Perseverando até a volta de Jesus. Tg 5.7-12
Introdução
O apostolo Tiago inicia o verso 7 no tom paterno, falando como pastor que exorta e não como um profeta que traz sentenças de condenação. “Portanto, irmãos...”. Ele se dirige as igrejas existentes na Asia Menor como uma forma coloquial e afetuosa, é um pastor falando as ovelhas. Tiago faz questão de chamar seus destinatários de “irmãos”; assim ele começou a carta (1.2); assim começou o capítulo 2 e também o capitulo 3. Cada vez que assim procedeu, estava iniciando a discussão de um novo assunto.
O que Tiago está querendo
dizer aos “irmãos”? A perseverança no sofrimento? Bençãos e exemplos de
perseverança? A vinda do Senhor? Logo, a temática é: paciência, perseverança,
sofrimento, vinda de Jesus e julgamento. Os assuntos nos fazem lembrar o ensino
de Jesus sobre o seu retorno. A volta de Jesus será antecedida de sofrimentos,
perseguições aos cristãos.
1)
Ordens
de Jesus
Diante da iminente volta de Jesus que trará julgamento - “até
a vinda do Senhor” -, os ímpios devem temer a vinda de Cristo, será um dia
de julgamento. Enquanto os cristãos devem aguardá-la com paciência e perseverar
em meio ao sofrimento. Os ímpios quando enfrentam perseguições, injustiças,
ficam aturdidos, sem ter a quem recorrer. Enquanto os cristãos têm a capacidade
sobrenatural – dada pelo Espírito Santo – de perseverar em meio às dificuldades
da vida, sejam elas moderadas ou difíceis. A paciência é de grande valor!
A primeira ordem é: “Seja paciente”. O termo grego é Makrothymésate, é uma palavra que designa a virtude da paciência, a longanimidade. Makrós “grande, longo”, e thymia, “disposição”, ou seja, grande disposição. Expressa uma disposição inabalável, um espirito constante que nunca se abate. O exemplo que Tiago nos dá é o do lavrador. Ele aguarda o fruto do seu trabalho com makrotymia. Já fez o que dele se esperava ao plantar a semente. Resta-lhe aguardar. Eis uma lição que não podemos desprezar.
“O lavrador espera o precioso fruto da terra”. Em Israel a estação seca ia de junho a setembro, deixando a terra bem ressecada. A estação chuvosa, porém, irrigava a terra em dois períodos de seis semanas, em outubro e novembro (as primeiras chuvas) e de novo em abril e maio (as últimas chuvas). As primeiras chuvas permitem que as sementes germinem; as últimas chuvas permitem que as plantas se fixem bem no solo e cresçam. Portanto, durante esses cinco meses de intervalo entre as primeiras chuvas e as últimas chuvas, os agricultores aguardavam ansiosamente até que Deus enviasse as chuvas que produziriam uma safra abundante.
A lição que tiramos é esperar com paciência, com grande disposição, porque Deus cumprirá todo seu proposito em sua dimensão diária sobre nossas vidas, assim como também em seu plano supremo em uma dimensão cósmica. Portanto, ser paciente em circunstâncias negativas significa deixar Deus cuidar da situação a seu modo e a seu tempo.
A segunda ordem é: fortalecei o coração. A palavra fortalecer significa estabelecer, apoiar ou firmar bem alguma coisa para que ela não saia do lugar. No meio das dificuldades e durezas da vida, nosso coração pode ficar pesado, mas o Espírito de Deus pode aliviar a carga de um coração envergado sob o peso das pressões. Em Salmos 55.22 lemos: “Entrega tuas ansiedades ao Senhor, e Ele te dará sustentação; nunca permitirá que o justo seja abalado”. O apostolo Pedro nos diz que devemos “nos humilhar sob a poderosa mão de Deus, lançando sobre Ele nossas ansiedades” (1 Pe 5.6-7).
“Fortalecei o coração, porque a vinda do Senhor está próxima”. Vinda é parousia, é a volta de Jesus. Para Tiago o motivo de fortalecer o coração é que o Senhor virá em glória e com poder. Logo no verso 9 ele diz “que o Juiz está às portas”. Portanto, Jesus está voltando para arrebatar a sua igreja. O escritor da epistola aos hebreus escreve: “Porque ainda um poucochinho de tempo, e o que há de vir virá e não tardará” (Hb 10.37). O evangelho de Mateus descreve a vinda de Jesus: “Pois, da mesma maneira como o relâmpago parte do oriente e brilha no ocidente, assim também se dará a vinda do Filho do homem” (Mt 24.27).
Devemos acautelar quanto a precipitação de marcamos datas
para a volta de Cristo. Muitos marcaram a vinda de Cristo, mas todos erraram.
Hipólito marcou a volta de Cristo para o ano 500. William Miller afirmou que
seria em 1843, depois corrigiram para 1844 e tudo que surgiu foi a igreja
adventista do sétimo dia. As testemunhas de Jeová marcaram para 1914, depois
corrigiram para 1975, no entanto, não aconteceu a vinda de Cristo. Lembremo-nos
de Mateus 24.36: “Daquele dia e hora, porém, ninguém sabe, nem os anjos dos
céus, nem o Filho, senão só o Pai”. Portanto, Tiago nos exorta a fortalecer
nosso coração, nossa fé está em Cristo ressuscitado que há de voltar e
estabelecer o ponto final da história.
“Não vos queixeis”. A segunda resposta à pergunta sobre a reação de um cristão diante do sofrimento diz respeito às nossas ações para com os outros. Quando as circunstâncias colocam nossa paciência à prova e nos sentimos desanimados e angustiados pelas pressões que vem de fora, nossa tendencia imediata é reclamar, murmurar, queixar. Tiago está falando de algo não guardado, como uma raiz de amargura, mas de algo que é expressado quando nos queixamos, quando desabafamos.
É quando nos voltamos uns contra os outros, quando nos queixamos
contra as autoridades, ou quando nos queixamos infindavelmente contra tudo e
todos. Em Tiago 4.11-12, fala de cristãos falando mal uns dos outros e julgando
e ele pergunta: “...quem és, para julgar o teu semelhante?” (Tg 4.12). Novamente,
no texto em apreço, ele diz: “...não vos queixes uns dos outros, para que
não sejais também assim julgados” (Tg 5.9 BKJ).
No verso 10, o autor nos recomenda a termos como exemplo “os
profetas, que pregaram em Nome do Senhor, diante do sofrimento”. Pessoas
como Isaias, Jeremias, Ezequiel, Amós, Oséias – todos são exemplos de homens
que enfrentaram o sofrimento. Por fim, se concentra-se naquele que talvez seja
o maior exemplo de sofrimento e perseverança, que passou por uma dor excruciante,
perdendo animais e filhos e dignidade, Jó.
Jó chorou, angustiou, discutiu com seus amigos e apregoou a sua dor. Mas, no meio da dor que o esmagava, apegou-se a Deus. Questionado pela esposa, que o aconselhava a blasfemar e suicidar-se, repreendeu-a, chamando-a de louca. O texto termina com estas palavras: “Em tudo isso não pecou Jó com seus lábios” (Jó 2.10). Mas, Jó perseverou, aguentou, resistiu e Deus lhe recompensou. Vale a pena perseverar, vale a pena resistir, pois “O Senhor é cheio de misericórdia e compaixão” (Sl 103.8).
“Não jureis”. A palavra “jurar” significa “fazer juramento”,
comprometer-se com alguma coisa por meio de nossas palavras. É apelar para Deus
e apresentá-lo para validar nossos compromissos. Por exemplo: “juro por Deus
que não estou mentindo!”, ou “digo na presença de Deus que farei isso e aquilo”,
ou “Deus é a minha testemunha de que isso jamais vai acontecer”. Jesus, no
sermão do monte, exortou os cristãos:
“De maneira nenhuma jureis; nem pelo céu, porque é o trono de Deus; nem pela terra, porque é o estrado de seus pés; nem por Jerusalém, porque é a cidade do grande Rei; nem jures pela tua cabeça, porque não pode tornar branco nem preto um só fio de cabelo. Seja, porém, o vosso falar, sim, sim; não, não; pois o que passa disso vem do maligno” (Mt 5.34-37).
Seja sucinto: responda de maneira direita e autentica. Seja prudente,
evite longos discursos, longas explicações, desculpas detalhadas e as espiritualizações.
Conclusão
Tiago começa com uma voz calma, chamando-nos de “irmãos”, é um pastor nos aconselhando. E nos dá algumas ordens necessárias para nossa vida cristã. Seja paciente, tenha grande disposição para aguentar as injustiças da vida. Depois, fortaleça seu coração, cria raízes em Deus para o seu coração, porque a vinda do Senhor está próxima. Em seguida, dá a terceira ordem: “Não vos queixeis”, não murmures, não fica como Salomão, que murmurava de tudo e de todos. Por fim, não jureis, não use o nome do Senhor teu Deus em vão!