terça-feira, 17 de dezembro de 2019



Quando Deus age. Et 7


Introdução: uma densa neblina

Imagine você nadando num enorme lago e depois de nadar uma determinada distancia fica envolvido numa densa neblina. E, agora? Voce está preso nessa neblina escura, e não consegue visualizar nada, ninguém. No ato de desespero, você começa a nadar de volta para as margens da lagoa, mas nunca chega, a neblina não lhe dá visão de nada!

A essa altura, você perdeu totalmente rumo. O coração acelera, o braço cansa, você tenta boiar para manter as forças. Mas, você perde que a noite se aproxima, naquele silencio ensurdecedor da lagoa, tenta ouvir alguém, algum barulho, vozes. Se apenas pudesse ouvir uma voz, ainda que abafada...

Essa imagem remete e Jó. Sentado nas ruínas do que fora antes uma linda e prospera paisagem. Tudo o que lhe servia de sustento desaparecera. Estava arruinado. Ele vê sepulturas recém cavadas de seus filhos, diante de seus olhos, numa colina desolada, varrida pelos ventos. Perdera tudo, até a sua saúde. Sentou-se sobre as cinzas de sua vida – destroçada, solitário, sem direção. Não ouvia sequer a voz de Deus.

“Depois disto passou Jó a falar, e amaldiçoou o seu dia natalício. Disse Jó: Pereça o dia em que nasci e a noite que disse: Foi concebido um homem. Por que não morri eu na madre? Por que não expirei ao sair dela?” (Jó 31.1-3,11).

1)    O tempo do homem e de Deus
Nós estamos num pequeno espaço no lago enevoado da vida chamado presente. Nos limitamos ao passado, presente e futuro. Se quisermos saber a hora, o minuto, ou o segundo, olhamos no relógio. Se queremos saber o dia ou o mês, o ano ou o século, olhamos o calendário.

Deus, no entanto, não é nada disso. Ele vive e se move para fora da esfera do tempo, terreno – além do tique-taque dos nossos relógios – além da pagina virada do nosso calendário. Deus não tem noite. Deus não tem dia. Deus não tem mês. Deus não tem ano. Deus não tem passado, presente ou futuro.

O Salmista diante da sua pequenez, ele ora: “Mostra-me, Senhor, como é breve meu tempo na terra; mostra-me que meus dias estão contados e que minha vida é passageira. A vida que me deste não é mais longa que alguns palmos, e diante de ti toda a minha existência não passa de um momento; na verdade, o ser humano não passa de um sopro” (Sl 39.4-5)

O nosso tempo, portanto, passa numa sequência de telas, movendo-se do passado, presente e futuro, quase como num filme. Mas, não Deus. “Santo, Santo, santo é o Senhor Deus, o Todo-Poderoso, que ERA, QUE É E QUE AINDA VIRÁ” (Ap. 4.8).  Ele vê todo o filme da nossa vida de uma vez, num lampejo, juntamente com milhões de outros seres humanos espalhados pelos quatro cantos da terra.

“Os teus olhos me viram a substancia ainda informe, e no teu livro foram escritos todos os meus dias, cada um deles escrito e determinado, quando nem um deles havia ainda” (Sl 139.16).

Mediante um único olhar Deus sabe o que vai acontecer no mundo e como a história terminará. Mas os seres humanos presos ao tempo só podem compreender de maneira mais primitiva: DEIXANDO O TEMPO CORRER. Só depois de a história ter seguido o seu curso, iremos entender como “todas as coisas cooperam para o bem” (Rm 8.28). 



2)    Deus versus Ester
O livro de Ester é o último livro histórico do Antigo Testamento, o próximo é o livro de Jó. É o único livro que não aparece o nome de Deus e nem aparece qualquer oração; ele sequer é citado no Novo Testamento. Então, somos tentados a  pensar que Deus está mesmo ausente, contudo, as marcas de Deus, ou suas pegadas, estão por toda parte dessa belíssima história.

Senão vejamos: Deus agindo na vida de Mardoqueu e Ester; depois agindo no coração do rei Assuero; até mesmo quando Hamã tornou-se a segunda pessoa mais importante do reino da Pérsia. Então, todo o livro histórico de Ester é descrito na perspectiva da sua soberania divina, nada escapa da sua potente mão!

Quando chegamos no terceiro capítulo e vimos o vale escuro que é a ascensão de Hamã, balançamos a cabeça num gesto de desaprovação, como se falássemos: “Não! Não faça isso; tu vais se arrepender! Esse Hamã é um homem mal, sanguinário, preconceituoso, descendente de amalequitas, tem um ódio profundo contra os judeus e a intenção dele é mata-los, todos! ” QUEREMOS QUE DEUS O DETENHA, MAS NÃO OUVIMOS A SUA VOZ...

Então, a neblina se adensa enquanto observamos Hamã colocar o alicerce para o extermínio de todos os judeus no reino da Pérsia e das 127 províncias. Vemos, pasmados, o rei Assuero entregar o seu anel nas mãos de Hamã e o decreto da morte sendo enviado por toda terra...

Se vivêssemos nesse lago silencioso, teríamos indagado: “Onde está Deus? ” Elie Wiesel, o premiado escritor de holocausto, conta, em seu livro “Noite”, como ele, quando criança, ouviu os sons medonhos da morte, viu cenas terríveis de pessoas sendo mortas, sentiu o cheiro de carne queimada vindo do forno. Chocado com tudo aquilo, ele ouviu um homem atrás dele gemer: “Onde está Deus? Onde ele está? ” 



Vamos aos fatos: Ouvimos sermões sobre José e também sobre Moisés, mas nunca ouvimos um sermão sobre os 400 anos de escravidão no Egito. Ouvimos sermão sobre Ana, uma grande mulher de oração, mas raramente ouvimos um sermão sobre os dias de Eli: “...naqueles dias a palavra do Senhor era rara; as visões não eram frequentes” (1 Sm 3.1).

Então, a vida está cheia de períodos de silencio. Muitos. Mas esses períodos de silencio de Deus são tão significativos como aqueles em que ele fala. Durante esse período, precisamos de tempo em oração para ouvirmos a voz de Deus.

Veja algumas partes do hino 126 da harpa cristã:
Quem quiser de Deus ter a coroa
Passará por mais tribulação
Às alturas santas ninguém voa
Sem as asas da humilhação

Os mais belos hinos e poesias
Foram escritos em tribulação
E do céu, as lindas melodias
Se ouviram, na escuridão

3)    Kairós
Vimos, no capítulo 6, que o rei não conseguia dormir. Quando foi a última vez que isso se tornou manchete? “O REI NÃO CONSEGUIU DORMIR A NOITE PASSADA”. No misterioso tempo de Deus, ocorrem coisas sutis que só o coração sensível apreende. Por que depois da noite mal dormida, o rei perguntou “quem está no pátio do rei”? Era justamente Hamã! O rei o chama para entrar e diz: “Como devemos honrar alguém? ” Hamã pensa: Quem melhor do que eu para ser honrado? Mas o rei honra Mardoqueu. Deus agindo...

É fácil prever que o ano de 2020 será muito parecido com o atual (2019) e com o que veio antes dele (2018); quando na verdade, as chances de que será completamente diferente. Quando as coisas começarem a mudar, lembre-se, é Deus agindo...

“Veio, pois, o rei com Hamã, para beber com a rainha Ester. No segundo dia, durante o banquete do vinho, disse o rei a Ester: Qual é a tua petição, rainha Ester? E se te darás, o que desejar cumprir-se-á, ainda que seja metade do reino” (Et 7.1-2). Qual é a tua petição? Já era a segunda vez que o rei fizera essa pergunta: quando ela se apresentou no pátio do rei e ele apontou-lhe o cetro e, depois, no primeiro banquete. Mas, Ester não lhe respondeu por que não estava na hora. Sabia quando agir e quando esperar.

E, você tem essa sensibilidade? Sabe quando deve escutar? Sabe quando falar e quando calar-se? Tem a sabedoria de calar até o momento certo? Salomão escreveu em Eclesiastes: “...Há tempo para todo proposito debaixo do céu... tempo de estar calado e tempo de falar” (Ec 3.1,7)

Então, Ester tomou coragem para fazer a sua petição: “Se conto com o favor do rei, e se lhe parecer bem atender meu pedido, poupe minha vida e a vida de meu povo. Pois eu e meu povo fomos vendidos para sermos destruídos, mortos e aniquilados. Se fosse apenas o caso de termos sido vendidos como escravos, eu teria permanecido calada, pois não teria cabimento perturbar o rei com um assunto de tão pouca importância” (v.4).

QUEM É ESSE? (V.5). Ester poderia ter dito: “você estava presente quando Hamã propôs esse crime hediondo. Você lhe deu o anel para selar o decreto. Como é que diz agora: quem é esse? Abra os olhos! ”

Mas, quem sabe quantos documentos Assuero assinou naquele dia? Quem sabe quantos assuntos importantes do governo estavam em sua mente? O rei tinha várias decisões a tomar e possivelmente agiu de boa-fé, acreditando na conversa de Hamã. Tantos povos faziam parte do reino da Pérsia!

Mas, Deus está agindo. Deus pode mover o coração de um rei e de toda uma nação. Tem poder para derrubar a antes impenetrável cortina de ferro. Ele pode mudar o coração obstinado do marido. Nenhuma barreira é alta demais, nenhum abismo largo demais para Deus, porque ele não está limitado pelo espaço ou pelo tempo, pelo visível ou invisível. Ele é o Todo-Poderoso.

“A tua justiça é firme como as altas montanhas; e teus juízos, insondáveis como o fundo dos oceanos” (Sl 36.6)

Ao compreender que o seu momento chegara, Ester nem hesitou: “O adversário e inimigo é este mau Hamã. Então Hamã se perturbou perante o rei e a rainha” (Et 7.6). O velho Hamã não tivera um de seus melhores dias. As ultimas horas nada lhe acrescentaram. Em primeiro lugar, anunciou diante de toda cidade honrarias a Mardoqueu e, agora, a própria rainha o acusa diante do rei; ele está completamente apavorado, e com razão.

Conclusão:

“eis que junto à casa de Hamã a forca de vinte metros que ele preparou para EMardoqueu...Então disse o rei: enforcai-o nela. Enforcaram, pois, Hamã na forca... então o furor do rei se aplacou” (Et 7.9,10).

Algumas lições do Salmo 37:
NÃO te indignes por causa dos malfeitores, nem tenhas inveja dos que praticam a iniqüidade. Porque cedo serão ceifados como a erva, e murcharão como a verdura (vs. 1 e 2). Confia no Senhor e faze o bem; habitarás na terra, e verdadeiramente serás alimentado.Deleita-te também no Senhor, e te concederá os desejos do teu coração.
Entrega o teu caminho ao Senhor; confia nele, e ele o fará.
E ele fará sobressair a tua justiça como a luz, e o teu juízo como o meio-dia.
Descansa no Senhor, e espera nele; não te indignes por causa daquele que prospera em seu caminho, por causa do homem que executa astutos intentos (vs. 3-7). 

   




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