terça-feira, 10 de outubro de 2017

A Plenitude do Tempo. Gl 4.1-6


Introdução: Em 1831, o Brasil era uma monarquia e o poder era transmitido hereditariamente. No mês de abril, Dom Pedro I abdicou do trono em favor de seu filho, Pedro de Alcântara, que tinha 5 anos de idade. 
Como não havia outro membro habilitado a ocupar o governo, o Império do Brasil passou a ser governado, em caráter provisório, por regências. Em 1840, Pedro de Alcântara (Dom Pedro II), então com 14 anos, tornou-se, Imperador do Brasil.


1)    A condição do homem sob a lei (vs. 1-3).
Vamos imaginar um rapaz que é herdeiro de uma grande propriedade. Um dia tudo será dele. Na verdade, já é seu por promessa, mas não ainda em experiência, pois ele ainda é uma criança. Durante a sua minoridade, embora seja por direito o dono de toda a propriedade, ele “é tratado como empregado”. “Está sob tutores e curadores”. Eles lhe dão ordens, orientam-no e o disciplinam. Está sob restrições. “A criança romana que herdava alguma coisa dependia de tutores até os 14 anos. E, de certa forma, continuava dependendo de administradores até os 25!”

“Assim também nós”, continua Paulo. Já no tempo do Antigo Testamento, antes de Cristo vir e quando estávamos debaixo da lei, éramos herdeiros, herdeiros da promessa que Deus fez a Abraão. Mas ainda não havíamos herdados a promessa. Éramos como criança durante os anos da minoridade: nossa infância foi uma espécie de escravidão.

Que escravidão foi essa? Foi a escravidão da lei, pois a lei foi o nosso “aio” (Gl 3.24) e precisamos ser dela “resgatados”. “Rudimentos do mundo” tem dois significados: Primeiro, pode ser usado no sentido de coisas elementares, as letras do alfabeto, o ABC que aprendemos na escola. A Segunda, é como diz a BíBlia na linguagem de hoje, “os poderes espirituais que dominam o mundo”. No mundo antigo, eles eram geralmente como elementos físicos (terra, fogo, ar e água) ou como os corpos celestes (o sol, a lua, e as estrelas) que controlavam os festivais periódicos comemorados na terra. Isto encaixa com o versículo 8, onde lemos que antes éramos sujeitos “a deuses que por natureza não o são”, isto é, demônios ou maus espíritos.


Então, todos estávamos “debaixo da lei”, mesmo aqueles que nunca tinham ouvido falar da Bíblia ou de Moisés. Por quê? Porque todos tentamos desesperadamente viver à altura de determinados padrões. Somos ansiosos e vivemos sobrecarregados pelas preocupações (Mt 11.28-29). 

"Jesus veio nos libertar dos sistemas legalistas de religião e das práticas ocultistas que nos escravizam". 

2)    A obra do Filho (v.4 e 5)

“Vindo, porém, a plenitude do tempo”. Por quê plenitude do tempo? Foi o período em que Roma conquistou e subjugou o mundo conhecido, quando as estradas foram abertas a fim de facilitar as viagens; também foi o período em que a língua grega era falada por todos (helenismo), e os deuses mitológicos da Grécia e de Roma começaram a perder a influência sobre o povo comum, de modo que nos corações e mentes em toda parte brotou a fome de uma religião que fosse real e que satisfizesse; enfim, foi o período em que a lei acabou a sua obra de preparar as pessoas para a vinda de Cristo, mantendo-as sob tutela e na prisão...

Como Jesus nos libertou? 



Primeiro, resgatando “os que estavam debaixo da lei” (v.5), afastando toda penalidade ou dívida. Assim, Deus enviou seu Filho,  “nascido de mulher” (v.4; Gn 3.15) – um ser humano de verdade –, e o enviou “nascido debaixo da lei”. Jesus nasceu, como todo ser humano, em estado de obrigação para com a lei de Deus. Mas Jesus tem a capacidade singular de “resgatar os que estavam debaixo da lei” (v.5).
Resgatar, significa libertar o escravo do proprietário pagando seu preço total. Nesse caso, o senhor do escravo é a lei. Jesus paga nosso preço total à lei. Cumpre plenamente as exigências da lei sobre nós. E, portanto, é capaz de nos libertar dela.

Se ele não fosse homem, não poderia ter remido os homens. Se não fosse justo, não poderia ter remidos os injustos. E, senão fosse o Filho de Deus, não poderia ter remido as pessoas para Deus, tornando-as filhas de Deus”.

Segundo, Jesus adquire para nós “a adoção de filhos” (v.5). No mundo greco-romano, um homem rico e sem filhos podia escolher um de seus servos e adotá-lo. No momento da adoção, o servo deixa de ser escravo e recebia todos os privilégios financeiros e legais, tanto no âmbito da propriedade quanto fora, no mundo, na condição de filhos e herdeiros. 



“...temos de nos transportar para um antigo mercado escravo, a fim de dar valor a redenção, e a uma residência abastada da antiguidade, a fim de compreender o conceito de filiação. Só então, juntos, esses conceitos nos dão um retrato completo do que Cristo realizou por nós”. Paulo quer demonstrar aos gálatas, e a nós, que Cristo não apenas afasta a maldição (Gl 3.13; 4.5) como também nos dá a benção por ele merecida (Gl 3.14; 4.5).

3)    A obra do Espírito (v.6)

“Deus enviou o seu Filho”. O propósito do Filho era nos assegurar o status legal de filhos. Em contrapartida, o proposito do Espírito é garantir a experiência real disso. O Filho,  nos coloca em uma condição legal e objetiva; a obra do Espírito, nos traz uma experiência subjetiva radical. Quais as suas marcas: 



·        Primeiro, o Espírito nos leva a clamar “Aba, Pai”. Clamar é um grito alto, rasgado. É uma paixão e um sentimento profundos, penetrantes.

·        Segundo, “clamar” refere-se a nossa vida de oração. Como um filho não prepara discurso para apresentar aos pais, assim os cristãos que experimentam essa obra do Espírito encontram grande espontaneidade e realidade na oração. Orar não é mais algo mecânico ou formal, mas cheio de fervor, paixão e liberdade.

·        Terceiro, a expressão “clamar” conota um senso da presença real de Deus. Como uma criança grita “pai” ou “mãe”, sabendo que estão perto, assim os cristãos sentem a realidade extraordinária da proximidade de Deus.

·        Quarto, “Aba” – palavra em linguagem de bebê, querendo dizer “papai” ou “paizinho”, ou, como na Bahia “painho” – expressa confiança no amor e a certeza do acolhimento (Is 49.15-16).

Conclusão: 

A obra do Filho é externa a nós, algo que podemos ter sem sentir. Mas a obra do Espírito é interna e consiste em sermos absolutamente tocados – tanto em termos emocionais quanto intelectuais – pelo amor do Pai.



  

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