terça-feira, 27 de setembro de 2016

Jesus e a mulher samaritana – Jo 4.1-26.


Introdução:

Jesus havia deixado a Judéia e se dirigia para a Galiléia mas "era-lhe necessário passar por Samaria" (João 4:4). É aí onde, realmente, começa a nossa história. Ele viajava com seus discípulos por Samaria, fora da Judéia. Ao chegarem a cidade de Sicar, os discípulos se dispersaram com o intuito de conseguir algo para comer. Jesus estava  "cansado do caminho, assentou-se assim junto da fonte" (João 4:6) e sedento. Não tem como tirar água porque lhe falta um jarro. Mas então uma mulher solitária aparece para buscar água e ele pede.


1)    Jesus inicia com um diálogo.
Em nossa cultura, não nos parece incomum ver os dois conversando, mas deveria. Observe o choque da mulher pelo simples fato de ele lhe dirigir a palavra “dá-me de beber" (João 4:7), pois os judeus e samaritanos eram inimigos implacáveis.

“Alguns judeus do norte que não foram deportados para Assiria se casaram com mulheres cananeias e formaram praticamente uma nova tribo, os samaritanos. Eles pegaram parte da religião judaica e parte da Cananeia e criaram uma religião sincrética. Por volta de 400 a.c., os samaritanos erigiram um templo rival  no monte Gerizim. No século I, os samaritanos tinham desenvolvido sua própria herança religiosa baseada no Pentateuco, não aceitavam os livros histórios, nem os poéticos e nem os profetas”.
Outrossim, por que a mulher saiu para buscar água ao meio-dia? Não era costume a essa hora do dia a mulher buscar água. Elas iam mais cedo, quando ainda não estava quente, de modo que pudessem ter água para as tarefas de manutenção da casa o dia inteiro. A resposta é: ela era marginalizada moral, uma completa intrusa, mesmo dentro de sua própria comunidade desprezada pela sociedade.

Na Mishná Niddah 4.1 – uma explicação da lei de Moisés – refletia um sentimento popular existente nessa época, no sentido  de que todas “as filhas dos samaritanos menstruam desde o berço” e, portanto, estão em um estado de impureza cerimonial. Nesse caso, Jesus quebra todas as barreiras: racial, cultural, a barreira do gênero e a barreira moral – davam conta de que ele, um homem judeu religioso, não deveria ter nada que ver com aquela mulher.

2)    Jesus confronta a mulher.
Embora seja evidente que Jesus se mostra aberto e afetuoso para com a mulher, ainda assim ele a confronta. Mas faz isso de uma maneira gentil e habilidosa. Começa dizendo: “Se soubesse quem sou eu, você me pediria água viva; e, se bebesse dessa água, jamais voltaria a ter sede”.


Afinal, a que Jesus se refere? Ele fala por metáfora, referendo à “água viva”, chamada por ele de “vida eterna”. A imagem causa um impacto um pouco menor para nós. A maioria de nós sabe bem pouco o que é sede real, mas quem já viveu no clima árido junto ao deserto conhece muito bem o assunto. Como nossos corpos contêm muita água, sentir sede profunda significa estar em agonia.

Então, o que Jesus está dizendo a essa mulher? O seguinte: “Tenho algo para você que lhe é tão básico e necessário para o espírito quanto a água para o físico. Algo sem o qual você estará completamente perdida”. Ele diz: “Minha água, se você a obtiver, haverá de se tornar uma fonte de águas em você jorrando para a vida eterna”.

O que faz o homem feliz? Amor romântico; carreira profissional; política; uma causa social; dinheiro, etc. Mas o que quer que o faça dizer: “Se eu tiver tal coisa, se eu chegar lá, então saberei que sou importante, então saberei que tenho significado, então saberei que tenho segurança”. Entretanto, Jesus diz que não há nada fora de você capaz de satisfazer de verdade a sede existente no fundo do seu interior. Ou seja, não precisamos de água respingada no rosto, mas, sim, da água que vem de um lugar em você ainda mais profundo que a própria sede.

E Jesus declara: “Posso dá-la para você. Posso colocá-la dentro de você. Posso lhe oferecer satisfação absoluta e incomensurável no âmago do seu ser, independentemente do que acontece do lado de fora e das circunstâncias”.

Anos atrás, o grande campeão do tênis Boris Becker declarou: “Venci em Wimbledom duas vezes, uma delas como o jogador mais jovem. Eu era rico (...) tinha todos os bens materiais de que precisava (...) é a velha ladainha das estrelas pop e de cinema que cometem suicídio. Tem tudo, não entanto são tão infelizes. Mas eu não experimentava nenhuma paz interior”. Poderíamos dizer: “Preferiria ter a dificuldade dele a minha”. Mas o que ele está dizendo é que tem a mesma dificuldade que nós e, como nós, achava que dinheiro, sexo, realização e fama o solucionaria. A diferença está em que ele teve tudo isso e, por fim, nada lhe satisfez a sede nem um pouco. Em uma entrevista famosa, Sophia Loren disse que tivera tudo – prêmios, casamentos – mas, mesmo assim, “em minha vida existe um vazio impossível de preencher”.

Todo mundo tem de viver em função de alguma coisa, mas Jesus argumenta que, se não for ele essa coisa, você se desapontará. Primeiro, ela o escravizará. Em segundo lugar, no entanto, caso você consiga, sim, alcança-la, ela não lhe dará a satisfação esperada.

O escritor norte americano David Foster Wallace disse a um grupo de formandos:

Todo mundo adora. A única escolha que nos cabe é o que adorar. E a razão que nos constrange a talvez escolher algum tipo de deus (...) para adorar (....) está no fato de que praticamente todas as outras coisas que você adora o comerão vivo. Se adorar o dinheiro e bens, caso eles estejam onde você encontra real sentido na vida, você jamais os possuirá em quantidade suficiente, jamais sentirá que tem o bastante. É a verdade. Adore o próprio corpo, a beleza e a atração sexual e sempre se sentirá feio. E, quando o tempo e a idade começarem a se mostrar, você sofrerá um milhão de mortes antes de (seus entes queridos) enfim o enterram. Adore o poder e acabará se sentido frágil e temeroso, necessitado de ainda mais poder sobre os outros para anestesiar o próprio medo. Adore seu intelecto, sendo visto como alguém inteligente, e acabará se sentindo estúpido, uma fraude, sempre prestes a ser descoberto. Olhe, essas formas de adoração são traiçoeiras não porque sejam más ou pecaminosas, mas porque são inconscientes”.

Cerca de dois anos depois de proferir esse discurso, ele se matou. E as ultimas palavras desse homem não religioso a nós são bastante aterradoras: “Alguma coisa acabará por come-los vivos”. E, como Jesus disse: “A menos que você me adore, a menos que eu seja o centro da sua vida, a menos que você esteja tentando matar a sede espiritual por meu intermédio e não por meio dessas outras coisas, a menos que enxergue que a solução deve vir de dentro em vez de apenas passar por seu exterior, então o que quer que você adore o desamparará no final”.

Na mesma hora ela pergunta a Jesus:

_ Que água viva é essa? Poder me dar essa água?

Então ele vira a mesa e diz: _Vá buscar seu marido.

Ao que ela responde: _Não tenho marido.

Tem razão – ele concorda. _ Voce já teve cinco maridos, e o homem com quem vive neste momento não é seu marido.

Porque Jesus de repente parece mudar o assunto da busca por água para a história da mulher com os homens? A resposta é: ele não está mudando de assunto. Ele a provoca quando diz: “Se quiser compreender a natureza dessa água viva que ofereço, você primeiro necessita entender como a tem buscado em sua própria vida. Vem tentando consegui-la por meio dos homens e não tem dado certo, não é? Sua necessidade de homens a está comendo viva, e isso nunca terá fim”.

Conclusão: 
“Senhor, és um profeta!”. Então, faz a ele um dos maiores questionamentos teológicos possíveis:

_Nós adoramos neste templo aqui, e os judeus adoram no templo em Jerusalém. Quem está certo? Jesus responde, “os verdadeiros adoradores adorarão ao Pai em espírito e em verdade”.


Bibliografia:

Timothy Keller - Encontros com Jesus - Vida Nova
D.A. Carson - O comentário de João        Shedd

Nenhum comentário:

Postar um comentário