terça-feira, 29 de agosto de 2017

Carta aos gálatas – Gl 1.1-5


Introdução:

Paulo escreveu esta carta, que muitos creem ser a primeira carta escrita por ele (cerca de 48 ou 49 d. C.). O objetivo dele era evitar que os irmãos aceitassem a mensagem de certos pregadores que queriam torna-los adeptos do judaísmo. Esses missionários vinham da Judéia (cf. Atos 15.1) e ensinavam que os cristãos precisavam se circuncidar e guardar a lei de Moisés, adotar a dieta judaica – abster-se de sangue, carne de porco e muitos outros alimentos considerados impuros – e guardar as festas e datas do calendário judaico, especialmente o sábado. Essa “religião das obras” encontra eco no coração do homem pecador e cego para seu estado de perdição. Nada lhe parece mais lógico e natural do que trabalhar e se esforçar para “pagar” por seus pecados e merecer a salvação. 


1)    As igrejas da Galácia. 

Onde ficavam essas igrejas? Situavam na região da Galácia (atualmente Turquia) e eram quatro cidades: Antioquia da Psidia; Icônio, Listra e Derbe. Essas cidades foram evangelizadas por Paulo e Barnabé na primeira viagem missionária, narrada nos capítulos 13 e 14 de Atos. Em cada cidade havia agora uma igreja. No Novo Testamento fica claro que a chamada “igreja de Deus” (Gl 1.13), a igreja universal, divide-se em “igrejas” locais, exemplos: Igreja de Tiatira, igreja de Pergamo, Igreja de Sardes, igreja de Laodicéia, etc. Portanto, o versículo 2 (parte b) poderia ser traduzido da seguinte maneira: “as congregações cristãs da Galácia”. 



2)    Paulo, apóstolo.
“Paulo, apóstolo, não da parte de homens, nem por intermédio de homens, mas por Jesus Cristo, e por Deus Pai...”. Paulo se apresenta como “Apóstolo”. Nas outras epístolas ele se contenta em descrever-se como “chamado para ser apóstolo” (Rm 1.1). Ou, sem mencionar a sua vocação, ele se intitula “apóstolo de Cristo Jesus pela vontade de Deus” (2 Co 1.1; Ef 1.1; Cl 1.1; 1 Tm 1.1). No entanto, nesta carta Paulo faz uma declaração enérgica de que seu apostolado não é humano em qualquer sentido, mas essencialmente divino. Literalmente, ele diz que é um apóstolo “não da parte de homem, nem por intermédio de homem algum” (Am 7.14) . Paulo não obteve essa designação de algum patrono influente que o protegeu e o inseriu nesse ministério. Antes, como ele afirma, é apóstolo “por Jesus Cristo e por Deus Pai” (Gl 1.1). Isto é, seu ministério apostólico é tão verdadeiro quanto o dos doze, porque foi recebido de Jesus Cristo e Deus Pai. 


3)    Saudação à igreja (v. 3). 

“Graça e Paz a vós outros da parte de Deus nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo”. A natureza da salvação é paz, ou reconciliação: PAZ COM DEUS, COM OS HOMENS E PAZ INTERIOR. A fonte da salvação é a graça, o favor livre de Deus, independente de qualquer mérito ou obras humanas (Ef 2:8-10), sua benevolência para com os que não merecem e esta graça e paz flui tanto do Pai quanto do Filho. 


4)    O EVANGELHO. 
Cristo morreu pelos nossos pecados. O Novo Testamento nos ensina que a morte de Cristo foi uma oferta pelo pecado, o único sacrifício através do qual os nossos pecados poderiam ser perdoados e esquecidos. Martinho Lutero comenta que “estas palavras são verdadeiros trovões do céu contra todo tipo de justiça”, isto é, contra toda forma de justiça própria. 



Não há meio termo entre a justificação cristã e a justificação pelas obras. Não existe alternativa à justificação cristã, senão a justificação pelas obras; se você não edificar sua fé sobre a obra de Cristo, deve edifica-la sobre suas próprias obras”. Martinho Lutero.

Cristo morreu para nos libertar deste mundo. Se natureza da morte de Cristo na cruz foi “pelos nossos pecados”, seu objetivo foi “nos libertar deste MUNDO PERVERSO (V.4)”. A palavra “mundo” nessa frase, se refere A ERA, SÉCULO OU TEMPO. Portanto, existe a ERA PRESENTE, governada pelo mal, pelo pecado e pelo Diabo; é o mundo mau, tenebroso e perverso em que vivemos. Há também, entretanto, a ERA VINDOURA, a era de Deus, na qual ele receberá eternamente a glória, pelos séculos dos séculos. 


Outrossim, Cristo entregou-se VOLUNTARIAMENTE pelos nossos pecados para NOS LIVRAR DA ERA PERVERSA em que vivemos. O verbo grego que na versão Almeida 21 é traduzida por “livrar” na ARA (revista e atualizada) é traduzida por “desarraigar”, o que nos traz à mente uma imagem interessante. A árvore esta presa pela raiz no local em que se encontra. Se você já tentou arrancar até mesmo um simples arbusto bem enraizado, sabe que não nada fácil, porque a raiz o prende com firmeza ao chão. E, quanto mais dura a terra, mais difícil será arrancá-lo. A humanidade está arraigada no mundo presente, e aqui somos comparados com uma arvore arraigada à impiedade de nossa época. Só Deus que ressuscita os mortos pode nos arrancar – nos desarraigar – deste mundo mau. 


O verbo grego é enfático (exaireo) e é usado em Atos referindo-se à libertação dos israelitas da escravidão egípcia (Atos 7.34); à libertação de Pedro da prisão e da mão do Rei Herodes (Atos 12.11) e à libertação de Paulo da multidão enfurecida que estava para linchá-lo (Atos 23.27).  

Cristo morreu de acordo com a vontade de Deus. Jesus veio se entregar voluntariamente pelos nossos pecados e nos desarraigar deste mundo perverso, e tudo isso estava de acordo com a vontade do Pai. Observe como a Trindade trabalha em conjunto. O Pai planejou segundo sua vontade, o Filho veio e executou esse plano de redenção no tempo e no espaço, e o Espírito veio para aplicar os efeitos da obra do Filho aos pecadores através dos séculos.

Conclusão:
Paulo encerra a saudação inicial de sua carta atribuindo a Deus “a glória para todo o sempre” (1.5). Na ARA, traduz-se a parte final dessa expressão por “pelos séculos dos séculos”. Nesses versículos, Paulo está literalmente afirmando que Cristo veio nos desarraigar deste “século mau” e, no versículo 5, ele diz: “a quem (Deus) seja a glória para todo o sempre”; ou seja, a Bíblia fala de duas eras diferentes: a era presente – este mundo mau, tenebroso e perverso, no qual estamos arraigados – e a era vindoura – a era de Deus, a qual já adentrou a era presente e na qual Deus receberá eternamente a glória, pelos séculos dos séculos.


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