terça-feira, 12 de agosto de 2025

 Sabedoria do alto e sabedoria terrena Tg 3.13-18 

Introdução

o apostolo Tiago fala sobre sabedoria. Ele começa com uma pergunta: “Quem dentre vós é sábio e entendido?”. O tema da sabedoria está nos livros de Sabedoria: Jó, Provérbios e Eclesiastes. Salomão é o autor de dois livros de Sabedoria. Quando Salomão tornou-se rei de Israel, Deus lhe apareceu em uma visão e disse: “Peça-me o que quiser, e eu lhe darei” (2 Cro 1.7). Ele poderia pedir qualquer coisa, mas disse: “Dá-me agora sabedoria e conhecimento, para que eu possa conduzir este povo, pois quem poderá julgar este povo, que é tão grande?” (2 Cro 1.10). Ou seja, o que eu preciso é de sabedoria! Preciso de discernimento prático das sutilezas da vida para que possa governar bem o teu povo. Não peço nada além disso!”. 

A sabedoria é um dos aspectos da vida cristã. Tiago diz no começo: “Se algum de vós tem falta de sabedoria, peça a Deus, que concede livremente a todos sem criticar, e lhe será dada” (Tg 1.5). E aqui, no verso 13, a sabedoria está vinculada pelo bom procedimento, a vida do cristão. No hebraico a palavra sabedoria é “hokhma”, que é sempre prática, sempre vivencial e nunca especulativa. Diz respeito em aplicar à vida as verdades de Deus. Será que temos almejado a sabedoria? Aqui a sabedoria está ligada. E a sabedoria está ligada “em humildade de sabedoria” que também é mansidão e amabilidade.

1)     Sabedoria terrena

Portanto Tiago mostra que há dois tipos de sabedoria. Uma é inspirada em Deus: “a sabedoria que vem do alto” (v.17), a outra é terrena (v.15). Do alto porque “Toda boa dádiva e todo dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em que não há mudança nem sombra de variação” (tg 1.17). A outra sabedoria é terrena, está vinculado ao homem sem Deus, pecaminoso. Jesus disse aos fariseus: “Vós sois de baixo, eu sou de cima; vós sois deste mundo, eu não sou deste mundo” (Jo 8.23). Logo, um discípulo de Cristo deve ter a sabedoria do alto e não da terra. 

A sabedoria terrena é “Animal” (v.15). fala dos instintos, fala do ID, pois o termo grego é psyché, é o instinto natural do ser humano. É quando a gente age na base de “fazer o que estiver no coração”. Mas o simples fato de algo estar em nosso coração (sentimentos) não é indicativo de sua validade. Pois a Biblia adverte: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o poderá conhecer?” (Jr 17.9). Os sentimentos não são confiáveis, devem ser medidos pela Palavra de Deus. 

A sabedoria do mundo é também “diabólica”. Esse adjetivo não qualifica necessariamente a sabedoria que vem diretamente de seres demoníacos, mas está na sabedoria que reflete uma filosofia, ou um estilo de vida ou um padrão de pensamentos opostos á verdade de Deus que poderiam ser endossados até por Satanás. 

A sabedoria terrena é “amargo ciúme”, ou “inveja amargurada”. Quanto desse fruto é achado em nossas igrejas! A inveja do progresso de um irmão ou seu crescimento dentro da comunidade. A inveja da nova liderança que emerge. Na vida de Saul encontramos a manifestação de ciúme e inveja. Quando Davi regressava das batalhas, as mulheres de Israel saíram ao seu encontro, cantando: “Saul feriu os seus milhares, porém Davi os seus dez milhares”. Nisso o ciúme invadiu o coração de Saul: “Dez milhares atribuíram a Davi, e a mim somente milhares; que lhe falta, senão o reino?” (1 Sm 18.6-9). 

A sabedoria terrena é “sentimento faccioso” (Tg 3.14), ou “ambição egoísta”. O espirito de facção no meio da igreja é de inspiração diabólica. Com que facilidade surgem grupos e partidos em nossas igrejas. O apostolo Paulo censurou as facções na igreja de Corinto: “Rogo-vos, irmãos, em Nome do Senhor Jesus Cristo, que sejais concordes no falar, e que não haja dissensões entre vós; antes seja unidos no mesmo pensamento e no mesmo parecer” (1 Co 1.10). Havia quatro grupos no meio da igreja e Paulo censurou os quatro, até mesmo o grupo que dizia representa-lo: “Será que Cristo está dividido? Foi Paulo crucificado por amor de vós? Ou foste batizado em nome de Paulo?” (1 Co 1.13). 

A sabedoria terrena “nega a verdade” (Tg 3.14). Sim, ela não suporta a verdade; não suporta a ideia de Deus; não suporta que a verdade está em Jesus Cristo; não suporta a moralidade da Palavra Deus; seus mandamentos e seus preceitos. Não acredita na existência de uma eternidade com Deus.

O apostolo Paulo exorta a igreja de Éfesios: “...se há alguma exortação em Cristo, se alguma consolação de amor, se alguma comunhão do Espirito, se alguns entranháveis afetos e compaixões, completai o meu gozo, para que tenhais o mesmo modo de pensar, tendo o mesmo amor, o mesmo ânimo, pensando a mesma coisa; nada façais por contendas ou por vanglória, mas com humildade cada um considere os outros superiores a si mesmo” (Fl 2.1-3). E exorta duas irmãs  que estavam tendo diferenças: “Rogo a Evódia, e rogo a Síntique, que sintam o mesmo no Senhor” (Fl 4.2).

2)     Sabedoria celestial

A sabedoria do alto é “primeiramente, pura” (Tg 3.17). Em “primeiro lugar” significa mais do que uma posição na lista. É um indicador do que vem em primeiro lugar em ordem de importância. A sabedoria concedida por Deus produz não somente uma pureza de motivação internas, mas também atos externos. A pureza de atos e pensamentos permite que vejamos Deus atuando em todas as circunstâncias de nossa vida. 

A sabedoria do alto é “pacifica”. Em oposição à “inveja amarga” e ao “sentimento faccioso”, a sabedoria que vem de Deus gera relacionamentos pacíficos, harmoniosos. O termo eirene (paz) significa um estado de ordem, de segurança e isenção de ódios. “Bem aventurados os pacificadores, pois serão chamados filhos de Deus” (Mt 5.9).

A sabedoria do alto é “moderada”. No grego é a palavra epiekes, moderação, equilíbrio, gentileza, dócil. Denota alguém que renuncia a seus direitos em favor de um ideal superior. Em nossos dias, por pouca coisa, abrimos processos judiciais contra alguém. Assim, a sabedoria terrena é mesquinha, litigiosa, egoísta, amarga. Infelizmente, em nosso meio, tem cristãos coléricos, irados. A sabedoria do alta é moderada. 

A sabedoria do alto é “tratável”. Ela tem origem em duas palavras do grego traduzidas por “bem” e “persuasivo”. Juntas, adquirem o sentido de “se deixar persuadir com facilidade”. A palavra também tem o sentido de “ensinável”, alguém que deixa de lado a teimosia e está pronto a se render a verdade. Ela denota uma pessoa que adota uma postura conciliadora, flexível e aberta a mudanças.

A sabedoria do alto é “cheia de misericórdia e de bons frutos”. “cheia” é um sentimento divino e humano, um profundo interesse pelos que sofrem. Misericórdia implica em olhar para alguém com compaixão, mesmo que a punição seja provavelmente merecida. No mundo de hoje, os homens ridicularizam e julgam as pessoas, mas a misericórdia demonstra bondade e benevolência. 

A sabedoria do alto é “imparcial”. Significa uma pessoa com firmeza e que jamais faz concessão da verdade bíblica. Não há acepção de pessoas, não tem favoritismo, por causa de quem tem e quem não tem, todos são tratados iguais, da mesma forma.

A sabedoria do alto é “sem hipocrisia”. Sim é uma pessoa sincera, sem cera, sem necessidade de interpretar papeis. No teatro grego, havia a necessidade da máscara, de vivenciar um papel que não era seu. Infelizmente, tem pessoas que tem duas caras, duas personalidades, duas faces que interpretam papéis.

Conclusão

Uma é a sabedoria do alto e outra é a sabedoria terrena. Uma está cheia de misericórdia e bons frutos, sem mudança, sem hipocrisia; a outra é dos sentidos, carnal e diabólica. Uma produz paz e a outra contendas. Qual é a sabedoria que está dominando a sua vida. 


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terça-feira, 5 de agosto de 2025

 Fé e obras Tg 2.14-26 

Introdução

A salvação é pela fé ou pelas obras? Os católicos acreditam que a salvação é por meio das obras; no livro apócrifo Eclesiástico diz: “A água apaga a chama, a esmola expia os pecados” (Ecl 3.30 BJ). Então, a salvação acontece por meio das boas obras, isto é, a salvação depende de voce. Enquanto, que no meio evangélico protestante, acredita que a salvação ocorre por meio da fé, sim, da fé em Jesus Cristo, como disse o apostolo Paulo: “O justo viverá pela fé” (Rm 1.17). aqui, em Tiago veremos o embate dessa temática. 

1)     Fé e obras

No verso 14, o apostolo Tiago pergunta: “Meus irmãos, que vantagem há se alguém disser que tem fé e não tiver obras? Essa fé poderá salvá-lo?”. Tiago está fazendo uma pergunta nesse versículo para igreja de Cristo, isto é, onde estão os resultados genuínos que provam aos outros a autenticidade dessa confissão?  Para ser mais direto ele está dizendo que se alguém alega ter fé em Cristo, mas os resultados de tal fé não são percebidos na vida, é perfeitamente possível que essa fé seja uma mentira. 

A segundo pergunta que é feita no mesmo verso é: “Essa fé poderá salvá-lo?”, ou “Acaso esse tipo de fé pode salvar alguém?” (NVT). Essa “fé” refere-se a uma qualidade de fé – a fé que não produz fruto. Que fé? Uma fé desprovida de obras, uma fé desprovida de testemunho! É óbvio que a resposta subentendida é um sonoro “Não”! No texto grego, a pergunta é feita de forma que fica evidente de se tratar de uma pergunta retórica que exige uma resposta negativa.

Em seguida o apostolo Tiago de quatro qualidades de fé genuína. A primeira é que a fé genuína não é indiferente, mas comprometida. Ele diz “Se um irmão ou irmã estiverem necessitados de roupas e do alimento de cada dia...” (Tg 2.15). Vejam ele não está sendo indiscriminado, mas diz: “Se um irmão ou irmã...”. Essas pessoas não tinham nem o básico para viver! Elas estavam passando por profundas necessidades, mas, em vez de lhes dar alimentos e roupas, os despedimos com palavras vazias: “Até logo e tenha um bom dia; aqueça-se e coma bem” (Tg 2.16 NVT). 

Tiago não é o único, o apostolo João diz a mesma coisa: “Quem, pois, tiver bens do mundo e, vendo seu irmão em necessidade, fechar-lhe o coração, como o amor de Deus pode permanecer nele” (1 Jo 3.17). O que o apostolo João está dizendo? O amor de Deus não permanece nessa pessoa. Se existe amor genuíno, ele se estende aos outros. Se existe uma fé verdadeira, ela gera ato de compaixão.

A segunda qualidade de fé genuína é que ela não independente, mas exercida com parceria. “Assim também a fé, por si só, se não é acompanhada de obras, está morta” (Tg 2.17). A fé genuína não está sozinha, sempre se faz acompanhar de resultados. Se ela não tem resultados, ela está morta. Tiago emprega a palavra “morta” no sentido de “inútil, ineficaz, fraca”. Portanto, tem dois tipos de fé: uma inútil, é a que não vive a Palavra; a outra é útil, é a que vive a Palavra de Deus, uma fé vibrante. 

A terceira qualidade de fé é que ela não é invisível, mas pode ser vista. É como se ele estivesse indagando ou discutindo com uma pessoa: “Contudo, alguém dirá: Você tem fé; e eu tenho obras. Mostre-me a sua fé sem obras, e eu mostrarei a minha fé pelas obras” (Tg 2.18 NVI). Pelo contexto, trata-se de uma pessoa que concorda com Tiago, mas alega ter uma fé silenciosa, invisível, particular, sem fazer alarde. Como se dissesse: “Fé é algo que guardo para mim mesmo”. Para esse tipo de pessoa, qualquer um que põe sua fé em prática tem algo de fanático. Portanto a fé genuína ela deve ser vista. 

A terceira qualidade de fé é que ela não é intelectual, mas vem do coração. Ele diz: “Voce crê que existe um só Deus? Muito bem! Até mesmo os demônios creem – e estremecem! (Tg 2.19). Essa pessoa é ortodoxa, acredita em Deus e em sua doutrina. Ela conhece o Shemá, aliás cita: “Ouve, ó Israel: O Senhor nosso Deus, é o único Senhor” (Dt 6.4). Ela acredita na teologia de Deus, mas ainda essa teologia não penetrou em seu coração, em sua alma, ainda não tomou sua força, seu entendimento. Em seguida, Tiago apela: “Até os demônios creem e tremem de medo”. O endemoninhado gadareno dobrou-se diante de Jesus e gritou: “Que tenho eu contigo, Jesus, filho do Deus Altissimo?” (Lc 8).  

O mero conhecimento intelectual da verdade é insuficiente. O Senhor Jesus disse em sua Palavra: “Nem todo o que me chama Senhor, Senhor, entrará no reino do céu, mas somente aquele que faz a vontade do meu Pai que está no céu. Quando aquele dia chegar, muitos vão dizer: Senhor, Senhor, em teu nome anunciamos a mensagem de Deus, e pelo nome do Senhor expulsamos muitos demônios e fizemos muitos milagres! Então eu responderei: Nunca os conheci. Saiam de perto de mim, vocês que só fazem maldade!” (Mt 7.21-23). Expulsar demônios não é prova nem mesmo de salvação. Há perdidos efetuando milagres e expulsando demônios!

2)     Dois exemplos de fé

O primeiro exemplo é Abraão: “Não foi pelas obras que Abraão, o nosso pai, foi justificado quando ofereceu o seu filho Isaque sobre o altar” (Tg 2.21). Mas o apostolo Paulo diz em Romanos que a salvação é pela fé: “Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé sem as obras da lei” (Rm 3.28). Tiago diz mais: “Vede então que o homem é justificado pelas obras e não somente pela fé” (Tg 2.24). De um lado o apostolo Paulo diz que a salvação é pela fé, do outro lado, o apostolo Tiago que a salvação é pela fé e pelas obras. O que pensar? 

O apostolo Paulo está olhando para a raiz da salvação, no momento da salvação, somos salvos por meio da fé e nada mais. Por outro lado, o apostolo Tiago, está olhando para os frutos da salvação, depois da salvação, depois de plantada a raiz da fé, nossa vida tem que dar frutos de boas obras. Paulo emprega a palavra “justificado” no sentido de “declarado justo aos olhos de Deus”, essa é uma dádiva de Deus. Tiago está se dirigindo a cristãos que já experimentaram a dádiva da salvação, por isso, ele emprega o termo “justificado” no sentido de “provar que sou justo aos olhos de outras pessoas para mostrar que recebi de Deus a dadiva da vida eterna”.

O segundo exemplo de fé é Raabe. “Caso semelhante é o de Raabe, a prostituta: não foi ela justificada pelas obras, quando acolheu os espias e os fez sair por outro caminho” (Tg 2.25 NVI). O que fez Raabe, exatamente? Ela escondeu os espiões hebreus que foram enviados a Jericó. Foi então sua obra que a salvou?  Não! Sua obra foi consequência de sua fé. Eis a declaração de fé por ela formulada aos espiões, sobre o Deus de Israel: “...o Senhor vosso Deus é Deus em cima no céu e embaixo na terra” (Js 2.11). Quando uma pessoa crê, ela age. Sua fé a leva a um envolvimento com Deus e não em uma alienante fuga mística. 


Conclusão

O apostolo Tiago termina com uma bela imagem: “Portanto, como o corpo sem espírito está morto, assim a fé sem obras está morta” (Tg 2.26).  Deus criou primeiro o corpo do homem, mas enquanto o espirito não veio habitar no corpo, este não valia muito. Estava sem vida. A vida veio pelo Espirito. Quando o Senhor soprou o folego de vida no corpo do homem, este foi tornado alma vivente. Olhamos para uma vida de fé sem obras, tudo parece que está certo, tudo aparentemente nos seus devidos lugares, mas ela é tão viva quanto um cadáver. Ou seja, está morta!