ABRAÃO: um pai...
"Abraão, esperando contra a esperança, creu,
para vir a ser pai de muitas nações, segundo lhe fora dito: Assim será a tua
descendência. "(Em 4.18.)
Você é pai? Convive com alguém que seja? Caso tenha respondido
"Sim" a uma dessas duas perguntas, conhece de perto os
extraordinários desafios que estão relacionados à paternidade. Ser pai é algo
nobre e compensador, mas é, também, uma responsabilidade muito grande. E, como
afirma o dito popular, "não existe escola para ensinar a ser pai".
Por isso, bons exemplos nessa área se tornam especialmente valiosos.
A palavra "pai" está inseparavelmente ligada à
figura de Abraão. A começar pelo significado do seu nome de nascimento -
"Pai exaltado" - e daquele outro pelo qual o Senhor passou a chamá-lo
- "Pai de multidões" (Gn 17.5). Os israelitas sempre se orgulharam de
intitular-se "filhos de Abraão" (Jo 8.33), e de se referirem a ele como "Pai Abraão" (Lc
16.24). Além disso, o Novo Testamento o chama de "pai de todos os que
crêem" (Rm 4.11). Não há dúvida: Abraão foi o pai que todo filho quer ter
e que todo homem deseja ser.
Quais são as marcas de um pai exaltado?
Um pai exaltado é um homem de fé
A trajetória de Abraão foi marcada por seu relacionamento com
Deus, e esse relacionamento, por sua vez, distinguiu-se pela fé. Ainda em Harã,
"pela fé, Abraão, quando chamado, obedeceu, a fim de ir para um lugar que
devia receber por herança; e partiu sem saber aonde ia" (Hb 11.8).
Atender ao chamado divino, escolhendo andar pela fé, foi para Abraão uma
decisão única e irreversível. Todavia, essa confiança demonstrada inicialmente
precisou amadurecer ao longo dos anos... e das provas.
A Bíblia nos diz que a fé de Abraão lançou raízes desde o
princípio, mas frutificou lentamente. Ele cometeu muitos erros, cada um dos
quais aconteceu justamente quando a sua fé vacilou. Por duas vezes, escondeu
que Sara fosse sua mulher, com medo de ser morto (Gn 12.13; 20.2). Também
aceitou ter um filho com sua serva, Agar, por receio de que a promessa divina
não se cumprisse (Gn 16.3). Abraão teve várias experiências negativas, mas
amadureceu com elas. Assim, quando precisou enfrentar o teste supremo - a ordem
para sacrificar Isaque -sua fé triunfou maravilhosamente (Gn 22.12).
Com Abraão, aprendemos que decidir crer é uma coisa
que fazemos de uma vez por todas, mas aprender a crer é algo que leva
tempo. "Eu não tenho fé", dizemos, muitas vezes, ao nos depararmos
com situações difíceis ou reconhecermos nossas falhas pessoais. Nessas horas,
o exemplo de Abraão nos serve de consolo. Se até o "Pai da fé" teve
os seus momentos de dúvida, então certamente não somos um caso perdido! A história
de Abraão nega, definitivamente, a idéia da "santificação
instantânea"'. O crescimento é sempre um processo gradual. Ele não se assemelha
a uma curva que fazemos de uma só vez, e sim a uma ponte que atravessamos
devagar. Assim cresce, também, a nossa fé.
Ter fé em Deus (a qual se fortalece com o tempo e a experiência)
é algo importante para qualquer pai. Primeiro, porque só com a ajuda de Deus
ele poderá cumprir sua missão. Segundo, porque existem coisas que seus filhos
precisam e que apenas o Senhor pode dar. E, em terceiro lugar, porque sua vida
espiritual se constituirá num modelo para os seus descendentes. Um pai terreno
que ensina os seus filhos a confiar no Pai celestial presenteia-os com um rico
tesouro, que haverá de abençoá-los por toda a vida.
Um pai exaltado é um homem de caráter
Assim como se esforçou por andar corretamente diante do
Senhor, Abraão se portou dignamente perante os homens. Ele foi alguém que, com
suas palavras e ações, conquistou o respeito de seus contemporâneos e das
gerações que o sucederam. Abraão era um homem dedicado ao seu trabalho, fiel
aos seus amigos, sóbrio em suas declarações e honrado nos seus atos. Uma pessoa
honesta, corajosa e leal.
Quando o pai de Abraão, Terá, deixou Ur dos caldeus, ele se
dispôs a acompanhá-lo. Chamado por Deus para peregrinar em Canaã, levou consigo
o órfão Ló. Quando os pastores de ambos começaram a se desentender, generosamente
permitiu que seu sobrinho escolhesse para si a melhor terra. Abraão também guerreou
para libertar Ló e outros cativos de exércitos invasores, recusou-se a receber
despojos do rei de Sodoma e entregou os dízimos de seus bens a Melquisedeque.
Ele recebeu anjos em sua casa e intercedeu pelos pecadores. Estabeleceu um
pacto com Abimeleque e comprou uma propriedade de Efrom. Em cada uma dessas
ações, Abraão procurou ser justo e misericordioso. Assim, tornou-se conhecido
como um homem íntegro.
Um pai exaltado é alguém que zela pelo seu nome. Ele faz isso
honrando os seus compromissos e cumprindo com a sua palavra. Infelizmente,
vivemos numa época em que muitos, embora se dizendo comprometidos com Deus,
não evidenciam compromisso com a ética. Eles mentem, traem, distorcem,
caluniam, encobrem e sonegam. Seu comportamento não é marcado pela santidade.
Sua fala não se caracteriza pela verdade. Assim, por mais que desejem apontar
um bom caminho para seus filhos, vêem suas melhores intenções desfazer-se sob
o impacto de seu mau exemplo. É como disse um jovem ao pai que tentava
corrigi-lo:
"O que você faz grita tão alto que eu não escuto o que
você diz."
As pessoas que mais marcaram a minha vida não foram grandes
pregadores nem operadores de sinais. Foram homens e mulheres simples que, com
seu proceder amoroso, me ensinaram o que é ser um cristão. Ao longo dos anos,
tenho buscado imitá-los, certo de que a prova da presença de Deus na vida de
uma pessoa se manifesta no seu caráter.
Um pai exaltado é um homem de família
Isso é algo tão óbvio que, à primeira vista, nem precisaria
ser mencionado. Entretanto, a verdade é que um grande número de homens não
vive para seus lares. São pais ausentes, que relegam a educação dos filhos às
esposas e gastam todo o seu tempo no trabalho. São pais omissos, que não
acompanham o desempenho escolar das crianças nem se preocupam em conhecer suas
companhias. São pais negligentes, os quais não se empenham em fornecer os
valores morais e espirituais dos quais os pequeninos precisam para se tornar
pessoas de bem.
Paternidade envolve responsabilidade. Não é um aspecto periférico
da vida de um homem: é sua prioridade! Aprendemos isso com o exemplo de Abraão.
Ele foi alguém que viveu para os seus. Esforçou-se por ser um bom provedor, e
também para estar por perto sempre que necessitassem dele. Foi atencioso com
seu pai Terá, e generoso com seu sobrinho Ló. Tratou Sara com respeito, e
Isaque, com ternura. Embora fosse um dos homens mais ricos de sua época,
considerava o lar seu verdadeiro tesouro. Outros personagens bíblicos não foram
tão sábios. Jacó negligenciou a educação dos filhos na sua ânsia de
enriquecer, e Davi deixou de dar à sua família a atenção que ela merecia.
Abraão, contudo, priorizou a sua casa. Por isso, até hoje seu nome está
associado à palavra "pai".
Stephen Kanitz, colunista da revista Veja,
relatou num de seus artigos certa experiência que marcou sua vida. Ele disse
que, no começo da carreira, teve um almoço de negócios com um grande
empresário. Tratava-se de alguém muito famoso, por quem nutria especial
admiração. Para sua surpresa, no meio da refeição o homem começou a chorar. Mal
podendo controlar os soluços, ele lhe disse:
"Amanhã é o casamento da minha filha, e eu
simplesmente não a vi crescer."
Kanitz havia imaginado sair daquele encontro com
algumas dicas profissionais, mas ao invés disso o que extraiu foi uma lição de
vida. Decidiu que jamais colocaria sua profissão acima da família. Na sua
opinião, essa foi a melhor escolha que fez. Afinal, nenhum sucesso no mundo
compensa o fracasso no lar. Talvez seja a hora de rever suas prioridades.
Filhos carecem de coisas que o dinheiro não pode comprar. Querem ver seus pais
cuidando bem de suas mães. Desejam ouvir declarações de amor. Esperam receber
manifestações de carinho. Precisam de conselhos, limites e disciplina.
Necessitam de presença, afagos e elogios. Pais que se dedicam às suas famílias
terão muito do que se alegrar mais tarde. Verão que tomaram a melhor de todas
as decisões. Suas vidas serão um sucesso, e jamais um fracasso.
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