“EM NADA CONSIDERO A
VIDA PRECIOSA” Atos 20:22-24.
Introdução.
Após três anos em Éfeso, Paulo se despede da igreja. Assumira
um compromisso com os líderes da igreja de Jerusalém de que iria para os
gentios, mas não esqueceria os pobres (Gl 2.10). Chegara a hora de cumprir a
promessa. Em virtude da extrema pobreza dos crentes da Judéia, o apóstolo
levantou uma coleta entre os crentes gentios da Macedônia e Acaia e, junto com
uma comitiva composta por companheiros de várias igrejas, viajou para Jerusalém
levando essas ofertas.
O evangelista Lucas vê um paralelo entre a viagem de Jesus
para Jerusalém, destacada em seu evangelho, e a viagem de Paulo para Jerusalém,
descrita no livro de Atos. Não obstante, a missão de Jesus ser única; mas a
correspondência entre as duas viagens é grande demais para ser coincidência.
·
Como
Jesus, Paulo viajou para Jerusalém com um grupo de discípulos (Atos 20.4).
·
Como
Jesus, Paulo sofreu oposição de judeus que conspiraram contra sua vida (Atos
20.3,19).
·
Como
Jesus, Paulo fez ou recebeu tres profecias sucessivas sobre seus sofrimentos
(Atos 20.22,23; 21.4,11), incluindo sua entrega aos gentios (Atos 21.11).
·
Como
Jesus, Paulo declarou sua disposição de entregar a vida (Atos 20.24; 21.13).
·
Como
Jesus, Paulo estava determinado a completar seu ministério, sem se desviar dele
(Atos 20.24; 21.13).
·
Como
Jesus, Paulo expressou sua entrega à vontade de Deus (Atos 21.14).
1) Paulo fortalece os crentes da Macedônia e da Grécia (Atos 20.2-3).
·
Paulo
não apenas gerava filhos espirituais, mas também cuidava deles. A igreja não é
apenas uma sala de parto, mas também uma escola de treinamento. O apostolo
Paulo sempre voltou às igrejas que estabelecera para fortalecer os novos
crentes na fé. Por essa razão visitou as igrejas da Macedônia – Filipos,
Tessalônica e Bereia – e em seguida foi para Corinto, na província da Acaia, na
Grécia.
2) Paulo celebra um culto de despedida em Trôade (Atos 20.7-12).
·
Paulo
partiu de Filipos e, depois de cinco dias de viagem, chegou a Trôade, onde seus
amigos já o esperavam. Paulo visitara Trôade na segunda viagem missionária, mas
não havia pregado o evangelho ali (Atos 16.8). Durante sua terceira viagem,
porém, ele fundou uma igreja na cidade (2 Co 2.12). Tres verdade nos chamam a
atenção no texto.
2.1 ) O
culto na igreja de Trôade (Atos 20.7-8). O culto foi realizado no domingo, o
primeiro dia da semana. O domingo passou a ser chamado de Dia do Senhor, pois foi nesse dia que o
Senhor Jesus ressurgiu dentre os mortos (Ap. 1.10). Também devemos lembrar que
o Espírito Santo foi derramado sobre a igreja no dia do Senhor (Atos 2.1-4), ou
seja, cinquenta dias após a ressurreição de Cristo. Nesse culto houve exposição da Palavra e ministração da Ceia;
edificação e celebração; culto da palavra e culto da mesa. Como não havia
templos cristãos, os crentes estavam
reunidos no terceiro andar do cenáculo. Era noite, porém o lugar estava bem
iluminado.
2.2) Uma tragédia na igreja de Trôade (Atos 20.9). Naquela noite Paulo
exortava os irmãos em Trôade e estendeu o discurso até meia-noite. O jovem
Êutico estava sentado à janela e, tendo adormecido profundamente, caiu do
terceiro andar, sofrendo morte imediata.
·
A janela é um lugar que oferece
muitas distrações.
Através da janela, quem está dentro olha para fora e quem está fora dá uma
espiada para dentro. Ficar à janela é estar dentro, mas observando o que se
passa lá fora. Ficar à janela é ter a atenção dividida e o coração distraído
por muitas coisas.
·
A janela é um lugar que divide o
coração. Êutico
estava no cenáculo, mas seus olhos também se voltavam para o mundo. Dali ouvia
o apostolo Paulo, mas também acompanhava o que se passava na rua. A janela
roubava a sua atenção, distraia o seu coração e amortecia o seu apetite pelas
coisas de Deus.
·
A janela é um lugar de quedas
perigosas. quem cai
de uma janela cai para fora, e não para dentro. Êutico caiu do terceiro andar e
morreu. Davi também viu uma janela aberta, e através dela, uma mulher se
banhando; aquela janela aberta encerrou Davi numa terrível prisão de adultério
e assassinato. Os jovens encontram janelas por todos os lados.
·
A janela é um lugar para ser
abandonado. Quando
Êutico caiu da janela, Paulo não gastou o resto da noite acusando os pais do
jovem nem responsabilizando a congregação pela tragédia. Ele desceu,
inclinou-se sobre o rapaz, o abraçou-o e a vida voltou ao jovem.
3 ) Paulo se despede
dos obreiros em Mileto (Atos 20:22-24).
O que dá valor a vida? Para Paulo, o que dá valor a sua vida
é cumprir uma tarefa que ele recebeu do Senhor Jesus, é cumprir o ministério, é
realizar a sua diaconia, viver pra o outro. Jesus disse, quem quiser ganhar a
sua vida, vai perdê-la. E quem perder a sua vida por amor de mim, vai ganhá-la(Mc
8:34-35). “Negue a si mesmo e siga-me”, “Amar a Deus sobre todas as coisas e o
seu próximo”. Só vive para Deus aquele que vive para outra pessoa.
·
O evangelho da graça de Deus. O que é a graça de Deus? É a relação para além de todo o principio
de retribuição. Estamos acostumados com a cultura do mérito e desmérito, ou
seja, cada um tem o que merece. O evangelho nos ensina que Deus nos trata não
segundo os nossos pecados ( Sl 103) “porque assim como está longe o oriente do
ocidente, assim Deus afasta de nós as nossas transgressões”. A nossa relação
com Deus, portanto, é baseada na graça. Não é uma relação baseada em justiça.
·
Essa
relação que vai determinar o serviço a Deus e ao homem. O que dá valor a vida e
a existência consistem em viver para o outro, tendo aberto mão de toda
recompensa e de toda gratidão. Quem se dá, esperando retorno, gratidão,
reconhecimento, respeito, reverencia, etc., na verdade não dá, negocia.
·
Ninguém
pode nos retribuir as lagrimas que derramamos por amor, ninguém pode nos
retribuir a dor de perdoar, ou, o quanto
custou perdoar uma traição conjugal, uma ofensa, um agravo. E quem
perdoa e espera que o perdoado volte e lhe agradeça, vai se angustiar, vai cair
no vazio da ingratidão.
·
O
Evangelho da graça de Deus é a relação que está acima de qualquer retribuição.
É dar sem volta, é dar sem esperar nada. É dar ainda que todo mundo fuja, um
traia e outro negue. Isso é entregar a vida, abrir mão de qualquer resposta.
Pois não é aqui, o lugar da nossa recompensa, do nosso galardão não é aqui (2
Tm 4.7-8; 2 Co 5.10).
Conclusão: “Conta-se a história de um casal que dedicou sua
vida a obra missionária durante a vida toda na África. Já em idade bem
avançada, volta do campo missionário, em um navio. O missionário olha para sua
companheira e diz: “eles devem ter preparado uma grande festa pra nós e vão nos
receber depois de termos dedicado tantos anos da nossa vida a obra
missionária”. E a medida que o navio vai se aproximando do cais do porto, o
missionário vê muitas bandeiras coloridas e uma fanfarra e, então diz para sua
esposa: “está vendo é a nossa recepção”. No entanto, os missionários não
viajaram na primeira classe, e algum político ou alguma artista eram objetos
daquela festa preparada. O missionário olhou pra esposa e disse: “Acho que a
festa foi preparada lá em casa”. Quando vão pra casa, nada de festa! O
missionário, então, começa a murmurar, quase a blasfemar e dizer a Deus que
depois de uma vida toda no campo missionário é assim que sou recebido depois que
volto pra casa. Então, resolve dar uma volta pelas ruas para ter uma conversa
com Deus. Depois de um tempo, ele retorna, e a sua esposa lhe pergunta: “falou
com Deus?”. Ele respondeu, sim. “E o que ele te falou” ele lhe respondeu: “que
ainda não chegamos em casa”. Pois não é aqui, o lugar da nossa recompensa”.
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