terça-feira, 6 de outubro de 2015

Jeremias  versus Pasur. Jr 20.1-6


Introdução.  O grande pintor renascentista – Leonardo da Vinci – levou anos para pintar seu quadro: “A Santa Ceia”. Em vão ele procurava um modelo apropriado para a face do Salvador. Então ele encontrou um cantor de um coral, em uma igreja, cujos traços nobres lhe chamaram a atenção. Imediatamente ele chamou o rapaz por nome Pietro Bandinelli, para posar para o quadro, e deu a Jesus a fisionomia do rapaz em seu quadro.

 Por muitos anos ele continuou pintando o seu quadro. Os discípulos estavam quase todos prontos, e só faltava o modelo para Judas Iscariotes, aquele que traiu Jesus. Da Vinci passou, então, a andar pelas ruas de Roma, procurando um rosto adequado. Finalmente achou a pessoa com o rosto certo. Era o de um sujo e esfarrapado mendigo, com uma expressão ameaçadora em seu semblante. Ele estava parado em uma esquina e logo e foi convidado para servir de modelo, o que imediatamente aceitou. 

Mas quando o pintor contemplou os traços do mendigo mais atentamente, de susto, o seu pincel lhe caiu da mão. Tratava-se do mesmo Pietro Bandinelli, cujo bonito rosto, o pintor havia usado como modelo para o rosto do Salvador. O que havia transformado o anterior rosto angelical em um rosto de bandido, de Judas? A pobreza? A fome? A doença ou coisa parecida? Não, o pecado o havia rebaixado tanto!

1)   O que vamos fazer na igreja?

Algumas pessoas vão à igreja buscando uma forma de melhorar suas vidas, para sentir-se bem consigo mesmas, para ver as coisas com maior clareza e compreensão. Outras pessoas buscam a igreja porque desejam que Deus as salve e governe suas vidas.

Um grupo de pessoas vê a igreja como uma receita rápida para um viver feliz e vitorioso; nada que interfira no sucesso ou interrompa a felicidade será tolerada. O Outro grupo enxerga a igreja como um caminho no qual as pessoas tornam-se íntegras em relação a Deus por intermédio da dor e sofrimento.  UM É O CAMINHO DE EXALTAR O QUE QUEREMOS; O OUTRO CAMINHO É COMPROMETIMENTO PESSOAL A FIM DE SE TORNAR O QUE DEUS DESEJA.

2)   Pasur – o pregador popular. 


A palavra Pasur significa “dirigente”; um alto funcionário, ou assistente direto do sumo sacerdote. Ele era um homem importante e um dos principais líderes no templo. Quando as pessoas o viam na liderança daquela prospera instituição religiosa, não podiam se sentir melhor.  Quando ele estendia suas mãos para dar a benção, todos, do mais humilde ao mais elevado, sentiam-se incluídos. Todos apreciavam ouvi-lo, pois Pasur era positivo, interessado e confiante. Ele enxergava a dimensão positiva em todas as coisas. Interpretava a presente situação de tal forma que todas as ansiedades e temores eram banidos. Pasur era um patrimônio nacional. Ele tinha uma multidão de imitadores – profetas, sacerdotes e mestres, especializados na arte de massagear a mente das pessoas.
Para Pasur “tudo irá acabar muito bem. Deus está trabalhando seus propósitos em nós. Somos o povo de Deus e ele irá abençoar todas as pessoas da terra por nosso intermédio”. Mas, esse profeta, fechava os olhos para alguns crimes ocasionais, coisas escandalosas, um crescente abismo entre pobre e rico e, muitos rituais eram ainda praticados (Jr 17.2). O que o movimento de reforma havia conseguido era manter o comportamento escandaloso fora das vistas e tornar a igreja popular novamente.

3)   Egos exaltados.

Deus primeiro fala ao profeta: Dispõe-te, e desce à casa do oleiro, e lá ouvirás as minhas palavras. Desci à casa do oleiro, e eis que ele estava entregue à sua obra sobre as rodas. Como o vaso que o oleiro fazia de barro se lhe estragou na mão, tornou a fazer dele outro vaso, segundo bem lhe pareceu. Então, veio a mim a palavra do SENHOR: Não poderei eu fazer de vós como fez este oleiro, ó casa de Israel? -diz o SENHOR; eis que, como o barro na mão do oleiro, assim sois vós na minha mão, ó casa de Israel. (18:2-6).

Mais adiante, depois que Jeremias voltou e falou ao povo e às autoridades religiosas tudo quanto da parte de Deus tinha ouvido a partir dessa situação metafórica, simbólica, que se manifestara diante dele lá na casa do oleiro, o texto diz o seguinte: Então, disseram: Vinde, e forjemos projetos contra Jeremias; porquanto não há de faltar a lei ao sacerdote, nem o conselho ao sábio, nem a palavra ao profeta; vinde, firamo-lo com a língua e não atendamos a nenhuma das suas palavras. (18:18)

Jeremias ouve isso e diz: Olha para mim, SENHOR, e ouve a voz dos que contendem comigo. (18:19). Por causa daquela postura fixa e homicida deles, vem agora esta outra palavra do Senhor: Assim diz o SENHOR a Jeremias: ”Vai, compra uma botija de oleiro!" (19:1)
  

Lembrem-se de que no primeiro caso ele vai à casa do oleiro, chega à casa do oleiro e o oleiro está trabalhando. O barro está molhado. O oleiro estava trabalhando no movimento e na dinâmica do ato de fazer um vaso; portanto, essa é uma relação viva entre o oleiro, o barro e a possibilidade de o vaso aparecer. Já nesse segundo caso, não há barro molhado, não há nada em processo, não há nenhuma matéria-prima sendo moldada na mão de Deus. Não há nenhuma matéria molhada o suficiente para aceitar os vergamentos, as flexibilizações, os moldamentos, os surgimentos do novo.

Vai agora e compra!” Já não é mais “Vai e vê!”

Já não é mais “Vai e olha como o estragado pode ser curado! Vai e vê como aquilo que por um acidente se desmantelou pode ser refeito! Vai e visita a casa de todas as possibilidades e de todas as esperanças", porque os corações dos que ouviram disseram: "Nós não queremos mudança nem que venha das mãos de Deus, e contra quem quer que fale da parte de Deus acerca disso nós tramaremos e forjaremos planos contra ele, porque agora nós é que nos tornamos senhores da lei de Deus, dos negócios de Deus, das coisas de Deus, dos mandamentos de Deus, dos ritos de Deus; ou seja, nós nos tornamos religiosos e gerentes da religião! E esse cara vem aqui, querendo introduzir, a cada dia, a possibilidade de uma mudança, de um vaso novo! Não! Nós não queremos!" O melhor barro, já que barro é barro, é barro molhado! Não existe pior barro do que barro seco! Barro botija! Barro acabado!

“Vai, portanto, e compra uma botija de oleiro, e leva contigo alguns dos anciãos do povo e dos anciãos dos sacerdotes. Sai ao vale do filho de Hinom, que está à entrada da Porta do Oleiro...” (Jr 19:1-2). Porque era um vale onde muitos reis de Israel tinham imolado seus filhos e os oferecido em sacrifício a Astarote, a Moloque, a Baal, aos deuses do imediato. E se tornara um lugar marcado por este estigma da morte. 


E aí Jeremias recebe a instrução para não ficar na Porta do Oleiro como antes, mas ir para o lado de fora, para esse vale, que, mais tarde, no Novo Testamento, passou a dar apelido simbólico àquilo que nos dias de Jesus se chamava de Inferno! Vale de Hinom, que era o lugar onde se queimava o lixo da cidade depois de um tempo. Ele ficou tão maldito que virou “lixão”! Geinom = Vale de Hinom, de onde acabou vindo a perversão, com o ganho de uma conotação à palavra que se tornou geinom, geena, inferno, na tradução. Porque era um lugar da queimação do lixo, onde o fogo não cessava, e cresceu no imaginário do povo como o lugar do inferno, geena.

No Capítulo 19, versos 10 e 11, lemos: Então, quebrarás a botija à vista dos homens que foram contigo e lhes dirás: Assim diz o SENHOR dos Exércitos: Deste modo quebrarei eu este povo e esta cidade, como se quebra o vaso do oleiro, que não pode mais refazer-se, e os enterrarão em Tofete, porque não haverá outro lugar para os enterrar.

            Dois caminhos:  Isso significa arrependimento, metanóia, mudança de mente. Significa ter, conforme Paulo diz em Romanos 12, “a mente suscetível a uma renovação contínua e constante, uma não-fixidez da mente em nenhum padrão”.

Ou sobra-nos a alternativa da falsa segurança. Da botija que diz: “Eu nasci assim, vou morrer assim, sempre ‘botijela’”. Sem transformação! 
“Meu negócio é salão de exposição! Eu quero ser vaso, mas não nas mãos do Oleiro. Eu quero ser vaso no ateliê da religião, colocado como vaso na vitrine da moral. Quero ser como vaso das aparências. Quero ser como aqueles para quem todos olham e dizem: ‘Este controla a sua própria vida’. Eu quero ser aquele ser invejável pela minha capacidade de autodeterminação e de fixação de meus próprios ideais”.
  
Conclusão:

Pasur prendeu Jeremias num tronco ao lado do norte do templo. Jeremias foi humilhado, mas não intimidado. O profeta Jeremias dirigiu palavras agudas  a Pasur como nunca antes: “O Senhor já não te chama Pasur e sim, Magor-missabibe, ou seja, Terror-Por-Todos-Os-Lados. O julgamento está próximo pela pecado intencional que campeia e tudo o que você faz é aspergir água santa sobre ele. A Babilonia invadirá este lugar, saqueará tudo e levara o povo cativo. Quando isso acontecer, Pasur, o seu nome será lembrado como Terror-Por-Todos-Os-Lados. A falsidade de sua pregação será exibida e por esta causas o julgamento é inevitável”. 

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