terça-feira, 12 de agosto de 2025

 Sabedoria do alto e sabedoria terrena Tg 3.13-18 

Introdução

o apostolo Tiago fala sobre sabedoria. Ele começa com uma pergunta: “Quem dentre vós é sábio e entendido?”. O tema da sabedoria está nos livros de Sabedoria: Jó, Provérbios e Eclesiastes. Salomão é o autor de dois livros de Sabedoria. Quando Salomão tornou-se rei de Israel, Deus lhe apareceu em uma visão e disse: “Peça-me o que quiser, e eu lhe darei” (2 Cro 1.7). Ele poderia pedir qualquer coisa, mas disse: “Dá-me agora sabedoria e conhecimento, para que eu possa conduzir este povo, pois quem poderá julgar este povo, que é tão grande?” (2 Cro 1.10). Ou seja, o que eu preciso é de sabedoria! Preciso de discernimento prático das sutilezas da vida para que possa governar bem o teu povo. Não peço nada além disso!”. 

A sabedoria é um dos aspectos da vida cristã. Tiago diz no começo: “Se algum de vós tem falta de sabedoria, peça a Deus, que concede livremente a todos sem criticar, e lhe será dada” (Tg 1.5). E aqui, no verso 13, a sabedoria está vinculada pelo bom procedimento, a vida do cristão. No hebraico a palavra sabedoria é “hokhma”, que é sempre prática, sempre vivencial e nunca especulativa. Diz respeito em aplicar à vida as verdades de Deus. Será que temos almejado a sabedoria? Aqui a sabedoria está ligada. E a sabedoria está ligada “em humildade de sabedoria” que também é mansidão e amabilidade.

1)     Sabedoria terrena

Portanto Tiago mostra que há dois tipos de sabedoria. Uma é inspirada em Deus: “a sabedoria que vem do alto” (v.17), a outra é terrena (v.15). Do alto porque “Toda boa dádiva e todo dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em que não há mudança nem sombra de variação” (tg 1.17). A outra sabedoria é terrena, está vinculado ao homem sem Deus, pecaminoso. Jesus disse aos fariseus: “Vós sois de baixo, eu sou de cima; vós sois deste mundo, eu não sou deste mundo” (Jo 8.23). Logo, um discípulo de Cristo deve ter a sabedoria do alto e não da terra. 

A sabedoria terrena é “Animal” (v.15). fala dos instintos, fala do ID, pois o termo grego é psyché, é o instinto natural do ser humano. É quando a gente age na base de “fazer o que estiver no coração”. Mas o simples fato de algo estar em nosso coração (sentimentos) não é indicativo de sua validade. Pois a Biblia adverte: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o poderá conhecer?” (Jr 17.9). Os sentimentos não são confiáveis, devem ser medidos pela Palavra de Deus. 

A sabedoria do mundo é também “diabólica”. Esse adjetivo não qualifica necessariamente a sabedoria que vem diretamente de seres demoníacos, mas está na sabedoria que reflete uma filosofia, ou um estilo de vida ou um padrão de pensamentos opostos á verdade de Deus que poderiam ser endossados até por Satanás. 

A sabedoria terrena é “amargo ciúme”, ou “inveja amargurada”. Quanto desse fruto é achado em nossas igrejas! A inveja do progresso de um irmão ou seu crescimento dentro da comunidade. A inveja da nova liderança que emerge. Na vida de Saul encontramos a manifestação de ciúme e inveja. Quando Davi regressava das batalhas, as mulheres de Israel saíram ao seu encontro, cantando: “Saul feriu os seus milhares, porém Davi os seus dez milhares”. Nisso o ciúme invadiu o coração de Saul: “Dez milhares atribuíram a Davi, e a mim somente milhares; que lhe falta, senão o reino?” (1 Sm 18.6-9). 

A sabedoria terrena é “sentimento faccioso” (Tg 3.14), ou “ambição egoísta”. O espirito de facção no meio da igreja é de inspiração diabólica. Com que facilidade surgem grupos e partidos em nossas igrejas. O apostolo Paulo censurou as facções na igreja de Corinto: “Rogo-vos, irmãos, em Nome do Senhor Jesus Cristo, que sejais concordes no falar, e que não haja dissensões entre vós; antes seja unidos no mesmo pensamento e no mesmo parecer” (1 Co 1.10). Havia quatro grupos no meio da igreja e Paulo censurou os quatro, até mesmo o grupo que dizia representa-lo: “Será que Cristo está dividido? Foi Paulo crucificado por amor de vós? Ou foste batizado em nome de Paulo?” (1 Co 1.13). 

A sabedoria terrena “nega a verdade” (Tg 3.14). Sim, ela não suporta a verdade; não suporta a ideia de Deus; não suporta que a verdade está em Jesus Cristo; não suporta a moralidade da Palavra Deus; seus mandamentos e seus preceitos. Não acredita na existência de uma eternidade com Deus.

O apostolo Paulo exorta a igreja de Éfesios: “...se há alguma exortação em Cristo, se alguma consolação de amor, se alguma comunhão do Espirito, se alguns entranháveis afetos e compaixões, completai o meu gozo, para que tenhais o mesmo modo de pensar, tendo o mesmo amor, o mesmo ânimo, pensando a mesma coisa; nada façais por contendas ou por vanglória, mas com humildade cada um considere os outros superiores a si mesmo” (Fl 2.1-3). E exorta duas irmãs  que estavam tendo diferenças: “Rogo a Evódia, e rogo a Síntique, que sintam o mesmo no Senhor” (Fl 4.2).

2)     Sabedoria celestial

A sabedoria do alto é “primeiramente, pura” (Tg 3.17). Em “primeiro lugar” significa mais do que uma posição na lista. É um indicador do que vem em primeiro lugar em ordem de importância. A sabedoria concedida por Deus produz não somente uma pureza de motivação internas, mas também atos externos. A pureza de atos e pensamentos permite que vejamos Deus atuando em todas as circunstâncias de nossa vida. 

A sabedoria do alto é “pacifica”. Em oposição à “inveja amarga” e ao “sentimento faccioso”, a sabedoria que vem de Deus gera relacionamentos pacíficos, harmoniosos. O termo eirene (paz) significa um estado de ordem, de segurança e isenção de ódios. “Bem aventurados os pacificadores, pois serão chamados filhos de Deus” (Mt 5.9).

A sabedoria do alto é “moderada”. No grego é a palavra epiekes, moderação, equilíbrio, gentileza, dócil. Denota alguém que renuncia a seus direitos em favor de um ideal superior. Em nossos dias, por pouca coisa, abrimos processos judiciais contra alguém. Assim, a sabedoria terrena é mesquinha, litigiosa, egoísta, amarga. Infelizmente, em nosso meio, tem cristãos coléricos, irados. A sabedoria do alta é moderada. 

A sabedoria do alto é “tratável”. Ela tem origem em duas palavras do grego traduzidas por “bem” e “persuasivo”. Juntas, adquirem o sentido de “se deixar persuadir com facilidade”. A palavra também tem o sentido de “ensinável”, alguém que deixa de lado a teimosia e está pronto a se render a verdade. Ela denota uma pessoa que adota uma postura conciliadora, flexível e aberta a mudanças.

A sabedoria do alto é “cheia de misericórdia e de bons frutos”. “cheia” é um sentimento divino e humano, um profundo interesse pelos que sofrem. Misericórdia implica em olhar para alguém com compaixão, mesmo que a punição seja provavelmente merecida. No mundo de hoje, os homens ridicularizam e julgam as pessoas, mas a misericórdia demonstra bondade e benevolência. 

A sabedoria do alto é “imparcial”. Significa uma pessoa com firmeza e que jamais faz concessão da verdade bíblica. Não há acepção de pessoas, não tem favoritismo, por causa de quem tem e quem não tem, todos são tratados iguais, da mesma forma.

A sabedoria do alto é “sem hipocrisia”. Sim é uma pessoa sincera, sem cera, sem necessidade de interpretar papeis. No teatro grego, havia a necessidade da máscara, de vivenciar um papel que não era seu. Infelizmente, tem pessoas que tem duas caras, duas personalidades, duas faces que interpretam papéis.

Conclusão

Uma é a sabedoria do alto e outra é a sabedoria terrena. Uma está cheia de misericórdia e bons frutos, sem mudança, sem hipocrisia; a outra é dos sentidos, carnal e diabólica. Uma produz paz e a outra contendas. Qual é a sabedoria que está dominando a sua vida. 


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terça-feira, 5 de agosto de 2025

 Fé e obras Tg 2.14-26 

Introdução

A salvação é pela fé ou pelas obras? Os católicos acreditam que a salvação é por meio das obras; no livro apócrifo Eclesiástico diz: “A água apaga a chama, a esmola expia os pecados” (Ecl 3.30 BJ). Então, a salvação acontece por meio das boas obras, isto é, a salvação depende de voce. Enquanto, que no meio evangélico protestante, acredita que a salvação ocorre por meio da fé, sim, da fé em Jesus Cristo, como disse o apostolo Paulo: “O justo viverá pela fé” (Rm 1.17). aqui, em Tiago veremos o embate dessa temática. 

1)     Fé e obras

No verso 14, o apostolo Tiago pergunta: “Meus irmãos, que vantagem há se alguém disser que tem fé e não tiver obras? Essa fé poderá salvá-lo?”. Tiago está fazendo uma pergunta nesse versículo para igreja de Cristo, isto é, onde estão os resultados genuínos que provam aos outros a autenticidade dessa confissão?  Para ser mais direto ele está dizendo que se alguém alega ter fé em Cristo, mas os resultados de tal fé não são percebidos na vida, é perfeitamente possível que essa fé seja uma mentira. 

A segundo pergunta que é feita no mesmo verso é: “Essa fé poderá salvá-lo?”, ou “Acaso esse tipo de fé pode salvar alguém?” (NVT). Essa “fé” refere-se a uma qualidade de fé – a fé que não produz fruto. Que fé? Uma fé desprovida de obras, uma fé desprovida de testemunho! É óbvio que a resposta subentendida é um sonoro “Não”! No texto grego, a pergunta é feita de forma que fica evidente de se tratar de uma pergunta retórica que exige uma resposta negativa.

Em seguida o apostolo Tiago de quatro qualidades de fé genuína. A primeira é que a fé genuína não é indiferente, mas comprometida. Ele diz “Se um irmão ou irmã estiverem necessitados de roupas e do alimento de cada dia...” (Tg 2.15). Vejam ele não está sendo indiscriminado, mas diz: “Se um irmão ou irmã...”. Essas pessoas não tinham nem o básico para viver! Elas estavam passando por profundas necessidades, mas, em vez de lhes dar alimentos e roupas, os despedimos com palavras vazias: “Até logo e tenha um bom dia; aqueça-se e coma bem” (Tg 2.16 NVT). 

Tiago não é o único, o apostolo João diz a mesma coisa: “Quem, pois, tiver bens do mundo e, vendo seu irmão em necessidade, fechar-lhe o coração, como o amor de Deus pode permanecer nele” (1 Jo 3.17). O que o apostolo João está dizendo? O amor de Deus não permanece nessa pessoa. Se existe amor genuíno, ele se estende aos outros. Se existe uma fé verdadeira, ela gera ato de compaixão.

A segunda qualidade de fé genuína é que ela não independente, mas exercida com parceria. “Assim também a fé, por si só, se não é acompanhada de obras, está morta” (Tg 2.17). A fé genuína não está sozinha, sempre se faz acompanhar de resultados. Se ela não tem resultados, ela está morta. Tiago emprega a palavra “morta” no sentido de “inútil, ineficaz, fraca”. Portanto, tem dois tipos de fé: uma inútil, é a que não vive a Palavra; a outra é útil, é a que vive a Palavra de Deus, uma fé vibrante. 

A terceira qualidade de fé é que ela não é invisível, mas pode ser vista. É como se ele estivesse indagando ou discutindo com uma pessoa: “Contudo, alguém dirá: Você tem fé; e eu tenho obras. Mostre-me a sua fé sem obras, e eu mostrarei a minha fé pelas obras” (Tg 2.18 NVI). Pelo contexto, trata-se de uma pessoa que concorda com Tiago, mas alega ter uma fé silenciosa, invisível, particular, sem fazer alarde. Como se dissesse: “Fé é algo que guardo para mim mesmo”. Para esse tipo de pessoa, qualquer um que põe sua fé em prática tem algo de fanático. Portanto a fé genuína ela deve ser vista. 

A terceira qualidade de fé é que ela não é intelectual, mas vem do coração. Ele diz: “Voce crê que existe um só Deus? Muito bem! Até mesmo os demônios creem – e estremecem! (Tg 2.19). Essa pessoa é ortodoxa, acredita em Deus e em sua doutrina. Ela conhece o Shemá, aliás cita: “Ouve, ó Israel: O Senhor nosso Deus, é o único Senhor” (Dt 6.4). Ela acredita na teologia de Deus, mas ainda essa teologia não penetrou em seu coração, em sua alma, ainda não tomou sua força, seu entendimento. Em seguida, Tiago apela: “Até os demônios creem e tremem de medo”. O endemoninhado gadareno dobrou-se diante de Jesus e gritou: “Que tenho eu contigo, Jesus, filho do Deus Altissimo?” (Lc 8).  

O mero conhecimento intelectual da verdade é insuficiente. O Senhor Jesus disse em sua Palavra: “Nem todo o que me chama Senhor, Senhor, entrará no reino do céu, mas somente aquele que faz a vontade do meu Pai que está no céu. Quando aquele dia chegar, muitos vão dizer: Senhor, Senhor, em teu nome anunciamos a mensagem de Deus, e pelo nome do Senhor expulsamos muitos demônios e fizemos muitos milagres! Então eu responderei: Nunca os conheci. Saiam de perto de mim, vocês que só fazem maldade!” (Mt 7.21-23). Expulsar demônios não é prova nem mesmo de salvação. Há perdidos efetuando milagres e expulsando demônios!

2)     Dois exemplos de fé

O primeiro exemplo é Abraão: “Não foi pelas obras que Abraão, o nosso pai, foi justificado quando ofereceu o seu filho Isaque sobre o altar” (Tg 2.21). Mas o apostolo Paulo diz em Romanos que a salvação é pela fé: “Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé sem as obras da lei” (Rm 3.28). Tiago diz mais: “Vede então que o homem é justificado pelas obras e não somente pela fé” (Tg 2.24). De um lado o apostolo Paulo diz que a salvação é pela fé, do outro lado, o apostolo Tiago que a salvação é pela fé e pelas obras. O que pensar? 

O apostolo Paulo está olhando para a raiz da salvação, no momento da salvação, somos salvos por meio da fé e nada mais. Por outro lado, o apostolo Tiago, está olhando para os frutos da salvação, depois da salvação, depois de plantada a raiz da fé, nossa vida tem que dar frutos de boas obras. Paulo emprega a palavra “justificado” no sentido de “declarado justo aos olhos de Deus”, essa é uma dádiva de Deus. Tiago está se dirigindo a cristãos que já experimentaram a dádiva da salvação, por isso, ele emprega o termo “justificado” no sentido de “provar que sou justo aos olhos de outras pessoas para mostrar que recebi de Deus a dadiva da vida eterna”.

O segundo exemplo de fé é Raabe. “Caso semelhante é o de Raabe, a prostituta: não foi ela justificada pelas obras, quando acolheu os espias e os fez sair por outro caminho” (Tg 2.25 NVI). O que fez Raabe, exatamente? Ela escondeu os espiões hebreus que foram enviados a Jericó. Foi então sua obra que a salvou?  Não! Sua obra foi consequência de sua fé. Eis a declaração de fé por ela formulada aos espiões, sobre o Deus de Israel: “...o Senhor vosso Deus é Deus em cima no céu e embaixo na terra” (Js 2.11). Quando uma pessoa crê, ela age. Sua fé a leva a um envolvimento com Deus e não em uma alienante fuga mística. 


Conclusão

O apostolo Tiago termina com uma bela imagem: “Portanto, como o corpo sem espírito está morto, assim a fé sem obras está morta” (Tg 2.26).  Deus criou primeiro o corpo do homem, mas enquanto o espirito não veio habitar no corpo, este não valia muito. Estava sem vida. A vida veio pelo Espirito. Quando o Senhor soprou o folego de vida no corpo do homem, este foi tornado alma vivente. Olhamos para uma vida de fé sem obras, tudo parece que está certo, tudo aparentemente nos seus devidos lugares, mas ela é tão viva quanto um cadáver. Ou seja, está morta! 



 

 

 

 

 

 

 

 

terça-feira, 29 de julho de 2025

Temos preconceito na igreja? Tg 2.1-12 


Introdução

Existem muitas formas de preconceito, não somente o preconceito racial. Mas também o preconceito regionalista (nordestino, paulista, sulista), o preconceito machista (mulher x homem), o preconceito cultural (estudou e analfabeto), o preconceito econômico (quem tem dinheiro x quem não tem) etc.  Todos e mais outros estão presentes em nosso mundo.   Mas, aqui, o apostolo Tiago está apontando o dedo para algo que acontece no seio da igreja, no meio do povo de Deus e diz: dar prioridade aos ricos só pelo fato de serem ricos é pecado. 

1)     Uma palavra para a igreja

O apostolo Tiago está se dirigindo a igreja “caros irmãos”, “meus irmãos” (NVT), isto é, os que já tem fé em Cristo Jesus, aqueles que fazem parte da comunidade de Cristo, o corpo de Cristo. Em seguida, ele exalta o nome de Cristo lhe chamando de “Nosso Glorioso Senhor Jesus Cristo”. Então era uma comunidade que tinha uma mesma teologia, um grupo de irmãos que adorava o mesmo Senhor. 

Mas, depois, ele vai direito ao assunto: “Não façais acepção de pessoas, tratando-as com preconceito ou parcialidade” (Tg 2.1). O termo traduzido por “discriminação de pessoas” é prosopolempsia que é uma palavra composta que transmite a ideia de “receber o rosto”, isto é, voce vê a aparência (o rosto) de uma pessoa e recebe aquela imagem como expressão de realidade, isto é, fazer julgamentos, com base na aparencia. Essa mesma palavra é usada no Novo Testamento em relação a Deus: “Reconheço que Deus não trata as pessoas com base em preferencias” (Atos 10.34). 

Deus julga a veracidade de uma coisa olhando para o coração, não para o rosto. Quando o profeta Samuel foi ungir um dos filhos de Jessé “...viu Eliabe e pensou com certeza é este que o Senhor quer ungir” (1 Sm 6.6); talvez Eliabe era alto e de boa aparência. Então Deus lhe fala: “O Senhor não vê como vê o homem, pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração” (1 Sm 16.7). E, nós como cristãos, somos exortados a refletir essa mesma visão.

2)     Sinagoga

O apostolo Tiago vai usar a cena de “reunião”, ou um culto para exemplificar esse principio. A palavra é synagoge, “reunião”, porque os primeiros cristãos judeus se reuniam nas sinagogas no começo da fé cristã, até que foram expulsos pelos judeus que não aceitavam Jesus como Messias. Esses versículos aplicados aos nossos dias, nos remetem a nosso local de culto, a igreja. Dois homens se destacam quando a igreja se reúne para o culto. 

O primeiro homem está muito bem-vestido – portanto joias e usando roupas elegantes. “...um anel de ouro no dedo e roupas caras” (Tg 2.2 A21). Nesse tempo, pessoas ricas ou nobres costumavam usar roupas de fina seda cravada de joias. Essas roupas sinalizavam que elas eram influentes, poderosas e que faziam parte da alta sociedade judaica. No tempo da igreja primitiva os mais ricos não costumavam ir à igreja. 

O segundo homem é um pobre, vestido com roupas sujas e surradas e entra na reunião, no culto. Suas roupas pendem de seu corpo franzino “...um pobre com roupas velhas e sujas” (Tg 2.2). Ele não carrega joias, nem se veste de seda, nem está acompanhado de seguranças e não tem influências sobre ninguém. Ele se destaca dos demais por ser extremamente pobre, assim como o rico se destaca por ser de uma riqueza invejável. 

O que acontece em seguida? O rico que tinha “...um anel de ouro no dedo e roupas caras” recebe um tratamento VIP, aliás, hoje tem igrejas com salas vips! Ele é “...tratado com atenção especial” e porteiro lhe diz: “Senta-te aqui neste lugar de honra”; o evangelista Mateus faz menção dos “primeiros assentos na sinagoga” (Mt 23.6). Logo, havia lugares preferencias para pessoas importantes, o púlpito ficava próximo ao centro do salão, ficava no centro do salão.

Portanto, o homem rico é encaminhado para um lugar de honra, mas o pobre nem sequer consegue um lugar. Mas o pobre “...um homem com roupas velhas e sujas” nem sequer consegue um lugar na sinagoga. O porteiro é ríspido, ignorante: “Você fique ali de pé” ou “Sente-se aqui no chão, perto dos meus pés” (Tg 2.3 VFL). O porteiro que representa, a igreja, é culpado de discriminação. Esse tipo de preconceito é pecado, não pode existir na igreja de Cristo.

Na igreja de Corinto estava acontecendo a mesma coisa, diz o apostolo Paulo: “...pois as reuniões de vocês mais fazem mal do que bem” (1 Co 11.17). E mais: “...ouço que, quando vocês se reúnem como igreja, há divisões entre vocês” (v.18). Nesse contexto a ceia era uma grande festa, um grande banquete, um grande banquete chamado Ágape – festa do amor -, todos traziam um alimento para o banquete. Os ricos traziam pratos deliciosos, os pobres comiam o que restava. Havia, divisão, grupos, panelinhas, entre eles. 


3)     Por que não pode haver preconceito na igreja?

Primeiro, uma razão teológica. O apostolo Tiago diz: “Não escolheu Deus os que para o mundo são pobres, para serem ricos em fé e herdeiros do Reino que Ele prometeu aos que o amam” (TG 1.5). Deus não faz discriminação de pessoas nem seus filhos devem fazer. O apostolo Paulo desenvolve esse princípio: “...não foram chamados muitos sábios, segundo critérios humanos, nem muitos poderosos, nem muitos nobres. Mas, Deus escolheu as coisas absurdas do mundo para envergonhar os sábios; e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes. Ele escolheu as coisas insignificantes do mundo, as desprezadas e as que são nada para reduzir as que são, para que nenhum mortal se glorie na presença de Deus” ( 1 Co 1.26-29). 

Segundo uma razão lógica. Tiago faz duas perguntas retóricas que nos revelam muita coisa sobre a situação em que se encontravam os cristãos judeus. Primeiro, não são os ricos e poderosos que estavam perseguindo os cristãos e entregando-os às autoridades? Os cristãos estavam sendo perseguidos, caluniados, maltratados, levados aos tribunais, denunciados pelos ricos da sociedade. 

Segundo, não são os ricos e os poderosos que estavam difamando o bom nome de Cristo? Havia perseguição contra os cristãos, os ricos estavam difamando do nome de Cristo. Eles estava vilipendiando, rebaixando, zombando, tratando com desdém o nome de Cristo que era invocado pela igreja.

Terceiro, uma razão bíblica. Por fim, Tiago coloca seus leitores de frente com as Escrituras, que excluem todo tipo de discriminação. O texto que ele cita é Levitico: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lv 19.18). Esse texto é citado por Jesus (Mt 19.19) e se referiu esse mandamento como o segundo dos dois mais importantes, vindo depois de amar a Deus com todo o coração, alma, entendimento e forças (Mt 12.29-31). O apostolo Paulo afirma que nele se resume todos os outros mandamentos da lei de Moisés (Rm 13.9).  e que “toda a lei se resume numa só ordenança, a saber: amarás ao próximo como a ti mesmo” (Gl 5.14). Por isso, o preconceito – a recusa de amar igualmente a todos – é uma transgressão do grande mandamento. 

Conclusão

Tiago termina dizendo: Sejam as Escrituras o vosso padrão! Seja o amor a vossa lei! Seja a misericórdia a vossa mensagem! Falai e procedei não sob influencia do condicionamento cultural, natural e superficial. O apostolo Tiago fala da “lei da liberdade” (Tg 2.12). No contexto de 2.8-11, sabemos que lei ele está se referindo – a lei que liberta, a lei que exclui todo o preconceito e elimina a discriminação – “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”.  



 

domingo, 27 de julho de 2025

 Saudade de Deus Jr 2.1-7 

Introdução

Jeremias foi chamado por Deus para ser profeta. Ser profeta significava duas coisas: primeiro, Deus vive e é pessoal e ativo; Deus não é alguém que está longe de nós; não é nenhum conceito da filosofia. Mas Deus é vivo e real. Segundo, a função do profeta é ser a boca de Deus “...coloco as minhas palavras em tua boca” (Jr 1.9). O profeta é representante de Deus, fala a Palavra de Deus.

De inicio o profeta Jeremias recusou tamanha responsabilidade, dizendo: “Eis que não sei falar, porque não passo de uma criança”. Mas o Senhor foi incisivo lhe exortando: “Não alegues que é muito jovem, a todos a quem Eu te enviar, irás, e tudo quanto Eu ordenar, falarás” (Jr 1.7).

1)     Tempo de aliança

Deus mandou o profeta Jeremias entregar uma mensagem ao seu povo: “A mim veio a palavra do Senhor”, Sim, Deus é vivo, o profeta é a boca de Deus, Deus fala e diz: “Vai e clama aos ouvidos de Jerusalém...”. A palavra de Deus é inspirada, é pura, é reta. Quando Deus quer falar, sua palavra é a sua boca. Será que queremos ouvir a Palavra de Deus? Será que desejamos ouvir a voz do Eterno?

Deus sente saudade do seu primeiro amor: “Lembro-me do teu profundo e leal amor como minha noiva nos tempos da tua juventude...”. (Jr 2.2). Deus se recorda do seu primeiro amor, sim, da intensidade do seu amor para com Ele; voce não media quarteirão, voce não media distancia, sacrifícios para estar em minha presença. Deus se recorda da sua devoção: “...voce era apaixonado por mim”. Não cessava de falar do meu Santo Nome, voce me anunciava em todos os cantos;  nesse tempo Eu era prioridade em sua vida...Voce me amava com todo seu coração, com todo o seu entendimento e com toda a sua alma. 

Deus sente saudade quando “...me seguias pelo deserto, por terras áridas”. No deserto Deus cuidou do seu povo; Deus libertou o seu povo da escravidão de Faraó; depois Deus conduziu o seu povo pelo deserto. No deserto não faltou nada: de dia Deus lhe providenciou uma coluna de nuvem, de noite Deus estendeu uma coluna de fogo; Deus abriu o mar vermelho para o seu povo passar. Quando o povo estava com sede, da rocha saiu água; suas roupas não envelheceram. Deus pergunta ao seu povo: “Eu não estive com voce nos momentos mais difíceis de vossa caminhada?”, “Não andei com vocês no deserto?”

Deus sente saudade do tempo em que voce era consagrado para ele. Sim, voce era dele, totalmente Dele. Ele diz ao profeta Jeremias: “Antes mesmo de formar no ventre materno, Eu te escolhi; antes que viesse ao mundo, Eu te Separei...” (Jr 1.5). Voce era consagrado, separado para Deus, para viver em santidade.  Voce era dEle, voce era a menina dos olhos dele; Deus era o seu defensor, ele lutava suas batalhas. Como Davi disse ao gigante Golias: “Voce vem contra mim com espada, com lança e com dardo, mas eu vou contra voce em nome do Senhor dos Exércitos” (1 Sm 17.45).

2)     Ingratidão

Não obstante tudo que Deus fez por seu povo, não obstante seu cuidado, seu zelo, o povo virou as costas para o Senhor. Deus pergunta: “O que encontraram vossos pais de injusto em mim ou em minhas atitudes”. O que aconteceu, Deus pergunta. Será que Deus mudou sua natureza? Será que Deus não é mais Santo? E mais: “...afastaram de mim e partiram em busca do nada, do vazio...”. O povo agora está sem rumo, sem norte, sem bussola, andando tateando pra cima e pra baixo...

A pior facada que pode existir é a ingratidão, quando somos decepcionados por pessoas que ajudamos. Deus fez tudo por seu povo, Deus deu provisão, Deus cuidou do seu povo, Deus deu uma terra que mana leite e mel, Deus cumpriu toda sua promessa, aliás, nenhuma promessa que Deus fez caiu por terra, todas foram cumpridas. Mas o povo foi adorar Baal, o profeta Jeremias pergunta, extasiado: “Acaso há notícias que alguma nação tenha trocado os seus deuses? E eles, na realidade, nem sequer são deuses! Contudo, o meu povo trocou a minha Glória por um punhado de deuses nulos e inúteis” (Jr 2.11).

Dificilmente o cananeu deixava de adorar o deus baal, dificilmente os midianitas deixavam de invocar seus deuses, dificilmente os filisteus deixa o seu deus dagon por outro deus. Mas, o povo de Deus, o povo que adorava o Deus verdadeiro, o criador dos céus e da terra; aquele que apareceu para Moisés numa sarça ardente, identificando-se como “Eu sou”, abandonou seu Deus. Hoje vemos pessoas que abandonam seu Deus mas não abandona seu time de futebol, quando morre a bandeira do time é colocada em cima do caixão!

Em tom de exclamação diz o profeta Jeremias: “Espantai-vos disso, todo o universo! Ó céus, horrorizai-vos e abismai-vos profundamente com tal atitude! declarou Yaweh”. (Jr 2.12). Esse espanto de Yaweh é inacreditável! Como assim? Deixou Deus por outros deuses. Para Abraão Deus é El-Shaday, o todo-poderoso; para Isaque é o Deus que cumpre promessas; para Jacó é o Deus que aparece em Betel; para Moisés Deus era o “Eu sou o que Sou”; para Josué Deus é o “general do exército do Senhor”; para o rei Davi Deus é o meu pastor e nada me faltará; para Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, Ele é aquele que anda no meio da sarça adente.

Conclusão

Por fim, Deus diz: “O meu povo cometeu dois crimes; eles me abandonaram, a mim, a própria fonte de água viva; e tentaram cavar as suas próprias cisternas, poços rachados que não conseguem reter a água” (jr 2.13). duas coisas diz o profeta Jeremias: primeiro, “...eles me abandonaram a mim, fonte de água viva...”. Jesus disse para a mulher samaritana: “Quem beber da água que eu lher der nunca mais terá sede...” (Jo 4.14). Jesus é a água da vida, que sacia nossa sede espiritual. 

 Segundo meu povo “...tentaram cavar as suas próprias cisternas, poços rachados que não conseguem reter água...”. Deixaram Deus, que é água viva, água transbordante, água cristalina, água que mata a sede e cavaram suas próprias cisternas, não consegue reter água.

 

 

terça-feira, 22 de julho de 2025

 Uma segunda lei Jr 36.1-16 


Introdução

O livro de Eclesiastes diz: “uma geração vai, e outra geração vem...” (Ecl 1.4). O que foi, o que aconteceu, pode ser que na geração que vem, não aconteça. Martinho Lutero iniciou um movimento espiritual que tomou conta da Europa espalhando para todos os lados do mundo; trazendo avivamentos espirituais profundos e significativos; o que dizer dos avivamentos dos Morávios; o que dizer do avivamento da Inglaterra e dos Estados Unidos; o que dizer do avivamento na rua Azuza, em 1902. Tudo esses movimentos ocorreram na Europa. Mas, atualmente, a Europa tem sido invadida pelo ateísmo e pela religião muçulmana. Igrejas tem se transformado em casas de show, discotecas, comércios etc.

1)     Uma cópia da lei

Quando Jeremias ainda era adolescente, Josias era o rei de Judá e uma grande reforma estava acontecendo no Templo (2 Rs 22.5). Então, revirando alguns documentos antigos o Sumo Sacerdote Hilquias disse a Safã, secretário do rei: “Encontrei o livro no templo do Senhor” (2 Rs 22.6). Então, Safã leu o livro ao rei Josias: “...rasgou suas roupas”, em sinal de arrependimento. Houve um grande avivamento em Judá nos dias do rei Josias. 

O livro de Deuteronômio foi o manual que o rei Josias seguiu para começar uma reforma religiosa. Jeremias cresceu lendo esse livro, participou ativamente desse tempo de avivamento, celebrou a páscoa do Senhor. Três elementos são importantes na leitura do livro de Deuteronômio:

Primeiro, ao ler o livro, o profeta Jeremias adquiriu uma memória, pois este livro recapitula, é uma “segunda lei”, reafirma os mandamentos de Deus a uma segunda geração. Escrito na forma de discurso proferido por Moisés na fronteira entre o deserto e a terra prometida. Moisés revive a experiencia de ser retirado do Egito, preservado no deserto e receber as promessas de uma vida plena de bençãos.

Segundo, Jeremias adquiriu também uma base teológica. Ele aprendeu a pensar em Deus de uma forma relacional. Para ele Deus é vivo, pessoal e ativo. Portanto, Deus é relacional, não é religião, nem mero conhecimento, muito menos abstração, mas um Deus que se mistura com o homem no seu cotidiano. Deus tem compromisso com o seu povo; Deus fala com o seu povo, Deus levanta homens e mulheres.

Terceiro, Jeremias tornou-se responsável em função da enorme quantidade de mandamentos presentes. O mandamento é uma é uma palavra que nos convida a viver além do que compreendemos, sentimos ou desejamos. O mandamento eleva as pessoas da animalidade para a humanidade. A primeira palavra que Deus dirigiu a Adão foi um mandamento: “Sede férteis e multiplicai-vos...” (Gn 1.28).

2)     Nos dias de Jeremias

Dezesseis anos se passaram desde a morte do Rei Josias, fora morto na batalha de Megido. O trono agora era ocupado por seu filho, Jeoaquim, que não tinha a mesma espiritualidade, a mesma disposição de buscar a Deus, como seu pai. O escritor o define: “Fez ele o que era mau perante o Senhor” (2 Rs 23.37) Uma pergunta: o que aconteceu para que o seu filho não andasse no mesmo caminho do seu pai? Por que Josias não conseguiu inculcar a fé de Deus em seu filho? E, agora, algo mais abrangente: “Por que temos dificuldade de transmitir nossa fé aos nossos filhos? 

Então, Jeremias foi instruído por Deus: “...pegue um rolo... – um livro – e escreva nele tudo o que lhe falei a respeito do povo de Israel e de Judá...” (Jr 36.2 NTLH). A palavra está para ser escrita em um material comum, ou seja, um pergaminho ou papiro. Em seguida, o processo é delineado: escrever, desenvolver-se, escutar, que por sua vez transforma-se em mudar e, depois em perdoar... 

Eram tempos difíceis, os babilônicos estavam chegando em Jerusalém, chegavam noticiais que eles haviam reduzido a cidade costeira de Asquelom a ruinas. O rei estava apreensivo, com medo, o povo temia por suas vidas. Portanto, um dia de jejum foi convocado em consequência da crise, a cidade estava ansiosa e pessoas oravam (Jr 36.6). O momento era perfeito para ouvir a Palavra de Deus. A crise, o medo, havia levado as pessoas a dobrar os joelhos diante de Deus.

O que dizer do nosso Brasil? Vivemos uma crise institucional sem precedentes, inflação aumenta, aumento da pobreza, da miséria. Um governo que desviou bilhões de aposentados; gastando milhões em viagens desnecessárias; as escolas estão sem dinheiro para investir em merendas, etc. enquanto isso os juízes vivem como milionários e os políticos desviando dinheiro da população carente. 

Jeremias fora proibido de profetizar em público pelo rei Jeoaquim; sim sua liberdade de expressão foi cassada! Mas, como Deus ordenou, ele escreveu toda sua mensagem em um rolo para ser lido. Enviou seu secretário Baruque para ler o livro em voz alta diante do povo ali reunido (Jr 36.4-10). Um jovem chamado Micaías, “...ouviu todas as palavras de Yahweh” (Jr 36.11) lida por Baruque e as palavras impactaram o coração desse jovem.

Correu para junto do seu pai e contou-lhe tudo o que havia escutado. Seu pai, com outros membros do governo, mandou chamar Baruque para que lesse o rolo diante deles: “Senta-te aqui, pois, entre nós e lê o livro para que todos ouçamos o que diz” (Jr 36.15). Assim, como Micaías, o pai ficou impressionado; os demais ouvintes, também foram atingidos por aquelas palavras (Jr 36.16). Eles ouviram a verdade e sentiram-se confrontados por ela. Todos eram homens responsáveis e sabiam que suas vidas, bem como a vida da nação, haviam sido advertidas pela Palavra de Deus.  

Esses homens tinham consciência de que o rei Jeoaquim precisava ser informado do ocorrido. No entanto, conheciam o coração do rei e sabiam que quando o rei ouvisse tais palavras, Jeremias e Baruque poderiam ser considerados mortos. Por seguranças, os oficiais, recomendaram que os dois permanecessem em local seguro e ignorado. O rei já tinha mandado matar um profeta, Urias, que ousou enfrentá-lo (Jr 26.20-33). Com certeza, não hesitaria em matar mais um... 

Agora, era a hora do rei ouvir a leitura do rolo. Jeoaquim estava em sua casa de inverno, especialmente construída para este período (era o mês de dezembro), e havia uma lareira acesa no aposento em que o rei estava, para manter o ambiente aquecido. Ele enviou um servo, Jeudi, para apanhar o rolo e lê-lo diante dele. O rei tinha um canivete em sua mão, quando o servo terminou de ler a terceira ou quarta folha do livro, o rei, com desdém e ar de sarcasmo, cortou o rolo com o canivete, lançando-a a seguir na lareira acesa. O livro foi lido e destruído, coluna por coluna foi reduzida a tirar e queimadas no fogo. 

Conclusão

Dezessete anos antes, o pai de Jeoaquim, Josias, recebeu das mãos do escrivão Safã um rolo e ordenou que o lessem em voz alta para ele. Sua reação foi penitencial – “ele rasgou suas vestes”. Josias reconheceu aquele rolo como a Palavra do Deus verdadeiro e compreendeu a vida de pecado que todo o povo incluisive ele, na ignorância, estava vivendo. Hulda, uma profetisa, descreveu a reação de Deus ao arrependimento de Josias ( 2 Rs 22.19).

Agora, uma geração depois, a mesma cena se repete. Jeoaquim, o filho de Josias, é apresentado ao rolo pelo filho de Safã, Gemarias. A reação de Jeoaquim também foi imediata, porém o que havia em seu interior era escárnio e desprezo por aquela palavra. Ao invés de rasgar as suas vestes em sinal de arrependimento, como seu pai fizera, ele rasgou o livro, ridicularizando-o. Há uma palavra profética que termina esta narrativa, mas ao contrário das palavras de aprovação expressas por Hulda, é uma profecia sobre a condenação de Jeoaquim (Jr 36.29-30). 


sábado, 19 de julho de 2025

 O desejo de amar Ef 5.31-33 

Introdução

Num programa de televisão no qual o homem e a mulher que moram juntos discutiam se deviam se casar. Ele queria, ela não: “Por que a gente não casa? ele perguntou. Ela atordoada, brava disse ao homem: “Porque a gente não precisa de um pedaço de papel para amar um ao outro”. Este pedaço de papel, como todos sabemos, é a certidão de casamento!

1)     Somos assim

A resposta dessa mulher é um retrato da sociedade moderna, que chamamos de pós-moderna ou sociedade liquida, onde tudo que é solido se desfaz. Para essa sociedade o casamento (“o pedaço de papel, a certidão de casamento) e o romance são essencialmente incompatíveis, duas coisas diferentes. Pois todos querem a liberdade, não querem compromisso, não querem dedicação. A liberdade, para muitos, confina, prende as pessoas em um relacionamento.

Um exemplo dessa maneira de pensar é o poema “Soneto da felicidade” de Vinicius de Moraes que diz: “Eu possa me dizer do amor (que tive): que não seja imortal, posto que é chama. Mas que seja infinito enquanto dure”. Esse poema é uma pintura do que vemos diante dos nossos olhos.  Primeiro, ele diz: “que tive”, então não tem mais! Segundo ele diz “que não seja imortal”, isto é, que não dure a vida inteira. Terceiro ele diz que o amor é “chama”, desejos, sentimento, paixão e sexo. Esse poema é um retrato vivido da vida que o poeta viveu, pois teve nove mulheres e incontáveis casos...

O rei Salomão em seu livro “Cânticos dos Cânticos”, que escreveu durante seu tempo juvenil, diferencia o amor verdadeiro com o mero sentimentalismo. Ele diz: “Beije-me o meu amado com os beijos da tua boca, pois os seus afagos são melhores do que o vinho mais nobre”. A expressão “beijo” em Cantares fala de intimidade, aliança, cumplicidade, verdade, vontade, determinação, luz etc. Enquanto que “vinho” é diversão, somente prazer, irresponsabilidade, status, etc.

No capitulo 8, o rei Salomão acentua, intensifica a intensidade do amor: “O amor é tão forte como a morte, nem as muitas águas conseguem apagar o amor, os rios não conseguem levá-los nas correntezas” (Ct 8). O que é mais certo, para nós humanos, do que a morte? Todos sabemos que um dia morreremos. Tão certo como a morte, tão certo, resoluto, puro, deve ser o amor do casal. E ele diz mais: “...nem as muitas águas conseguem apagar o amor...”. Na linguagem bíblica “águas” falam de dificuldades, de adversidades, provações, lutas por todos os lados. E nem “...correntezas” podem carregar o nosso amor, levar embora de nós.

2)     O significado do casamento

A Bíblia fala de aliança, primeira aliança com Deus, comunhão com Deus; depois a Bíblia fala de conjugalidade. O texto lido diz: “Por isso o homem deixará pai e mãe e se unirá a sua mulher e os dois serão uma só carne” (Ef 5.31). O apostolo Paulo está citando o texto de Genesis, capitulo 2, onde aconteceu a primeira cerimônia de casamento. O texto chama esse acontecimento de “unir-se”, mas ARC chama de “apegar-se”. É um termo hebraico que significa, literalmente “ser colado a algo”, uma aliança, uma promessa, um juramento.

Portanto o casamento apresenta aliança horizontal e vertical. O casamento é uma instituição divina. Em Malaquias diz que Deus “...tem sido testemunha entre ti e a tua companheira e a mulher da tua aliança matrimonial” (Ml 2.14). Logo, em Provérbios descreve a mulher fiel como aquela “abandonou o companheiro da mocidade e se esquece da aliança que fez com o seu Deus” (Pv 2.17). O casamento é uma aliança não apenas entre noivo e noiva, mas também com Deus. Quando estamos perto da familia estamos perto de Deus. Longe da familia, longe de Deus. 

O Novo Testamento foi escrito na língua grega e temos três palavras para amor que coloca em gradação o relacionamento entre um homem e uma mulher. A primeira palavra para amor é “eros” que significa atração, desejo paixão, algo que ocorre no início do namoro. A segunda é “phileo” que significa companheirismo, estar juntos, ter os mesmos sonhos, sonhar na mesma direção etc. E a terceira palavra é “agaphe” que é o amor que sela no casamento, é o amor que tira toda condicionalidade, é o amor de Cristo por sua igreja.

Conclusão

Quem somos nós? Algumas pessoas esperam em sentimentos, em namoros românticos e casos passageiros. Mas são “chamas” passageiras que logo apagam facilmente!

Quem somos nós? Algumas pessoas pensam que suas realizações lhe darão suficiência. Mas por mais que façamos e realizamos um monte de coisa, sempre haverá um vazio na alma.

Quem somos? Algumas pessoas estão em busca de uma identidade, em busca de uma autoestima, em busca de uma resposta para o seu eu. Mas por mais que vocês procurem sua identidade, sempre haverá essa busca insaciável...

Quem somos? Somos quando amamos, somos quando conjugamos, somos quando casamos, somos quando renunciamos, somos quando amamos, somos quando prometemos. Nossas promessas nos conferem uma identidade estável. Nossas promessas nos conferem uma identidade, nossas promessas nos conferem uma autoestima.

Promessas ou Juramentos

Eu, Luis Fernando, venho diante de Deus e de todas as testemunhas lhe prometer o meu amor, não o amor do vinho que é passageiro, mas o amor do beijo que é verdadeiro. Lhe prometo ser fiel nos momentos bons e nos e quando as águas das adversidades vieram contra nós; lhe prometo ser fiel na saúde e na doença; lhe prometo que a minha identidade a partir de agora estará vinculada à sua, seremos uma só carne. Mais do que isso: seremos um cordão de tres dobras: eu, voce e Deus.  

Eu, Quesia, venho diante de Deus e de todas as testemunhas lhe prometer o meu amor; não o amor do vinho que é passageiro, mas o amor do beijo que é verdadeiro, que real. Lhe prometo ser fiel nos momentos bons e quando as aguas das adversidades vierem contra nós; lhe prometo ser fiel na saúde e na  doença; lhe prometo que a minha identidade a partira da agora estará vinculada a sua, seremos uma só carne. Mais do que isso: seremos um cordão de tres dobras: Eu, voce e Deus.