terça-feira, 6 de dezembro de 2022

 Jó e a depressão - Jó 3 

Introdução

O terceiro capitulo de Jó não é fácil, é raro a gente vê alguém pregando em cima desse texto. Se esta história fosse transformada em filme, você e sua família assistindo, quando chegasse a essa parte da história iriam apertar o botão para acelerar a fita; não gostariam que seus filhos assistissem. O capitulo primeiro fala do pai de família Jó e todas as suas propriedades; depois, toda sua provação, perdeu tudo e, pior, seus dez filhos morreram. Agora, no terceiro, vemos um homem totalmente mergulhando em angustia...

Será que a vida cristã é isenta de dificuldades, tudo é maravilhoso na vida do crente? Maravilhoso significa confortável, saudável, todas as contas pagas, nenhum dívida, nenhuma doença, casamento feliz com filhos bem comportados, um emprego satisfatório, etc...e a expectativa de nada além de bênçãos, sucesso e prosperidade para sempre...

Mas, sabemos que pela história de Jó, enfrentamos, sim, dificuldades. Diante disso Jó afirma, para sua esposa: “Voce fala como uma insensata. Aceitaremos o bem dado por Deus, e não o mal? Em tudo isso Jó não pecou com seus lábios” (Jó 2.10). Mas, no capitulo 3 temos um quadro sombrio da alma de Jó, não aparece mais o Jó resistente: “Não tenho descanso, nem sossego, nem repouso, e já me vem grande perturbação” (Jó 3.26). O que aconteceu? Ele, felizmente, nos lembra que até a pessoa piedosa pode ficar deprimido. 


1)     Alma angustiada

Algo precisamos saber sobre o livro de Jó. Primeiro, neste ponto das Escrituras em hebraico, a poesia substitui a prosa. No prólogo, os capítulos 1 e 2 do livro de Jó são escritos em prosa, como aparecem na sua Bíblia, um estilo narrativo e comum. Mas, ao chegar ao terceiro capitulo de Jó no hebraico, você começa a ler poesia. Portanto, o estilo muda de narrativo para uma composição metrificada. Ele permanece assim até o sexto versículo do capitulo 42. 

Segundo, a explosão de Jó não é principalmente devida ao seu sofrimento físico. É mais emocional, incentivada pela sua perda de contato com Deus. Seu sofrimento, sua falência, suas feridas dolorosas não o forçam a dizer o que diz aqui em Jó 3. Não se trata de vagueações noturnas devidas à sua inquieta­ção...Jó está no fundo do poço, porque perdeu seu Amigo.

Durante muitos anos. Deus parecia íntimo. Enquanto o negocio cresceu, as caravanas de camelo se multiplicaram, grandes colheitas foram ceifadas e o lucro começou a entrar aos borbotões, abençoando-o e sua família com enorme prosperidade, Jó e Deus permaneceram juntos e íntimos. Andaram de mãos dadas, até aquele dia terrível em que tudo foi pelos ares. As trevas vieram quando os céus se tornaram de metal. Quando Deus não andou mais com ele na fresca da tarde. Quando Deus não falou mais com ele, nem o confortou com palavras ...Por que tanto sofrimento, Deus? 

Jó está transtornado, arrasado, destituído de toda alegria... Este é um esboço simples (e deprimente!) de Jó 3:  Jó lamenta seu nascimento (Jó 3:1-10).  Jó deseja que tivesse morrido ao nascer (Jó 3:11-19).  Jó quer agora morrer (Jó 3:20-26). “Depois disso, passou Jó a falar e amaldiçoou o seu dia natalício”

Olhando para esses versículos, talvez você pense: “Ah! está vendo? Satanás disse que ia amaldiçoar a Deus e tinha razão”. Examine a questão com cuidado. Ele não está amaldiçoando a Deus, está amaldiçoando o dia do seu nascimento. Há uma grande diferença entre as palavras: “Por que nasci” e “Não creio mais no Senhor, Deus”. Jó está dizendo: “Estou total e completamente só. Lamento ter um dia respirado. Lamento ter sido concebido no ventre materno”. “Apaguem o dia que nasci. Esqueça a noite em que fui concebido! Que aquele dia seja transformado em trevas, e que Deus, lá em cima, esqueça o que aconteceu” (Jó 3.1-2).A mensagem). 

A primeira palavra nos obriga a uma pausa: “Depois disto”. Pare e faça um retrospecto. O homem está sentado no depósito de lixo da cidade, com a cabeça raspada, a mulher torcendo as mãos em agonia, os três amigos sentados e olhando em silêncio durante sete dias e sete noites, e nenhuma esperança do alto. Depois de tudo isso ele abriu a boca e disse: “Desejaria não ter nascido.”

Encontramos nesse trecho alguns verbos chamados jussivos na sintaxe hebraica. Pense neles como “verbos que expressam desejo”. Eles representam o que Jó estava almejando - que isto possa acontecer, que aquilo possa acontecer, que isto possa ter lugar, que aquilo possa ter lugar, que essas coisas ocorram. O verbo jussivo aparece como um desejo a quem pode satisfazer esse desejo:  

Versículo 3: “Pereça o dia.” Versículo 4: “Converta-se aquele dia em trevas; e Deus, lá de cima, não tenha cuidado dele.” Versículo 5: Reclamem-no as trevas e a sombra de morte; habitem sobre ele nuvens; espante-o tudo o que pode enegrecer o dia.” Versículo 6: “Não se regozije ela entre os dias do ano; não entre na conta dos meses.” (Tire-o do calendário, esqueça a data do meu nascimento.) versículo 7: “Seja estéril aquela noite, e dela sejam banidos os sons de júbilo.” Versículo 8: “Amaldiçoem-na aqueles que sabem amaldiçoar o dia.” Versículo 9: “Escureçam-se as estrelas do crepúsculo matutino dessa noite.” Jó está desejando que tudo isso tivesse acontecido.

Por que ele diria tais coisas? Ele está deprimido! “Não quero nada com esta coisa chamada vida.” É interessante notar que o suicí­dio não entrou em sua mente. Nenhuma tentativa, nenhuma palavra a esse respeito, uma vez que era algo absolutamente estranho à vida do indivíduo fiel.

Agora veja o que ele diz no versículo 3. Jó não só lamenta o dia do seu nascimento, como a sua concepção. “Pereça o dia em que nasci.” E, em bom estilo poético, ele retrocede nove meses: “E a noite em que se disse: Foi concebido um homem!” Em nossa época de abortos feitos com facilidade e frequência, não é notável que ele não tivesse chamado a concepção de “tecido”? ou de uma massa de protoplasma? Jó chama a multiplicação microscópica de células vivas de “homem”, porque a vida começa na concepção. No momento em que o espermatozoide entra no óvulo - vida! 

Quando chegamos ao âmago de sua sombria perspectiva, encontramos estas palavras: “Amaldiçoem-na aqueles que sabem amaldiçoar o dia” (v. 8). Jó não tem muita prática de amaldiçoar, então oferece aos que estão familiarizados com essas palavras profanas para lançarem a maldição por ele. Acrescenta também que são aqueles que “sabem excitar o monstro marinho [leviatã]”. O que é leviatã? “um monstro marinho representado como um adversário”. A definição, entretanto, retrocede um tanto. Mais especificamente, leviatã era um monstro marinho de sete cabeças da mitologia do antigo Oriente Próximo.

Jó, embora lamentando por não ter perecido na concepção e triste por ter vivido para ver o dia de seu nascimento, faz uma pergunta penetrante: “Por que não morri eu na madre? Por que não expirei ao sair dela? Por que houve regaço que me acolhesse? E por que peitos, para que eu mamasse?” Jó 3:11,12 A ultima frase todos entendemos como o processo de amamentação da mãe. Agora “regaço que me acolhesse” refere-se ao processo do pai patriarcal pegando o filho depois do nascimento, a criança era colocada nos joelhos e recebia a benção do pai.

 Jó concluiu o seu lamento dirigindo-se aos seus medos e pavor. “Aquilo que temo me sobrevêm, e o que receio me acontece.” Ele resume então a sua desgraça: “Qual é o sentido da vida quando ela não faz mais sentido? Por que Deus permite que vivamos, se fechou todas as saídas?” (Jó 3.25, a mensagem). “O pior dos meus medos tornou-se realidade; o que eu mais temia aconteceu” (Jó 3.26, a mensagem).

1. Não tenho descanso.

2. Não tenho sossego.

3. Não tenho repouso.

4. E já me vem grande perturbação.

Fim do discurso!

Conclusão

Primeiro, há dias escuros demais para que o sofredor possa ver a luz. Segundo, há experiências de tal forma extremas que os atingidos não conseguem sentir esperança. Terceiro, há vales profundos demais para que os angustiados encontrem alívio. Nesse ponto, parece que não há mais razão para prosseguir.

Corrie Ten Boom, que foi levada no campo de concentração nazista, disse: “Não há poço tão profundo que ele não seja mais profundo ainda.”. Portanto, as boas novas é que Deus não só está lá, mas também que ele se importa. 


Nenhum comentário:

Postar um comentário