terça-feira, 19 de agosto de 2025

 De onde vem as guerras e as contendas que há entre vós? Tg 4.1-10 

Introdução

O mundo está em guerra. Guerra no Oriente médio entre Israel e Irã; guerra no leste europeu entre Rússia e Ucrânia; Guerra na Ásia entre Paquistão e Índia. O Mundo está em guerra: os jovens estão morrendo por causa das drogas, quase todos os dias um jovem morre por causa do mundo do tráfico. Guerra no ambiente de trabalho, existe uma disputa ensandecia pelos melhores cargos.  Guerra nas famílias: filhos contra pais, guerra entre casais. E, infelizmente, a igreja está também em guerra, irmãos contra irmãos...

1)     Uma pergunta 

O apostolo Tiago inicia o capítulo 4 com uma pergunta: “De onde vêm as lutas e as brigas entre vocês? (Tg 4.1 NTLH) Ou “De onde vêm as guerras e discórdias que há entre vós? (Tg 4.1 A21). O que voce responderia? “De Satanás!”, ou “dos falsos irmãos!”, ou “dos hereges que se infiltraram sorrateiramente!”. Nada disso! Tiago apresenta a resposta certa: “Elas vem dos maus desejos que estão sempre lutando dentro de vocês” (Tg 4.1 NTLH) ou “Não vêm das paixões que guerreiam dentro de vocês” (Tg 4.1 NVI).

O apostolo Tiago já havia ensinado que a fonte da tentação e do pecado é nosso “próprio desejo” (Tg 1.14). Confusão e práticas nocivas são consequências de nossa “inveja e sentimento ambicioso”, é a sabedoria terrena (Tg 3.16). Portanto, somos nós os principais responsáveis pelas nossas brigas. Satanás se beneficia com a contenda no meio da igreja, o mundo lá fora zomba dos crentes, mas nós somos culpados. Novamente: “De onde vêm as guerras e contenda entre vós? E a resposta é: vinha de dentro da igreja, vinham dos relacionamentos entre irmãos e familiares. 

“Guerras” que no original é polemoi de onde vem o termo polêmica, que significa “discussão, controvérsia”. “Contendas”, vem do grego machai, que significa também “brigas corporais”. As duas palavras evidenciam que havia hostilidade no seio das comunidades cristãs da época. Assim como tempos hoje. Há divisões, rixas e competições na igreja de Cristo. Infelizmente. Surge uma pergunta: “Como chega a acontecer isto? Por que é assim?

Donde vem as guerras e as contendas?” E a resposta de Tiago é imediata: “Dos vossos deleites, que nos vossos membros guerreiam”. No grego “deleites” é hedonón, isto é, hedonismo que é a concepção de vida segundo a qual o prazer é a finalidade, o bem supremo da vida. Os deleites estão na “carne” no homem interior. A força dos prazeres que operam na nossa vida produz o clima de competições em muitas igrejas. Ou seja, o espirito de contenda entre os irmãos é produto da carnalidade humana, é o homem dominado pela carne, que produz divisões na igreja.

Depois o apostolo Tiago diz: “Cobiçais e nada tendes”. Desejar melhores condições de vida não é errado. É uma legitima aspiração humana. Mas “cobiçar” não é uma aspiração legitima. O verso 2 fala de: cobiçar, matar, invejar, combater, fazer guerra. Todos esses desejos não vêm de Deus. Pois todas essas palavras fazem parte de um cenário de guerra. O que o apostolo Tiago quer nos ensinar é que o espírito de contenda em uma igreja é semelhante ao de contendas entre pessoas e nações. E é a natureza carnal do homem que as produz. 

Invejais, e não podeis alcançar”. O termo “invejais” é zeloute, de zelóo (arder em ciúmes). Zelóo é a raiz de “zelote” (aquele que arde em devoração, em fervor), palavra que veio significar também o homem zeloso pela lei, como revolucionário político apaixonado pela ideia de libertação do jugo estrangeiro. Imagina agora o sentimento de inveja no mesmo nível de alguém com fervor religioso, ou um revolucionário? Logo, arder de ciúmes pelas posses alheias leva a guerra, contendas... 

Nada tendes, porque não pedis”, em seguida ele explica o porquê? “Não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites” (Tg 4.3). Por que Deus não nos concede nossos pedidos de oração? Porque pedimos mal!  São os deleites, os prazeres egoístas, que nos levam a pedir mal, de forma deslocada da vontade divina. Há muitos, infelizmente, que querem usar Deus para seus propósitos, que não são muito edificantes. Todas nossas necessidades reais são supridas por Deus, mas aquelas que geram contendas, guerras, discórdias, divisão, não passam nem pelo teto da igreja.

Logo, Tiago chama-os de “infiéis”, ou “adúlteros”. Porque o apostolo tiago está chamando alguns da igreja de “infiéis”? porque estão traindo a Deus. Eles dirigem sua atenção, afeição e lealdade não a Deus e seu povo, mas a si mesmos e ao mundo. Ele fala da amizade com o “mundo” que traduz o termo kosmos e está se referindo ao sistema deste mundo que se opõe a Deus. É a humanidade caída. Portanto os salvos que namoram com o mundo está cometendo adultério e, portanto, tornando-se inimigo de Deus. Somos a noiva de Cristo “...vos desposei com um só Esposo, Cristo, para vos apresentar a ele como virgem pura” (2 Co 11.2). Amar o mundo é adulterar-se com Cristo, é dividir o amor que lhe foi prometido. 

2)     O Espirito tem ciúmes

“Ou imaginais que é sem razão que a Escritura afirma que o Espirito que Ele fez habitar em nós zela com ciúmes dos seus?” (Tg 4.5), ou “”Ou que acham vocês que as Escrituras querem dizer quando afirmam que o Espirito Santo, que Deus pôs em nós, vigia sobre nós com terno ciúme?” (NVV). O apostolo Tiago está afirmando que o Espirito Santo tem ciúmes de nós, tem ciúmes da sua igreja. A palavra pneuma é o Espirito Santo. O povo estava sendo infiel, adultero com Deus, estava trocando Deus pelo mundo. Então Tiago diz: “O Espírito em que nós habita anseia com ciúmes”. O ciúme que Deus tem pela fidelidade do seu povo é comparável a um marido que anseia pela fidelidade da esposa. 

Mas Tiago diz: “Todavia, ele nos dá maior graça” (Tg 4.6). maior comparado a quê? Maior que a nossa vontade, maior que o nosso egoísmo, maior que nossa carnalidade, maior que nosso desejo de inveja. Essa é a obra do Espirito Santo na vida do crente. Não é fácil abandonar o orgulho, ou nos humilhar diante de Deus. Mas se fizermos encontraremos um deposito cheio de sua graça que será derramada sobre nós.

O que temos que fazer? Primeiro, precisamos nos “...submeter a Deus” (Tg 4.7). Trata-se de um imperativo, uma ordem. Não lute, não resista, nem exerça pressão. Mas, renda-se, renuncie e desista. Deus nos concede graça necessária. Diga: “Senhor, eu desisto. Estou exausto”. “Submeta-se a Deus”. Logo, ele diz: “resistir ao diabo”. O alemão Dietrich Bonhoeffer nos legou o livro “Resistencia e Submissão”. Somos exortados a resistir ao Diabo porque assim fazendo ele fugirá de nós. Mas, “sujeitai-vos, pois, Deus” vem antes da ordem de resistência. Primeiro, nos submetemos a Deus, em seguida resistimos ao Diabo. 

Segundo, “Chegai-vos a Deus, e ele chegará para vós” (Tg 4.8). Se nós chegarmos a Deus, então, e só então, ele se chegará a nós. Um dia chegamos a Deus, fomos salvos, libertos, justificados pelo seu sangue. Mas, aqui, Tiago está falando de nosso relacionamento diário com Deus, a experiencia de crescer no conhecimento dele e aos poucos nos tornar cada vez mais semelhantes a seu Filho.

Conclusão

Como nos aproximamos de Deus? “Limpai as mãos, pecadores; e vós de espirito vacilante, purificai o coração” (v.8).  lavar as mãos e se despojar do imundo, mostrando um desejo de purificação. Precisamos de um espírito de pureza, de um desejo de santificação, despojando-nos das impurezas. Ele diz “purificai o coração”, dirigindo-se aos de “espirito vacilante” ou “hipócritas”. “Coração” nos remete ao íntimo da pessoa. Para se aproximar correta de Deus, é preciso uma purificação tanto interna quanto externa, tanto de sentimentos quanto de atitudes, ou seja, o que agrada a Deus é o interno que se liga ao externo.

O verso 9 diz: “Fiquem tristes, gritem e chorem. Mudem as suas risadas em choro e a sua alegria em tristeza”. Tiago fala de sentir, lamentar a e chorar. Aqui é uma atitude de quebrantamento: lamentar-se e chorar pelos pecados “torne o vosso riso em pranto”. Converta “a vossa alegria em tristeza”, há um desejo de mudança de vida, de santificação. Tristeza é olhar para baixo, para o chão, uma atitude de vergonha. E termina afirmando: “Humilhai-vos perante o Senhor, e ele vos exaltará” (Tg 4.10). 


 

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