stenburg desatentamente.

“O que estão fazendo com ele?”

“Eles o estão crucificando.”

“Quem são aqueles com cara de maus perto dele?”

“Olha aqui”, disse o artista, “eu não posso falar. E você só tem de ficar parada como eu mandar.” A menina não ousou dizer mais nada, mas continuou fitando o quadro.

Cada vez que ela ia ao estúdio, crescia sua fascinação pelo quadro. Finalmente, ela se aventurou a fazer outra pergunta.

“Por que eles o crucificaram? Ele era mau – muito mau?

“Não, muito bom.”

 Isso foi tudo o que ela aprendeu naquela ocasião, mas acrescentou um pouco ao seu conhecimento a respeito daquela cena maravilhosa.

 Por fim, vendo que a jovem estava ansiosa para saber o significado daquela pintura, Stenburg disse um dia: “Olhe, eu vou lhe contar tudo de uma vez e depois não me faça mais perguntas!”.

Assim, ele lhe contou a história da crucificação – nova para Pepita, mas tão antiga para o artista que já não o tocava mais.

 Ele podia pintar a agonia daquela morte sem o estremecimento de um nervo sequer – mas a menção de tudo aquilo mexeu profundamente com o coração dela. Seus olhos se encheram de lágrimas.

 Chegou o dia da última visita de Pepita ao estúdio. Ela parou diante da grande tela, chateada por ter de deixá-la. “Venha”, disse o artista, “aqui está o seu dinheiro, e mais uma moeda de ouro.”

 “Obrigada, mestre”, ela murmurou. E então, olhando para a tela novamente, comentou: “Você deve amá-lo muito por tudo o que ele fez por você, não é mesmo?”.

Stenburg não pôde responder.

 Pepita voltou para o seu povo, mas o Espírito de Deus fez as palavras da jovem cigana tocarem o coração do artista. Ele não conseguia esquecê-las.

“Tudo o que ele fez por você” permaneceu ecoando nos seus ouvidos. Ele ficou inquieto e triste. Sabia que não amava o Crucificado.

 Algum tempo depois, Stenburg foi movido a seguir uns pobres que se reuniam para ouvir alguém ler a Bíblia. Foi então que, pela primeira vez, ele encontrou pessoas que tinham uma fé viva. Ouvindo a simples mensagem do evangelho, ele entendeu por que Cristo foi pendurado na cruz pelos pecadores. Ele compreendeu que ele era um pecador, e, portanto, Cristo esteve lá por ele, levando sobre Si os seus pecados.

 Ele começou a conhecer o amor de Cristo e logo pôde dizer: “Ele me amou e se entregou por mim”. Imediatamente, ele queria fazer alguma coisa para que outros conhecessem esse amor maravilhoso, mas o que poderia fazer?

 Subitamente lhe veio uma ideia: ele poderia pintar. Seu pincel poderia descrever o amor de Cristo!

 Pedindo a ajuda de Deus, ele retomou sua tela sobre a crucificação e pintou como nunca. Depois de pronta, ela foi colocada entre outras na famosa galeria de arte de Dusseldorf. Abaixo dela, o artista escreveu: “Tudo isso Eu fiz por ti, o que fazes tu por Mim?”.

Só a eternidade poderá dizer quantas pessoas foram levadas a Cristo por meio daquela pintura e daquelas palavras.

 Um dia, Stenburg viu uma menina malvestida chorando amargamente, parada diante da pintura. Era Pepita.

 “Ah, mestre, se pelo menos Ele tivesse me amado dessa maneira”, ela disse chorando. Então o artista pôde dizer que Ele havia morrido por ela, mesmo sendo uma pobre cigana, assim como por ricos e grandes.

Dessa vez, ele não ficou cansado de responder às suas perguntas ansiosas, pois estava tão desejoso de contar-lhe quanto ela estava de ouvi-lo sobre o amor de Cristo.

 À medida que Pepita ouvia, ela recebia, e o velho milagre do novo nascimento espiritual aconteceu. Ela saiu daquela sala uma “nova criatura” no maravilhoso amor de Deus.

 Assim, o Senhor usou as palavras de Pepita para trazer o artista a Ele, depois usou as palavras do artista para revelar-Se a ela.

 Meses depois, Stenburg foi procurado por um estranho de tez escura, que lhe pediu que fosse visitar uma pessoa que estava morrendo. Seguindo o seu guia pelas ruas até a zona rural, e depois pela floresta, eles chegaram a um acampamento. Numa das tendas pobres, ele encontrou Pepita. Ela estava morrendo na miséria, mas estava feliz no precioso amor de Cristo.

Ele a viu morrer, enquanto ela louvava ao seu Salvador por Seu amor, conhecendo Seu amor, sabendo que Ele tinha tirado todos os seus pecados e que ela iria à Sua bendita presença para estar para sempre com Ele.

 Tempos depois, quando o artista também já havia partido para estar com o Senhor, um fidalgo jovem e rico entrou naquela galeria de Dusseldorf. Ao olhar atentamente para a pintura e para as palavras escritas nela, Deus falou naquele momento e naquele lugar ao seu coração. Horas depois, quando o guarda veio avisá-lo que ia fechar a galeria, ele ainda estava de joelhos, chorando diante daquela cena.

 Aquele jovem era o famoso conde Zinzendorf, que, daquele dia em diante, tornou-se um zeloso cristão e, mais tarde, o pai das renomadas missões moravianas, por meio das quais Deus atraiu para Si milhares de homens e mulheres de muitos países.

– Anônimo

[1]


[1] Extraído do livro “O Que Eles Disseram a Um Passo da Eternidade”, de John Myers, publicado pela Editora dos Clássicos em coedição com Publicações Pão Diário. 1ª edição. 2019.

 

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