terça-feira, 2 de setembro de 2025

 Perseverando até a volta de Jesus. Tg 5.7-12 

Introdução

O apostolo Tiago inicia o verso 7 no tom paterno, falando como pastor que exorta e não como um profeta que traz sentenças de condenação. “Portanto, irmãos...”. Ele se dirige as igrejas existentes na Asia Menor como uma forma coloquial e afetuosa, é um pastor falando as ovelhas. Tiago faz questão de chamar seus destinatários de “irmãos”; assim ele começou a carta (1.2); assim começou o capítulo 2 e também o capitulo 3. Cada vez que assim procedeu, estava iniciando a discussão de um novo assunto. 

 O que Tiago está querendo dizer aos “irmãos”? A perseverança no sofrimento? Bençãos e exemplos de perseverança? A vinda do Senhor? Logo, a temática é: paciência, perseverança, sofrimento, vinda de Jesus e julgamento. Os assuntos nos fazem lembrar o ensino de Jesus sobre o seu retorno. A volta de Jesus será antecedida de sofrimentos, perseguições aos cristãos.

1)     Ordens de Jesus

Diante da iminente volta de Jesus que trará julgamento - “até a vinda do Senhor” -, os ímpios devem temer a vinda de Cristo, será um dia de julgamento. Enquanto os cristãos devem aguardá-la com paciência e perseverar em meio ao sofrimento. Os ímpios quando enfrentam perseguições, injustiças, ficam aturdidos, sem ter a quem recorrer. Enquanto os cristãos têm a capacidade sobrenatural – dada pelo Espírito Santo – de perseverar em meio às dificuldades da vida, sejam elas moderadas ou difíceis. A paciência é de grande valor!

A primeira ordem é: “Seja paciente”. O termo grego é Makrothymésate, é uma palavra que designa a virtude da paciência, a longanimidade. Makrós “grande, longo”, e thymia, “disposição”, ou seja, grande disposição. Expressa uma disposição inabalável, um espirito constante que nunca se abate. O exemplo que Tiago nos dá é o do lavrador. Ele aguarda o fruto do seu trabalho  com makrotymia. Já fez o que dele se esperava ao plantar a semente. Resta-lhe aguardar. Eis uma lição que não podemos desprezar. 

O lavrador espera o precioso fruto da terra”. Em Israel a estação seca ia de junho a setembro, deixando a terra bem ressecada. A estação chuvosa, porém, irrigava a terra em dois períodos de seis semanas, em outubro e novembro (as primeiras chuvas) e de novo em abril e maio (as últimas chuvas). As primeiras chuvas permitem que as sementes germinem; as últimas chuvas permitem que as plantas se fixem bem no solo e cresçam. Portanto, durante esses cinco meses de intervalo entre as primeiras chuvas e as últimas chuvas, os agricultores aguardavam ansiosamente até que Deus enviasse as chuvas que produziriam uma safra abundante. 

A lição que tiramos é esperar com paciência, com grande disposição, porque Deus cumprirá todo seu proposito em sua dimensão diária sobre nossas vidas, assim como também em seu plano supremo em uma dimensão cósmica. Portanto, ser paciente em circunstâncias negativas significa deixar Deus cuidar da situação a seu modo e a seu tempo. 

A segunda ordem é: fortalecei o coração. A palavra fortalecer significa estabelecer, apoiar ou firmar bem alguma coisa para que ela não saia do lugar. No meio das dificuldades e durezas da vida, nosso coração pode ficar pesado, mas o Espírito de Deus pode aliviar a carga de um coração envergado sob o peso das pressões. Em Salmos 55.22  lemos: “Entrega tuas ansiedades ao Senhor, e Ele te dará sustentação; nunca permitirá que o justo seja abalado”. O apostolo Pedro nos diz que devemos “nos humilhar sob a poderosa mão de Deus, lançando sobre Ele nossas ansiedades” (1 Pe 5.6-7). 

Fortalecei o coração, porque a vinda do Senhor está próxima”. Vinda é parousia, é a volta de Jesus. Para Tiago o motivo de fortalecer o coração é que o Senhor virá em glória e com poder. Logo no verso 9 ele diz “que o Juiz está às portas”. Portanto, Jesus está voltando para arrebatar a sua igreja. O escritor da epistola aos hebreus escreve: “Porque ainda um poucochinho de tempo, e o que há de vir virá e não tardará” (Hb 10.37). O evangelho de Mateus descreve a vinda de Jesus: “Pois, da mesma maneira como o relâmpago parte do oriente e brilha no ocidente, assim também se dará a vinda do Filho do homem” (Mt 24.27). 

Devemos acautelar quanto a precipitação de marcamos datas para a volta de Cristo. Muitos marcaram a vinda de Cristo, mas todos erraram. Hipólito marcou a volta de Cristo para o ano 500. William Miller afirmou que seria em 1843, depois corrigiram para 1844 e tudo que surgiu foi a igreja adventista do sétimo dia. As testemunhas de Jeová marcaram para 1914, depois corrigiram para 1975, no entanto, não aconteceu a vinda de Cristo. Lembremo-nos de Mateus 24.36: “Daquele dia e hora, porém, ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, senão só o Pai”. Portanto, Tiago nos exorta a fortalecer nosso coração, nossa fé está em Cristo ressuscitado que há de voltar e estabelecer o ponto final da história.

Não vos queixeis”. A segunda resposta à pergunta sobre a reação de um cristão diante do sofrimento diz respeito às nossas ações para com os outros. Quando as circunstâncias colocam nossa paciência à prova e nos sentimos desanimados e angustiados pelas pressões que vem de fora, nossa tendencia imediata é reclamar, murmurar, queixar. Tiago está falando de algo não guardado, como uma raiz de amargura, mas de algo que é expressado quando nos queixamos, quando desabafamos. 

É quando nos voltamos uns contra os outros, quando nos queixamos contra as autoridades, ou quando nos queixamos infindavelmente contra tudo e todos. Em Tiago 4.11-12, fala de cristãos falando mal uns dos outros e julgando e ele pergunta: “...quem és, para julgar o teu semelhante?” (Tg 4.12). Novamente, no texto em apreço, ele diz: “...não vos queixes uns dos outros, para que não sejais também assim julgados” (Tg 5.9 BKJ).

No verso 10, o autor nos recomenda a termos como exemplo “os profetas, que pregaram em Nome do Senhor, diante do sofrimento”. Pessoas como Isaias, Jeremias, Ezequiel, Amós, Oséias – todos são exemplos de homens que enfrentaram o sofrimento. Por fim, se concentra-se naquele que talvez seja o maior exemplo de sofrimento e perseverança, que passou por uma dor excruciante, perdendo animais e filhos e dignidade, Jó.

Jó chorou, angustiou, discutiu com seus amigos e apregoou a sua dor. Mas, no meio da dor que o esmagava, apegou-se a Deus. Questionado pela esposa, que o aconselhava a blasfemar e suicidar-se, repreendeu-a, chamando-a de louca. O texto termina com estas palavras: “Em tudo isso não pecou Jó com seus lábios” (Jó 2.10). Mas, Jó perseverou, aguentou, resistiu e Deus lhe recompensou. Vale a pena perseverar, vale a pena resistir, pois “O Senhor é cheio de misericórdia e compaixão” (Sl 103.8). 

“Não jureis”. A palavra “jurar” significa “fazer juramento”, comprometer-se com alguma coisa por meio de nossas palavras. É apelar para Deus e apresentá-lo para validar nossos compromissos. Por exemplo: “juro por Deus que não estou mentindo!”, ou “digo na presença de Deus que farei isso e aquilo”, ou “Deus é a minha testemunha de que isso jamais vai acontecer”. Jesus, no sermão do monte, exortou os cristãos:

De maneira nenhuma jureis; nem pelo céu, porque é o trono de Deus; nem pela terra, porque é o estrado de seus pés; nem por Jerusalém, porque é a cidade do grande Rei; nem jures pela tua cabeça, porque não pode tornar branco nem preto um só fio de cabelo. Seja, porém, o vosso falar, sim, sim; não, não; pois o que passa disso vem do maligno” (Mt 5.34-37). 

Seja sucinto: responda de maneira direita e autentica. Seja prudente, evite longos discursos, longas explicações, desculpas detalhadas e as espiritualizações.

Conclusão

Tiago começa com uma voz calma, chamando-nos de “irmãos”, é um pastor nos aconselhando. E nos dá algumas ordens necessárias para nossa vida cristã. Seja paciente, tenha grande disposição para aguentar as injustiças da vida. Depois, fortaleça seu coração, cria raízes em Deus para o seu coração, porque a vinda do Senhor está próxima. Em seguida, dá a terceira ordem: “Não vos queixeis”, não murmures, não fica como Salomão, que murmurava de tudo e de todos. Por fim, não jureis, não use o nome do Senhor teu Deus em vão! 


 

terça-feira, 26 de agosto de 2025

 Aonde você pensa que vai? Tg 4.13-17 

Introdução

Nós, humanos, temos a tendencia de pensar que podemos determinar nossa vida. Que podemos achar que tudo está diante de nós, e temos que somente decidir. O marido diz a sua esposa: “Vamos viajar?”, logo a esposa responde: “Vamos, maravilha”! Ou, um jovem chega diante de sua mãe e lhe diz: “Vou mudar de cidade”, logo a sua mãe assustada lhe diz: “Mas não me contou nada!”, ele responde “é longe daqui mas vou ganhar muito melhor”. Pelas duas conversas, tudo é decidido na base da horizontalidade. Mas, em momento algum, Deus é consultado, é solicitado; em momento algum existe uma oração ou, até mesmo, pedir um conselho para embasar essas decisões.

1)     Vamos mudar de cidade?

O apostolo Tiago inicia o verso 13: “Agora escutem, vocês que dizem: hoje e amanhã iremos a tal cidade e ali ficaremos um ano fazendo negócios e ganhando muito dinheiro” (NTLH). Não há nada de errado em fazer um planejamento, em programar, em organizar, mudar de cidade, tampouco não há nada de errado ganhar mais dinheiro. Mas assumimos o papel de Deus: definimos a nossa agenda, hoje e amanhã; escolhemos nosso caminho, iremos a tal cidade; determinamos o prazo, lá passaremos um ano; organizamos nossas atividades, negociaremos; planejamos os resultados, teremos lucro. 

No entanto, o apostolo Tiago adverte que é uma decisão horizontal, em momento algum, a pessoa vai orar, ou vai se aconselhar sobre essa possiblidade. Quando o apostolo Paulo estava em sua segunda viagem missionária viajando pela região “...da Frígia e da Galácia...” (Atos 16.6), queriam subir em direção a Bitínia mas “foram impedidos pelo Espírito Santo de pregar a palavra na província da Ásia”. Ou seja, o apostolo Paulo apresentou diante do Senhor essa possibilidade, mas o Senhor lhe impediu de ir e, em seguida, em Trôade, tem uma visão de alguém com roupa europeia dizendo: “Passa a macedônia e ajuda-nos”. 

Por que precisamos pedir orientação a Deus? Pois na condição de meros mortais não temos a menor ideia do que o futuro nos reserva. Tiago diz: “...não sabeis o que acontecerá no dia de amanhã” (Tg 4.14). Todos estamos separados da morte por um simples batimento cardíaco. Um evento inesperado pode invadir nossa realidade e pôs fim a todos os nossos planos. Podemos viver mais de 90 anos – ou morrer hoje a noite. Ninguém sabe exatamente. Somente Deus sabe.

Nesse sábado vimos a reportagem de um médico de 65 anos de idade querendo escalar o pico do Marins, na Serra da Mantiqueira, em São Paulo. Ele estava todo extasiado para subir a Serra e disse: “É para lá que eu vou, porque Deus está comigo, Ele é a minha força e a minha fortaleza”. Mas no caminho para o pico de Marins, sofreu um mal súbito e morreu! 

Por que precisamos pedir orientação a Deus? Porque assumir o papel de Deus em nossa própria vida é arriscado, pois não temos garantias de que nossa vida será longa. O apostolo Tiago pergunta: “O que é a vossa vida? Sois como uma névoa que aparece por pouco tempo e logo se dissipa” (Tg 4.14 A21). Ou: “...é um vapor que aparece por pouco tempo, e depois se desvanece” (ARC). O Salmista expressa a finitude humana: “...deste aos meus dias o comprimento de alguns palmos; à tua presença, o prazo da minha vida é nada...” (Sl 39.4). O Salmista, já na meia idade expressa: “Os meus dias são como a sombra que declina, e eu, como a erva, me vou secando” (Sl 102.11).

“Vapor” ou “erva”. A dona de casa destampa uma panela, sobe o vapor que dentro dela se formou e logo se acaba. Pensa na neblina da manhã, logo desaparece. Que lição! Muitos de nós vivemos como se nunca fossemos morrer! Nunca nos lembramos que aos olhos de Deus somos como um vapor...O sábio Salomão em seu livro Eclesiastes afirma que a vida é um “vapor”, no hebraico é hevel. Sim, a vida é fugaz, e vida é passageira, a vida escapa de nossas mãos... 

2)     Mas “se o Senhor quiser”

Então Tiago corrige essa forma pretensiosa ensinando: “Em vez disso, deveriam dizer: Se o Senhor quiser, viveremos e faremos isto e aquilo” (Tg 4.15). Ou “Se Deus quiser, nós estaremos vivos e faremos isto e aquilo” (VFL). Os árabes têm a expressão “inshaallah” (se Deus quiser), em suas conversas. Logo, inshaallah veio produzir “oxalá”, isto é, se Deus quiser, assim Deus queira. Tanto a expressão inshaallah como oxalá revela o seguinte princípio: Deus deve estar em primeiro lugar na vida do cristão, em tudo. A oração do Pai nosso evoca esse princípio: “Seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu” (Mt 6.10). 

Em seguida, o apostolo Tiago faz uma ressalva: “Caso contrário, estarão se orgulhando de seus planos pretensiosos ...”. ou “Mas agora vos jactais das vossas presunções”. Jactar é se vangloriar-se, exibir-se ou demonstrar orgulho excessivo sobre algo. A Bíblia na Linguagem de Hoje: “Porém vocês são orgulhosos e vivem se gabando”. É o orgulho humano que nos leva a presumir que somos suficientes, que nos bastamos, e por isso podemos prescindir de Deus.

Em Deuteronômio 8 há uma candente exortação de Moisés para que o povo não se esqueça os benefícios feitos pelo Senhor. O povo não deveria dizer: “A minha força, e a fortaleza da minha mão me adquiriram estas riquezas”, mas sim se lembrar do Senhor, “porque ele é o que te dá forças para adquirires riqueza” (vs 17,18). Orgulhar-se do progresso pessoal sem reconhecer que vem de Deus e o poder e a capacidade para tal, é atitude maligna. Como diz Tiago: “Toda jactância tal como esta é maligna”. 

O termo “maligna” aqui é ponerá, de ponerós. É o mesmo termo encontrado no Pai Nosso: “mas livra-nos do mal” (Mt 6.13). Portanto, ponerós, pode significar a personificação do mal, o maligno, mas também pode se referir a personificação do mal que está em nós. O mesmo orgulho que derrubou o diabo do céu “...subireis aos céus e colocarei o meu trono acima das estrelas de Deus...” (Is 14.13), é o mesmo orgulho que espreita o nosso coração com a autossuficiência “...amanhã iremos a tal cidade e ali ficaremos um ano fazendo negócios”.

O apostolo é mais incisivo no v.17: “Portanto, comete pecado a pessoa que sabe fazer o bem e não faz”. A pior coisa na vida do crente é a omissão! Nos dez mandamentos existem há referência para Deus e o próximo. Mas o homem autossuficiente estabelece o décimo primeiro mandamento: “Tu te amarás a ti mesmo sobre todas as coisas”. A essência do pecado é o egoísmo, logo, nessa sua pretensão, ele rejeita tanto Deus como o seu próximo. A única preocupação dele é consigo, com a sua vida, com seu trabalho, seu lazer, com seus afazeres, mas comete pecado quando sabe que deve fazer o bem e não faz!

Conclusão

Logo, o apostolo Tiago, termina com duas coisas que devemos fazer. Primeiro, devemos fazer o bem. Ou seja, devemos ficar próximos de Deus, próximos de sua Palavra e nos moldar em sua sabedoria. Devemos amar a Deus “...de todo o coração, de toda a tua alma e de todas as suas forças e de todo o teu entendimento” (Lc 10.27). Segundo, vivemos em pecado, se continuarmos a viver como se Deus não tivesse interessado em nossa vida, em nossas decisões. Temos que conhecer o caminho certo e nos submeter humildemente a ele. 


 

domingo, 24 de agosto de 2025

 O perdão que restaura Sl 32 

Introdução

O Salmo 32 em seu título diz que é de autoria de Davi. Esse salmo é uma oração, é uma confissão de pecados, um pouco mais: é um grito de socorro por causa do seu pecado. Davi cometeu adultério com Bate-Seba, logo, pecou, transgrediu. Mas, como diz o Salmo 42: “Um abismo chama outro abismo” (v.7). Em seguida, para encobrir seu pecado, mandou matar o marido de Bate-Seba. Davi cometeu três pecados: adultério, homicídio e dissimulação.

Davi era o “homem segundo o coração de Deus”, um homem que amava a Deus. Podia estar acima, numa fase boa da vida; ou podia estar numa fase ruim da vida. Mas, em todas, nunca virou as costas para Deus.

1)     Alegria do perdão

Ele começa afirmando “Bem-aventurado quando somos perdoados”. A felicidade para Davi não estava no poder político, muito menos no poder econômico, mas, no perdão dos pecados. Nada se compara nessa vida ao perdão dos nossos pecados. Antes era prisioneiro da culpa, estava sendo esmagado por Deus. Mas, ele Diz: “Bem-aventurados” somos quando recebemos o perdão de Deus.

E diz mais: “Bem-aventurado cujo pecado é coberto”. “Coberto” fala da tampa da propiciação da arca da aliança, onde o sangue era derramado, aspergido e perdoava o pecado do povo. Agora, o sangue de Jesus, nos cobriu, o sangue de Jesus nos perdoou, o sangue de Jesus nos justificou, o sangue de Jesus nos salvou.

“Bem-aventurado a quem o Senhor não atribuiu iniquidade”. Iniquidade é depravação, é errar o alvo, iniquidade é depravação, é viver em pecado. Quando confessamos, nossos pecados são perdoados. O profeta Isaias afirma: “Embora os seus pecados sejam vermelhos como escarlate, eles se tornarão como a neve; ainda que sejam vermelhos como carmesim, se tornarão como a lã” (Is 1.18-19). Carmesim era conhecido por ser forte e difícil de remover de tecidos, serve para descrever o pecado como algo profundamente enraizado.

“Bem-aventurado é aquele em cujo espirito não há dolo”. Isto é, em cuja alma não há hipocrisia. A maior hipocrisia, a maior mentira é a negação do pecado. O dolo tem a ver com a dissimulação e Davi tentou encobrir seus pecados e fingir que nada havia acontecido...

2)     O pecado

O que acontece quando dissimulamos, o que acontece quando negamos o nosso pecado. O salmista diz: “Enquanto mantive meus pecados escondidos, meus ossos se definhavam e minha alma se agitava em angústia”. O pecado além de agir em nossa consciência e em nossa memória, nos acusando. Também, tem o efeito devastador no corpo; o pecado é um azorrague impiedoso; o pecado atormenta o homem e o leva adoecer, física, emocional e espiritualmente. O pecado envelhece nosso animo; o pecado envelhece nossos ossos; o pecado é devastador.

Ele diz mais: “Pois dia e noite a tua mão pesava sobre mim” (v.4). a mão de Deus é o que nos sustenta, nos ajuda. Mas também a mão do Senhor pesa sobre o nosso pecado. Deus não permite que tenhamos conforto no pecado. Porque o pecado é maligno, oferece liberdade, mas escraviza; oferece vida, mas mata.

Diante disso, ele chega a dizer: “As minhas forças se desvaneceram como a seiva em tempo de seca”. Não tem mais força; o pecado abate o espírito; o pecado tira o brilho dos olhos; o pecado entristece o coração; o pecado deixa a alma aleijada; o pecado abate o nosso vigor, tornando-o como uma relva no deserto.... uma relva seca, sem vida.

3)     Confissão

Diz o rei Davi: “Confessei o meu pecado”, ou “reconheci diante de ti o meu pecado”. No Salmo 51, lemos: “Tem misericórdia de mim, ó Deus, conforme o teu amor leal. Conforme a tua grande compaixão, apaga as minhas transgressões” (v. 1). A confissão é o caminho do perdão, é o caminho da cura, é o caminho da libertação. Davi ao ser confrontado pelo profeta Natã, não foge, não dissimula. Ele confessa o seu pecado e não oculta mais a sua iniquidade.

A escritura diz: “Aquele que encobre as suas transgressões jamais prosperará, mas aquele que as confessa e deixa alcançara misericórdia” (Pv 28.13). O texto nos ensina duas coisas: aquele que encobre, que dissimula, que nega, jamais prosperará; mas aquele que confessa e deixa alcançará o favor do Senhor”.  Perdoar é remover o fardo, perdoar é remover o pecado, perdoar é remover o passado e escrever uma nova história com Cristo.

Conclusão

Depois do perdão tem confiança. Não tem mais impedimento, diz o Salmista: “...todos os que tem fé em ti orem a ti, enquanto pode ser encontrado” e mais: “...quando as muitas águas se levantarem, elas não os alcançarão”. As águas transbordam, as tempestades açoitam nosso barco, os ventos furiosos sopram, mas quem está em paz com Deus, pacificado pelo perdão divino, é poupado, é protegido pelas asas poderosas do Altissimo.

Ele termina afirmando: “Tú és o meu abrigo seguro...”; antes Deus lhe pesava as mãos; agora Deus é o seu refúgio, sua fortaleza, sua proteção. Agora eu sou dele e Ele é meu; Ele é o meu pastor; Ele é a minha Luz e a minha salvação; Ele é a minha sombra; Ele é o meu broquel; Nele eu venço os obstáculos.

 

 

terça-feira, 19 de agosto de 2025

 De onde vem as guerras e as contendas que há entre vós? Tg 4.1-10 

Introdução

O mundo está em guerra. Guerra no Oriente médio entre Israel e Irã; guerra no leste europeu entre Rússia e Ucrânia; Guerra na Ásia entre Paquistão e Índia. O Mundo está em guerra: os jovens estão morrendo por causa das drogas, quase todos os dias um jovem morre por causa do mundo do tráfico. Guerra no ambiente de trabalho, existe uma disputa ensandecia pelos melhores cargos.  Guerra nas famílias: filhos contra pais, guerra entre casais. E, infelizmente, a igreja está também em guerra, irmãos contra irmãos...

1)     Uma pergunta 

O apostolo Tiago inicia o capítulo 4 com uma pergunta: “De onde vêm as lutas e as brigas entre vocês? (Tg 4.1 NTLH) Ou “De onde vêm as guerras e discórdias que há entre vós? (Tg 4.1 A21). O que voce responderia? “De Satanás!”, ou “dos falsos irmãos!”, ou “dos hereges que se infiltraram sorrateiramente!”. Nada disso! Tiago apresenta a resposta certa: “Elas vem dos maus desejos que estão sempre lutando dentro de vocês” (Tg 4.1 NTLH) ou “Não vêm das paixões que guerreiam dentro de vocês” (Tg 4.1 NVI).

O apostolo Tiago já havia ensinado que a fonte da tentação e do pecado é nosso “próprio desejo” (Tg 1.14). Confusão e práticas nocivas são consequências de nossa “inveja e sentimento ambicioso”, é a sabedoria terrena (Tg 3.16). Portanto, somos nós os principais responsáveis pelas nossas brigas. Satanás se beneficia com a contenda no meio da igreja, o mundo lá fora zomba dos crentes, mas nós somos culpados. Novamente: “De onde vêm as guerras e contenda entre vós? E a resposta é: vinha de dentro da igreja, vinham dos relacionamentos entre irmãos e familiares. 

“Guerras” que no original é polemoi de onde vem o termo polêmica, que significa “discussão, controvérsia”. “Contendas”, vem do grego machai, que significa também “brigas corporais”. As duas palavras evidenciam que havia hostilidade no seio das comunidades cristãs da época. Assim como tempos hoje. Há divisões, rixas e competições na igreja de Cristo. Infelizmente. Surge uma pergunta: “Como chega a acontecer isto? Por que é assim?

Donde vem as guerras e as contendas?” E a resposta de Tiago é imediata: “Dos vossos deleites, que nos vossos membros guerreiam”. No grego “deleites” é hedonón, isto é, hedonismo que é a concepção de vida segundo a qual o prazer é a finalidade, o bem supremo da vida. Os deleites estão na “carne” no homem interior. A força dos prazeres que operam na nossa vida produz o clima de competições em muitas igrejas. Ou seja, o espirito de contenda entre os irmãos é produto da carnalidade humana, é o homem dominado pela carne, que produz divisões na igreja.

Depois o apostolo Tiago diz: “Cobiçais e nada tendes”. Desejar melhores condições de vida não é errado. É uma legitima aspiração humana. Mas “cobiçar” não é uma aspiração legitima. O verso 2 fala de: cobiçar, matar, invejar, combater, fazer guerra. Todos esses desejos não vêm de Deus. Pois todas essas palavras fazem parte de um cenário de guerra. O que o apostolo Tiago quer nos ensinar é que o espírito de contenda em uma igreja é semelhante ao de contendas entre pessoas e nações. E é a natureza carnal do homem que as produz. 

Invejais, e não podeis alcançar”. O termo “invejais” é zeloute, de zelóo (arder em ciúmes). Zelóo é a raiz de “zelote” (aquele que arde em devoração, em fervor), palavra que veio significar também o homem zeloso pela lei, como revolucionário político apaixonado pela ideia de libertação do jugo estrangeiro. Imagina agora o sentimento de inveja no mesmo nível de alguém com fervor religioso, ou um revolucionário? Logo, arder de ciúmes pelas posses alheias leva a guerra, contendas... 

Nada tendes, porque não pedis”, em seguida ele explica o porquê? “Não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites” (Tg 4.3). Por que Deus não nos concede nossos pedidos de oração? Porque pedimos mal!  São os deleites, os prazeres egoístas, que nos levam a pedir mal, de forma deslocada da vontade divina. Há muitos, infelizmente, que querem usar Deus para seus propósitos, que não são muito edificantes. Todas nossas necessidades reais são supridas por Deus, mas aquelas que geram contendas, guerras, discórdias, divisão, não passam nem pelo teto da igreja.

Logo, Tiago chama-os de “infiéis”, ou “adúlteros”. Porque o apostolo tiago está chamando alguns da igreja de “infiéis”? porque estão traindo a Deus. Eles dirigem sua atenção, afeição e lealdade não a Deus e seu povo, mas a si mesmos e ao mundo. Ele fala da amizade com o “mundo” que traduz o termo kosmos e está se referindo ao sistema deste mundo que se opõe a Deus. É a humanidade caída. Portanto os salvos que namoram com o mundo está cometendo adultério e, portanto, tornando-se inimigo de Deus. Somos a noiva de Cristo “...vos desposei com um só Esposo, Cristo, para vos apresentar a ele como virgem pura” (2 Co 11.2). Amar o mundo é adulterar-se com Cristo, é dividir o amor que lhe foi prometido. 

2)     O Espirito tem ciúmes

“Ou imaginais que é sem razão que a Escritura afirma que o Espirito que Ele fez habitar em nós zela com ciúmes dos seus?” (Tg 4.5), ou “”Ou que acham vocês que as Escrituras querem dizer quando afirmam que o Espirito Santo, que Deus pôs em nós, vigia sobre nós com terno ciúme?” (NVV). O apostolo Tiago está afirmando que o Espirito Santo tem ciúmes de nós, tem ciúmes da sua igreja. A palavra pneuma é o Espirito Santo. O povo estava sendo infiel, adultero com Deus, estava trocando Deus pelo mundo. Então Tiago diz: “O Espírito em que nós habita anseia com ciúmes”. O ciúme que Deus tem pela fidelidade do seu povo é comparável a um marido que anseia pela fidelidade da esposa. 

Mas Tiago diz: “Todavia, ele nos dá maior graça” (Tg 4.6). maior comparado a quê? Maior que a nossa vontade, maior que o nosso egoísmo, maior que nossa carnalidade, maior que nosso desejo de inveja. Essa é a obra do Espirito Santo na vida do crente. Não é fácil abandonar o orgulho, ou nos humilhar diante de Deus. Mas se fizermos encontraremos um deposito cheio de sua graça que será derramada sobre nós.

O que temos que fazer? Primeiro, precisamos nos “...submeter a Deus” (Tg 4.7). Trata-se de um imperativo, uma ordem. Não lute, não resista, nem exerça pressão. Mas, renda-se, renuncie e desista. Deus nos concede graça necessária. Diga: “Senhor, eu desisto. Estou exausto”. “Submeta-se a Deus”. Logo, ele diz: “resistir ao diabo”. O alemão Dietrich Bonhoeffer nos legou o livro “Resistencia e Submissão”. Somos exortados a resistir ao Diabo porque assim fazendo ele fugirá de nós. Mas, “sujeitai-vos, pois, Deus” vem antes da ordem de resistência. Primeiro, nos submetemos a Deus, em seguida resistimos ao Diabo. 

Segundo, “Chegai-vos a Deus, e ele chegará para vós” (Tg 4.8). Se nós chegarmos a Deus, então, e só então, ele se chegará a nós. Um dia chegamos a Deus, fomos salvos, libertos, justificados pelo seu sangue. Mas, aqui, Tiago está falando de nosso relacionamento diário com Deus, a experiencia de crescer no conhecimento dele e aos poucos nos tornar cada vez mais semelhantes a seu Filho.

Conclusão

Como nos aproximamos de Deus? “Limpai as mãos, pecadores; e vós de espirito vacilante, purificai o coração” (v.8).  lavar as mãos e se despojar do imundo, mostrando um desejo de purificação. Precisamos de um espírito de pureza, de um desejo de santificação, despojando-nos das impurezas. Ele diz “purificai o coração”, dirigindo-se aos de “espirito vacilante” ou “hipócritas”. “Coração” nos remete ao íntimo da pessoa. Para se aproximar correta de Deus, é preciso uma purificação tanto interna quanto externa, tanto de sentimentos quanto de atitudes, ou seja, o que agrada a Deus é o interno que se liga ao externo.

O verso 9 diz: “Fiquem tristes, gritem e chorem. Mudem as suas risadas em choro e a sua alegria em tristeza”. Tiago fala de sentir, lamentar a e chorar. Aqui é uma atitude de quebrantamento: lamentar-se e chorar pelos pecados “torne o vosso riso em pranto”. Converta “a vossa alegria em tristeza”, há um desejo de mudança de vida, de santificação. Tristeza é olhar para baixo, para o chão, uma atitude de vergonha. E termina afirmando: “Humilhai-vos perante o Senhor, e ele vos exaltará” (Tg 4.10). 


 

terça-feira, 12 de agosto de 2025

 Sabedoria do alto e sabedoria terrena Tg 3.13-18 

Introdução

o apostolo Tiago fala sobre sabedoria. Ele começa com uma pergunta: “Quem dentre vós é sábio e entendido?”. O tema da sabedoria está nos livros de Sabedoria: Jó, Provérbios e Eclesiastes. Salomão é o autor de dois livros de Sabedoria. Quando Salomão tornou-se rei de Israel, Deus lhe apareceu em uma visão e disse: “Peça-me o que quiser, e eu lhe darei” (2 Cro 1.7). Ele poderia pedir qualquer coisa, mas disse: “Dá-me agora sabedoria e conhecimento, para que eu possa conduzir este povo, pois quem poderá julgar este povo, que é tão grande?” (2 Cro 1.10). Ou seja, o que eu preciso é de sabedoria! Preciso de discernimento prático das sutilezas da vida para que possa governar bem o teu povo. Não peço nada além disso!”. 

A sabedoria é um dos aspectos da vida cristã. Tiago diz no começo: “Se algum de vós tem falta de sabedoria, peça a Deus, que concede livremente a todos sem criticar, e lhe será dada” (Tg 1.5). E aqui, no verso 13, a sabedoria está vinculada pelo bom procedimento, a vida do cristão. No hebraico a palavra sabedoria é “hokhma”, que é sempre prática, sempre vivencial e nunca especulativa. Diz respeito em aplicar à vida as verdades de Deus. Será que temos almejado a sabedoria? Aqui a sabedoria está ligada. E a sabedoria está ligada “em humildade de sabedoria” que também é mansidão e amabilidade.

1)     Sabedoria terrena

Portanto Tiago mostra que há dois tipos de sabedoria. Uma é inspirada em Deus: “a sabedoria que vem do alto” (v.17), a outra é terrena (v.15). Do alto porque “Toda boa dádiva e todo dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em que não há mudança nem sombra de variação” (tg 1.17). A outra sabedoria é terrena, está vinculado ao homem sem Deus, pecaminoso. Jesus disse aos fariseus: “Vós sois de baixo, eu sou de cima; vós sois deste mundo, eu não sou deste mundo” (Jo 8.23). Logo, um discípulo de Cristo deve ter a sabedoria do alto e não da terra. 

A sabedoria terrena é “Animal” (v.15). fala dos instintos, fala do ID, pois o termo grego é psyché, é o instinto natural do ser humano. É quando a gente age na base de “fazer o que estiver no coração”. Mas o simples fato de algo estar em nosso coração (sentimentos) não é indicativo de sua validade. Pois a Biblia adverte: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o poderá conhecer?” (Jr 17.9). Os sentimentos não são confiáveis, devem ser medidos pela Palavra de Deus. 

A sabedoria do mundo é também “diabólica”. Esse adjetivo não qualifica necessariamente a sabedoria que vem diretamente de seres demoníacos, mas está na sabedoria que reflete uma filosofia, ou um estilo de vida ou um padrão de pensamentos opostos á verdade de Deus que poderiam ser endossados até por Satanás. 

A sabedoria terrena é “amargo ciúme”, ou “inveja amargurada”. Quanto desse fruto é achado em nossas igrejas! A inveja do progresso de um irmão ou seu crescimento dentro da comunidade. A inveja da nova liderança que emerge. Na vida de Saul encontramos a manifestação de ciúme e inveja. Quando Davi regressava das batalhas, as mulheres de Israel saíram ao seu encontro, cantando: “Saul feriu os seus milhares, porém Davi os seus dez milhares”. Nisso o ciúme invadiu o coração de Saul: “Dez milhares atribuíram a Davi, e a mim somente milhares; que lhe falta, senão o reino?” (1 Sm 18.6-9). 

A sabedoria terrena é “sentimento faccioso” (Tg 3.14), ou “ambição egoísta”. O espirito de facção no meio da igreja é de inspiração diabólica. Com que facilidade surgem grupos e partidos em nossas igrejas. O apostolo Paulo censurou as facções na igreja de Corinto: “Rogo-vos, irmãos, em Nome do Senhor Jesus Cristo, que sejais concordes no falar, e que não haja dissensões entre vós; antes seja unidos no mesmo pensamento e no mesmo parecer” (1 Co 1.10). Havia quatro grupos no meio da igreja e Paulo censurou os quatro, até mesmo o grupo que dizia representa-lo: “Será que Cristo está dividido? Foi Paulo crucificado por amor de vós? Ou foste batizado em nome de Paulo?” (1 Co 1.13). 

A sabedoria terrena “nega a verdade” (Tg 3.14). Sim, ela não suporta a verdade; não suporta a ideia de Deus; não suporta que a verdade está em Jesus Cristo; não suporta a moralidade da Palavra Deus; seus mandamentos e seus preceitos. Não acredita na existência de uma eternidade com Deus.

O apostolo Paulo exorta a igreja de Éfesios: “...se há alguma exortação em Cristo, se alguma consolação de amor, se alguma comunhão do Espirito, se alguns entranháveis afetos e compaixões, completai o meu gozo, para que tenhais o mesmo modo de pensar, tendo o mesmo amor, o mesmo ânimo, pensando a mesma coisa; nada façais por contendas ou por vanglória, mas com humildade cada um considere os outros superiores a si mesmo” (Fl 2.1-3). E exorta duas irmãs  que estavam tendo diferenças: “Rogo a Evódia, e rogo a Síntique, que sintam o mesmo no Senhor” (Fl 4.2).

2)     Sabedoria celestial

A sabedoria do alto é “primeiramente, pura” (Tg 3.17). Em “primeiro lugar” significa mais do que uma posição na lista. É um indicador do que vem em primeiro lugar em ordem de importância. A sabedoria concedida por Deus produz não somente uma pureza de motivação internas, mas também atos externos. A pureza de atos e pensamentos permite que vejamos Deus atuando em todas as circunstâncias de nossa vida. 

A sabedoria do alto é “pacifica”. Em oposição à “inveja amarga” e ao “sentimento faccioso”, a sabedoria que vem de Deus gera relacionamentos pacíficos, harmoniosos. O termo eirene (paz) significa um estado de ordem, de segurança e isenção de ódios. “Bem aventurados os pacificadores, pois serão chamados filhos de Deus” (Mt 5.9).

A sabedoria do alto é “moderada”. No grego é a palavra epiekes, moderação, equilíbrio, gentileza, dócil. Denota alguém que renuncia a seus direitos em favor de um ideal superior. Em nossos dias, por pouca coisa, abrimos processos judiciais contra alguém. Assim, a sabedoria terrena é mesquinha, litigiosa, egoísta, amarga. Infelizmente, em nosso meio, tem cristãos coléricos, irados. A sabedoria do alta é moderada. 

A sabedoria do alto é “tratável”. Ela tem origem em duas palavras do grego traduzidas por “bem” e “persuasivo”. Juntas, adquirem o sentido de “se deixar persuadir com facilidade”. A palavra também tem o sentido de “ensinável”, alguém que deixa de lado a teimosia e está pronto a se render a verdade. Ela denota uma pessoa que adota uma postura conciliadora, flexível e aberta a mudanças.

A sabedoria do alto é “cheia de misericórdia e de bons frutos”. “cheia” é um sentimento divino e humano, um profundo interesse pelos que sofrem. Misericórdia implica em olhar para alguém com compaixão, mesmo que a punição seja provavelmente merecida. No mundo de hoje, os homens ridicularizam e julgam as pessoas, mas a misericórdia demonstra bondade e benevolência. 

A sabedoria do alto é “imparcial”. Significa uma pessoa com firmeza e que jamais faz concessão da verdade bíblica. Não há acepção de pessoas, não tem favoritismo, por causa de quem tem e quem não tem, todos são tratados iguais, da mesma forma.

A sabedoria do alto é “sem hipocrisia”. Sim é uma pessoa sincera, sem cera, sem necessidade de interpretar papeis. No teatro grego, havia a necessidade da máscara, de vivenciar um papel que não era seu. Infelizmente, tem pessoas que tem duas caras, duas personalidades, duas faces que interpretam papéis.

Conclusão

Uma é a sabedoria do alto e outra é a sabedoria terrena. Uma está cheia de misericórdia e bons frutos, sem mudança, sem hipocrisia; a outra é dos sentidos, carnal e diabólica. Uma produz paz e a outra contendas. Qual é a sabedoria que está dominando a sua vida. 


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terça-feira, 5 de agosto de 2025

 Fé e obras Tg 2.14-26 

Introdução

A salvação é pela fé ou pelas obras? Os católicos acreditam que a salvação é por meio das obras; no livro apócrifo Eclesiástico diz: “A água apaga a chama, a esmola expia os pecados” (Ecl 3.30 BJ). Então, a salvação acontece por meio das boas obras, isto é, a salvação depende de voce. Enquanto, que no meio evangélico protestante, acredita que a salvação ocorre por meio da fé, sim, da fé em Jesus Cristo, como disse o apostolo Paulo: “O justo viverá pela fé” (Rm 1.17). aqui, em Tiago veremos o embate dessa temática. 

1)     Fé e obras

No verso 14, o apostolo Tiago pergunta: “Meus irmãos, que vantagem há se alguém disser que tem fé e não tiver obras? Essa fé poderá salvá-lo?”. Tiago está fazendo uma pergunta nesse versículo para igreja de Cristo, isto é, onde estão os resultados genuínos que provam aos outros a autenticidade dessa confissão?  Para ser mais direto ele está dizendo que se alguém alega ter fé em Cristo, mas os resultados de tal fé não são percebidos na vida, é perfeitamente possível que essa fé seja uma mentira. 

A segundo pergunta que é feita no mesmo verso é: “Essa fé poderá salvá-lo?”, ou “Acaso esse tipo de fé pode salvar alguém?” (NVT). Essa “fé” refere-se a uma qualidade de fé – a fé que não produz fruto. Que fé? Uma fé desprovida de obras, uma fé desprovida de testemunho! É óbvio que a resposta subentendida é um sonoro “Não”! No texto grego, a pergunta é feita de forma que fica evidente de se tratar de uma pergunta retórica que exige uma resposta negativa.

Em seguida o apostolo Tiago de quatro qualidades de fé genuína. A primeira é que a fé genuína não é indiferente, mas comprometida. Ele diz “Se um irmão ou irmã estiverem necessitados de roupas e do alimento de cada dia...” (Tg 2.15). Vejam ele não está sendo indiscriminado, mas diz: “Se um irmão ou irmã...”. Essas pessoas não tinham nem o básico para viver! Elas estavam passando por profundas necessidades, mas, em vez de lhes dar alimentos e roupas, os despedimos com palavras vazias: “Até logo e tenha um bom dia; aqueça-se e coma bem” (Tg 2.16 NVT). 

Tiago não é o único, o apostolo João diz a mesma coisa: “Quem, pois, tiver bens do mundo e, vendo seu irmão em necessidade, fechar-lhe o coração, como o amor de Deus pode permanecer nele” (1 Jo 3.17). O que o apostolo João está dizendo? O amor de Deus não permanece nessa pessoa. Se existe amor genuíno, ele se estende aos outros. Se existe uma fé verdadeira, ela gera ato de compaixão.

A segunda qualidade de fé genuína é que ela não independente, mas exercida com parceria. “Assim também a fé, por si só, se não é acompanhada de obras, está morta” (Tg 2.17). A fé genuína não está sozinha, sempre se faz acompanhar de resultados. Se ela não tem resultados, ela está morta. Tiago emprega a palavra “morta” no sentido de “inútil, ineficaz, fraca”. Portanto, tem dois tipos de fé: uma inútil, é a que não vive a Palavra; a outra é útil, é a que vive a Palavra de Deus, uma fé vibrante. 

A terceira qualidade de fé é que ela não é invisível, mas pode ser vista. É como se ele estivesse indagando ou discutindo com uma pessoa: “Contudo, alguém dirá: Você tem fé; e eu tenho obras. Mostre-me a sua fé sem obras, e eu mostrarei a minha fé pelas obras” (Tg 2.18 NVI). Pelo contexto, trata-se de uma pessoa que concorda com Tiago, mas alega ter uma fé silenciosa, invisível, particular, sem fazer alarde. Como se dissesse: “Fé é algo que guardo para mim mesmo”. Para esse tipo de pessoa, qualquer um que põe sua fé em prática tem algo de fanático. Portanto a fé genuína ela deve ser vista. 

A terceira qualidade de fé é que ela não é intelectual, mas vem do coração. Ele diz: “Voce crê que existe um só Deus? Muito bem! Até mesmo os demônios creem – e estremecem! (Tg 2.19). Essa pessoa é ortodoxa, acredita em Deus e em sua doutrina. Ela conhece o Shemá, aliás cita: “Ouve, ó Israel: O Senhor nosso Deus, é o único Senhor” (Dt 6.4). Ela acredita na teologia de Deus, mas ainda essa teologia não penetrou em seu coração, em sua alma, ainda não tomou sua força, seu entendimento. Em seguida, Tiago apela: “Até os demônios creem e tremem de medo”. O endemoninhado gadareno dobrou-se diante de Jesus e gritou: “Que tenho eu contigo, Jesus, filho do Deus Altissimo?” (Lc 8).  

O mero conhecimento intelectual da verdade é insuficiente. O Senhor Jesus disse em sua Palavra: “Nem todo o que me chama Senhor, Senhor, entrará no reino do céu, mas somente aquele que faz a vontade do meu Pai que está no céu. Quando aquele dia chegar, muitos vão dizer: Senhor, Senhor, em teu nome anunciamos a mensagem de Deus, e pelo nome do Senhor expulsamos muitos demônios e fizemos muitos milagres! Então eu responderei: Nunca os conheci. Saiam de perto de mim, vocês que só fazem maldade!” (Mt 7.21-23). Expulsar demônios não é prova nem mesmo de salvação. Há perdidos efetuando milagres e expulsando demônios!

2)     Dois exemplos de fé

O primeiro exemplo é Abraão: “Não foi pelas obras que Abraão, o nosso pai, foi justificado quando ofereceu o seu filho Isaque sobre o altar” (Tg 2.21). Mas o apostolo Paulo diz em Romanos que a salvação é pela fé: “Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé sem as obras da lei” (Rm 3.28). Tiago diz mais: “Vede então que o homem é justificado pelas obras e não somente pela fé” (Tg 2.24). De um lado o apostolo Paulo diz que a salvação é pela fé, do outro lado, o apostolo Tiago que a salvação é pela fé e pelas obras. O que pensar? 

O apostolo Paulo está olhando para a raiz da salvação, no momento da salvação, somos salvos por meio da fé e nada mais. Por outro lado, o apostolo Tiago, está olhando para os frutos da salvação, depois da salvação, depois de plantada a raiz da fé, nossa vida tem que dar frutos de boas obras. Paulo emprega a palavra “justificado” no sentido de “declarado justo aos olhos de Deus”, essa é uma dádiva de Deus. Tiago está se dirigindo a cristãos que já experimentaram a dádiva da salvação, por isso, ele emprega o termo “justificado” no sentido de “provar que sou justo aos olhos de outras pessoas para mostrar que recebi de Deus a dadiva da vida eterna”.

O segundo exemplo de fé é Raabe. “Caso semelhante é o de Raabe, a prostituta: não foi ela justificada pelas obras, quando acolheu os espias e os fez sair por outro caminho” (Tg 2.25 NVI). O que fez Raabe, exatamente? Ela escondeu os espiões hebreus que foram enviados a Jericó. Foi então sua obra que a salvou?  Não! Sua obra foi consequência de sua fé. Eis a declaração de fé por ela formulada aos espiões, sobre o Deus de Israel: “...o Senhor vosso Deus é Deus em cima no céu e embaixo na terra” (Js 2.11). Quando uma pessoa crê, ela age. Sua fé a leva a um envolvimento com Deus e não em uma alienante fuga mística. 


Conclusão

O apostolo Tiago termina com uma bela imagem: “Portanto, como o corpo sem espírito está morto, assim a fé sem obras está morta” (Tg 2.26).  Deus criou primeiro o corpo do homem, mas enquanto o espirito não veio habitar no corpo, este não valia muito. Estava sem vida. A vida veio pelo Espirito. Quando o Senhor soprou o folego de vida no corpo do homem, este foi tornado alma vivente. Olhamos para uma vida de fé sem obras, tudo parece que está certo, tudo aparentemente nos seus devidos lugares, mas ela é tão viva quanto um cadáver. Ou seja, está morta!