terça-feira, 14 de janeiro de 2025

 Por que sou cristão? Atos 9 

Introdução

Todas as religiões levam a Deus (muitos dizem que sim)? Aliás, o papa Francisco falou que sim, nesses dias. No mundo virtual, das mídias, há uma variedade de vozes competindo por nossa atenção. A qual delas escutaremos? Somos apresentados a um verdadeiro buffet religioso. Que prato escolheremos? todas as religiões não levam a Deus? 

1)     Você é cristão?

Se alguém lhe perguntasse: “Voce é cristão?”, o que você diria? “Sou cristão porque por acaso nasci num país de maioria cristã. Meus pais me criaram na igreja, fui para escola dominical desde a minha tenra idade”. Em outras palavras, foram as circunstancias de meu nascimento, meus pais e minha educação que determinaram o fator de eu ser cristão. Contudo, ser cristão não é ser religioso é muito mais do que isso... 

Novamente, se alguém lhe perguntasse: “Voce é cristão?”, o que você diria? “Sim, foi no dia 13 de fevereiro de 19..., quando tinha 18 anos, tomei uma decisão pessoal por Cristo. Ouvi um pregador falando sobre a pergunta de Pilatos: “O que farei com Jesus, chamado o Cristo?”. Até aquele instante eu não sabia que eu tinha algo a ver com Jesus, que é chamado o Cristo. Assim, naquela noite memorável assenti em meu coração que Jesus Cristo é o meu Salvador... 


Contudo, o fato mais importante de ser cristão não é ter nascido e sido educado num lar cristão, ou ter-me rendido a Cristo, é muito mais do que isso. Mas saber, entender, compreender, que o próprio Jesus veio ao meu encontro e me salvou. O próprio Jesus foi e “tirou-me do fosso fatal, do charco lamacento, assentou meus pés sobre uma rocha...” (Sl 42.2). 

Franscis Thompson escreveu um poema chamado: “O cão de caça do céu”. Ele teve uma infância muito solitária e sem amor, sem afeto. Fracassou sucessivamente em suas tentativas de tornar-se sacerdote católico romano, médico e soldado. Por fim, acabou perdido em Londres, até que um casal de cristãos reconheceu sua genialidade poética e o resgatou. Durante todos esses anos ele esteve consciente, tanto de sua busca quanto de ter sido buscado e o expressou com mais eloquência em seu poema “o cão de caça do céu”: 

“Dele fugi, noite e dias adentro;

Dele fugi, pelos arcos dos anos;

Dele fugi. Pelos caminhos dos labirintos

De minha própria mente; e no meio de lágrimas

Dele me ocultei, e sob riso incessante.

Por sobre esperanças panorâmicas corri;

E lancei-me, precipitado, para baixo de titânicas trevas de temores abissais,

Para longe daqueles fortes pés que seguiam, seguiam após mim.

Mas com desapressada perseguição, e com inabalável ritmo,

Deliberada velocidade, majestosa urgência,

Eles marcavam os passos – e uma vez insistia

Mais urgente que os pés – todas as coisas traem a ti, que traíste a mim”.

O poema está dividido em cinco partes: a primeira ela chama de “voo da alma”, pois o poeta se enxerga como um fugitivo das exigências do discipulado. A segunda é a “busca da alma”, na qual a alma busca satisfação em toda parte, mas não consegue encontrá-la. A terceira parte ele chama de “impasse da alma”, uma vez que o poeta descobriu que a vida sem Deus não tem significado. Na ultima parte ele chama de “prisão da alma” e se entrega finalmente ao amor de Cristo.

Portanto, se somos cristãos, não é porque tenhamos nos decidido por Cristo, mas porque Cristo se decidiu por nós. Para entendermos melhor, eu os convido a olhar para a conversão de Saulo de Tarso.

2)     Saulo de tarso 

A conversão de Saulo é a mais conhecida na história cristã. Mas, sua conversão não foi repentina, e sim aconteceu ao longo de um processo. Diz o evangelista Lucas: “Todos caímos por terra. Então ouvir uma voz que me dizia em aramaico: Saulo, Saulo, porque você está me perseguindo? Resistir ao aguilhão só lhe trará dor” (Atos 26.14). Ou, “...é inútil resistires ao aguilhão” (A 21).  A palavra grega Kentron poderia ser traduzida como “espora”, “chicote” ou “aguilhão”. 

Ao falar com Saulo Jesus estava se comparando a um fazendeiro incitando um boi obstinado ou a um treinador de cavalos domando um cavalo selvagem. Jesus estava perseguindo, cutucando e espetando Saulo. Mas ele estava resistindo à pressão, e era difícil, doloroso e até mesmo fútil para ele resistir aos aguilhões. Quais eram os aguilhões?

Jesus estava cutucando Saulo em sua mente. Saulo fora educado aos pés de Gamaliel, um rabi muito festejado no primeiro século. Portanto Saulo tinha um ótimo conhecimento do judaísmo, era zeloso da lei. Diante disso, estava convencido de que Jesus de Nazaré não era o Messias. Ora a lei afirmava: “Qualquer que for pendurado num madeiro está debaixo da maldição da lei” (Dt 21.23). O papel dele era se opor a Jesus de Nazaré e perseguir seus seguidores. 

No entanto em sua mente estava cheia de duvidas por causa dos rumores que circulavam acerca de Jesus: a beleza e a autoridade de seu ensino; a humildade e a mansidão do seu caráter; seus feitos poderosos de cura e milagres; e em especial, o rumor persistente de que sua morte não havia sido o fim, pois algumas pessoas diziam que o haviam visto e tocado e conversado com ele após a sua morte.

Jesus estava cutucando em sua memória. Saulo estava presente no julgamento de Estevão, a quem Lucas descreveu como “homem cheio de fé e do Espirito Santo” (Atos 6.5). Saulo vira com seus próprios olhos a face de Estevão brilhando como a face de um anjo (Atos 6.15); ouvira com seus próprios ouvidos a defesa de Estevão, ao final da qual ele afirmara ver a gloria de Deus e “o filho do homem em pé, à direita de Deus” (Atos 7.55-56). 

E quanto arrastaram Estevão para fora da cidade e o apedrejaram até a morte, colocaram suas vestes aos pés de Saulo. Lucas continua em sua descrição: “Enquanto apedrejavam Estevão, este orava: Senhor Jesus, recebe o meu espirito. Então caiu de joelhos e bradou: Senhor, não os considere culpados deste pecado. E tendo disto isso, adormeceu” (Atos 7.59-60). Diante disso, o que pensou Saulo? Há algo de inexplicável a respeito desses cristãos. Eles estão convencidos de que Jesus de Nazaré é o Messias e tem a coragem em morrer por seu Senhor.

Jesus estava cutucando Saulo em sua consciência. Saulo vivia uma vida correta e tinha uma reputação sem mancha. Quando a justiça era irrepreensível (Fl 3.6). No entanto, a piedade perfeita que ele dizia ter era uma conformidade puramente externa às exigências da lei. Exteriormente ele havia obedecido aos preceitos e às proibições da lei. Interiormente, no entanto, em sua consciência, ele sabia que era pecador. Como disse C.S.Lewis: “Pela primeira vez examinei a mim mesmo com um proposito seriamente prático. E ali encontrei o que me assustou: um bestiário de luxurias, um hospício e ambições, um canteiro de medos, um harém de ódios mimados. Meu nome é legião”. 

Saulo poderia lidar com os primeiros nove mandamentos porque eles tinham a ver com palavras e obras. Mas o décimo mandamento proibia a cobiça. E a cobiça não é nem uma obra nem uma palavra, mas um desejo, uma luxuria insaciável. Anos depois ele expressou: “Eu não saberia o que é pecado, a não ser por meio da lei. Pois, na realidade, eu não saberia o que é cobiça, se a lei não disse não cobiçaras. Mas o pecado...produziu em mim todo tipo de desejo cobiçoso...” (Rm 7.7-9).

Conclusão

Jesus estava cutucando Saulo em seu espirito. Como judeu, ele havia crido em Deus, aprendera a Torá desde sua infância; depois sentou-se aos pés de Gamaliel e tornou-se um rabi. Em todo o tempo de sua vida havia buscado servir à Deus com uma consciência limpa, no entanto, não conhecia a Deus. Estava alienado de Deus, havia um vazio em sua alma, nada do que aprendera saciara seu espirito. Sim, a lei de Moisés, os mandamentos, não foram suficientes para o seu espirito. Até que Jesus lhe apareceu na estrada de Damasco e a sua vida foi transformada. 

Agostinho de Hipona, nasceu no norte da AFrica, Argélia, no quarto século. Ainda adolescente, vivia uma vida promiscua e dissoluta, escravizado por suas paixões. Dedicou também aos estudos em Cartago, Roma e Milão, abraçando a ideologia maniqueísta. Mas, ainda assim, sua alma estava inquieta e se encontrava miserável. Num dia de angustia, ele ouve um menino dizendo “Toma e lê, toma e lê”, levantou-se e foi ler as escrituras e leu Romanos 13: “Não em orgias e bebedeiras, não em imoralidade sexual...mas revistam-se do Senhor Jesus Cristo” (vs 13,14). Ali, toda escuridão foi embora  e uma luz pairou sobre ele. Sim, Deus lhe chamou, lhe separou. Ele diz: “Tu me chamaste, gritaste por mim, e venceste minha surdez. Brilhaste, e o teu esplendor pos me fuga minha cegueira. Exalaste teu perfume, respire-o, e agora suspiro por ti...”. 


 

 

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