terça-feira, 17 de maio de 2022

 Retorno e amarguras Rt 1.6-22 

Introdução

O livro de Rute é uma história da graça de Deus. De uma família que morava em Belém (terra do pão) que por causa da fome resolve mudar para Moabe. No desespero podemos fazer três coisas: suportá-lo, fugir dele e usar ao nosso favor. É uma saga humana, de todos (homens e mulheres) diante de uma situação difícil, impulsivamente mudam de pais, de cidade, de casa, etc. Contudo, esquecemos que a conta chega....

1)     Arrependimento.

Noemi está em Moabe. Sem marido, sem filhos, sem nada. “Noemi ficou sozinha, sem seus dois filhos e sem o seu marido” (Rt 1.5). Contudo, em Belém “O Senhor viera em auxilio do seu povo, dando-lhe alimento” (Rt 1.6). Entendendo que a fome que veio sobre Judá foi resultado da ação de Deus pesar a mão sobre Israel a fim de fazê-lo voltar ao seu caminho, voltar à Deus. O sofrimento é o megafone de Deus, quando Deus pesa a mão sobre o seu povo é a fim de conduzi-lo ao arrependimento.

Antes não havia pão na casa do pão, mas voltou a haver. Deus em sua bondade está pronto a perdoar o seu povo. No tempo dos juízes, ele mesmo levantava pessoas para liderar o povo em arrependimento. Então, diante dessa notícia: “Tem pão na casa do Pão”, Noemi pensou: “Talvez haja esperança de redenção para mim. O que mais eu poderia fazer? Ficar aqui em Moabe?” Se Deus perdoou o seu povo, que andava longe espiritualmente, e ela, que estava longe tanto física quanto espiritualmente, decide ver se ainda há espaço para ela.  

Que lição preciosa. O povo de Deus sempre pode voltar. Cristãos muitas vezes andam por um tempo longe de Cristo e de sua igreja, e quando caem em si acham que não tem mais volta, ou temem que será vergonhoso demais retornar. Nossa esperança não é de vivermos sem pecar. Entretanto, a verdade libertadora da Bíblia é que “se todavia, alguém pecar, temos advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o justo” (1 João 2.1). O perdão de Cristo é o que pavimenta nosso caminho.

Contudo, muitos perdem a oportunidade de voltar por conta do seu orgulho. Mas, Noemi, engole o orgulho e decide pela vida. “Coloquei diante de vocês a vida e a morte, a benção e a maldição. Agora escolham a vida...” (Dt 30.19).

“Vou voltar, voltar à minha terra e ver se há perdão e nova vida para mim também. Ver se o Senhor também se lembra de mim”. Como o filho prodigo.  “Caindo em si, ele disse: quantos trabalhadores de meu pai tem comida de sobra, e eu aqui, morrendo de fome...e lhe direi: pai pequei contra o céu e contra ti...” (Lc 15.17). Noemi também está decidida a lidar com as consequências do seu pecado. Voltar a lidar com a vergonha, com a pobreza resultante, com a solidão de ser viúva e sem filhos. Nós também temos que lidar com os resultados de nossas escolhas ruins...

2)     E as noras?

“Vão”, disse Noemi, “retornem para a casa de suas mães! Que o Senhor seja leal com vocês, como vocês foram leais com os falecidos e comigo” (Rt 1.8). Noemi testifica que foram boas esposas e, imaginando que teriam uma vida melhor ali, sugerem que fiquem em Moabe e busquem novo marido. Elas insistem, chorando, que irão com Noemi: “Não!”, dizem, “voltaremos com vocês para junto do seu povo” (Rt 1.10). Noemi sabia que duas moabitas irem para Belém não seria bom. Orfa e Rute se veem diante de uma decisão emotiva, difícil e com consequências profundas.  

Orfa faz a escolha humanamente sensata e prudente. Ela fica com o seu povo, vai atrás de um novo marido e desaparece das paginas da história da redenção. Uma decisão aparentemente sensata pode ser o caminho da perdição. Ela vai atrás do humanamente certo e seguro, seguindo a mesma logica de Elimeleque e Noemi no passado “o que é mais importante para mim é ter abundancia material, segurança, viver a minha felicidade,  do que viver a vida de acordo com a vontade de Deus”

E, quanto a Rute? Ela escolheu o amor pactual – hesed – por Noemi e pelo Senhor Deus de Israel: “Não insista comigo para deixa-la e voltar. Aonde você for, irei; onde você viver, lá viverei. Seu povo será o meu povo, e seu Deus, o meu Deus. Onde você morrer, ali morrerei e serei sepultada. Que o Senhor me castigue severamente se eu permitir que qualquer coisa, a não ser a morte, nos separe” (Rt 1.16-17).  Rute se apegou a Noemi (Rt 1.14), esse termo envolve uma aliança, usado em Gn 2.24 para se referir a como um homem se une à sua mulher no matrimonio “os dois se tornam um só”.  

 O voto de Rute é belíssimo e custoso. Ela abandonou seu povo (moabitas), seus deus (Quemoz, Bal, etc), sua terra (Moabe). Não foi um simples: “vou morar ali uns meses; se não gostar, eu volto”. Não! Rute se compromete a viver e morrer em terra distante. “O teu Deus será o meu Deus”, ela está abandonando sua ligação com os deuses moabitas e se apegando ao Deus de Israel. Rute está deixando tudo, absolutamente tudo: uma provavelmente segurança financeira, seus pais, Um futuro com outro homem, deixando tudo, sem garantias de receber algo melhor.

Ela está jurando que que não voltará: “Onde quer que morreres, morrerei eu e ai serei sepultada”. Ela não disse: quando você morrer eu morrerei, ou seja, onde você morrer eu morrerei. Não estou indo passar simplesmente um tempo em Belém, como vocês foram para Moabe para passar um tempo, estou indo de vez, eu estou mudando de lado. Serei enterrada com seu povo, pois agora seu povo é meu povo e seu Deus é o meu Deus. 

Que poesia, que belíssimo juramento! É algo que nasce de um coração que encontrou a beleza e o poder do Deus verdadeiro. Um coração que teve um encontro pessoal com Cristo. Vejam: um moabita, um povo mal falado, um povo que veio da descendente de Ló com a sua filha! Mas, aqui tem uma moabita  que teve um encontro com Deus, que teve uma vida transformada, mudada pelo poder de Deus. Que fé, que devoção, que desapego “Se alguém quer ser meu seguidor, negue-se a si mesmo, tome diariamente a sua cruz e siga-me” (Lc 9.23).

E, quanto aqueles que cresceram na igreja, acostumados com a pregação do evangelho, acostumados com o ritmo da igreja, será que tem a mesma devoção de Rute? A ligação deles com Deus é algo demasiadamente normal, sem sobrenatural, sem renuncias. Uma pergunta: Quanto estamos dispostos a deixar a fim de nos apegarmos ao Deus vivo? Deixar emprego, família, posição, dinheiro, liberdade e, por vezes, a própria vida. Por vezes, deixar Moabe significa fechar muitas portas. O caminho para Belém é estreito, mas leva à vida eterna.

3)     Voltando para casa

O que será que passou pela cabeça de Noemi em sua viagem de volta de Moabe à Belém? “E agora? Como vou falar com Maria, com Isabel? E quanto a Jacó, irmão do meu falecido marido? O que vou dizer? E explicar nossa pobreza para todo mundo que perguntar? A volta depois do pecado pode ser difícil, mas vale a pena. 

O verso 19 mostra grande alvoroço com seu retorno “...toda cidade se agitou por causa delas. Será que é mesmo Noemi? Perguntavam as mulheres?” Logo toda a cidade está falando delas. É mesmo a Noemi? Cadê o marido, cadê os filhos? Quem é essa mulher com ela? O povo começou a falar. Aliás, o povo de Deus gosta de falar da vida dos outros!  Uma pergunta: como você recebe os que estão voltando? Até onde sabemos ninguém foi até elas, ninguém abraçou, envolveu, recebeu, ofereceu ajuda. Como você recebe os que tem vivido fora da igreja, quando voltam em humildade e mostram arrependimento? Voce fala algo como: “Eu já sabia, teve o que merecia”. Ou você recebe como o pai na parábola do filho prodigo, que exulta em que alguém perdido foi achado (Lc 15.11-32).

“Será que é mesmo Noemi?”. Mas ela rapidamente diz: “Não me chamem de Noemi, respondeu ela. Chamem-me de Mara” (Rt 1.20). A palavra “Mara” significa amarga. Vem lá de Exodo 15 das aguas amargas “Quando chegaram a Mara, descobriram que a agua era amarga demais para beber. Por isso chamaram aquele lugar de Mara” (v.23). Antes seu nome era Noemi, que significa “agradável”. Quem é o culpado? “O todo Poderoso tornou minha vida muito amarga” (Rt 1.20). Portanto, amargura descreve nosso descontentamento com a vida e com tudo e todos. Parece que Deus está querendo o nosso mal. A amargura, às vezes, vem devagar e corroí a alma.


Conclusão:

“Sou como uma filha prodiga, perdi tudo”. Mas não é não. Noemi não está voltando vazia coisa nenhuma! E essa mulher que jurou viver por você ao seu lado? Ela não voltou vazia, voltou com Rute, mais sensata, preciosa e fiel do que seu marido e que seus filhos. Auto piedade míope pode nos impedir de ver o que de bom o Senhor tem feito e  nos tem  dado, pessoas que estão do nosso lado.  


ibliografia: As boas Novas em Rute - Emilio Garofalo Neto - Editora Monergismo
Comentário de Rute - Hernandes dias Lopes - editora Hagnos
Biblia Nova Versão Internacional
Biblia King James
Biblia A Mensagem - Eugene Petersen

  

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