O sonho de José Gn 37.1-20
Introdução
Temos meditado na família patriarcal, mormente sobre Jacó. E
o capitulo mais obscuro, tenebroso é o capitulo 34, quando eles param em Siquém
e Tamar é abusada por Siquém, filha de Hamor, governador desse povoado. Diante
de tal vergonha, de tal violação sexual, os filhos de Jacó cometem uma
mortandade, um pandemônio, matando quase todos os homens de Siquém. Nesse capitulo
vemos um Jacó, não Israel, apático, passivo, sem liderança, enquanto seus filhos
lideram a vingança.
1)
A
família de Israel
Havia divisão na família de Jacó, assim como na família de Isaque. Os filhos de Lia – seis deles: Rúben, Simeão, Levi, Judá, Issacar e Zebulom, sim a maioria se sentiam superiores e guardavam para si os assuntos familiares, pois eram os mais velhos. Eles se distanciavam de José, porque Lia achava que havia sofrido muito em sua amarga rivalidade com Raquel, a falecida mãe de José.
Vimos no capitulo 34 a fúria sanguinária de Simeão e Levi,
Ruben deitou-se com Bila, cometendo incesto (Gn 35.22) e a leviandade e lascívia
de Judá (Gn 38). Ademais, o grupo de irmãos mais novos – Dã e Naftali, filhos
de Bila, e Gade e Aser, filhos de Zilpa (Gn 37.2) – seguiram bem de perto os
passos de seus irmãos mais velhos que os levavam a uma direção oposta à
tradição da família.
Somente José, separado e sozinho, tinha ouvido e respondido à mesma chamada que havia separado Abraão (“Sai da sua terra...”), Isaque (“o descendente”) e Jacó (“quero ser abençoado”) de seu “mundo” – a chamada que fizeram deles homens de Deus. Para eles, José era exatamente aquilo que eles tinham decidido não ser. Enquanto José quis ficar na promessa que iniciou em Abraão, os seus irmãos decidiram viver a vida deles.
José era filho de Raquel, a preferida de Jacó. Ele era
diferente do resto da família em preferencias, valores, objetivos e crenças.
Ele não se encaixava modelo estabelecido pelos irmãos...aliás, seus irmãos
nunca se esqueceram que José os havia “denunciado” (Gn 37.2) ao seu pai Jacó e estavam determinados a dar-lhe o troco.
José vivia na contramão, ou na contracultura dos seus irmãos.
Não estavam preocupados com a herança espiritual dos seus pais, somente queriam
viver suas vidas, queriam comandar seus horizontes, fazer o que desse na teia,
viver consoante suas vontades.
2)
Sonhos
de José
É nesse contexto de rivalidade, disputa que José tem seus
dois sonhos. Os sonhos, para as pessoas supersticiosas, vinham do outro mundo e
falava sobre o futuro. Para os hebreus, os sonhos vinham de Deus e podia
apontar para fatos do futuro. José sonha o mesmo sonho por duas vezes, sim,
seus dois sonhos é o mesmo sonho. Logo, é uma evidencia, indicio de que Deus
está lhe apontando para algo que diz respeito ao seu futuro.
Mais na frente, no capitulo 39, José se depara com os sonhos
do copeiro e do padeiro, duas pessoas, duas realidades com sonhos similares,
quase iguais. Um sonha com uma videira de três ramos que deu suco de uva e o
copeiro serviu Faraó; o padeiro sonhou com três cestas de bolos sobre sua
cabeça e as aves comiam os bolos sobre a cabeça do padeiro. José interpretou os
dois sonhos, dizendo que o copeiro voltaria a servir Faraó em três dias e padeiro
seria morto em três dias.
“Ouçam este sonho que tive, disse José. Estávamos no campo amarrando feixes de trigo. De repente, meu feixe se levantou e ficou de pé, e seus feixes se juntaram ao redor do meu e se curvaram diante dele” (Gn 37.6-9 NVT). Ou seja, José sonhou que os seus irmãos se curvariam diante dele, como se ele fosse um rei, ou um governador.
Mas José teve outro sonho: “Ouçam , tive outro sonho. O sol, a lua e onze estrelas se curvavam diante dele! Dessa vez, contou o sonho não apenas aos irmãos, mas também ao pai, que o repreendeu, dizendo: Que sonho é esse? Por acaso eu, sua mãe e seus irmãos viremos e nos curvaremos até o chão diante de você?” (Gn 37.9-10 NVT). Agora, não é somente irmãos que ser curvariam diante de José, mas também seu pai e sua mãe!
João Calvino comenta: “José havia tido sonhos comuns, mas
aqui era um sonho divinamente enviado, o qual tinha a força de uma profecia”.
José sentia que aquela era uma mensagem genuína de Deus para sua família. Ele
poderia não falar, mas teve coragem e contou o sonho que Deus lhe dera. Talvez sentiu
receio em conta-lo, pois sabia que seus irmãos poderiam odiá-lo por causa desse
sonho.
E foi isso o que aconteceu. Os seus irmãos não odiavam mais
José pela sua túnica ou pelo favoritismo do seu pai. Eles odiavam porque
ouviram dos lábios dele a verdade sobre Deus e sobre si mesmos. Naquele momento,
eles”...o odiaram ainda mais, por causa
do sonho e do que tinha dito” (Gn 37.8). O versículo 12 diz, “Os irmãos de José tinham ido cuidar dos
rebanhos do pai, perto de Siquém”.
3)
Indo
para Siquém
Jacó chamou José e lhe diz: “Como você sabe, seus irmãos estão apascentando os rebanhos perto de Siquém. Quero que você vá até lá” (Gn 37.13). Mesmo sabendo da hostilidade, ódio, dos seus irmãos, ele não vacilou, titubeou, obedeceu ao seu pai: “Sim, Senhor” (v.13).
Abraão também pronunciou essas mesmas palavras, quando Deus o
testou no Monte Moriá: “Abraão! Abraão!”,
e ele respondeu: “Eis-me aqui” (Gn
22.1,11). E o profeta Isaias, no ano da morte do Rei Uzias, o Senhor apareceu para
ele e o profeta pronunciou as mesmas palavras: “Eis-me aqui” (Is 6.8). No Novo Testamento Jesus arrazoa seus
seguidores: “Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua
cruz e siga-me” (Mt 16.24).
Ser chamado para Deus implica renuncia de nossa própria vontade.
Diante dele, abdicação em seu favor, de qualquer tentativa de autopreservação,
de nossa segurança humana, dos direitos ou liberdades e dos confortos...Irmãos,
escreveu Paulo: “Rogo-lhes pelas misericórdias de Deus que se ofereçam em sacrifício
vivo, santo e agradável a Deus...” (Rm 12.1).
José vai em Siquém, mas não estão lá. “Procuro meus irmãos”, disse por todo lugar(Gn 37.16). Eles não
estavam em Siquém – na verdade não estavam nem perto daquela área! Teria sido
muito fácil José ter voltado para casa e, ainda assim, ele teria cumprido todas
as ordens de seu pai. Mas insistiu, não parou. Até que descobriu que os irmãos
haviam partido para Dotã (Gn 37.17).
Conclusão
“...Assim José foi em busca dos seus irmãos e os encontrou
perto de Dotã” (Gn 37.17). Quando chegou
em Dotã os seus irmãos de longe, disseram, em forma de zombaria: “Lá vem aquele
sonhador”, ou “Vem lá o tal sonhador” (ARA), “Lá vem o grande sonhador” (NAA).
Diziam uns aos outros. É agora! Vamos mata-lo e jogá-lo num destes poços e
diremos que um animal selvagem o devorou. Veremos então o que será dos seus
sonhos” (Gn 37.19-20).
Havia uma superstição que quando o profeta tinha um sonho predizendo o futuro e o revelava aos outros, então, o próprio ato de falar tornava forte a sua profecia, pois fazia com que tais sonhos se realizassem. Então, se pudessem matar o sonhador, o próprio sonho se desfaria e perderia o seu poder.
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