terça-feira, 16 de dezembro de 2025

 Crise no casamento Ct 5.1-10 

Introdução

Conta-se a história de Maria Tereza e Roberto. Roberto sempre foi apaixonado por Maria Tereza, gostava sempre de chamá-la de “Quequinha”. O casamento foi lindo, ela estava toda de branco com um lindo sorriso. Ele estava muito nervoso, segurando para não chorar. A lua de mel foi maravilhosa, passaram uma semana no Hotel Fazenda, tudo parecia um “conto de fadas”. Com dois anos de casamento, veio o primeiro bebê. Vieram as dificuldades, agora, chegava em casa nervoso e ia direto para televisão. E com o passar do tempo passou chamá-la de “a mulher aqui”, e às vezes, de “esta mulherzinha”.

1)     Realidade

No capítulo 4, Sulamita, chama seu noivo para adentrar no jardim. Um chamado para a intimidade sexual. No verso 1, lemos: “Adentrei ao meu jardim, minha irmã, minha igual, noiva amada. Colhi minha mirra e meu bálsamo, comi todo favo de mel, bebi meu vinho puro e saciei-me de leite” (Ct 5.1). Parecia que esse casamento como os contos de fadas da Disney: “E viveram felizes para sempre”. No entanto, sabemos que isso é uma fantasia, como nos desenhos, mas veio a noite em que o amor e devoção enfrentaram sua primeira crise, ou, indiferença. 

O versículo dois começa com a Sulamita em seu quarto. Não sabemos quanto tempo se passou desde a lua de mel, nem por quanto tempo ela ficou sozinho à espera do amado. O texto também não fala porque Salomão saiu e deixou Sulamita sozinha à sua espera. O fato é que Sulamita está deitada em sua cama sozinha e sonha com o amado. A palavra traduzida em Cantares 5.2 como “velava” (agitar-se, despertar-se, acordar, incitar) nos mostra que Sulamita está no estágio intermediário do sono e realidade. “Eu estava quase dormindo...” (Ct 5.2 BKJ). 

Ela estava no estágio intermediário, sono e realidade. Ela dormia, mas seus sentidos estavam despertos. É um sono agitado que não nos permite descansar. Ela sonhou com seu amado, voltando para casa. “Escutai! É a voz do meu amado. Eis que está batendo à porta!” (Ct 5.2). No entanto, a esposa ficou indiferente, apática, não querendo levantar-se para abrir a porta para seu marido. Ele estava lá fora “Estou encharcado de orvalho, de sereno, tremendo de frio” (A mensagem). Será que ela não vai acudir o marido? Será que ela não vai abrir a porta ao seu amado? 

A fervorosa atitude do marido em relação à sua esposa é um contraponto à indiferença, apatia da Sulamita. Ele diz: “Abre-me, minha irmã, querida minha, pomba minha, imaculada minha” (Ct 5.2). Em nenhuma parte desse cântico, ele se dirige a ela em termos tão afetivos, carinhosos. é uma forma poética de nos dizer que o rei estava tão cheio de amor que não se pode imaginar. No entanto, ela é indiferente às palavras do amado: “Já despi a minha túnica, hei de vesti-la outra vez? Já lavei os pés, tornarei a sujá-los?” (Ct 5.3). 

Salomão “passou a mão pela abertura da fechadura; meu coração palpitou mais forte e todo o meu corpo estremeceu por causa da sua presença” (Ct 5.4). De um lado, apatia, não quer se levantar, não quer enfrentar uma situação, justificando que já está deitada. Do outro lado, o coração palpita, o corpo estremece diante da presença do amado. Logo, o rei percebendo que ela não iria abrir a porta, vai embora, desistindo do seu intento. Um esposo rejeitado seguidamente terá uma forte tentação a procurar outra pessoa que o receba e o entenda. Nessa situação é muito fácil um adultério, tudo por causa da indiferença da esposa.

2)     Em busca do amado

O amado lhe tinha deixado um bilhete de amor e foi embora “Então me levantei para abrir a porta ao meu amado. As minhas mãos destilaram mirra, e os meus dedos gotejavam perfume sobre a maçaneta da tranca” (Ct 5.5). Sim, o amado deixou seu cheiro na porta, mirra, seu perfume ficou na maçaneta da porta. Ele poderia ter insistido, afinal, era seu marido e muito mais, o rei de Israel. Mas, Salomão era educado, paciente, mormente sábio “que não acordeis, nem desperteis o amor, até que este o queira” (Ct 2.7; 3.5). Ela sabia que o amor não é impositivo, que o amor não se ganha na base do grito. A melhor coisa era esperar...

“O amor é tão forte quanto a morte e a paixão tão inflexíveis quanto a sepultura” (Ct 8.6). Em 1 Coríntios 13, o apostolo Paulo mostra o caminho mais excelente: “Ainda que eu fale as línguas dos seres humanos e dos anjos, se não tiver amor, serei como o sino que ressoa ou como o prato que retine. Mesmo que possua o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda ciência, e ainda que tenha uma fé capaz de mover montanhas, se não tiver amor, nada serei...” (1 Co 13.1-2).

Ela poderia pensar sobre ele: o amado não é nada especial, ele é tão insensível como qualquer outro homem. Como se diz o ditado: “Todo homem é igual, só muda de endereço”. No entanto, “Nem todo homem é igual, e as mulheres, depois que decepcionaram com um, acham que todos são iguais. Mas não são!!!!!” Porque o paciente amor dele mostrava que era diferente e rapidamente contribuiu para despertar o amor que Sulamita sentia por ele. Quando ela viu a lembrança que Salomão lhe deixou, ela disse: “Meu coração se comoveu por amor dele... minha alma se derreteu” (Ct 5.4,6).

Cadê meu amado? “Arrependida, levantei-me para abrir a porta, ansiosa para recebê-lo. Ofegante e tremula, abri a porta. Que tristeza! Ele tinha ido embora. Cansado de esperar, meu amado se foi. Eu quase morri! Então, sai correndo, procurando por ele. Para o meu desespero, não o encontrei. Gritei na escuridão, mas só houve silencio” (Ct 5.4-7 A mensagem).

Não era comum uma moça com dignidade sair altas horas pelas ruas à procura de seu homem. Isto era mais próprio das prostitutas, que saiam com roupas que as identificavam como tal e como o aroma forte de mirra que denunciava desejos e prontidão para realizar atos sexuais. Ela continua descrevendo seu desespero: “Os guardas me encontraram quando faziam a ronda noturna. Eles me bateram e me feriram. Logo os guardas da cidade!” (Ct 5.7). Sua indiferença, sua apatia pelo esposo lhe tinham causado imensas consequências. 

Contudo, às vezes, é necessária uma circunstância infeliz que nos desperte para a seriedade da nossa situação difícil, que abre os nossos olhos, que tire a venda da ingratidão. Sim, quantos casamentos desabaram por causa da ingratidão? quantos casamentos desabaram por causa da indiferença? C.S. Lewis afirmava que “O sofrimento é o megafone de Deus para um mundo ensurdecido”.

Diante da sua desventura, Sulamita pede ajuda às mulheres do palácio: “Conjuro-vos, ó filhas de Jerusalém, se encontrardes o meu amado, que lhes direis? Que desfaleço de amor” (Ct 5.8). Depois de ter trilhado longo caminho desde a sua atitude de ingratidão, agora, ela resolve pedir ajuda. Agora, ela procura aconselhamento pastoral. As filhas de Jerusalém fazem uma pergunta para Sulamita: “O que há de tão fascinante em seu amado, linda mulher? O que há de tão especial nele, para que você implore nossa ajuda? (Ct 5.9 A mensagem). Sim, nessas perguntas das filhas de Jerusalém ela percebe como era belo e encantador o seu amado. As dificuldades do dia a dia, as lutas, os filhos, casa para cuidar etc., tudo isso, foi desvanecendo o amor que ela sentia pelo amado. Até que ela percebeu que ele não era igual aos outros homens... 

Conclusão

Quem é o seu amado? Sulamita responde:

“Meu amado é cheio de vida e vigor! Ele é único, incomparável!

Não há ninguém como ele! (Ct 5.10). Termino com o texto de Stephen Kanitz:

“Quando você promete amar alguém para sempre, está prometendo o seguinte: ‘eu sei que nós dois somos jovens e que vamos viver até os 80 anos de idade. Eu sei que fatalmente encontrarei dezenas de mulheres mais bonitas e mais inteligentes que você ao longo de minha vida e que você encontrará dezenas de homens mais bonitos e mais inteligentes que eu. É justamente por isso que prometo amar você para sempre e abrir mão desde já dessas dezenas de oportunidades conjugais que surgirão em meu futuro. Não quero ficar morrendo de ciúme cada vez que você conversar com um homem sensual nem ficar preocupado com o futuro de nosso relacionamento. Nem você vai querer ficar preocupada cada vez que eu conversar com uma mulher provocante. Prometo amar você para sempre, para que possamos nos casar e viver em harmonia.’ (...). O objetivo do casamento não é escolher o melhor par possível mundo afora, mas construir o melhor relacionamento possível com quem você prometeu amar para sempre.” 


 

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