Três tipos de espiritualidade (Mc 9.2-32)
O homem é um ser religioso. Desde os tempos mais remotos, o homem tem
levantado altares. Há povos sem leis, sem governos, sem economia, sem escolas
mas jamais sem religião. O homem tem sede do eterno. Deus colocou a eternidade
no coração do homem (Ec 3.11).
O homem é um ser confuso
espiritualmente. Só há duas
religiões no mundo: a revelada e aquela criada pelo próprio homem. Uma, tenta
abrir caminhos da terra ao céu; a outra, abre o caminho a partir do céu. Uma, é
humanista, a outra, é teocêntrica. Uma, prega a salvação pelas obras; a outra,
pela graça (Efesios 2.8-9).
O homem é um ser que idolatra
a si mesmo. A religião que prevalece hoje
é a antropolatria(amantes de si mesmo. O homem tornou-se o centro de todas as
coisas. Na pregação contemporânea, Deus é quem está a serviço do homem e não o
homem a serviço de Deus. A vontade do homem é que deve ser feita no céu e não a
vontade de Deus na terra (II Tm 3.2).
1) A espiritualidade do monte –
êxtase sem entendimento (9.2-8).
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Em
primeiro lugar, os discípulos andam com Jesus, mas não conhecem
a intimidade do Pai (Lc 9.28,29). Jesus está orando, mas em momento
nenhum os discípulos estão orando com Ele. Eles não sentem necessidade nem
prazer na oração. Eles não têm sede de Deus. Eles estão no monte a reboque, por
isso, não estão alimentados pela mesma motivação de Jesus.
·
Um santo de joelhos enxerga
mais longe do que um filósofo na ponta dos pés. As coisas mais santas,
gloriosas e as palavras mais sublimes não encontraram guarida no coração dos
discípulos. As coisas de Deus não lhes davam entusiasmo; elas cansavam seus
olhos, entediavam seus ouvidos e causavam-lhes sono.
·
Em terceiro lugar, os
discípulos experimentam um êxtase, mas não têm discernimento espiritual
(9.7,8). Os discípulos contemplaram quatro fatos milagrosos: a transfiguração
do rosto de Jesus, a aparição em glória de Moisés e Elias, a nuvem luminosa que
os envolveu e a voz do céu que trovejava em seus ouvidos. Nenhuma assembléia na
terra jamais foi tão esplendidamente representada: lá estava o Deus trino,
Moisés e Elias, o maior legislador e o maior profeta. Lá estavam Pedro, Tiago e
João, os apóstolos mais íntimos de Jesus. Nossa espiritualidade deve ser
cristocêntrica. Eles não discerniram a centralidade da missão de Cristo.
A presença de Moisés e Elias naquele monte longe de empalidecer a divindade de
Cristo, confirmava que de fato Ele era o Messias apontado pela lei e pelos
profetas.
“Eles não discerniram a centralidade de seus próprios ministérios (9.5). Eles disseram: “Bom é estarmos aqui”. Eles queriam a
espiritualidade da fuga, do êxtase e não do enfrentamento. Queriam as visões
arrebatadoras do monte, não os gemidos pungentes do vale. Mas é no vale que o
ministério se desenvolve”
“Eles estão envolvidos por uma nuvem celestial, mas têm medo de Deus (Lc 9.34). Eles se encheram de medo (Lc 9.34) a ponto de caírem de
bruços (Mt 17.5,6). Vêem Deus como uma ameaça. Eles se prostram não para
adorar, mas por temer. Eles estavam aterrados (9.6)”.
2) A espiritualidade do vale – discussão sem poder (9.9-29)
·
No vale há gente sofrendo o cativeiro do diabo sem encontrar na igreja
solução para o seu problema (9.18). Aqui está um pai desesperado (Mt 17.15,16). O
diabo invadiu a sua casa e está arrebentando com a sua família. Está destruindo
seu único filho.
·
No vale há gente desesperada precisando de ajuda, mas os discípulos
estão perdendo tempo, envolvidos numa discussão infrutífera (9.14-18). Os discípulos estavam envolvidos numa interminável discussão
com os escribas, enquanto o diabo estava agindo livremente sem ser confrontado.
·
No vale, enquanto os discípulos discutem, há um poder demoníaco sem ser
confrontado (9.17,18). Há dois extremos perigosos que precisamos evitar no trato dessa
matéria: Subestimar o inimigo.
Os liberais, os céticos e incrédulos negam a existência e a ação dos demônios.
Para eles, o diabo é uma figura lendária e mitológica. Superestimar o inimigo. Há segmentos chamados
evangélicos que falam mais no diabo do que anunciam Jesus.
2. 1) Como era
esse poder maligno que estava agindo no vale?
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O poder maligno que estava em
ação na vida daquele menino era assombrosamente destruidor (9.18,22; Lc 9.39). A casta de demônios fazia esse jovem rilhar os
dentes, convulsionava-o e lançava-o no fogo e na água, para matá-lo. Os
sintomas desse jovem apontam para uma epilepsia. Mas não era um caso comum de
epilepsia, pois além de estar sofrendo dessa desordem convulsiva, era também um
surdo-mudo. O espírito imundo que estava nele o havia privado de falar e ouvir.
·
O poder maligno em ação no
vale atingia as crianças (9.21,22). A palavra usada
para meninice é bréfos, palavra que descreve a infância desde o período
intra-uterino. O diabo não poupa nem mesmo as crianças. Aquele jovem vivia
dominado por uma casta de demônios desde a sua infância. Há uma orquestração do
inferno para atingir as crianças (Êx 10.10,11).
·
O poder maligno em curso age
com requinte de crueldade (Lc 9.38). Esse jovem era
filho único. O coração do Filho único de Deus enchia-se de compaixão por esses
filhos únicos, por seus pais, e por muitos, muitos outros!
·
Em quarto lugar, no vale os
discípulos estão sem poder para confrontar os poderes das trevas (9.18; Lc
9.40; Mt 17.16). Por que os discípulos estão sem poder? Existem demônios
e demônios (9.29). Há demônios mais resistentes que outros (Mt
17.19,21). Há hierarquia no reino das trevas (Ef 6.12). Os discípulos não
oraram (9.28,29). Não há poder espiritual sem oração. O poder
não vem de dentro, mas do alto. Os discípulos não jejuaram
(9.28,29). O jejum nos esvazia de nós mesmos e nos reveste com o poder do
alto. Quando jejuamos, estamos dizendo que dependemos totalmente dos recursos
de Deus. Os discípulos tinham uma fé tímida (Mt 17.19,20).
A fé não olha para a adversidade, mas para as infinitas possibilidades de Deus.
Jesus disse para o pai do jovem: “Se podes! Tudo é possível ao que crê” (9.23).
3) A espiritualidade de Jesus (9.30,31).
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A transfiguração foi uma
antecipação da glória, um vislumbre e um ensaio de como será o céu (Mt 16.18).
A palavra “transfigurar” é metamorphothe, de onde vem a palavra
metamorfose. O verbo refere-se a uma mudança externa que procede de dentro.
Essa não é uma mudança meramente de aparência, mas uma mudança completa para
outra forma.
·
Em primeiro lugar, a
espiritualidade de Jesus é fortemente marcada pela oração (Lc 9.28). Jesus
subiu o Monte da Transfiguração com o propósito de orar e porque orou seu rosto
transfigurou e suas vestes resplandeceram de brancura (Lc 9.29).
Ø Dois fatos são dignos de destaque na transfiguração de Jesus:
·
O seu rosto transfigurou (Lc 9.29). Mateus diz que o seu rosto resplandecia como o sol (Mt
17.2). O nosso corpo precisa ser vazado pela luz do céu. Devemos glorificar a
Deus no nosso corpo.
·
Suas vestes também
resplandeceram de brancura (Lc 9.29). Mateus diz que
suas vestes resplandeceram como a luz (Mt 17.2). Marcos nos informa que as suas
vestes tornaram-se resplandecentes e sobremodo brancas, como nenhum lavandeiro
na terra as poderia alvejar (9.3).
“As nossas
vestes revelam o nosso íntimo mais do que cobrem o nosso corpo. Elas retratam
nosso estado interior e demonstram o nosso senso de valores. As nossas roupas
precisam ser também santificadas para não defraudarmos aos nossos irmãos.
Devemos nos vestir com modéstia e bom senso. Devemos nos vestir para a glória
de Deus”.
Conclusão:
Ø Na transfiguração Jesus foi consolado antecipadamente para enfrentar a
cruz (Lc 9.30,31). Quando oramos, Deus nos consola antecipadamente para
enfrentarmos as situações difíceis. Jesus passaria por momentos amargos: seria
preso, açoitado, cuspido, ultrajado, condenado e pregado numa cruz.
Ø Em resposta à oração de Jesus, o Pai confirmou o seu ministério (Mt 17.4,5). Os discípulos sem discernimento igualaram Jesus a Moisés e
Elias, mas o Pai defendeu a Jesus, dizendo-lhes: “Este é o meu Filho amado, em
quem me comprazo; a ele ouvi”. Marcos registra: “E, de relance, olhando ao
redor, a ninguém mais viram com eles, senão Jesus” (9.8).
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