Descrição da morte de Jesus na cruz.
A prova médica: Alexander Metherel
A tortura anterior à cruz
— O senhor poderia traçar um quadro do que aconteceu
com Jesus? — pedi.
Ele limpou a garganta.
— Tudo começou logo depois da última ceia — ele disse.
— Jesus foi com seus discípulos para o monte das Oliveiras, especificamente ao
jardim de Getsêmani. Ali, você deve lembrar, ele orou a noite inteira. Nesse
processo, ele estava antevendo os eventos que ocorreriam no dia seguinte. Como
sabia quanto sofrimento teria de suportar, foi bastante natural que
experimentasse muito estresse psicológico.
Levantei a mão para interrompê-lo.
— Espere. É aí que os céticos têm espaço aberto hoje
em dia. Os evangelhos nos contam que ele começou a suar sangue durante esse
tempo. Diga-me, isso não é um mero produto da imaginação frutífera de alguém?
Isso não põe em xeque a exatidão dos escritores dos evangelhos?
Imperturbável, Metherell balançou a cabeça.
— De jeito nenhum — replicou. — Essa é uma condição
médica conhecida, chamada hematidrose. Não é comum, mas está ligada ao alto
grau de estresse psicológico. O que acontece é que a ansiedade extrema ocasiona
a liberação de produtos químicos que rompem os vasos capilares nas glândulas
sudoríparas. Em conseqüência, essas glândulas sangram um pouco, e o suor brota
misturado com sangue. Não estamos falando de muito sangue, só uma quantidade
bem pequena.
Já um tanto satisfeito, ampliei a pergunta.
— Isso tem algum outro efeito sobre o corpo?
— O efeito disso é que a pele fica muito frágil, de
modo que, quando Jesus foi açoitado pelo soldado romano no dia seguinte, sua
pele devia estar muito, muito sensível.
Muito bem, pensei, lá vamos nós. Preparei-me para as
imagens assustadoras que eu sabia que surgiriam na minha mente. Eu tinha visto
muitos corpos de pessoas mortas como jornalista: vítimas de acidentes de
trânsito, de crimes, de tiroteios entre gangues. Contudo, é especialmente
horrível ouvir sobre alguém que foi intencionalmente brutalizado por executores
decididos a causar o máximo de sofrimento.
— Diga-me — retomei a conversa —, como foi esse
açoitamento?
Metherell não tirou os olhos de mim enquanto falava.
— Os açoitamentos romanos eram famosos por serem
terrivelmente brutais. O comum é que consistissem em 39 chicotadas, mas com
freqüência esse número era ultrapassado, dependendo do humor do soldado que as
aplicava. O soldado usava um chicote de tiras de couro trançadas, com bolinhas
de metal amarradas. Quando o açoite atingia a carne, essas bolinhas causavam
hematomas ou contusões profundas, que se abriam nas chicotadas seguintes. Havia
também, presos ao açoite, pedaços afiados de ossos, que cortavam a carne
profundamente. As costas ficavam tão maltratadas que às vezes os cortes
profundos chegavam a deixar a espinha exposta. As chicotadas cobriam toda a
extensão do dorso, desde a nuca até o traseiro e as pernas. Era terrível.
Metherell fez uma pausa.
— Continue — eu o incentivei.
— Um médico que estudou os castigos infligidos pelos
romanos disse: "À medida que o açoitamento continuava, as lacerações
atingiam os músculos inferiores que seguram o esqueleto, deixando penduradas
tiras de carne ensangüentada". Um historiador do século II de nome Eusébio
descreveu um açoitamento nestes termos: 'As veias do sofredor ficavam abertas,
e os músculos, tendões e órgãos internos da vítima ficavam expostos".
Sabemos que algumas pessoas morriam desse tipo de suplício antes de chegar a
ser crucificadas. No mínimo, a vítima sofria dores terríveis e entrava em
choque hipovolêmico.
Metherell usara um termo médico que eu não conhecia.
— O que quer dizer choque hipovolêmico? — perguntei.
— Hipo significa "baixo", vol refere-se a
"volume" e êmico significa "sangue"; portanto, choque
hipovolêmico quer dizer que a pessoa está sofrendo os efeitos de perder grande
quantidade de sangue — explicou o médico. — Isso ocasiona quatro coisas. Em
primeiro lugar, o coração se esforça para bombear mais sangue, mas não tem de
onde; em segundo lugar, a pressão sangüínea cai, causando desmaio ou colapso;
em terceiro lugar, os rins param de produzir urina, para conservar o volume que
sobrou; e em quarto lugar a pessoa fica com muita sede, pois o corpo pede por
líquidos para repor o sangue que perdeu.
— O senhor vê evidências nos evangelhos de que isso
ocorreu?
— Sim, certamente — ele respondeu. — Jesus estava em
choque hipovolêmico quando se arrastou pela rua que subia para o lugar de
execução no Calvário, carregando a viga horizontal da cruz. Ele acabou caindo,
e o soldado romano ordenou a Simão que carregasse a cruz. Mais tarde lemos que
Jesus disse: "Tenho sede", e uma esponja com vinagre foi estendida a
ele. Por causa dos efeitos terríveis do açoitamento, não há dúvida de que Jesus
já se encontrava em condição crítica mesmo antes de os pregos atravessarem suas
mãos e pés.
A agonia da cruz
Por mais desagradável que fosse a descrição do
açoitamento, eu sabia que um testemunho ainda mais repugnante estava por vir.
Os historiadores são unânimes em dizer que Jesus sobreviveu à flagelação
daquele dia e foi até a cruz — onde o processo era fatal.
Em nossos dias, quando criminosos são imobilizados e
executados com injeções de veneno, ou por meio de choque elétrico, ou com um
tiro na nuca, as circunstâncias estão todas sob controle. A morte vem de modo
rápido e previsível. Médicos acompanham e certificam cuidadosamente a morte da
vítima. Bem próximas, testemunhas avaliam tudo do começo ao fim.
No entanto, que certeza se tinha da morte por essa
forma cruel, lenta e bastante inexata de execução chamada crucificação? Na
verdade, a maioria das pessoas não sabe como a cruz mata suas vítimas. E sem um
médico preparado para atestar oficialmente que Jesus morrera, poderia ele ter
passado pela experiência, brutalizado e ensangüentado, mas ainda vivo?
Comecei a desembrulhar esses assuntos.
— O que aconteceu quando Jesus chegou no lugar da
crucificação? — perguntei.
— Ele deve ter sido deitado de costas, para que suas
mãos pudessem ser pregadas em posição estendida na viga horizontal. Essa viga
era chamada patibulum, até então separada da viga vertical, que estava fixada
no chão de modo permanente.
Eu tinha dificuldades para visualizar isso; precisava
de mais detalhes.
— Pregado com quê? — perguntei. — Pregado onde?
— Os romanos usavam pregos grandes, com cerca de 15
centímetros, bem afiados. Com eles, atravessavam os pulsos — Metherell disse,
indicando uns dois dedos abaixo do seu pulso.
— Espere aí — interrompi. — Eu pensava que os pregos
haviam furado suas mãos. Isso é o que mostram todas as pinturas. Na verdade,
essa se tornou uma maneira padrão de representar a crucificação.
— Não, eles atravessavam os pulsos — Metherell
repetiu. Essa era uma posição firme que prendia a mão. Se os pregos furassem
apenas a palma da mão, o peso do corpo a rasgaria e ele teria caído da cruz.
Por isso perfuravam os pulsos, que eram considerados parte da mão, na linguagem
da época. E é importante entender que o prego atravessava o lugar por onde
passa o nervo central. Esse é o maior nervo que vai até a mão, e era esmagado
pelo prego.
Como eu só tenho um conhecimento rudimentar da
anatomia humana, não tinha certeza se havia entendido.
— Que tipo de dor isso teria causado?
— Deixe-me dizê-lo da seguinte maneira. Você conhece o
tipo de dor que sente quando bate o cotovelo e leva um "choque"? Na
verdade, você acertou um nervo, chamado ulna. A dor é muito grande quando você
o acerta em cheio. Bem, imagine este nervo sendo apertado e esmagado por um
alicate — ele disse, enfatizando a palavra apertado enquanto girava na mão um
alicate imaginário. — A sensação seria semelhante à que Jesus experimentou.
Estremeci diante da idéia e me encolhi na cadeira.
— A dor era totalmente insuportável — Metherell
continuou. — Na verdade, ela está além da descrição por palavras. Foi
necessário inventar uma nova palavra: dor excruciante. Essa palavra significa
literalmente "da cruz". Veja só: foi necessário criar uma nova
palavra, porque não havia nenhuma na língua que pudesse descrever a angústia
terrível provocada pela crucificação. Depois de ter as mãos pregadas na viga
transversal, Jesus foi erguido para que esta pudesse ser colocada sobre a viga
vertical, e seus pés foram pregados nesta. Também os nervos dos pés foram
esmagados, e a dor era semelhante à das mãos.
Nervos esmagados e cortados certamente causavam dor
suficiente, mas eu precisava saber que efeito o fato de estar pendurado teria
sobre Jesus.
— O que essa posição causa ao corpo? Metherell
respondeu:
— Em primeiro lugar, os braços ficam imediatamente
esticados, os ombros saem do lugar, as juntas se distendem 15 centímetros. Dá
para calcular isso com equações matemáticas simples.
— Isso cumpriu a profecia do Antigo Testamento, Salmos
no salmo 22, que predisse a crucificação de Jesus séculos antes de ela ocorrer:
"Todos os meus ossos estão desconjuntados".
A causa da morte
Metherell conseguira mostrar — quase visivelmente — o
grande sofrimento suportado até o início do processo de crucificação. Mas eu
precisava saber o que tira a vida de uma vítima desse modo de execução, porque
essa é a questão crucial para determinar se uma morte pode ser encenada ou
falsificada. Por isso coloquei a questão da causa da morte de modo direto para
Metherell.
— Uma vez que a pessoa está pendurada em posição
vertical — esclareceu ele —, a crucificação é, em essência, uma lenta agonia
até a morte por asfixia. A razão para isso é que a tensão dos músculos e do
diafragma deixa o peito na posição de inalar. Para exalar, a pessoa tem de
firmar-se sobre os pés, para aliviar por um pouco a tensão dos músculos. Ao
fazer isso, o prego rasga o pé, até se prender contra os ossos do tarso.
Depois de conseguir exalar, a pessoa pode relaxar e inalar novamente. Depois tem de empurrar-se novamente para cima, para exalar, esfregando suas costas esfoladas contra a madeira áspera da cruz. Isso se repete até que a exaustão total toma conta, e a pessoa não consegue mais se erguer para respirar. Ao diminuir a respiração, ela entra no que é chamado acidose respiratória: o dióxido de carbono no sangue é dissolvido em ácido carbônico, fazendo a acidez do sangue aumentar. Isso faz o coração bater de modo irregular. Quando seu coração começou a bater irregularmente, Jesus deve ter entendido que estava chegando a hora da morte, e disse: "Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito". Depois morreu de ataque cardíaco.
Depois de conseguir exalar, a pessoa pode relaxar e inalar novamente. Depois tem de empurrar-se novamente para cima, para exalar, esfregando suas costas esfoladas contra a madeira áspera da cruz. Isso se repete até que a exaustão total toma conta, e a pessoa não consegue mais se erguer para respirar. Ao diminuir a respiração, ela entra no que é chamado acidose respiratória: o dióxido de carbono no sangue é dissolvido em ácido carbônico, fazendo a acidez do sangue aumentar. Isso faz o coração bater de modo irregular. Quando seu coração começou a bater irregularmente, Jesus deve ter entendido que estava chegando a hora da morte, e disse: "Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito". Depois morreu de ataque cardíaco.
Essa foi a explanação mais clara que eu já ouvira da
morte por crucificação; Metherell, porém, ainda não tinha terminado.
— Um pouco antes de morrer, e isso também é
importante, o choque hipovolêmico deve ter feito o coração bater rapidamente
por algum tempo, o que teria contribuído para fazê-lo falhar, resultando no
acúmulo de líquido na membrana em torno do coração, chamado efusão pericardial,
bem como em torno dos pulmões, chamado efusão pleural.
— Por que isso é importante? — eu quis saber.
— Por causa do que aconteceu quando o soldado romano
se aproximou e, tendo quase certeza de que Jesus estava morto, confirmou a
morte enfiando uma lança em seu lado. Provavelmente foi o lado direito; não
temos certeza, mas pela descrição deve ter sido, entre as costelas. Ao que
parece, a lança atravessou o pulmão direito e o coração, e, quando foi tirada,
saiu um líquido — a efusão que mencionei. Esse líquido tem aparência
transparente, como água, e é seguido de um grande volume de sangue, como João,
testemunha ocular, descreveu em seu evangelho.
João provavelmente não fazia nenhuma idéia da razão
por que vira sangue e esse líquido transparente fluir. Certamente não era o que
uma pessoa sem formação como ele poderia esperar. Mas sua descrição é coerente
com o que a medicina moderna esperaria que acontecesse. A princípio, isso
parecia dar credibilidade a João como testemunha ocular; todavia, podia haver
uma grande fraude em tudo isso.
Abri minha Bíblia e virei as páginas até achar João
19.34.
— Espere um minuto, doutor — protestei. — Lendo com
atenção o que João disse, vemos que ele viu sair "sangue e água": ele
pôs as palavras intencionalmente nessa ordem. Porém, segundo o que o senhor
disse, o líquido transparente teria saído primeiro. Portanto, temos uma
discrepância importante aqui.
Metherell sorriu levemente.
— Não sou um estudioso do grego — ele respondeu —,
porém, de acordo com pessoas que são, a ordem das palavras no grego antigo não
era determinada necessariamente pela seqüência dos fatos, mas por sua
importância. Isso quer dizer que, como houve bem mais sangue do que água, para João
faria sentido mencionar o sangue primeiro.
Tive de concordar, mas anotei mentalmente o lembrete
de verificar isso mais tarde.
— A essa altura, qual deveria ser a condição de Jesus?
O olhar de Metherell cruzou com o meu. Ele respondeu
com firmeza e autoridade:
Não havia absolutamente dúvida de que Jesus estava
morto.
Resposta aos céticos
A declaração do dr. Metherell pareceu-me bem
comprovada pelas evidências. Mas havia mais alguns detalhes dos quais eu queria
falar — bem como de um ponto fraco no relato dele que poderia minar a
credibilidade da narrativa bíblica.
— O evangelho diz que os soldados quebraram as pernas
dos dois criminosos que foram crucificados com Jesus — eu disse. — Por que eles
teriam feito isso?
— Se quisessem apressar a morte, e, com o sábado e a
Páscoa se aproximando, os líderes judeus com certeza queriam acabar com tudo
antes do pôr-do-sol os romanos usariam o cabo de aço de uma lança romana curta
para partir os ossos inferiores das pernas das vítimas. Isso as impediria de
empurrar-se para cima com as pernas para respirar, e a morte por asfixia
ocorreria em questão de minutos. É claro, o Novo Testamento nos diz que as
pernas de Jesus não foram quebradas, porque os soldados já tinham verificado
que ele estava morto e apenas usaram a lança para confirmá-lo. Isso cumpriu
outra profecia do Antigo Testamento sobre o Messias, de que seus ossos não
seriam quebrados.
Interrompi mais uma vez.
— Algumas pessoas tentaram lançar dúvidas sobre os
relatos dos evangelhos atacando a história da crucificação. Por exemplo, um
artigo do Harvard Theological Review concluiu muitos anos atrás que há
"surpreendentemente poucas evidências de que os pés de alguém que era
crucificado fossem perfurados". Em vez disso, dizia o artigo, as mãos e
pés da vítima eram amarrados à cruz com cordas. O senhor não concorda que isso
cria problemas de credibilidade para o relato do Novo Testamento?
O dr. Metherell veio para a frente até ficar sentado
bem na ponta da poltrona.
— Não, não acho — ele replicou — porque a arqueologia
agora comprovou que o uso de pregos era comum naquela época apesar de admitir
que às vezes se usavam cordas.
— O que foi descoberto? — continuei.
— Em 1968, os arqueólogos encontraram em Jerusalém os
restos mortais de cerca de 36 judeus que tinham morrido durante a revolta
contra Roma por volta do ano 70 d.C. Uma das vítimas, cujo nome parece ter sido
Yohanan, fora crucificada. Veja que encontraram um prego de 17 centímetros
ainda enfiado em seu pé, com pedaços de madeira de oliveira da cruz ainda
presos na ponta. Isso foi uma confirmação arqueológica excelente de um
detalhe-chave na descrição da crucificação dos evangelhos.
Um a zero, pensei.
— Ainda outro ponto de discussão gira em torno da
capacidade dos romanos em determinar se Jesus estava morto — acrescentei. —Era
um tempo de conhecimentos médicos e anatômicos muito rudimentares; como podemos
estar certos de que eles não se enganaram ao declarar que Jesus não vivia mais?
— Posso lhe garantir que esses soldados não
freqüentaram uma faculdade de medicina. Mas lembre-se de que eles eram
especialistas em matar pessoas — esse era o trabalho deles, e o faziam muito
bem. Eles sabiam sem sombra de dúvida quando alguém estava morto, e isso de
fato não é tão difícil de determinar.
Além disso, se de algum modo um prisioneiro escapasse,
o soldado responsável era morto no lugar dele, o que lhe servia de grande
incentivo para certificar-se com segurança de que cada vítima estava morta
antes de ser retirada da cruz.
O último argumento
Recorrendo à história e à medicina, à arqueologia e
até às regras militares romanas, Metherell tinha fechado todas as saídas: Jesus
não poderia ter descido vivo da cruz. Contudo, eu o levei ainda um pouco mais
longe.
— Existe alguma mínima possibilidade, uma mínima
possibilidade, de Jesus ter sobrevivido a isso?
Metherell balançou a cabeça e apontou o dedo para mim
enfaticamente.
— De jeito nenhum — ele disse. — Lembre que ele já
estava em choque hipovolêmico da grande perda de sangue mesmo antes de a
crucificação começar. Ele não poderia ter fraudado a morte, porque você não
pode representar que não está respirando por muito tempo. Além disso, a lança
enfiada em seu coração teria resolvido a questão de uma vez por todas. Os
romanos também não estavam a fim de arriscar a própria vida deixando Jesus sair
vivo dali.
— Então — arrematei — quando alguém lhe diz que o que
aconteceu com Jesus não passou de um desmaio na cruz ...
— Eu lhe digo que isso é impossível. É uma teoria
fantasiosa sem nenhuma base factual possível.
Eu ainda não estava pronto para encerrar a questão.
Correndo o risco de deixar frustrado o doutor, disse:
— Vamos especular que o impossível tenha acontecido e
que Jesus de algum jeito conseguiu sobreviver à crucificação. Digamos que ele
conseguiu livrar-se dos panos em que estava enrolado, empurrar a grande pedra
que foi colocada na entrada do seu túmulo e passar pelos soldados romanos que
montavam guarda. Do ponto de vista médico, em que condição ele estaria quando
foi encontrar seus discípulos?
Metherell não estava muito disposto a entrar na
brincadeira.
— Repito — enfatizou — que não há nenhuma
possibilidade de ele ter sobrevivido à cruz. Mas, se tivesse, como poderia
andar se seus pés foram perfurados daquele jeito? Como poderia aparecer na
estrada para Emaús, pouco depois, e andar uma longa distância? Como poderia
usar seus braços depois que eles foram distendidos e deslocados nas juntas?
Lembre-se de que ele também tinha grandes ferimentos nas costas e o peito
furado pela lança.
Ele fez uma pausa. Algo estalou em sua mente, e agora
ele estava pronto para fazer uma afirmação final que cravaria uma estaca
definitiva na teoria do desmaio. Era um argumento que ninguém conseguiu
refutar, desde que foi levantado pelo teólogo alemão David Strauss, em 1835.
— Ouça. Alguém de aparência tão destruída jamais teria
inspirado seus discípulos a sair e proclamar que ele é o Senhor da vida, que
triunfou sobre o túmulo. Você entende o que estou dizendo? Depois de sofrer
maus-tratos tão terríveis, com a perda de sangue catastrófica e o trauma, sua
aparência seria tão deplorável que os discípulos jamais o teriam proclamado
como o vencedor da morte; teriam ficado com pena dele e tentado cuidar dele até
que recuperasse a saúde. Por isso, é um despropósito pensar que, se Jesus lhes
apareceu nesse estado horrível, seus seguidores teriam se sentido motivados a
começar um movimento mundial baseado na esperança de que um dia teriam um corpo
ressuscitado como o dele. Não há hipótese.
Uma questão para o coração
De modo convincente e magistral, Metherell tinha
defendido seu argumento sem deixar nenhuma dúvida razoável. Ele o fizera
concentrando-se unicamente na questão "como". Como Jesus fora
crucificado de maneira a garantir de forma absoluta sua morte? Mesmo assim,
quando terminamos, senti que alguma coisa estava faltando. Eu extraíra dele seu
conhecimento, mas não tocara em seu coração. Por isso, quando levantamos para
apertar as mãos, senti-me levado a fazer a pergunta do "por quê", que
se fazia necessária.
— Alex, antes que eu vá, deixe-me pedir sua opinião
sobre algo. Não sua opinião de médico, não sua avaliação científica, somente
algo do seu coração.
Senti que ele baixou um pouco a guarda.
— Está bem — ele assentiu. — Vamos tentar.
— Jesus caminhou intencionalmente para os braços do
seu traidor, não resistiu à prisão, não se defendeu no seu julgamento; está
claro que ele se submeteu voluntariamente ao que o senhor descreveu como uma
forma humilhante e excruciante de tortura. Eu gostaria de saber por quê. O que
poderia ter motivado alguém a concordar em padecer tal suplício?
Alexander Metherell, desta vez o homem, não o médico,
procurou pelas palavras certas.
— Francamente, não creio que uma pessoa comum teria
feito isso — ele finalmente disse. — Mas Jesus sabia o que estava por vir, e se
dispôs a passar por isso, porque essa era a única maneira de nos redimir:
servindo como nosso substituto e sofrendo a pena de morte que nós merecemos
pela rebelião contra Deus. Esse foi o motivo de sua missão ao vir à terra.
Mesmo ao dizer isso, eu ainda podia sentir que a mente
sempre racional, lógica e organizada de Metherell continuava a reduzir minha
pergunta à mais básica e sólida resposta.
— Então, se você pergunta o que o motivou — ele
concluiu, — bem... imagino que a resposta pode ser resumida numa só palavra:
amor.
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