sábado, 26 de dezembro de 2015

A blasfêmia contra o Espírito Santo (Mc 3.20-35)


Introdução: Uma das lendas sobre Lúcifer conta que uma vez um sacerdote notou que em sua congregação havia um jovem muito formoso. Depois do culto, o jovem ficou para confessar-se. Confessou tantos pecados e tão terríveis que o sacerdote ficou com os cabelos de pé. "Deve ter vivido muitos anos para fazer todas essas coisas", disse o sacerdote. "Meu nome é Lúcifer e caí do céu no princípio do tempo", respondeu o jovem. "Mesmo assim", prosseguiu o sacerdote, "diga que sente muito, que está arrependido e até você pode ser perdoado". O jovem olhou ao sacerdote durante um momento, e logo deu meia-volta e se afastou. Não queria e não podia dizê-lo; e portanto, tinha que continuar desolado e condenado.

Há três posições distintas sobre a pessoa de Jesus que introduzem esse solene assunto da blasfêmia contra o Espírito Santo:

·        Em primeiro lugar, a posição da multidão (Mt 12.22,23). Jesus acabara de curar um endemoninhado cego e mudo. Diante desse sinal evidente do poder de Jesus, a multidão ficou admirada e começou a ponderar sobre o fato de que Jesus era o Messias. A admiração da multidão desencadeou a hostilidade dos escribas.

·        Em segundo lugar, a oposição da família (3.21). A família de Jesus vem para prendê-lo, por julgar que estava fora de si. Eles querem colocar Jesus debaixo de uma custódia protetora.

·        Em terceiro lugar, a posição dos inimigos (3.22). Os escribas, tomados de inveja, diante da crescente popularidade de Jesus, resolvem dar mais um passo na direção de impedir que o povo o seguisse. Agora, dizem que Jesus está endemoninhado e possesso do maioral dos demônios. Os escribas acusam Jesus não apenas de estar possesso de um espírito imundo (3.30), mas de estar dominado por Belzebu, o maioral dos demônios (3.22). Belzebu é a contração de dois nomes: Baal, que significa senhor; e zebu que significa mosca: o senhor das moscas. Dizer que Jesus expulsava demônios em nome desse monstro horrível era de fato um pecado imperdoável contra o Espírito Santo.
  
1)    O que não é blasfêmia contra o Espírito Santo
·        Em primeiro lugar, não é rejeitar por um tempo a graça de Deus. Muitas pessoas vivem na ignorância, na desobediência por longos anos e depois são convertidas ao Senhor. Por um tempo Paulo rejeitou a graça de Deus (At 26.9; 1Tm 1.13). Os próprios irmãos de Jesus não criam nele (Mc 3.21; Jo 7.5).

·        Em segundo lugar, não é negação de Cristo. Paulo perseguiu a Cristo (At 9.4). Pedro negou a Cristo (Mt 26.69-75). Os irmãos de Cristo no início não criam nele (Jo 7.5). Cristo disse que quem blasfemasse contra o Filho seria perdoado (Lc 12.10). Um ateu não necessariamente cometeu o pecado imperdoável.

·        Em terceiro lugar, não é negação da divindade do Espírito Santo. Se assim fosse nenhum ateu poderia ser convertido. Se fosse essa a interpretação, nenhum membro da seita Testemunha de Jeová poderia ser salvo.

Em quinto lugar, não é a mesma coisa que os pecados contra o Espírito Santo. A Palavra de Deus menciona alguns pecados contra o Espírito Santo que não são blasfêmia contra ele:
a) não é entristecer o Espírito Santo (Ef 4.30). Um crente pode entristecer o Espírito Santo, mas jamais pode cometer o pecado imperdoável. Davi entristeceu o Espírito Santo, mas arrependeu-se.
B) não é apagar o Espírito Santo (1Ts 5.19). Um crente pode apagar o Espírito Santo, deixando de obedecê-lo, deixando de honrá-lo, mas jamais pode blasfemar contra o Espírito Santo.
C) não é resistir ao Espírito Santo (At 7.51). Muitas pessoas que durante um tempo resistem ao Espírito Santo, depois se humilham diante dele, como alguns dos sacerdotes que rejeitaram a mensagem de Estevão, mas posteriormente foram convertidos a Cristo.
D) não é mentir ao Espírito Santo (At 5.3). Ananias mentiu ao Espírito Santo por intermédio da dissimulação. Muitas pessoas ainda hoje tentam impressionar as pessoas para ganhar o aplauso delas e mentem ao Espírito Santo, aparentando ser quem não são.

 2)    O que é a blasfêmia contra o Espírito Santo.
 ·        A palavra blasfêmia significa injuriar, caluniar, vituperar, difamar, falar mal. A blasfêmia contra o nome de Deus era um pecado imperdoável no Antigo Testamento (Lv 24.10-16). Por isso, os fariseus e escribas julgaram Jesus passível de morte porque dizia ser Deus e isto para eles era blasfêmia (Mc 2.7; Mc14.64; Jo 10.33).

·        A blasfêmia contra o Espírito é a atitude consciente e deliberada de negar a obra de Deus em Cristo pelo poder do Espírito e atribuir o que Cristo faz ao poder de Satanás. A blasfêmia constitui no fato de afirmar que o poder que age em Cristo não é o Espírito Santo, mas Satanás.

·        Aquele que cometeu esse pecado nunca terá perdão. Toda a igreja pode orar por ele, mas ele nunca será salvo. De fato, a igreja nem deveria orar por ele, pois cometeu pecado para a morte (1Jo 5.16), é réu de pecado eterno (Mc 3.29) e não terá perdão nem neste mundo nem no vindouro (Mt 12.32).

3)    Analisando o texto (Mc 3:22-27).
·        Em primeiro lugar, observemos a acusação (3.22). “Os escribas, que haviam descido de Jerusalém, diziam: ele está possesso de Belzebu. E: É pelo maioral dos demônios que expele os demônios”. Eles, por inveja, deliberada e conscientemente estão acusando Jesus de ser aliado e agente de Satanás. Acusam Jesus de estar possesso do maioral dos demônios. Estão atribuindo as obras de Cristo não ao poder do Espírito Santo, mas à influência de Satanás. 



·        Em segundo lugar, observemos a refutação (3.23-26). Jesus refutou o argumento dos escribas contando-lhes duas parábolas com o mesmo significado: o reino dividido e a casa dividida. Com essas duas parábolas, Jesus mostra o quanto o argumento dos escribas era ridículo e absurdo. Satanás estaria destruindo a sua própria obra e derrubando o seu próprio império. Estaria havendo uma guerra civil no reino do maligno.

·        Em terceiro lugar, observemos a explicação (3.27). Jesus explica sobre sua vitória sobre os demônios e Satanás: “Ninguém pode entrar na casa do valente para roubar-lhe os bens, sem primeiro amarrá-lo; e só, então, lhe saqueará a casa” (3.27).
a)     Satanás é o valente. Jesus não nega o poder de Satanás nem subestima a sua ação maligna, antes afirma que ele é um valente.

b)    Satanás tem uma casa. Satanás tem uma organização e seus súditos estão presos e seguros nessa casa e nesse reino.

c)     Jesus tem autoridade sobre Satanás. Jesus é o mais valente. Ele tem poder para amarrar a Satanás. Jesus venceu a Satanás e rompeu o seu poder. Isso não significa que Satanás está inativo, mas sob autoridade. Jesus venceu Satanás no deserto, triunfou sobre todas as suas investidas. Esmagou sua cabeça na cruz, triunfando sobre as suas hostes (Cl 2.15).

d)    Jesus tem poder para libertar os cativos das mãos de Satanás. Jesus não apenas amarra Satanás, mas, também, arranca de suas mãos os cativos. Satanás está sendo e progressivamente continuará a ser destituído dos seus “bens”, ou seja, a alma e o corpo dos seres humanos, e isso não somente por meio de curas e expulsões demoníacas, mas principalmente por meio de um majestoso programa missionário (Jo 12.31,32; Rm 1.16).

Conclusão: O que constitui o pecado imperdoável?

·        Jesus encarna o perdão de Deus. Logo quem persiste em resistir e desprezar a oferta do perdão de Deus em Jesus é excluído do perdão. Essa rejeição deliberada de Jesus é a única limitação ao ilimitado perdão de Deus.

·        Os pecados mais horrendos podem ser perdoados. Manassés era feiticeiro e assassino e arrependeu-se. Nabucodonosor era um déspota sanguinário e arrependeu-se. Davi adulterou e matou, mas foi perdoado. Saulo perseguiu a Igreja de Deus e foi convertido. Maria Madalena era prostituta e possessa, mas Jesus a transformou. Mas a blasfêmia contra o Espírito Santo não tem perdão.

·        Tres advertencias: 1) evitar o julgamento. Billy Graham diz que devemos tocar neste assunto com muito cuidado. Devemos hesitar em sermos dogmáticos em nossas afirmações sobre aqueles que cruzaram essa linha divisória da paciência de Deus. Devemos deixar essa decisão com Deus.

 2) evitar o desespero. Muitos crentes ficam angustiados e preocupados de terem cometido esse pecado imperdoável. Ninguém pode sentir tristeza pelo pecado sem a obra do Espírito Santo. Quem comete esse pecado, jamais sente tristeza por ele. 

3)  evitar a leviandade. Aqueles que zombam de Deus e da sua graça podem cruzar essa linha invisível e perecerem para sempre.

Nenhum comentário:

Postar um comentário