quinta-feira, 21 de julho de 2016

A essência da adoração a Deus – Salmo 50

Introdução:
Salmo 50, de autoria de Asafe, também traça uma nítida distinção entre o “verdadeiro” e o “falso”. Nesse caso, o objeto de avaliação não é um título educacional, mas o coração das pessoas que se dizem adoradores de Deus. O próprio Senhor é quem, no salmo, os distingue e se manifesta diante da falsidade dos seguidores nominais. O salmo parece ter sido escrito em um contexto da manutenção de uma religião ritualista, por parte de alguns, que consideravam a forma externa do culto como tudo que importava oferecer a Deus. Não há como negar que, guardadas as devidas proporções, é uma situação que nos lembra o ritualismo seco e morto dos dias do profeta Malaquias: sacrifícios oferecidos diante de Deus por corações distantes, tanto quanto possível, do Senhor digno de todo louvor.
1)   Convocação Geral.


Nesse sentido, os vv.1-6 tratam de uma convocação geral de Israel (v.1) a fim de comparecer diante do tribunal de Deus. O tom sério e grave com que tal convocação é feita é de “arrepiar” e fazer temer – e tremer. Diz o v.3: “Vem o nosso Deus e não se cala; diante dele há um fogo que consome e, ao seu redor, se abate uma enorme tempestade”. Tanto pela figura do fogo como pela da água, a ideia é de uma inevitável destruição para aqueles que forem apanhados por Deus. O motivo de Deus fazer a convocação é (v.4) “para julgar o seu povo”. Quanto ao juiz da questão (v.6), “Deus é aquele que julga”.
2)   O motivo da convocação.



Como que em uma grande assembleia, o Senhor se pronuncia contrário àqueles que o desagradam (v.7): “Eu testemunharei contra ti”. Nessa ação, antes que haja qualquer mal-entendido, Deus já avisa os réus que o motivo do seu juízo não se devia à natureza, em si, dos sacrifícios que lhe ofereciam no Templo (v.8): “Eu não te reprovo devido aos teus sacrifícios e aos teus holocaustos”. Apesar disso, o Senhor decreta (v.9): “Não aceitarei bezerro da tua casa, nem bodes do teu cercado”. A pergunta natural é: se o problema não era o sacrifício em si, tanto nas disposições técnicas como na qualidade dos animais, qual, então, era o motivo da repreensão?
Depois de o Senhor dizer que não precisa dos sacrifícios oferecidos a ele, no sentido de não ter necessidades que possam ser supridas por ofertas (vv.10-13), ele, então, toca no ponto sensível da questão: a motivação dos ofertantes. Eles participavam dos rituais ditados pelo Senhor, mas seu coração não acolhia nem seus ensinos, nem tampouco o amor por aquele a quem sacrificavam. A triste situação de uma religião apenas nominal e ritualista é exposta nos vv.16,17: “Mas Deus disse ao ímpio: que vantagem tens em repetir os meus preceitos e em carregar a minha aliança na tua boca, quando tu odeias o ensino e lanças fora as minhas palavras?” . Deus, que viu tais defeitos no coração dos ímpios, deu-lhes prova, também, do conhecimento a respeito dos efeitos externos da sua desobediência e da sua insubmissão. Deus lhes acusa de aprovar a desonestidade e a imoralidade (v.18), de serem maldosos e trapaceiros (v.19), de trair seus próprios irmãos (v.20) e de menosprezar a santidade do Senhor (v.21). Eis os motivos pelos quais Deus rejeitou os ímpios e os sacrifícios deles, a exemplo de Caim. Quando o Senhor rejeitou a oferta de Caim, não foi pelo seu conteúdo, mas devido à maldade do ofertante. Por isso, disse a Caim: “Se procederes bem, não é certo que serás aceito?” (Gn 4.7a) – há quem diga que a oferta de Abel foi aceita por ser “oferta de sangue”, mas a Bíblia não dá subsídios para tal visão extemporânea e confere à fé de Abel o motivo pelo qual ele e sua oferta foram aceitos (Hb 11.4).
Assim como Deus instruiu Caim sobre o modo de ser aceito, fez o mesmo aos ímpios a quem se dirige, noSalmo 50, em tom reprobatório. Fazendo isso, aponta três traços do culto verdadeiro.
3)   Como Deus aceita nossa adoração. 


O primeiro deles é um coração genuíno. A primeira parte do v.14 diz: “Ofereça sacrifícios de gratidão a Deus”. Apesar de os servos nominais do Senhor, pelo que diz o próprio texto, apresentarem a Deus suas ofertas – aquelas que Deus passou a recusar no v.9 –, Deus orienta o modo como deveriam ocorrer: com gratidão. Parece redundante: “Sacrifícios de gratidão com gratidão”. Entretanto, o que Deus quer ressaltar, por meio do salmista, é que a oferta exterior deve corresponder à devoção interior. Nesse aspecto, a oferta deve vir de um coração genuíno e, assim, fazer sentido e ser verdadeira. E isso vale para todas as áreas pelas quais os cultos são prestados ao Senhor.
O segundo traço é a fidelidade a Deus. A sequência do v.14 diz: “E mantenha os seus votos para com o Altíssimo”. O texto não explica que votos são esses, mas, quaisquer que fossem, com fidelidade deveriam ser cumpridos. Independente de haver votos pessoais e pontuais, cada geração de israelitas renovava com Deus a aliança mosaica. Ela tinha um caráter bilateral. Diferente de outras alianças, tanto Deus como os homens se comprometiam com especificações de deveres e direitos. Do seu lado, Deus sempre foi fiel. Da parte dos servos, a ordem é que ajam do mesmo modo.
Finalmente, o terceiro traço é a submissão dependente. Diferente dos homens que desprezavam as palavras do Senhor (v.17) e, na verdade, o próprio Senhor (v.21), o servo verdadeiro conhece sua posição e a posição de Deus. Sabendo disso e obedecendo as orientações divinas, o v.15 revela um dever do servo. Diz-lhe o Senhor: “E clame a mim no dia do perigo”. A dependência demonstrada nessa atitude revela a submissão do servo ao Senhor por saber que somente Deus tem poder para cuidar do homem que lhe pertence. E quando isso acontece, a atitude do verdadeiro servo é assim descrita por Deus: “Você me honrará” ou “você me glorificará”.
Tal é a distinção entre o servo verdadeiro e o servo falso; e a distinção entre o culto verdadeiro e o culto falso; entre aquilo que Deus aceita e aquilo que ele rejeita. Não há espaços para demonstrações vazias. Não há lugar para ritualismos que não refletem a adoração viva vinda do íntimo dos adoradores. Não quando Deus conhece tudo, incluindo o coração das pessoas. Nem tampouco, quando se sabe que ele não se comove com as aparências, mas que rejeita abertamente a adoração falsa. Com isso em mente, inevitavelmente temos de trabalhar os nossos corações para nos arrepender de pecados, para dedicarmos nosso tempo e nossos esforços a Deus e para sermos autênticos quando declararmos nossa adoração ao nosso criador e salvador. Caso contrário, ofereceremos a Deus um culto tão inútil quanto diplomas de cem dólares que trazem, risivelmente, o título de “doutor em divindades”.
Pr. Thomas Tronco


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