MANUAL PARA PEQUENOS GRUPOS.
“a igreja necessita de uma nova estrutura
de vida congregacional que viabilize encontros genuínos entre pessoas, despidas
de suas máscaras e desconfianças, num ambiente em que os relacionamentos
interpessoais se dão no nível da verdadeira humanidade de Cristo”.
PEQUENOS GRUPOS: CRESCIMENTO DA IGREJA INTEGRALMENTE.
O QUE É PEQUENO GRUPO?
É uma modalidade de grupo que
congrega uma pequena quantidade de pessoas, tendo como motivação um objetivo
comum a seus participantes. Além dessa busca de um objetivo comum, existem
outras características que definem um grupo como tal, a saber: a interação
entre os membros, o dinamismo específico de cada grupo e a comunhão.
Ou: “uma pequena quantidade de pessoas que
se reúnem regularmente, em ambiente de comunhão, com propósitos diversos, como
os de estudar a Palavra de Deus, compartilhar experiências de vida e orar,
tendo como em vista a formação de verdadeiros seguidores de Jesus Cristo”.
O PEQUENO GRUPO NO NOVO TESTAMENTO.
O pequeno grupo e Jesus.
Um pequeno grupo de doze apóstolos,
discípulos, foi o meio que Jesus utilizou para estender seu cuidado às
multidões errantes e aflitas. Nas palavras de Robert Colleman, “sua única
esperança consistia em obter homens imbuídos de sua vida, que fizessem isso por
ele. Por essa razão, ele concentrou os seus esforços sobre aqueles que seriam
os primeiros líderes de seu reino”. Portanto, manifesta-se no pequeno
grupo escolhido por Cristo sua principal estratégia evangelística: a formação
de líderes que pudessem conduzir o povo para a consolidação do seu reino.
Jesus instruiu seus discípulos
didaticamente e com se próprio exemplo. Assim, Jesus tornou-se “o conteúdo, o
mestre, o ambiente e a verdade visível na formação do pequeno grupo que
elegera”. O pequeno grupo de discípulos era levado a aprender a vida que seu
mestre vivia, para só então, com o exemplo de suas vidas, formarem outros
discípulos ( Mt 28:19-20).
Várias vezes, Jesus instruiu,
particularmente, os doze apóstolos em casas (Mc 4:10-20; 7:17; 9:28, 33-37;
10.10-12; 14.1-14). Também ensinou e ministrou na casa de fariseus e de amigos,
em contexto de pequeno grupo (Mc 14:3-9; Lc 7:36-50; 10:38-42; 14.1-14). Além
disso, ensinou em casa de pecadores e publicanos, enquanto comia com eles (Mt
8:14; Mc 1:29-31; Lc 15.1-31; 19.5-10).
O Senhor Jesus estava ensinando em uma
casa, quando lhe trouxeram um paralítico para ser curado (Mc 2.1-12). Em certa
ocasião, quando se encontrava na casa de Pedro, ele curou a sogra dele (Mc
1:29-31). Em outro momento, na casa de Jairo, Jesus ressuscitou sua filha, na
presença de um pequeno grupo de pessoas – Pedro, Tiago, João e os pais da
menina (Mc 5:37-43).
Jesus usou as casas como centros de
ensino, discipulado, evangelismo, cura, intimidade e serviço. E ensinou os
discípulos, os doze e os setenta (e nós) a fazerem o mesmo.
O pequeno grupo na igreja primitiva.
A narrativa do evangelista Lucas sobre a
vida dos primeiros cristãos, registradas no Livro de Atos, revela o quanto as
casas foram úteis para a consolidação e expansão de sua fé. Os lares de
cristãos eram usados para reuniões de oração, para ocasiões de comunhão, para o
partir do pão – Santa Ceia -, para celebração e ensino, evangelização, debates,
bem como outras finalidades que contribuíam para a consolidação do
cristianismo.
Analisando os relatos sobre a igreja
primitiva, percebemos que existiam certos objetivos que norteavam a
constituição e o funcionamento de seus pequenos grupos. Um dos elementos
indispensáveis nas reuniões caseiras dos primeiros cristãos era a oração. Como
exemplo deste fato, temos o caso da libertação de Pedro da prisão mediante a
oração de um pequeno grupo de fiéis, que se encontrava para interceder por ele
na casa de Maria – mãe de João, chamado também de Marcos (Atos 12.12-17). Havia
também os períodos de oração doméstica em que os discípulos se encontravam,
após a ascensão de Cristo e no dia de Pentecostes (Atos 1: 12-14; 2.1-4).
Foi nos lares, em pequenos grupos, que os
primeiros cristãos vivenciaram, enfaticamente, uma genuína comunhão: “e
perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas
orações. (...) todos os que creram estavam juntos, e tinham tudo em comum (...)
Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa, e
tomavam as suas refeições com alegria e singela de coração” (Atos 2:42,44,46).
Na igreja primitiva, também o ensino sobre
o reino de Deus aconteceu com maior ênfase em grupos pequenos, no contexto dos
lares. Vejamos os seguintes exemplos: (1) Pedro e João, mesmo tendo sido presos
e açoitados, não cessaram de pregar diariamente no templo e de casa em casa
sobre as boas novas de salvação (Atos 5:42); (2) Paulo estava ensinando
no cenáculo de uma casa, em Troâde, quando na ocasião ressuscitou Êutico, que
caíra de uma janela do terceiro andar da casa (Atos 20:7-12); (3) ao se
despedir dos presbíteros de Èfeso, Paulo lembrou-lhes de os haver ensinado
publicamente e de casa em casa (Atos 20:20); (4) também Paulo, quando preso em
uma casa em Roma, ali debateu sobre a salvação em Cristo, tendo como convidados
líderes judeus (Atos 28:16).
São vários os exemplos de pequenos grupos
em lares com objetivos evangelísticos. A casa de Jason, em Tessalônica (Atos
17:5), e a de Ticio Justo, que se localiza em frente a sinagoga, em Corinto
(Atos 18:7) foram utilizadas com esse fim. Por fim, Lucas revela que as casas
dos primeiros cristãos foram muitas vezes o lugar onde aconteceram curas
milagrosas (Atos 9:36-41) e batismos (Atos 9:17-19; 10:47-48; 16.30-33).
O PAPEL DO PEQUENO GRUPO PARA A
FUNCIONALIDADE DA IGREJA.
“a igreja necessita de uma nova estrutura de vida congregacional que viabilize
encontros genuínos entre pessoas, despidas de suas máscaras e desconfianças,
num ambiente em que os relacionamentos interpessoais se dão no nível da
verdadeira humanidade de Cristo”.
A importância do pequeno grupo para a
igreja local.
A igreja atual contempla quatro conceitos centrais: o templo, o sábado cristão,
o culto e o clero: “na prática, (1) ser igreja é ter terreno, ter prédio, estar
sediado no que chamamos a casa de Deus, o templo. O que fazemos por Deus
fazemos lá. (2) ser igreja é guardar o domingo, o dia em que se centraliza
nosso culto e serviço ao Senhor... (3) ser igreja é ter culto, ápice espiritual
dos crentes e palco de Deus para o incrédulo. É no culto que encontramos Deus.
É no culto que as pessoas são convertidas. E (4) ser igreja é ter clero que nos
leva a Deus e traz Deus a nós. O pastor é o homem de Deus, profeta e
intercessor do povo”.
Esses conceitos são heranças do Antigo Testamento. A maneira de servir e
cultuar a Deus no Antigo Testamento era centralizador: racialmente, nos judeus;
geograficamente, em Israel, Jerusalém, o templo, o Santo dos Santos;
temporalmente, no sábado e em certas festas religiosas; e, hierarquicamente,
nos sacerdotes.
Contudo, o termo igreja provém do grego
ecclesia, de ek kaleo, “chamar”, “chamar para fora”, “convocar”. No novo
testamento, o termo assume várias acepções:
Igreja local – círculo de crentes de uma localidade
definida, independentemente do fato de esses cristãos estarem reunidos para
culto ou não (Atos 5: 11; 11:26; 1 Co 11:18; 14.19,28,35; 16.1, etc);
Igreja doméstica – a palavra indica o que se pode
denominar ekklesia doméstica, igreja na casa de alguém (Rm 16:23; 1 Co 16:19;
Cl 4:15; Fm 2);
Igreja como totalidade do corpo – a palavra denota a totalidade do corpo
em todo o mundo, daqueles que professam exteriormente a Cristo e se organizam
para fins de culto, sob a direção de oficiais designados (1 Co 10:32; 11:22;
12:28; Ef 4:11-16);
Igreja Universal – a palavra se refere a todo o corpo
de fiéis, quer no céu quer na terra, que se uniram ou que se unirão a Cristo
como seu salvador (Ef 1.22; 3:10,21; 5.23-25,27,32; Cl 1.18,24).
Neste sentido, a igreja é vista como um organismo espiritual, composto de todos
os regenerados através da fé em Cristo. Logo, podemos afirmar que a essência da
igreja repousa no poder do evangelho de Jesus Cristo e, conseqüentemente, na
atuação do Espírito Santo na vida dos regenerados. Desse modo, a igreja tem
como meta a indicação do caminho da salvação, a advertência dos ímpios sobre a
condenação que lhes sobrevirá, a consolação dos santos através das promessas de
salvação, bem como o fortalecimento e encorajamento dos fracos e desanimados.
A introdução de pequenos grupos numa estrutura eclesiástica pode ser uma forma
de romper com o absolutismo dos modelos tradicionais de igreja. Além de
possibilitar à igreja sair de seu confinamento nos prédios para reunir-se nos
lares, ou em outros lugares, lhe propicia experimentar de forma mais intensa um
dos fundamentos mais básicos do evangelho – a comunhão dos cristãos. Nos
pequenos grupos dar-se-á encontros genuínos entre pessoas, despidas de suas
mascaras e desconfianças.
David Kornfield e Gemir Araújo identificam
no pequeno grupo vários elementos fortalecedores e facilitadores de comunhão: maior intimidade, que gera e
fortalece amizades; maior
flexibilidade, que propicia a adequação do grupo a cada realidade; maior integração social, que contribui para a formação
de uma relação familiar dentro de uma sociedade onde a família está sucumbindo; maior mobilidade, que
possibilita a presença da igreja na comunidade; e maior sensibilidade, que
evidencia à igreja os problemas que ocorrem na comunidade, possibilitando sua
intervenção nestes.
Howard Snyder, comentou: “tenho
visto proporcionalmente mais vidas genuinamente convertidas em e por meio de
reuniões de grupos pequenos para oração, estudo bíblico e comunhão de vida do
que em organizações e atividades convencionais da igreja institucional”.
Além disso, esse tipo de grupo atua como
elo entre os não-cristãos e a igreja, pois aqueles que dificilmente atenderiam
a um convite para participar de um culto no templo, provavelmente, estariam
mais abertos a um convite para reunir-se em casa de vizinhos ou amigos.
O estudo bíblico em ambiente de pequeno
grupo.
Diferentemente de uma pregação-ensino para
um grande grupo, o estudo bíblico em contexto de pequeno grupo tem por objetivo
não somente compartilhar a verdade das Escrituras, mas também estimular a
troca de experiências e abordar questões relevantes a seus integrantes.
Tal método proporciona oportunidades para
discussões práticas dos temas abordados nos encontros. Para tanto, a tarefa do
líder no estudo bíblico é induzir os integrantes do grupo a manifestarem suas
idéias sobre o que dizem as escrituras.
O ensino da Palavra de Deus em ambiente de pequeno grupo tem de penetrar
as situações diárias e não ser mero apêndice de obrigações religiosas. Nesse
sentido, a particularização das Escrituras nos pequenos grupos, ou seja, a
aplicação da Palavra à situação de vida especifica de cada pessoa, é facilitada
à medida que o estreitamento dos laços interpessoais possibilita o melhor
conhecimento das necessidades individuais do grupo.
O estudo bíblico particularizado no
pequeno grupo é de suma importancia, uma vez que somente através da apreensão e
conseqüente prática da Palavra de Deus se pode formar verdadeiros discípulos de
Cristo. Pois o discipulado consiste em compartilhar a vida, envolvendo-se num
relacionamento pessoal, à luz da Palavra de Deus, para que o Espírito Santo
possa transformar o estilo de vida dos discípulos. Tal processo se evidenciava
no comissionamento de Jesus aos seus discípulos, na qual ele os instruiu a
ensinar a guardar todas as coisas que lhe tinha ordenado (Mt 28:20).
O pequeno grupo como estratégia para a
obra missionária.
O que é missão? Alguns missiólogos
distinguem os termos missão e missões. Assim, missão diz respeito à atividade
do Pai, do Filho e do Espírito Santo no mundo para a glorificação do Deus Trino
(missio Dei); enquanto missões (missio eclesiae) refere-se ao engajamento
da igreja na missão de Deus. Logo, a missio
eclesiae deve existir em
função da missio Dei, ou
seja, para alcançar seu objetivo maior, a glorificação de Deus, igreja
deve viabilizar a evangelização, o discipulado, a implantação de novas igrejas ,
os serviços sociais, educativos e culturais, entre outros.
Somente a igreja fracionada em pequenos grupos pode experimentar a plenitude do
que o Novo Testamento chama de Ekklesia. Enquanto mutualidade entre os
cristãos, não há igreja, há evento. Enquanto não há multiplicidade de
ministérios e serviços a partir da comunidade cristã, não há igreja em missão,
há igreja em reunião.
O FUNCIONAMENTO DO PEQUENO GRUPO
Ao se constituir um pequeno grupo, uma das questões a se pensar é quanto à
definição de seus objetivos. Um pequeno grupo que ajuda sua igreja a crescer
integralmente deve ter como meta tanto a evangelização como o discipulado,
tendo em vista que a própria ação de discipular pressupõe a de
evangelizar e que o processo de evangelização se dá de forma mais eficiente
mediante o aperfeiçoamento da vida cristã.
A composição desse modelo de grupo não deve exceder o número ideal de quinze
pessoas, uma vez que um número maior de componentes dificulta sua dinâmica interna.
Assim, ao ultrapassar o numero de quinze membros, aconselha-se a divisão do
grupo, formando assim um novo grupo liderado pelo co-líder do grupo de origem.
É interessante que, dos quinze membros, inicialmente, no máximo sete sejam
crentes, com vistas a uma maior abertura à participação de não-crentes.
As reuniões do grupo deve ter duração média de uma hora. Os encontros não devem
ser muito longos, sob pena de ser tornarem enfadonhos, mas necessitam de tempo
suficiente para um bom termo atividades de forma eficaz. Sugere-se que a
reunião seja dividida em cinco momentos, os quais abordaremos a seguir.
A dinâmica de apresentação é o primeiro momento e tem o objetivo de
quebrar o gelo, proporcionando maior descontração e envolvimento dos membros
nas demais etapas do encontro. É importante que todos os participantes se
sentem em círculo. O líder da reunião deve orientá-los a se apresentarem,
falando o nome e o que gosta de fazer, por exemplo.
A seguir vem o período de louvor e/ou adoração. Para que ele torna-se mais
participativo, recomendamos o uso de instrumentos musicais (preferencialmente
violão) e apresentação das letras dos cânticos.
O estudo
bíblico, momento central, deve ser de natureza indutiva (perguntas) e
abordar temas livres, de acordo com a necessidade do participante. O método
indutivo leva o participante a descobrir por si mesmo, através de perguntas, o
significado do texto bíblico em estudo e a relacionar suas descobertas com as
situações particulares da vida cotidiana. Assim, o líder do pequeno grupo
não deve revelar a interpretação do texto em estudo previamente, mas conduzir
os participantes à descoberta do sentido do texto.
As perguntas não podem ser elaboradas
aleatoriamente. O líder precisa saber onde quer chegar com cada pergunta,
lembrando que elas são úteis para conduzir os participantes do estudo à
interpretação textual, além de contribuir para a expressão de suas idéias e
sentimentos.
Assim, por exemplo, a finalidade da primeira pergunta é abrir discussão sobre o
assunto em questão. É quebrar o gelo, motivando os componentes a participarem
do estudo. Objetiva levá-los a expressar seu conhecimento sobre o assunto.
O objetivo da segunda pergunta é conduzir os participantes ao texto. Ela atua
como elo entre o conhecimento que eles tem sobre o assunto e o posicionamento
bíblico sobre a questão. Procura mostrar aos participantes que a Bíblia trata
de assuntos que envolvem o cotidiano deles.
A terceira pergunta é de natureza conclusiva. Ela conduz o participante ao
clímax da discussão, preparando-o para conclusão do assunto. Leva-o a perceber
a presença de Deus na vida diária do homem, o que ele quer fazer pelo ser
humano.
O quarto momento, o
compartilhamento de bênçãos e necessidades pessoais, concede espaço aos
participantes para compartilhar bênçãos alcançadas como fruto das orações do
grupo e apresentar suas necessidades pessoais.
A oração de intercessão ou
agradecimento constitui o
último momento, reservado para se interceder a Deus em favor das necessidades
apresentadas e/ou agradecer pelas bênçãos alcançadas. O líder do grupo pode
fazer a oração ou indicar os participantes que possam fazê-lo. Geralmente, os
participantes ficam de pé e de mãos dadas.
Exemplo
Texto: João 21.1-14.
Tema: Os resultados da obediência.
Perguntas:
1) O
que faz voce obedecer à ordem de alguém?
2) O
que levou os discípulos a obedecerem à ordem de Jesus?
3) Quais
os resultados da obediência dos discípulos?
Bibliografia: Pequenos grupos: para a
igreja crescer integralmente, Cruz Valberto da e Ramos Fabiana – editora
ultimato, primeira edição, dezembro de 2007.
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