terça-feira, 25 de março de 2014

Três tipos de espiritualidade (Mc 9.2-32)



O homem é um ser religioso. Desde os tempos mais remotos, o homem tem levantado altares. Há povos sem leis, sem governos, sem economia, sem escolas mas jamais sem religião. O homem tem sede do eterno. Deus colocou a eternidade no coração do homem (Ec 3.11).

O homem é um ser confuso espiritualmente. Só há duas religiões no mundo: a revelada e aquela criada pelo próprio homem. Uma, tenta abrir caminhos da terra ao céu; a outra, abre o caminho a partir do céu. Uma, é humanista, a outra, é teocêntrica. Uma, prega a salvação pelas obras; a outra, pela graça (Efesios 2.8-9).

O homem é um ser que idolatra a si mesmo. A religião que prevalece hoje é a antropolatria(amantes de si mesmo. O homem tornou-se o centro de todas as coisas. Na pregação contemporânea, Deus é quem está a serviço do homem e não o homem a serviço de Deus. A vontade do homem é que deve ser feita no céu e não a vontade de Deus na terra (II Tm 3.2).

1)    A espiritualidade do monte – êxtase sem entendimento (9.2-8).
·        Em primeiro lugar, os discípulos andam com Jesus, mas não conhecem a intimidade do Pai (Lc 9.28,29). Jesus está orando, mas em momento nenhum os discípulos estão orando com Ele. Eles não sentem necessidade nem prazer na oração. Eles não têm sede de Deus. Eles estão no monte a reboque, por isso, não estão alimentados pela mesma motivação de Jesus.

·        Um santo de joelhos enxerga mais longe do que um filósofo na ponta dos pés. As coisas mais santas, gloriosas e as palavras mais sublimes não encontraram guarida no coração dos discípulos. As coisas de Deus não lhes davam entusiasmo; elas cansavam seus olhos, entediavam seus ouvidos e causavam-lhes sono.

·        Em terceiro lugar, os discípulos experimentam um êxtase, mas não têm discernimento espiritual (9.7,8). Os discípulos contemplaram quatro fatos milagrosos: a transfiguração do rosto de Jesus, a aparição em glória de Moisés e Elias, a nuvem luminosa que os envolveu e a voz do céu que trovejava em seus ouvidos. Nenhuma assembléia na terra jamais foi tão esplendidamente representada: lá estava o Deus trino, Moisés e Elias, o maior legislador e o maior profeta. Lá estavam Pedro, Tiago e João, os apóstolos mais íntimos de Jesus. Nossa espiritualidade deve ser cristocêntrica. Eles não discerniram a centralidade da missão de Cristo. A presença de Moisés e Elias naquele monte longe de empalidecer a divindade de Cristo, confirmava que de fato Ele era o Messias apontado pela lei e pelos profetas.

Eles não discerniram a centralidade de seus próprios ministérios (9.5). Eles disseram: “Bom é estarmos aqui”. Eles queriam a espiritualidade da fuga, do êxtase e não do enfrentamento. Queriam as visões arrebatadoras do monte, não os gemidos pungentes do vale. Mas é no vale que o ministério se desenvolve”

Eles estão envolvidos por uma nuvem celestial, mas têm medo de Deus (Lc 9.34). Eles se encheram de medo (Lc 9.34) a ponto de caírem de bruços (Mt 17.5,6). Vêem Deus como uma ameaça. Eles se prostram não para adorar, mas por temer. Eles estavam aterrados (9.6)”.

2)    A espiritualidade do vale – discussão sem poder (9.9-29)
·        No vale há gente sofrendo o cativeiro do diabo sem encontrar na igreja solução para o seu problema (9.18). Aqui está um pai desesperado (Mt 17.15,16). O diabo invadiu a sua casa e está arrebentando com a sua família. Está destruindo seu único filho.

·        No vale há gente desesperada precisando de ajuda, mas os discípulos estão perdendo tempo, envolvidos numa discussão infrutífera (9.14-18). Os discípulos estavam envolvidos numa interminável discussão com os escribas, enquanto o diabo estava agindo livremente sem ser confrontado.

·        No vale, enquanto os discípulos discutem, há um poder demoníaco sem ser confrontado (9.17,18). Há dois extremos perigosos que precisamos evitar no trato dessa matéria: Subestimar o inimigo. Os liberais, os céticos e incrédulos negam a existência e a ação dos demônios. Para eles, o diabo é uma figura lendária e mitológica. Superestimar o inimigo. Há segmentos chamados evangélicos que falam mais no diabo do que anunciam Jesus.

2. 1) Como era esse poder maligno que estava agindo no vale?
·        O poder maligno que estava em ação na vida daquele menino era assombrosamente destruidor (9.18,22; Lc 9.39). A casta de demônios fazia esse jovem rilhar os dentes, convulsionava-o e lançava-o no fogo e na água, para matá-lo. Os sintomas desse jovem apontam para uma epilepsia. Mas não era um caso comum de epilepsia, pois além de estar sofrendo dessa desordem convulsiva, era também um surdo-mudo. O espírito imundo que estava nele o havia privado de falar e ouvir.
·        O poder maligno em ação no vale atingia as crianças (9.21,22). A palavra usada para meninice é bréfos, palavra que descreve a infância desde o período intra-uterino. O diabo não poupa nem mesmo as crianças. Aquele jovem vivia dominado por uma casta de demônios desde a sua infância. Há uma orquestração do inferno para atingir as crianças (Êx 10.10,11).
·        O poder maligno em curso age com requinte de crueldade (Lc 9.38). Esse jovem era filho único. O coração do Filho único de Deus enchia-se de compaixão por esses filhos únicos, por seus pais, e por muitos, muitos outros!
·        Em quarto lugar, no vale os discípulos estão sem poder para confrontar os poderes das trevas (9.18; Lc 9.40; Mt 17.16). Por que os discípulos estão sem poder? Existem demônios e demônios (9.29). Há demônios mais resistentes que outros (Mt 17.19,21). Há hierarquia no reino das trevas (Ef 6.12). Os discípulos não oraram (9.28,29). Não há poder espiritual sem oração. O poder não vem de dentro, mas do alto. Os discípulos não jejuaram (9.28,29). O jejum nos esvazia de nós mesmos e nos reveste com o poder do alto. Quando jejuamos, estamos dizendo que dependemos totalmente dos recursos de Deus. Os discípulos tinham uma fé tímida (Mt 17.19,20). A fé não olha para a adversidade, mas para as infinitas possibilidades de Deus. Jesus disse para o pai do jovem: “Se podes! Tudo é possível ao que crê” (9.23).

3)    A espiritualidade de Jesus (9.30,31).

·        A transfiguração foi uma antecipação da glória, um vislumbre e um ensaio de como será o céu (Mt 16.18). A palavra “transfigurar” é metamorphothe, de onde vem a palavra metamorfose. O verbo refere-se a uma mudança externa que procede de dentro. Essa não é uma mudança meramente de aparência, mas uma mudança completa para outra forma.
·        Em primeiro lugar, a espiritualidade de Jesus é fortemente marcada pela oração (Lc 9.28). Jesus subiu o Monte da Transfiguração com o propósito de orar e porque orou seu rosto transfigurou e suas vestes resplandeceram de brancura (Lc 9.29).

Ø Dois fatos são dignos de destaque na transfiguração de Jesus:
·        O seu rosto transfigurou (Lc 9.29). Mateus diz que o seu rosto resplandecia como o sol (Mt 17.2). O nosso corpo precisa ser vazado pela luz do céu. Devemos glorificar a Deus no nosso corpo.
·        Suas vestes também resplandeceram de brancura (Lc 9.29). Mateus diz que suas vestes resplandeceram como a luz (Mt 17.2). Marcos nos informa que as suas vestes tornaram-se resplandecentes e sobremodo brancas, como nenhum lavandeiro na terra as poderia alvejar (9.3).

As nossas vestes revelam o nosso íntimo mais do que cobrem o nosso corpo. Elas retratam nosso estado interior e demonstram o nosso senso de valores. As nossas roupas precisam ser também santificadas para não defraudarmos aos nossos irmãos. Devemos nos vestir com modéstia e bom senso. Devemos nos vestir para a glória de Deus”.

Conclusão:
Ø Na transfiguração Jesus foi consolado antecipadamente para enfrentar a cruz (Lc 9.30,31). Quando oramos, Deus nos consola antecipadamente para enfrentarmos as situações difíceis. Jesus passaria por momentos amargos: seria preso, açoitado, cuspido, ultrajado, condenado e pregado numa cruz.

Ø Em resposta à oração de Jesus, o Pai confirmou o seu ministério (Mt 17.4,5). Os discípulos sem discernimento igualaram Jesus a Moisés e Elias, mas o Pai defendeu a Jesus, dizendo-lhes: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo; a ele ouvi”. Marcos registra: “E, de relance, olhando ao redor, a ninguém mais viram com eles, senão Jesus” (9.8).

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