terça-feira, 28 de janeiro de 2025

  Jacó e Deus - Gn 32.24-28 

Introdução

Isaque era o filho da promessa e casou-se com Rebeca que demorou 20 anos para que nascesse seus filhos, aliás, filhos. No útero de Rebeca haviam gêmeos “...os filhos lutavam no ventre dela” (Gn 25.22). Quando ela deu a luz: “...o primeiro a sair era ruivo, e todo o seu corpo era como um manto de pelos...Esaú. Depois saiu seu irmão, com a mão agarrada no calcanhar de Esaú...Jacó” (Gn 25.24-26). 

Portanto, Esaú (peludo), másculo, ruivo “...tornou-se um caçador e um homem dado ao campo”. Enquanto que Jacó “...homem pacato, habitava em tendas. Isaque amava a Esaú...Rebeca amava a Jacó”. Essa predileção evidencia uma família disfuncional, segregada, que é quando existem preferencias por filhos, ou filhos favoritos.

1)     Calcanhar

Jacó significa “aquele que segura o calcanhar”, tinha o hábito mais caseiro, enquanto que Esaú “Cabeludo” voltava-se para caça. Um dia quando voltava de uma de suas caças, estava com muita fome e sentiu o cheiro da panela de feijá vermelho que Jacó estava mexendo sobre a fogueira. E lhe disse: “Estou faminto! Dê-me um pouco desse ensopado vermelho!” Ou, “...guisado vermelho...”(A21), “...vermelha...” (NAA) (Gn 25.30). 

JACÓ lhe respondeu: “venda-me primeiro o seu direito de primogenitura” (Gn 25.31). Esaú olhou para o feijão, ensopado vermelho, e pesou as opções: “Estou morrendo de fome de que me vale esse direito?” (Gn 25.32 NVI). A primogenitura não mataria sua fome, o guisado vermelho estava em sua frente. “Estou morrendo de fome, e se morrer, de nada me servirá toda a herança do meu pai” (Gn 25.32 VFL). Esse foi o prato mais caro da história.

Agora, Isaque está em seu leito de morte, estava muito velho, seus olhos estavam fracos que não conseguia mais enxergar, chamou Esaú, seu filho mais velho e lhe disse: “...Vá ao campo caça alguma coisa para mim. Prepara-me aquela comida saborosa que tanto aprecio e traga-me, para que eu coma e o abençoe antes de morrer” (Gn 27.1-4). Mas, diz o texto: “Rebeca ouvia enquanto Isaque falava com seu filho Esaú...” (Gn 27.5).

E disse a Jacó: “Agora é a nossa chance”. Vamos preparar uma refeição saborosa e leva-la para Isaque, seu pai. Mas, respondeu Jacó: “Até mesmo um velho com os olhos de catarata pode nos diferenciar” (Gn 27.12). “Meu irmão é peludo, e eu sou liso” (Gn 27.11 ARA). E acrescenta: “Se o meu me tocar...serei amaldiçoado...”. Então sua mãe prometeu assumir a culpa se o não desse certo “...que caia sobre mim essa maldição, meu filho” (Gn 27.13 NVT). 

Jacó alterou a voz para imitar o tom do irmão: “Sou Esaú, seu filho mais velho. Fiz como o Senhor me disse. Agora, assente-se e coma do que cacei para que me abençoe” (Gn 27.19). Isaque caiu na artimanha, engodo de Jacó e recebeu a benção da primogenitura. Consequentemente “Esaú guardou rancor contra Jacó...e disse a si mesmo: matarei meu irmão” (Gn 24.41).  Rebeca ouviu o juramento do irmão enganado, alertou Jacó e lhe disse para fugir e enquanto ainda era possível. Jacó escapou...

Jacó roubou a benção; mas sua família se desfez; ele estava sem lar; ele teve de fugir para salvar a própria vida; seu irmão gêmeo queria mata-lo; ele havia enganado seu pai; e ele nunca mais voltaria a ver sua mãe; sem rebanho, sem posses; sua vida se tornou um caos de tristeza e aflição. Agora, resta pegar um pouco de roupa e ir em direção ao seu tio Labão, irmão de Rebeca, na Mesopotâmia.

Mas, quando parecia que não existia luz no fundo do túnel, “Jacó partiu de Berseba e foi para Harã” (Gn 28.10). Nos primeiros dias, ele viajou 69 quilômetros de Berseba até Betel, uma terra árida e totalmente coberta de rochas. Na tarde do segundo dia, quando o sol se pôs sobre uma aldeia chamada Luz, ele parou para descansar, no meio do caminho e passar a noite. “Tomando uma das pedras dali, usou-a com o travesseiro e deitou-se” (Gn 28.11).  

Ali sonhou que havia uma escadaria que se erguia da terra cujo topo alcançava os céus e pela qual os anjos de Deus subiam e desciam” (Gn 28.12). Uma tradução do hebraico, resumidamente diz: “Lá, uma escada! Oh, anjos! E olhe, o Senhor em pessoa” (Gn 28.16). Jacó que pensou que estava sozinho, na verdade, estava cercado pelos anjos dos céus! Nós também estamos rodeados de poderosos anjos ao nosso redor. A escritura fala: “...milhares de anjos em alegre reunião” (Hb 12.22). Qual é a tarefa deles: “...espíritos ministradores enviados para servir aqueles que hão de herdar a salvação” (Hb 1.14). 

No meio dessa visão de anjos subindo e descendo pela escadaria, falou com Jacó ratificando a promessa feita a Abraão, Isaque que “...darei a voce e à sua descendência a terra na qual está deitado” (Gn 28.13). Quando Jacó acordou , exclamou: “Sem dúvida o Senhor está nesse lugar, mas eu não sabia!” (Gn 28,16). Quantas pessoas poderiam dizer o mesmo? O Senhor está nesse lugar, mas elas não sabem. Elas não estão familiarizadas com o Deus que nos encontra. Muitos acreditam num que Deus que criou os céus e a terra, mas não em um Deus que se envolve, que interage, que intervém, que anda no meio da sua igreja.  

De manhã Jacó “...pegou a pedra que tinha usado como travesseiro, colocou-a em pé como coluna e derramou óleo sobre o seu topo. E deu o nome de Betel (casa de Deus) àquele lugar” (Gn 28.18-19). Antes era Luz, mas depois daquela experiencia passou a ser chamar “Betel”. Betel é a presença de Deus, é a glória de Deus...

2) Padã-Arã

Quando Jacó chegou em Padã-Arã viu um poço e ali parou para pedir informação. Naquele momento Raquel, filho de Labão chegou ao poço para matar a sede das suas ovelhas. Sim, era filha de Labão, seu tio e, logo, Jacó ficou perdidamente apaixonada por ela. Conheceu toda família da sua mãe e passou a morar com eles...

Depois de trinta dias trabalhando para o seu tio, pediu permissão para casar-se com Raquel. Então, aceitou como dote trabalhar sete anos para se casar com Raquel. Diz-nos o texto: “Então Jacó trabalhou sete anos por Raquel, mas lhe pareceram poucos dias, pelo tanto que a amava” (Gn 29.20). Jacó estava tão apaixonada por Raquel que parece que todos os dias eram noite de lua cheia.

Raquel tinha uma irmã mais velha chamada Lia, que ainda era solteira. A descrição que a palavra de Deus dá de Lia é: “Lia tinha olhos meigos, mas Raquel era bonita e atraente” (Gn 29.17).  “Meigos” significa “suaves”, tem versões que diz que os olhos eram “fracos e pobres”, “sem brilho’. “Raquel era bonita e formosa” (Gn 29,17 NAA), mas Lia não era tão bonita. Os olhos de Lia careciam do fogo e do brilho de sua irmã mais nova. E mais o nome Raquel significava “ovelha”, o nome de Lia significava “vaca”. 

Passaram-se sete anos, o dia do casamente chegou, sete anos como dote de casamento por Raquel. Labão convidou todos: “Então Labão reuniu todo o povo daquele lugar e deu uma festa” (Gn 29.22) Muita comida e o vinho fluiu como água e todos beberam e festejaram. Mas, ao invés de dar a Jacó Raquel, deu-lhe como esposa, Lia. O que podemos entender que Jacó estava tão bêbado que mal conseguia discernir quem estava do seu lado...

Quando amanheceu “...lá estava Lia. Então Jacó disse a Labão: que foi que voce me fez? Por que voce me enganou? (Gn 29.25) O mundo dá volta, é uma roda que gira. Assim como Jacó engambelou seu pai, enganou seu irmão, agora foi enganado pelo sogro!

Labão lhe disse: “Voce quer Raquel?” Tem que trabalhar mais sete anos! O que fazer? “Jacó concordou” (Gn 29.28). Jacó plantou semente de engano, ele colheu o fruto do engano. “Não se deixem enganar: de Deus não se zomba, pois o que o homem semear isso também colherá” (Gl 6.7). Durante 14 anos Jacó trabalhou por Lia e Raquel e seis anos pelo rebanho, ato todo são 20 anos. Ele teve 11 filhos e uma filha em Padã-Arã; chegou na casa de Labão sem nada. Dez vezes em seis anos, Labão alterou seu método de calcular o salario de Jacó, deixando-o de mãos vazias...

Conclusão

O Senhor, novamente apareceu para Jacó, dando-lhe uma ordem: “Volte para a terra dos seus pais e dos seus parentes, e eu estarei com voce” (Gn 31.3). Ou seja, está na hora de voltar, minha promessa não vai se cumprir aqui em Padã-Arã mas se cumprirá na terra prometida, em Canaã.

No entanto, Jacó estava com medo da fúria de Esaú, contudo, “...anjos de Deus vieram ao encontro dele” (Gn 32.1). Chamou aquele de Maanaim, é o acampamento de Deus.  Deus estava com Jacó, não era pra temer, Deus estava arrazoando Jacó que nada lhe aconteceria de mal. Como diz o louvor: “Temer por quê? Se eu estou guardado por quem nunca perdeu batalhas, seu nome é Jeová Jireh, irás prover de novo, sim, sim (eu creio em ti). Haja o que houver, venha o que vier irás prover de novo, eu creio em ti...”

Jacó enviou todos a sua frente, mas ele permaneceu sozinho no rio Jaboque, aliás, o próprio nome do rio transmite a sensação de força e agressão. “Então Jacó ficou sozinho, e um homem lutou com ele até o amanhecer...tocou-lhe na articulação da coxa, de forma que deslocou enquanto lutavam...Então, o homem disse: Deixe-me ir, pois vem o amanhecer. Jacó lhe respondeu: Não te deixarei ir, a não ser que me abençoes. O homem lhe perguntou: Qual é o seu nome? – Jacó - , respondeu ele. Então, o homem lhe disse: O seu nome não será mais Jacó, mas sim Israel, porque voce lutou com Deus e com homens e venceu” (Gn 32.24-28). Jacó deu o nome para aquele lugar de Peniel: “Vi Deus face a face...” 




 

 

 

 

 

 

domingo, 26 de janeiro de 2025

 Maria Madalena Lc 8.1-3 

Introdução

O que dizer dos “espíritos” das religiões afro? O que dizer das manifestações que acontecem no espiritismo? Os espíritos afros da umbanda são sete, vejamos: oxalá, iemanjá, xango, ogum, oxossi, iori, iorimá. E no espiritismo o médium recebe “espirito” de pessoas que já morreram para falar com eles.

1)     Maria madalena

O que dizer sobre ela? O texto lido nessa noite fala que ela se tornou discipula de Jesus e havia sido libertada de sete demônios. Então, o que podemos aprender sobre a vida de Maria Madalena?

Primeiro, ela teve um passado sombrio. Ela fora libertada da escravidão demoníaca. A apresentação do evangelista Lucas sobre ela é: “Maria, chamada Madalena, de quem havia sete demônios” (Lc 8.2). O evangelista de Marcos ratifica esse testemunho, falando sobre os sete demônios. Esse é o unido detalhe que recebemos sobre o passado de Maria Madalena, exceto uma pista a partir de seu sobrenome.

Na verdade, “Madalena” não era um sobrenome de família, mas da vila onde nascera, que se chamava Magadã, ou Magdala. Portanto, os discípulos lhe deram o sobrenome de Madalena para diferenciar de outras mulheres com nome de Maria no Novo Testamento, temos Maria de Betânia, Maria, mãe de Jesus.

A minúscula vila de Magadã ou Magdala, que é mencionada somente uma vez nas escrituras “...Jesus se despediu da multidão, entrou no barco e foi para a região de Magadã” (Mt 15.39). Essa vila ficava as margens do Mar da Galileia, na parte noroeste, distava uns 5 km de Tiberíades e uns nove quilômetros de Cafarnaum, ou seja, estava na região da Galiléia. Aliás, o apostolo Pedro morava em Cafarnaum e Jesus montou sua base ministerial em na mesma cidade. Jesus durante seu ministério nessa região expulsou muitos demônios.

Era uma região muito influenciada pela cultura pagã. Jesus expulsou um endemoninhado em Gadara, possuído por um espirito imundo. Ele vivia perambulando pelo cemitério, todos as cadeias que colocavam sobre ele conseguia dominá-lo, ninguém tinha força para detê-lo; tinha o costume de se mutilar com lascas de rocha (Mc 5.1-5). A possessão demoníaca se manifestava através de enfermidade física como a cegueira e a mudez (Mt 12.22), nesse caso, Jesus libertou e a pessoa voltou a ver e a falar.

O que é ser possesso? Envolve uma escravidão a um espirito maligno, a um demônio – uma criatura real, pessoal e decaída. Lembro-me de um amigo no seminário que durante uma noite gritava assustadoramente, segurando a mão ao pescoço, depois disse-me que o demônio estava tentando sufoca-lo, mas clamou pelo sangue de Jesus.

As escrituras descrevem como os espíritos malignos falam pelos lábios daqueles que atormentam. O evangelista Marcos fala de um homem endemoninhado, ou “espirito imundo” dentro da Sinagoga que vociferava: “O que queres de nós, Jesus Nazareno? Vieste para nossa destruição? Conheço a ti, sei quem tu és: o Santo de Deus!” (Mc 1.24). Na mesma hora, Jesus ordenou: “Fique quieto e sai dele!” (Mc 1.25). Então, aquele homem foi libertado pelo poder de Jesus.

Assim era Maria Madalena. Era atormentava com sete demônios. Ela era, na realidade, uma prisioneira de aflições demoníacas. Aliás, quantas pessoas que são prisioneiras de espíritos malignos? Sem dúvida, vivia em depressão, ansiedade, infelicidade, solidão, aversão a si mesma, sentia vergonha, medo e uma infinidade de tristezas. Sentia-se desesperançada, sem saber o que fazer, quem poderia ajuda-la?

Os endemoninhados nas escrituras nunca tinham amigos, exceto quando os familiares se importavam com eles. Os endemoninhados sempre foram irrequietos por causa da sua incapacidade de fugir aos tormentos dos demônios. Os endemoninhados não possuíam a mínima alegria, porque tudo na vida se tornou escuridão e tristeza e, estavam perdidos porque não havia remédios para suas aflições espirituais.

2) libertação

Jesus passou pela vila de Magdala e se encontrou com Maria e se enterneceu de sua aflição espiritual e a libertou. Sim, Maria de Magdala foi libertada, totalmente curada pelo poder de Jesus. Toda aquela aflição, escuridão, medo, pavor, desesperança, todos os sete espíritos, demônios que viviam lhe atormentando ...sumiram, desaparecem pelo poder de Jesus.

O evangelista Lucas conta uma história que aconteceu na cidade de Filipos, quando Paulo e seus discípulos estavam indo para o lugar de oração “nos saiu ao encontro uma jovem” (Atos 16.16). Lucas nos conta duas coisas sobre essa jovem. Primeiro, ela era possessa de espirito advinhador, ou, literalmente, ela tinha “um espirito de Píton”, ou “espirito mau”, “espirito de adivinhação”, “espirito de feitiçaria”. Os demônios falavam pela boca dela e tudo que ela dizia, parecia funcionar. A moça adivinhava e os seus donos ganhavam dinheiro.

Segundo ela era uma jovem escrava. Ela era explorada pelos seus donos, para os quais ganhava muito dinheiro adivinhando. À medida que Paulo e seus amigos seguiam seu caminho, ela corria atrás deles, gritando: “Esses homens são servos do Deus Altíssimo e vos anunciam o caminho da salvação” (At 16.17). Os gritos da jovem continuaram por muitos dias até que, finalmente, Paulo resolveu agir. O apostolo Paulo “...perturbado, voltou-se e disse ao espirito: “Em nome de Jesus Cristo, te mando que saias dela. E na mesma hora saiu” (Atos 16.18).

Conclusão

Maria recebeu o sobrenome “Madalena” e tornou-se seguidora de Jesus Cristo. Ela foi achada, encontrada, abraçada, por Jesus Cristo. Ela foi envolvida por sua graça, por sua misericórdia. O apostolo Paulo fala sobre o novo nascimento: “Quem está em Cristo, nova criatura é, as coisas velhas passaram, tudo se fez novo”. Em Cristo, temos vida, em Cristo não existe medo, pois o “perfeito amor lança fora o medo”.

 

sábado, 25 de janeiro de 2025

 Fundamentos para o casamento 

Introdução

 “O Senhor Deus disse: "Não é bom que o homem esteja sozinho. Farei alguém que o ajude e o complete".19 O Senhor Deus formou da terra todos os animais selvagens e todas as aves do céu. Trouxe-os ao homem para ver como os chamaria, e o homem escolheu um nome para cada um deles.20 Deu nome a todos os animais domésticos, a todas as aves do céu e a todos os animais selvagens. O homem, porém, continuava sem alguém que o ajudasse e o completasse.

21 Então o Senhor Deus o fez cair num sono profundo. Enquanto o homem dormia, tirou dele uma das costelas e fechou o espaço que ela ocupava.22 Dessa costela o Senhor Deus fez uma mulher e a trouxe ao homem. 23 "Finalmente!", exclamou o homem. "Esta é osso dos meus ossos, e carne da minha carne! Será chamada ‘mulher’, porque foi tirada do ‘homem’".24 Por isso o homem deixa pai e mãe e se une à sua mulher, e os dois se tornam um só. 25 O homem e a mulher estavam nus, mas não sentiam vergonha”

1)     A criação

O capitulo 2 de Genesis conta uma história, a história de um casamento, um casamento instituído por Deus. No começo não havia nada no mundo, somente escuridão. Elohim começa a criação do mundo: criou a luz, a separação das aguas de cima e de debaixo, os mares, a vegetação, os corpos celestes, os animais aquáticos e da terra e as aves. No final, Elohim, afirma: “E Deus viu que isso era bom”. Essa expressão aparece sete vezes no primeiro capítulo de Genesis. Sete é o número da perfeição de Deus.

Agora, no sexto dia da criação, Elohim criou Adão a sua imagem e a sua semelhança, sim, um ser humano capaz de amar, de pensar, de raciocionar, de criar, e de obedecer e colocou em seu coração a eternidade. No entanto, Deus falou: “Não é bom” (Gn 2.18). O que não é bom? Será que Elohim criou o homem de forma incorreta? Não! “Não é bom que homem esteja só”. O texto hebraico diz literalmente: “O homem estar só não é bom”.

Então, Elohim disse: “Farei para ele alguém que o auxilie e lhe corresponda”. Observe estes dois verbos: “auxilie” e “corresponda”. “Auxiliadora” não é sinônimo de serviçal. A palavra usada no hebraico é EZER que significa algo que é necessário, ou o que está faltando. O próprio Deus, o Senhor do universo é chamado de nosso auxilio em vários salmos (Sl 54.4).

Portanto, “auxiliadora” na cosmovisão judaica não tem nada a ver com a ideia de serviçal. Elohim, o criador de todas as coisas, viu Adão e conclui que lhe faltava algo importante. O homem estava incompleto, sim homem tinha a linha da melodia mas faltava-lhe a parte da harmonia. O cântico da vida deveria ser entoado em dueto, em harmonia, mas Adão era uma única voz. Em essência Deus lhe diz: “Sozinho, sua voz não dá conta, farei alguém que lhe ajude e complete”.

“E lhe corresponda”, ou “que lhe seja conveniente”, diz o texto. Então veja a criação da mulher: “O Senhor Deus fez o homem cair em profundo sono e, enquanto este dormia, tirou-lhe uma das costelas... com a costela que havia tirado do homem, o Senhor Deus fez uma mulher e a levou até ele. Disse então o homem: Esta, sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne” (Gn 2.21-23).

O missionário e comentarista bíblico Mattew Henry, expressou-se: “A mulher foi feita da costela de Adão; não foi feita da cabeça para dominá-lo, nem dos pés para ser pisada por ele, mas de um dos lados para ser igual a ele, ser protegida sob seu braço, e perto do coração para ser amada”. Tão logo Adão se “recuperou da cirurgia”, abriu os olhos e exclamou: “Até que enfim! Osso dos meus ossos, carne da minha carne” (Gn 2,23 A mensagem).

2)     Quatro elementos essências para o casamento

Em Genesis temos uma declaração muito importante na qual se baseia o casamento, se fundamenta o casamento. Essa declarada é repetida por Jesus (Mt 19.5) e pelo apostolo Paulo (Ef 5.31), diz assim: “Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e eles tornarão uma só carne. O homem e a mulher viviam nus, e não sentiam vergonha” (Gn 2,24-25).

Desvinculação

“O homem deixa pai e mãe”. A palavra hebraica para “deixar” é traduzida com mais frequência por “abandonar”. Isso não significa que os pais devem ser desconsiderados ou menosprezados. Mas a esposa vem, agora, em primeiro lugar...o marido, vem agora, em primeiro lugar. Portanto, “deixar” significa, em primeiro lugar, que o homem a mulher muda o foco da dedicação. Em segundo lugar, “deixar” não mais dependente dos pais, agora, um depende do outro, uma dependência mútua.

Permanência

“O homem se une à sua mulher”. O homem e a mulher deixam a família paterna para se unirem. Quando a gente pensa em união, pensa em um adesivo que une duas substâncias, duas coisas. Se voce já fez uso de uma cola profissional, tem uma advertência: “Não aplique a cola antes de estar preparado para fazer a junção”. Por quê? As coisas que voce colar ficarão unidas. Esse é o princípio da permanência. A partir de agora, vocês estão colados, vocês estão juntos, Deus está ratificando, Deus está carimbando, subscrevendo essa união. Jesus diz: “O que Deus uniu, o homem não separe” (Mt 10.9).

Unidade

“os dois se tornam um só”. O apostolo Paulo em Efésios chama essa união de “um grande mistério”, ou um “mistério grandioso”. Consegue imaginar duas pessoas muito diferentes se tornando uma só? O processo começa no altar, a partir de hoje. Vai demandar muito tempo, trabalho, sensibilidade, envergadura, para que as duas pessoas se tornem unidas em corpo, mente e proposito. A união entre um homem e uma mulher não é somente física, sexual. Não, é uma união em todos os sentidos da complexidade humana: física, emocional, social e espiritual.

Conclusão

Intimidade

“O homem e a mulher estavam nus, mas não sentiam vergonha”. Vemos o homem no jardim do Eden se relacionando com Deus todos os dias. Sua nudez era mais que física, também era emocional. Eles não tinham segredos, eles não tinham celulares com senhas. Nada tinham a esconder, fosse de Deus ou um do outro. Um casamento saudável, um casamento funcional é um casamento onde tudo é transparente, onde nada se esconde do outro. O sábio Salomão fala sobre intimidade:  “Cântico dos Cânticos de Salomão. Beije-me com os beijos da sua boca! Porque o seu amor é melhor do que o vinho” 

Portanto, diz Salomão, o beijo é melhor, o beijo é o amor, é o compromisso, é a verdade, é a lucidez, é a sinceridade, é o companheirismo. Enquanto que o vinho, é simplesmente o encontro sem compromisso, é a paixão, é o desejo, depois cada um vai para sua casa.

Enfim, esses quatro elementos: desvinculação, permanência, unidade e intimidade são fundamentais para casamentos coesos, casamentos longínquos e casamentos verdadeiros.  

 

terça-feira, 21 de janeiro de 2025

 Recebereis poder Atos 2 

Introdução

O Espírito Santo é Deus e Jesus o chamou de “outro consolador”, isto é, da mesma espécie ou tipo. Ele tem personalidade distinta do Pai e do Filho. O Espirito Santo tem inteligência pois “...sonda todas as coisas, até mesmo as coisas profundas de Deus” (1 Co 2.10). Ele tem sentimentos “Não estristeçam o Espirito Sando de Deus, com o qual vocês foram selados para o dia da redenção” (Ef 4.30). Ele chama e envia as pessoas: “Enquanto adoravam ao Senhor e jejuavam, disse o Espirito Santo: separem-me Barnabé e Saulo para a obra que os tenho chamado” (At 13.2). O Espirito Santo é onipotente, infinito, incriado, eterno e Senhor.

1)     O que aconteceu em Atos 2?

Era o dia da festa de Pentecostes e havia 120 pessoas no cenáculo, buscando ao Senhor. Quando de repente, houve “...veio do céu um som, como de um vento muito forte, e encheu toda a casa...” (Atos 2.2). Um vento muito forte e impetuoso, no entanto, não é dito que passou por ali um vento forte, soprando fortemente, ou, um tufão. Olha a expressão “como”, ou equivalente, parecido, “parecia um som de um vento impetuoso”.

Em seguida, diz o texto, “...aparecerem línguas de fogo, que se separaram e pousaram sobre cada um deles” (Atos 2.3). Fogo que parecia línguas pousando em pequenos pedaços em cada um dos presentes. Esse fogo era a presença divina, a gloria de Deus, foi-se dividindo e pousando sobre cada um dos discípulos. Em seguida, “...todos ficaram cheios do Espirito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espirito permitia que se expressassem” (Atos 2.4). 

De inicio havia 120 discípulos. Depois do sermão do apostolo Pedro explicando o porquê de tudo aquilo que estava acontecendo, usando o livro do profeta Joel para consubstanciar uma profecia que estava se cumprindo “...derramarei do meu Espirito sobre todos os povos! Os seus filhos e as suas filhas profetizarão, os idosos terão sonhos, os jovens ganharão visões!” (Jl 2.28).  Como resultado dessa pregação três mil pessoas foram salvas em Nome de Jesus.

E não parou mais de crescer a igreja de Jesus. Depois cinco mil vieram a Cristo de uma só vez. Isso totalizando oito mil pessoas. A medida que o evangelho avançava dia-a-dia, o Senhor acrescentava diariamente à igreja os que iam sendo salvos.

Um fato, depois de Atos 2, o som como de um vento impetuoso e as línguas repartidas de fogo não ocorreram novamente na história da igreja. Deus continuou batizando com Espirito Santo (batizou a família de Cornélio, batizou os discípulos de João Batista) como vemos no decorrer do livro de Atos, mas não dentro da narrativa de um vento e de línguas repartidas como de fogo sobre a cabeça de cada discipulo.

D.L. Moddy, um grande evangelista, reuniu os cristãos levando-os debaixo dos pinheiros na parte leste dos Estados Unidos. E ali ficaram vários dias, orando e buscando a presença do Espirito Santo. Então olhando para aquelas pessoas afirmou: “A reunião termina amanhã e não podemos ir para casa sem sermos cheios do Espirito Santo; clamemos novamente e esperemos em Deus”. Eles clamaram entre os pinheiros, e o poderoso Espirito Santo desceu sobre eles. 

No dia seguinte, enquanto pegavam os trens em todas as direções, em todos os lugares por onde iam, eram como raposas de Sansão atravessando os campos, ateando fogo do Espirito por onde passavam, o poder do Espirito veio sobre eles... 

2)     O que é importante?

Em João 14.16 Jesus fez uma promessa aos discípulos: “Eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro consolador, para que fique sempre convosco” (Jo 14.16). E mais: “Ele me glorificará, pois receberás do que é meu e o anunciará a vós” (Jo 16.14). Esta era a promessa: estava chegando alguém que teria autoridade, habilidade, capacidade de tornar Jesus Cristo real para aqueles que cressem. 

No dia de pentecostes, enquanto pensavam que os discípulos estavam bêbados, o apostolo Pedro levantou e disse-lhes: “A este Jesus, que vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo”. Ou seja, o que agora vocês estão vendo e ouvindo, foi derramado pelo homem que está à direita de Deus, isto é, o Senhor Jesus Cristo. Em João 16, Jesus também afirmou: “Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo”, em seguida Jesus explica: “Do pecado, porque os homens não creem em mim; da justiça, porque vou para o Pai...e do juízo, porque o príncipe deste mundo já está condenado” (Jo 16.8-11).

 Sobre o Espirito Santo, Jesus também disse: “Eis que envio sobre vós a promessa de meu Pai. Mas ficai na cidade, até que do alto sejas revestidos de poder” (Lc 24.49). Uma definição de “Poder” é a capacidade de fazer. Da palavra poder derivou o vocábulo “dinamite”, que não tem nada a ver com ser cheio do Espirito Santo. Aliás, foi a dinamite que recebeu o nome vindo do termo grego, e não o Espirito Santo e o poder de Deus que tem uma equivalência com o poder da dinamite. 

O texto diz: “...ficai na cidade, até que do alto sejais revestidos de poder”. “Poder”, como já afirmamos “é a capacidade de fazer”, e isso é tudo, apenas capacidade de realizar, ou fazer. Digamos, um homem pega um violino e não consegue tocar nada além de guinchos e sons dissonantes, logo, esse homem não tem capacidade de fazer. Por outro lado, um homem pega o violino e logo está tocando belas e ricas melodias.

Portanto “poder” é capacidade dinâmica para fazer a tarefa que lhe foi dada. Se você for um ganhador de almas, terá a habilidade de conquista-la. Se você for um pregador, terá a habilidade de tornar a palavra de Deus pregada e anunciada. Se você é um evangelista, terá a capacidade de levar a mensagem de Jesus às almas angustiadas. Se você tem o dom de louvar ao Senhor, terá voz para elevar o nome do Senhor. Se você é um ensinador das escrituras, terá a capacidade de abrir o entendimento de muitas pessoas. 

Se Deus lhe deu o dom de cura, terá habilidade do Espirito Santo para tocar nas pessoas e serem curadas. Se você tem os dons da sabedoria, do conhecimento, discernimentos de espirito...Deus lhe dará capacidade de ver o que está além. Então, o que quer que você faça em Nome de Deus, ele lhe dará a capacidade de realizar. Ele lhe dará a capacidade de ser vitorioso, de viver corretamente, de contemplar Jesus e de viver tendo o céu em vista.

Em Genesis 28, diz o texto que Jacó estava fugindo da ira assassina de Esaú, indo em direção a Mesopotâmia. Depois de ter andando mais de 60 km diz o texto “Tendo chegado a certo lugar, ali passou a noite...então sonhou que havia uma escada colocada sobre a terra, cujo topo chegava ao céu; e os anjos de Deus subiam e desciam por ela” (v.12). Quando acordou do sono ele exclamou: “Na verdade, o Senhor está neste lugar, e eu não o sabia” (Gn 28.16). 

Precisamos do “poder” do Espirito Santo. A igreja é chamada a viver acima de sua própria capacidade. Moisés diante do seu chamado disse ao Senhor: “Quem sou eu para me apresentar diante do Faraó e fazer sair os israelitas das terras do Egito?” Então Deus lhe assegurou: “Eu estarei contigo” (Ex 311-12). A igreja é chamada a viver “nas regiões celestiais em Cristo Jesus” (Ef 1.3). Nós não temos capacidade, mas Deus nos concede. Eu não sei pregar, mas Deus nos levanta: “Eu não passou de uma criança”, disse Jeremias, mas o Senhor lhe respondeu: “Não fale assim Jeremias, porque a todos a quem eu te Enviar, irás, e tudo quanto eu te ordenar, falarás” (Jr 1.6-7).

Conclusão: enchei-vos

Para saber as entrelinhas do livro de Dostoiévski “O idiota”, é necessário do espirito do autor. Para entender os poemas de Carlos Drummond de Andrade, é necessário o espirito do poeta. Para entender como Beethoven compôs sua sinfonia, é necessário o espirito do compositor. Agora, se vamos reproduzir Cristo na terra e ser semelhantes a ele, e anuncia-lo, do que é que mais precisamos?

Precisamos ter o poder do Espirito Santo em nossas vidas. O poder é inegostável, infinito. Ser cheio do Espirito é como uma garrafa no oceano. Você tira a tampa e a afunda no oceano, a garrafa fica completamente cheia de oceano. A garrafa está no oceano e o oceano na garrafa. O oceano contém a garrafa, mas a garrafa contém apenas um pouco do oceano. Assim é como um cristão. 


Somos cheios da plenitude de Deus, mas não podemos conter tudo de Deus porque Deus nos contém; mas podemos ter tudo de Deus que pudermos conter. Se soubéssemos poderíamos aumentar nossa vasilha, a vasilha fica maior a medida que andamos com Deus, que avançamos com Deus. Como diz o texto de Atos: “Todos ficaram cheios do Espirito Santo”. E você quer ser cheio do poder do Espirito Santo?

 

 

 

sábado, 18 de janeiro de 2025

 Bereshit 

O livro de Genesis é o livro do começo: “Bereshit”: o começo de tudo, sim, o começo da terra, o começo da luz, das vegetações, dos animais aquáticos, do sol, da lua, do homem e da mulher...

Inicia afirmando que a terra era sem forma e vazia, ou seja, no começo não havia nada, era totalmente vazia, sem vida! Existia somente uma escuridão que cobria as aguas profundas. No entanto, apesar da escuridão, do nada, o verso dois termina com uma esperança: “O Espirito de Deus se movia sobre a superfície das aguas”. Quando parece que não tem mais jeito, vemos o Espirito Santo movendo a superfície da nossa vida ...

o ato do Espirito Santo se mover subentende que Deus estava com seu projeto em curso: a criação do mundo! E assim começo, o Elohim, o Deus majestático criando ou fazendo o mundo aparecer com o seu poder.

Era escuridão, então, Deus disse: “Haja luz”. Há uma diferença da escuridão e da luz: escuridão é sombra, medo, pavor, coisas escondidas; enquanto que a luz é vista em todas suas cores, suas matizes e dignidade. Nada pode se ocultar da luz de Deus, nada pode se ocultar da presença de Deus. 

Esse foi o primeiro dia da criação...

Em seguida, Deus fez a separação das águas de cima (céus) e das águas de baixo ( terra). Olhando para o texto de Genesis parece que Elohim vai montando o quebra cabeça do mundo, do universo, juntando o que necessário juntar e separando o que era pra separar. Assim, é na vida, não somente juntar mas também saber separar daquilo que não é bom, do que não edifica. 

Esse foi o segundo dia da criação.

Agora, depois da separação das aguas de cima e de baixo, Elohim, faz um contingenciamento com as aguas dos mares. Sim, o mar revolto, ensandecido com seus ventos e suas ondas encapeladas tem que ter um limite ... e o limite do mar é a terra. O limite é necessário na vida do homem e da mulher, senão  como o mar que não tem limite destruindo tudo pela frente, destruiremos tudo que que está diante de nós...Em seguida, fez aparecer sobre a terra todo tipo de vegetação e todo tipo de árvores. 

Esse foi o terceiro dia da criação.

Da terra, Deus olha para o espaço sideral, o que está acima de nós e vê a necessidade de criar “luzes para separar o dia da noite e marcar as estações, os dias e os anos”. Assim, deu-se, a criação do Sol para “governar o dia” e a lua “para governar a noite” e criou também as estrelas para iluminar toda a terra...miriades de luzes espalhadas pelo céu sem fim...O verso 18 termina pela primeira vez afirmando “E Deus viu que isso era bom”. 

Findou-se o quarto dia da criação.

Em seguida, Deus povoa as aguas e os céus. “criou-se os grandes animais marinhos e todos os seres vivos que se movem sobre as águas...também as aves dos céus. Em seguida tem a benção de Elohim: “Sejam férteis e multipliquem-se. Que os seres encham os mares e as aves se multipliquem na terra”. E, novamente, aparece a expressão “E Deus viu que isso era bom”. 

E foi o quinto dia da criação...

E, por fim, meus amados, o ultimo dia da criação! Primeiro, Elohim criou os animais da terra, para povoar a terra e se multiplicar. E, novamente a frase, “E Deus viu que isso era bom”. Em seguida, cria o coroa da criação, o Homem: façamos o ser humano à nossa imagem e a nossa semelhança.

Sim, somente o ser humano foi criador e imagem e a semelhança do seu criador. O ser humano tem coração capaz de amar, o ser humano tem uma mente, capaz de conhecer a Deus; o ser humano tem uma vontade, capaz de obedecer a Deus...e por fim, a eternidade foi colocada no coração do homem. Ele tem uma eternidade com o seu criador.

esse foi o sexto dia...

 

terça-feira, 14 de janeiro de 2025

 Por que sou cristão? Atos 9 

Introdução

Todas as religiões levam a Deus (muitos dizem que sim)? Aliás, o papa Francisco falou que sim, nesses dias. No mundo virtual, das mídias, há uma variedade de vozes competindo por nossa atenção. A qual delas escutaremos? Somos apresentados a um verdadeiro buffet religioso. Que prato escolheremos? todas as religiões não levam a Deus? 

1)     Você é cristão?

Se alguém lhe perguntasse: “Voce é cristão?”, o que você diria? “Sou cristão porque por acaso nasci num país de maioria cristã. Meus pais me criaram na igreja, fui para escola dominical desde a minha tenra idade”. Em outras palavras, foram as circunstancias de meu nascimento, meus pais e minha educação que determinaram o fator de eu ser cristão. Contudo, ser cristão não é ser religioso é muito mais do que isso... 

Novamente, se alguém lhe perguntasse: “Voce é cristão?”, o que você diria? “Sim, foi no dia 13 de fevereiro de 19..., quando tinha 18 anos, tomei uma decisão pessoal por Cristo. Ouvi um pregador falando sobre a pergunta de Pilatos: “O que farei com Jesus, chamado o Cristo?”. Até aquele instante eu não sabia que eu tinha algo a ver com Jesus, que é chamado o Cristo. Assim, naquela noite memorável assenti em meu coração que Jesus Cristo é o meu Salvador... 


Contudo, o fato mais importante de ser cristão não é ter nascido e sido educado num lar cristão, ou ter-me rendido a Cristo, é muito mais do que isso. Mas saber, entender, compreender, que o próprio Jesus veio ao meu encontro e me salvou. O próprio Jesus foi e “tirou-me do fosso fatal, do charco lamacento, assentou meus pés sobre uma rocha...” (Sl 42.2). 

Franscis Thompson escreveu um poema chamado: “O cão de caça do céu”. Ele teve uma infância muito solitária e sem amor, sem afeto. Fracassou sucessivamente em suas tentativas de tornar-se sacerdote católico romano, médico e soldado. Por fim, acabou perdido em Londres, até que um casal de cristãos reconheceu sua genialidade poética e o resgatou. Durante todos esses anos ele esteve consciente, tanto de sua busca quanto de ter sido buscado e o expressou com mais eloquência em seu poema “o cão de caça do céu”: 

“Dele fugi, noite e dias adentro;

Dele fugi, pelos arcos dos anos;

Dele fugi. Pelos caminhos dos labirintos

De minha própria mente; e no meio de lágrimas

Dele me ocultei, e sob riso incessante.

Por sobre esperanças panorâmicas corri;

E lancei-me, precipitado, para baixo de titânicas trevas de temores abissais,

Para longe daqueles fortes pés que seguiam, seguiam após mim.

Mas com desapressada perseguição, e com inabalável ritmo,

Deliberada velocidade, majestosa urgência,

Eles marcavam os passos – e uma vez insistia

Mais urgente que os pés – todas as coisas traem a ti, que traíste a mim”.

O poema está dividido em cinco partes: a primeira ela chama de “voo da alma”, pois o poeta se enxerga como um fugitivo das exigências do discipulado. A segunda é a “busca da alma”, na qual a alma busca satisfação em toda parte, mas não consegue encontrá-la. A terceira parte ele chama de “impasse da alma”, uma vez que o poeta descobriu que a vida sem Deus não tem significado. Na ultima parte ele chama de “prisão da alma” e se entrega finalmente ao amor de Cristo.

Portanto, se somos cristãos, não é porque tenhamos nos decidido por Cristo, mas porque Cristo se decidiu por nós. Para entendermos melhor, eu os convido a olhar para a conversão de Saulo de Tarso.

2)     Saulo de tarso 

A conversão de Saulo é a mais conhecida na história cristã. Mas, sua conversão não foi repentina, e sim aconteceu ao longo de um processo. Diz o evangelista Lucas: “Todos caímos por terra. Então ouvir uma voz que me dizia em aramaico: Saulo, Saulo, porque você está me perseguindo? Resistir ao aguilhão só lhe trará dor” (Atos 26.14). Ou, “...é inútil resistires ao aguilhão” (A 21).  A palavra grega Kentron poderia ser traduzida como “espora”, “chicote” ou “aguilhão”. 

Ao falar com Saulo Jesus estava se comparando a um fazendeiro incitando um boi obstinado ou a um treinador de cavalos domando um cavalo selvagem. Jesus estava perseguindo, cutucando e espetando Saulo. Mas ele estava resistindo à pressão, e era difícil, doloroso e até mesmo fútil para ele resistir aos aguilhões. Quais eram os aguilhões?

Jesus estava cutucando Saulo em sua mente. Saulo fora educado aos pés de Gamaliel, um rabi muito festejado no primeiro século. Portanto Saulo tinha um ótimo conhecimento do judaísmo, era zeloso da lei. Diante disso, estava convencido de que Jesus de Nazaré não era o Messias. Ora a lei afirmava: “Qualquer que for pendurado num madeiro está debaixo da maldição da lei” (Dt 21.23). O papel dele era se opor a Jesus de Nazaré e perseguir seus seguidores. 

No entanto em sua mente estava cheia de duvidas por causa dos rumores que circulavam acerca de Jesus: a beleza e a autoridade de seu ensino; a humildade e a mansidão do seu caráter; seus feitos poderosos de cura e milagres; e em especial, o rumor persistente de que sua morte não havia sido o fim, pois algumas pessoas diziam que o haviam visto e tocado e conversado com ele após a sua morte.

Jesus estava cutucando em sua memória. Saulo estava presente no julgamento de Estevão, a quem Lucas descreveu como “homem cheio de fé e do Espirito Santo” (Atos 6.5). Saulo vira com seus próprios olhos a face de Estevão brilhando como a face de um anjo (Atos 6.15); ouvira com seus próprios ouvidos a defesa de Estevão, ao final da qual ele afirmara ver a gloria de Deus e “o filho do homem em pé, à direita de Deus” (Atos 7.55-56). 

E quanto arrastaram Estevão para fora da cidade e o apedrejaram até a morte, colocaram suas vestes aos pés de Saulo. Lucas continua em sua descrição: “Enquanto apedrejavam Estevão, este orava: Senhor Jesus, recebe o meu espirito. Então caiu de joelhos e bradou: Senhor, não os considere culpados deste pecado. E tendo disto isso, adormeceu” (Atos 7.59-60). Diante disso, o que pensou Saulo? Há algo de inexplicável a respeito desses cristãos. Eles estão convencidos de que Jesus de Nazaré é o Messias e tem a coragem em morrer por seu Senhor.

Jesus estava cutucando Saulo em sua consciência. Saulo vivia uma vida correta e tinha uma reputação sem mancha. Quando a justiça era irrepreensível (Fl 3.6). No entanto, a piedade perfeita que ele dizia ter era uma conformidade puramente externa às exigências da lei. Exteriormente ele havia obedecido aos preceitos e às proibições da lei. Interiormente, no entanto, em sua consciência, ele sabia que era pecador. Como disse C.S.Lewis: “Pela primeira vez examinei a mim mesmo com um proposito seriamente prático. E ali encontrei o que me assustou: um bestiário de luxurias, um hospício e ambições, um canteiro de medos, um harém de ódios mimados. Meu nome é legião”. 

Saulo poderia lidar com os primeiros nove mandamentos porque eles tinham a ver com palavras e obras. Mas o décimo mandamento proibia a cobiça. E a cobiça não é nem uma obra nem uma palavra, mas um desejo, uma luxuria insaciável. Anos depois ele expressou: “Eu não saberia o que é pecado, a não ser por meio da lei. Pois, na realidade, eu não saberia o que é cobiça, se a lei não disse não cobiçaras. Mas o pecado...produziu em mim todo tipo de desejo cobiçoso...” (Rm 7.7-9).

Conclusão

Jesus estava cutucando Saulo em seu espirito. Como judeu, ele havia crido em Deus, aprendera a Torá desde sua infância; depois sentou-se aos pés de Gamaliel e tornou-se um rabi. Em todo o tempo de sua vida havia buscado servir à Deus com uma consciência limpa, no entanto, não conhecia a Deus. Estava alienado de Deus, havia um vazio em sua alma, nada do que aprendera saciara seu espirito. Sim, a lei de Moisés, os mandamentos, não foram suficientes para o seu espirito. Até que Jesus lhe apareceu na estrada de Damasco e a sua vida foi transformada. 

Agostinho de Hipona, nasceu no norte da AFrica, Argélia, no quarto século. Ainda adolescente, vivia uma vida promiscua e dissoluta, escravizado por suas paixões. Dedicou também aos estudos em Cartago, Roma e Milão, abraçando a ideologia maniqueísta. Mas, ainda assim, sua alma estava inquieta e se encontrava miserável. Num dia de angustia, ele ouve um menino dizendo “Toma e lê, toma e lê”, levantou-se e foi ler as escrituras e leu Romanos 13: “Não em orgias e bebedeiras, não em imoralidade sexual...mas revistam-se do Senhor Jesus Cristo” (vs 13,14). Ali, toda escuridão foi embora  e uma luz pairou sobre ele. Sim, Deus lhe chamou, lhe separou. Ele diz: “Tu me chamaste, gritaste por mim, e venceste minha surdez. Brilhaste, e o teu esplendor pos me fuga minha cegueira. Exalaste teu perfume, respire-o, e agora suspiro por ti...”.