terça-feira, 13 de julho de 2021

 O Ribeiro de Besor 1 Sm 30 

Introdução

O ribeiro de Besor foi palco de importante episódio da história humana. Besor, no hebraico é “refrigério”; é um riacho que ficava perto de Ziclague.  Nunca entenderemos por que Besor não se acha alinhado par a par com os nomes de outros lugares decisivos, como Monte Sinai, vale do Jaboque,  Monte Carmelo, Betânia, Nazaré, Galiléia, Siló, Calvário, Betel, etc. No entanto, essa parte da história de Davi, que tem origem no Ribeiro de Besor, continua sendo revivida entre os homens e mulheres que permanecem em contato com Deus no seu dia-a-dia. 

Os nomes são importantes. Identificam lugares e pessoas em particular. Os nomes nos salvam dos pantanais da generalidade indiferente. São coletes salva-vidas que nos mantém à superfície no Oceano do anonimato. QUAL É O SEU NOME? ONDE VOCE NASCEU? ONDE VOCE MORA? QUEM É O SEU DEUS? De tal modo, que os nomes localizam e proveem uma identidade. Nosso objetivo é tirar do ribeiro de Besor sua imerecida obscuridade e inclui-lo em nosso mapa espiritual.

1)    Uma cidade arruinada

Davi e seus homens estão em território filisteu, em Gate, sob os cuidados de Aquis. Na Batalha entre Filisteus e Israelitas, Davi toma partido ao lado dos filisteus; deixando as mulheres, crianças e animais desprotegidos em Ziclague. Contudo, os príncipes filisteus rejeitaram e, então Davi e seus homens retornaram à sua cidade, eram 145 km. Quando se defrontam com a cidade: “...viram que os amalequistas haviam invadido o Neguebe e atacado Ziclague, tinham destruído e queimado a cidade” (1 Sm 30.3). Parecia que um terremoto, chamado amalequitas,  tinha passado pela cidade: cidade totalmente destruída, queimada, as mulheres e as crianças foram capturadas e os animais levados como despojo...uma desolação. 

 Então, nos diz o texto, Davi  e os 600 homens “...prorromperam em exclamações de horror, brados de dor e pranto, e choraram até se esgotarem as lagrimas” (1 Sm 30.4). Um vulcão que lança no ar um desesperado lamento, logo transformado em ira, que se volta contra Davi “...seus próprios seguidores estavam tão amargurados com o sequestro de seus filhos e filhas que falavam em apedrejá-lo...”(1 Sm 30.6). A RAIVA SE CRISTALIZA NUM CONLUI PARA MATÁ-LO. A TERRIVEL MÁGOA NUBLOU SUAS MENTES, A RAIVA ENDURECEU SEUS CORAÇÕES.

As tragédias da vida podem causar em nós o melhor ou o pior. Aqui, foi o pior. Uma pergunta: como você reage diante das tragédias da vida? Aqui, os homens de Davi, foram para pior. Agora, Davi havia conduzido esses 600 homens por veredas de providencia e salvação, ao longo daqueles anos todos no deserto, levando-os, a viver em oração, a depender de Deus, levando-os a conhecer a beleza e a santidade, gerando gradativamente sua transformação, de “desgraçados, devedores, descontentes”, para uma comunidade (koinonia) fraterna e amorosa. Uma encarnação do Salmo 133: “Como é bom e agradável quando os irmãos vivem em união! É como óleo precioso derramado sobre a cabeça, que desce pela barba, a barba de Arão, ate a gola das suas vestes. É como o orvalho do Hermon quando desce sobre os montes de Sião. Ali o Senhor concede a benção da vida para sempre” No entanto, eles NA TRAGÉDIA, SÃO LEVADOS PELA CÓLERA... 


2)    Animo

No entanto, Davi, na tragédia não se desestabilizou. “Davi, porém, animou-se no Senhor seu Deus”. Em meio ao caos de lamentação, raiva e amargura, nuvens negras de tempestade da morte assomando no horizonte, Davi tinha Deus com seu refugio, fortaleceu-se no Senhor. E, mais: quando seu mundo exterior entrou em colapso, ele se voltou para o interior, reconstruiu sua identidade original, recuperou sua base. Paulo, subscreve: “...Ainda que o nosso exterior esteja morrendo, nosso interior está renovando a cada dia” (2 Co 4.16). 


 A tragédia libertou Davi, imediatamente, de 16 meses de servidão a Aquis, levando-o a relacionar-se novamente com Deus – ouvindo a Deus com toda atenção, obedecendo a Ele corajosamente. Davi chamou seu pastor Abiatar, sacerdote, para com ele se aconselhar. “Perseguirei a esse bando de invasores? E a resposta foi: sim, persegue-os, porque certamente os alcançaras e libertarás os prisioneiros” (1 Sm 30.8).

Os 600 homens estavam cansados para ir á caça dos amalequitas, estavam fatigados, desmoralizados. Mas, mesmo assim, eles foram. Depois de 25 km, eles alcançaram o Ribeiro de Besor. Aquela altura, 200 homens, estavam exaustos e mostravam-se incapazes de prosseguir. “Não podemos ir”, disseram. “Não temos mais forças, não temos animo” ( 1 Sm 30.10). Foram deixados ali, em Besor, deixados no “refrigério”. 

Atravessando o Ribeiro, Davi e os 400 homens entraram nas áridas e desoladas terras do deserto. Encontraram um egípcio doente, três dias sem comer, quase à morte. Deram-lhe água e comida – um bolo de figos prensados e dois bolos de uvas passas (1 Sm 30.11-12). Depois, contou que era servo de um dos chefes dos amalequitas, mas caíra doente, sendo, por isso, abandonado no deserto para morrer. Davi cuidou dele, alimentou-o e salvou sua vida.

Salvo e grato pela hospitalidade no deserto, o egípcio lhe disse onde estavam os amalequitas. E, sabendo exatamente para onde se haviam dirigido – pois os amalequitas iam fazem uma celebração por todos os saques que tinham feito. Guiou Davi e sua tropa até o local. Dito e feito, havia festa, comilança, bebedeira, algazarra, os amalequitas comemoravam, dançavam, etc. Até que os homens de Davi, invadem e matam quase todos os homens, conseguindo todas suas mulheres e filhos, animais – despojos, muitos despojos de guerra.

 3)    No Ribeiro de Besor

Este parece ser o fim da história – mas não é. O fim ocorre no Ribeiro de Besor. No caminho de regresso a Ziclague, os 400 homens em êxtase chegam ao ribeiro, onde haviam deixado os outros 200 homens. Enquanto os outros (400) arriscaram-se aos horrores do deserto e da luta contra os amalequitas. Esses 200 que haviam ficado para trás punham-se agora, beijando suas mulheres e seus filhos, desfrutando do êxito que não tinham ajudado a ganhar.

Alguns homens, talvez os mesmos, que quiseram matar Davi, não aceitaram a idéia de repartir os despojos da guerra com seus irmãos mais fracos. Para estes, era suficiente que aqueles outros recebessem de volta suas esposas e filhos, e nada mais, nem um simples objeto sequer do espólio dos amalequitas, nem uma só ovelha, cabra, um moedinha, nada. Davi, novamente, entra em cena e intervém. Sua intervenção é EVANGELHO PURO. 


Davi determina que todos os homens ali presentes, no Ribeiro de Besor – tanto os 200 que não tinham podido continuar, mas que haviam exercido a tarefa preciosa de cuidar da bagagem (1 Sm 30.24), quanto os 400 que haviam lutado pela vida – teriam direito a parte iguais de tudo: “tudo o que recebemos foi Deus que nos concedeu; temos que reparti-lo com todos os que foram salvos por Deus” (1 Sm 30.23-25).

Conclusão: 

havia em Davi uma paixão, paixão por poesia, cântico, batalha, oração, Deus. Mas, tinha também com-paixão, ele prestava cuidados. Cuidava dos outros com a mesma paixão que se colocava diante de Deus, com a mesma paixão que compunha seus salmos. E, para você, o que é mais importante? Os despojos, ou, as pessoas?



Bibliografia: Transpondo Muralhas - Eugene Peterson - Editora Habacuc

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