Jesus e a mulher samaritana –
Jo 4.1-26.
Introdução:
Jesus havia deixado a Judéia
e se dirigia para a Galiléia mas "era-lhe
necessário passar por Samaria" (João 4:4). É aí onde, realmente, começa a nossa história.
Ele viajava com seus discípulos por Samaria, fora da Judéia. Ao chegarem a
cidade de Sicar, os discípulos se dispersaram com o intuito de conseguir algo
para comer. Jesus estava "cansado
do caminho, assentou-se assim junto da fonte" (João 4:6) e sedento. Não tem como tirar água porque
lhe falta um jarro. Mas então uma mulher solitária aparece para buscar água e
ele pede.
1)
Jesus inicia com um diálogo.
Em nossa cultura, não nos parece incomum ver os dois
conversando, mas deveria. Observe o choque da mulher pelo simples fato de ele
lhe dirigir a palavra “dá-me de beber" (João 4:7), pois os judeus e samaritanos eram
inimigos implacáveis.
“Alguns judeus do norte que
não foram deportados para Assiria se casaram com mulheres cananeias e formaram
praticamente uma nova tribo, os samaritanos. Eles pegaram parte da religião
judaica e parte da Cananeia e criaram uma religião sincrética. Por volta de 400
a.c., os samaritanos erigiram um templo rival
no monte Gerizim. No século I, os samaritanos tinham desenvolvido sua própria
herança religiosa baseada no Pentateuco, não aceitavam os livros histórios, nem
os poéticos e nem os profetas”.
Outrossim, por que a mulher
saiu para buscar água ao meio-dia? Não era costume a essa hora do dia a mulher
buscar água. Elas iam mais cedo, quando ainda não estava quente, de modo que
pudessem ter água para as tarefas de manutenção da casa o dia inteiro. A
resposta é: ela era marginalizada moral, uma completa intrusa, mesmo dentro de
sua própria comunidade desprezada pela sociedade.
Na Mishná Niddah 4.1 – uma explicação
da lei de Moisés – refletia um sentimento popular existente nessa época, no
sentido de que todas “as filhas dos
samaritanos menstruam desde o berço” e, portanto, estão em um estado de
impureza cerimonial. Nesse caso, Jesus quebra todas as barreiras: racial,
cultural, a barreira do gênero e a barreira moral – davam conta de que ele, um
homem judeu religioso, não deveria ter nada que ver com aquela mulher.
2)
Jesus
confronta a mulher.
Embora seja evidente que
Jesus se mostra aberto e afetuoso para com a mulher, ainda assim ele a
confronta. Mas faz isso de uma maneira gentil e habilidosa. Começa dizendo: “Se soubesse quem sou eu, você me pediria
água viva; e, se bebesse dessa água, jamais voltaria a ter sede”.
Afinal, a que Jesus se
refere? Ele fala por metáfora, referendo à “água viva”, chamada por ele de “vida
eterna”. A imagem causa um impacto um pouco menor para nós. A maioria de nós
sabe bem pouco o que é sede real, mas quem já viveu no clima árido junto ao
deserto conhece muito bem o assunto. Como nossos corpos contêm muita água,
sentir sede profunda significa estar em agonia.
Então, o que Jesus está
dizendo a essa mulher? O seguinte: “Tenho algo para você que lhe é tão básico e
necessário para o espírito quanto a água para o físico. Algo sem o qual você estará
completamente perdida”. Ele diz: “Minha água, se você a obtiver, haverá de se
tornar uma fonte de águas em você jorrando para a vida eterna”.
O que faz o homem feliz? Amor romântico; carreira
profissional; política; uma causa social; dinheiro, etc. Mas o que quer que o
faça dizer: “Se eu tiver tal coisa, se eu chegar lá, então saberei que sou importante,
então saberei que tenho significado, então saberei que tenho segurança”.
Entretanto, Jesus diz que não há nada fora de você capaz de satisfazer de
verdade a sede existente no fundo do seu interior. Ou seja, não precisamos de água
respingada no rosto, mas, sim, da água que vem de um lugar em você ainda mais
profundo que a própria sede.
E Jesus declara: “Posso
dá-la para você. Posso colocá-la dentro de você. Posso lhe oferecer satisfação
absoluta e incomensurável no âmago do seu ser, independentemente do que
acontece do lado de fora e das circunstâncias”.
Anos atrás, o grande campeão
do tênis Boris Becker declarou: “Venci em Wimbledom duas vezes, uma delas como
o jogador mais jovem. Eu era rico (...) tinha todos os bens materiais de que
precisava (...) é a velha ladainha das estrelas pop e de cinema que cometem suicídio. Tem tudo, não entanto são tão
infelizes. Mas eu não experimentava nenhuma paz interior”. Poderíamos dizer: “Preferiria
ter a dificuldade dele a minha”. Mas o que ele está dizendo é que tem a mesma
dificuldade que nós e, como nós, achava que dinheiro, sexo, realização e fama o
solucionaria. A diferença está em que ele teve tudo isso e, por fim, nada lhe
satisfez a sede nem um pouco. Em uma entrevista famosa, Sophia Loren disse que
tivera tudo – prêmios, casamentos – mas, mesmo assim, “em minha vida existe um
vazio impossível de preencher”.
Todo mundo tem de viver em
função de alguma coisa, mas Jesus argumenta que, se não for ele essa coisa, você se desapontará.
Primeiro, ela o escravizará. Em segundo lugar, no entanto, caso você consiga,
sim, alcança-la, ela não lhe dará a satisfação esperada.
O escritor norte americano
David Foster Wallace disse a um grupo de formandos:
“Todo mundo adora. A única escolha que nos cabe é o que adorar. E a
razão que nos constrange a talvez escolher algum tipo de deus (...) para adorar
(....) está no fato de que praticamente todas as outras coisas que você adora o
comerão vivo. Se adorar o dinheiro e bens, caso eles estejam onde você encontra
real sentido na vida, você jamais os possuirá em quantidade suficiente, jamais
sentirá que tem o bastante. É a verdade. Adore o próprio corpo, a beleza e a
atração sexual e sempre se sentirá feio. E, quando o tempo e a idade começarem
a se mostrar, você sofrerá um milhão de mortes antes de (seus entes queridos)
enfim o enterram. Adore o poder e acabará se sentido frágil e temeroso,
necessitado de ainda mais poder sobre os outros para anestesiar o próprio medo.
Adore seu intelecto, sendo visto como alguém inteligente, e acabará se sentindo
estúpido, uma fraude, sempre prestes a ser descoberto. Olhe, essas formas de
adoração são traiçoeiras não porque sejam más ou pecaminosas, mas porque são
inconscientes”.
Cerca de dois anos depois de
proferir esse discurso, ele se matou. E as ultimas palavras desse homem não
religioso a nós são bastante aterradoras: “Alguma coisa acabará por come-los
vivos”. E, como Jesus disse: “A menos que você me adore, a menos que eu seja o
centro da sua vida, a menos que você esteja tentando matar a sede espiritual
por meu intermédio e não por meio dessas outras coisas, a menos que enxergue
que a solução deve vir de dentro em vez de apenas passar por seu exterior,
então o que quer que você adore o desamparará no final”.
Na mesma hora ela pergunta a
Jesus:
_ Que água viva é essa?
Poder me dar essa água?
Então ele vira a mesa e diz:
_Vá buscar seu marido.
Ao que ela responde: _Não
tenho marido.
Tem razão – ele concorda. _
Voce já teve cinco maridos, e o homem com quem vive neste momento não é seu
marido.
Porque Jesus de repente
parece mudar o assunto da busca por água para a história da mulher com os
homens? A resposta é: ele não está mudando de assunto. Ele a provoca quando
diz: “Se quiser compreender a natureza dessa água viva que ofereço, você primeiro
necessita entender como a tem buscado em sua própria vida. Vem tentando
consegui-la por meio dos homens e não tem dado certo, não é? Sua necessidade de
homens a está comendo viva, e isso nunca terá fim”.
Conclusão:
“Senhor, és um profeta!”. Então,
faz a ele um dos maiores questionamentos teológicos possíveis:
_Nós adoramos neste templo
aqui, e os judeus adoram no templo em Jerusalém. Quem está certo? Jesus responde,
“os verdadeiros adoradores adorarão ao Pai em espírito e em verdade”.
Bibliografia:
Timothy Keller - Encontros com Jesus - Vida Nova
D.A. Carson - O comentário de João Shedd
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