O processo do discipulado cristão 2 Pe 3.18
Introdução: Um dia alguém chegou à igreja,
depois de ter passado algum tempo em uma seita. Ele era incisivo, perguntava
tudo, queria se envolver em tudo que estava sendo feito no corpo de Cristo, tinha
uma avidez pelo conhecimento; quando ia iniciar o processo de discipulado, aprendizado...
Resolveu ir para outra igreja, ele achava que seria mais útil lá. Lá foi
batizado, lá virou obreiro, lá começou a pregar, etc. Depois de algum tempo,
saiu desta igreja e foi para outra. E, assim foi pulando de galho em galho. Mas,
com o tempo tudo ao seu redor foi se desmoronando... emprego, famílias, etc.
Hoje, não está em lugar nenhum, aliás, está em casa...
1) Crescer...
O verbo “crescer” traz a idéia de crescimento e nos
sugere imediatamente que ser cristão significa receber nova vida. Não pode
haver crescimento se não houver nascimento, e nascimento significa TRAZER OU
VIR À VIDA. O evangelho preocupa-se com o comportamento de todos os cristãos, e
não dos incrédulos. É como chegar para um incrédulo e exortá-lo a viver uma
vida moralmente melhor. ISSO É MORALISMO, NÃO CRISTIANISMO. Portanto, vemos no
Novo Testamento sempre esta admoestação à santidade, somente aos que receberam
uma NOVA VIDA, em Cristo.
"O homem que tinha bios [vida
natural] e passa a ter zoé [vida espiritual] sofre uma mudança tão grande
quanto a de uma estátua que deixasse de ser pedra entalhada e se transformasse
num homem real. E é exatamente disso que trata o cristianismo. Este mundo é
como o ateliê de um grande escultor. Nós somos as estátuas, e corre por aí o
boato de que alguns de nós, um dia, ganharão vida." C.S. Lewis
Sem esta vida o crescimento é totalmente impossível. A primeira pergunta
que devemos fazer a nós mesmos, ao nos confrontarmos com esta exortação a que
cresçamos na graça e no conhecimento, é: estamos vivos? Temos vida? Já nascemos
de novo?
De tal modo, que o cristão é essencialmente
diferente dos incrédulos. Ele é diferente quanto à espécie. O cristão nasceu do
alto, nasceu do Espírito – é uma pessoa que recebeu uma nova vida (Zoé) (2 Co
5.17). Há um novo ser, uma nova existência, uma nova qualidade encarnada em sua
vida.
2) Crescendo...
Esta vida, como todas as outras formas de vida,
necessariamente leva ao crescimento. Pensemos na menor semente (Mc 4.26-29). Há
dentro da semente a possibilidade de crescimento e desenvolvimento. Pensem no
menor animal, e verão a mesma coisa. Pensem na menor planta ou flor – onde quer
que haja vida, sempre há esta possibilidade inerente de crescimento. Portanto,
todo cristão tem a obrigação de crescer; se não temos crescido, na fé cristã,
temos que rever nossa identidade cristã.
Vejamos Martinho Lutero. Era muito religioso, era
monge, e jejuava e orava o tempo todo. Ele tentava de tudo para crescer
na vida cristã. Que fazia ele? Jejuava, orava, dá esmolas, pratica boas obras;
e, todavia, tendo feito tudo isso, ele sabia perfeitamente bem que não tinha
crescido nem um pouco, não tinha mais vida no fim do que no começo. Esse homem
estava acrescentando coisas à sua vida, mas não estava crescendo. Então, ele
foi convertido, recebeu esta nova vida, e doravante teve consciência de um
processo de crescimento, de desenvolvimento, de um real crescimento.
Vejamos João Wesley. Um excelente jovem, de alta moral, membro de um bom lar
cristão. Seu único interesse na vida era a religião, seu único desejo era ser
melhor. Ele forma seu Clube Santo em Oxford, vai pregar nas prisões; depois
renuncia tudo e cruza o Atlântico para pregar aos pagãos na Geórgia. E,
contudo, ele sabe que não tem vida real. Não sente que tenha crescido, nem que
tenha desenvolvido ou que tenha avançado. Ali está um homem que esteve
adicionando mais e mais (coisas), sem, porém, nenhum desenvolvimento ou
crescimento. Então, ele recebeu vida, e desde o momento em que recebeu vida
tornou-se cônscio de crescimento.
Pergunto: será que percebo crescimento em minha
vida cristã? Posso dizer que estou crescendo na graça e no conhecimento
de nosso Senhor Jesus Cristo? Quando fazemos um analise do ano em que
estamos vivendo, ou examinamos os dez, vinte ou trinta anos passados, percebo
algum crescimento e aumento orgânico? HAVERIA UM REAL CRESCIMENTO EM MINHA VIDA
CRISTÃ?
3) O processo do
crescimento.
O processo de crescimento é algo vital, e não
mecânico. É algo que, num sentido, não se pode observar diretamente – VOCE
SENTE QUE ESTÁ OCORRENDO, MAS NÃO PODE VÊ-LO ACONTECER. É como a parábola de
Marcos, no capitulo 4, um homem semeou a semente em seu terreno e que, enquanto
dormia, a semente brotou – o mistério do crescimento.
E dizia: O reino de
Deus é assim como se um homem lançasse semente à terra. E dormisse, e se
levantasse de noite ou de dia, e a semente brotasse e crescesse, não sabendo
ele como. Mc. 4.26-27
O processo de crescimento é necessariamente um
processo progressivo e gradual – O CRESCIMENTO JAMAIS É SÚBITO. Mas, tem muitos
que defendem que a santificação ocorre repentinamente. Eles comparam o processo
de santificação com o fato da nossa justificação num ato de recebimento,
dizendo que você pode ser santificado do mesmo modo. Mas, o Novo Testamento,
fala de homens como “crianças em Cristo” (1 Co 3.1)- uma criança não pode
saltar repentinamente da infância para a idade adulta. Não se pode assinalar estes
estágios. Isso acontece gradualmente – você vê uma criança, você vê um menino,
depois vê um moço e depois o homem. Ele foi indo de um passo para o outro, de
um estágio a outro. E a santidade não é algo que se pode receber de uma vez por
todas num só ato.
Quando eu era criança, falava, pensava e raciocinava
como criança. Mas, quando me tornei homem, deixei para trás as coisas de
criança. 1 Co 13.11
4) Como devo crescer?
Devo crescer na graça de Nosso Senhor e Salvador
Jesus Cristo. Que significa isso? Em primeiro lugar, não significa
que eu cresço em amabilidade; tampouco significa, em si e por si, que eu devo
crescer em minha posse das graças da vida cristã. ENTÃO, O QUE É CRESCER NA
GRAÇA? Significa que, como cristãos, fomos introduzidos na esfera da graça.
Todos nós estamos ou sob a lei ou sob a graça – ou estamos sob a ira de Deus ou
estamos sob a graça de Deus. Então, Se estou na graça de Deus, sou objeto
do seu favor e da sua bondade. Quanto mais eu viver na vida cristã, quanto mais
obediente eu for, mais experimentarei o favor de Deus.
Devo crescer no conhecimento do Nosso Senhor e
Salvador Jesus Cristo. Que significa isso? Como cristão não devo me
deter meramente no conhecimento do perdão (dos meus pecados) e no conhecimento da
salvação; DEVO CRESCER EM MEU ENTENDIMENTO E EM MEU CONHECIMENTO DE TODO O
ESQUEMA, PLANO E PROPOSITO DA SALVAÇÃO; devo aprender tudo o que Pedro diz
nesta Epístola. Devo crescer no conhecimento da Escatologia, da Cristologia, da
batalha espiritual, da trindade, da doutrina do Espírito Santo, etc.
Devo crescer em meu conhecimento do Senhor Jesus
Cristo, no que concerne minha comunhão com Ele; minha relação
pessoal com Ele deve aumentar. Olha o que Paulo diz sobre isso em Filipenses
3.10: “para conhecer Cristo, e o poder da sua ressurreição, e a participação
nos seus sofrimentos, identificando-me com Ele na sua morte”.
Conclusão: por que
temos que crescer?
É a única maneira de enfrentar as contradições
desta vida e deste mundo. Quanto mais eu conhecer o favor de Cristo, mais serei
capaz de sorrir em face da adversidade. Poderei dizer como Paulo: “Estou certo
de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as
potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem
alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo
Jesus nosso Senhor” (Rm 8.38-39).
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