terça-feira, 20 de outubro de 2015

A machadinha de Jeremias. Jr 36



Introdução: “Se o livro que estamos lendo não nos despertar, como se uma martelo golpeasse o nosso crânio, então por que razão nós devemos Lê-lo? Um livro deve ser como uma machadinha para romper a espessa camada de gelo em nosso interior”.  Franz Kafka

1)    A machadinha de Deuteronômio.
O livro que Jeremias debruçou foi o livro de Deuteronômio. Descoberto durante os trabalhos de reparo do templo, este livro foi o manual que Josias, rei de Judá, seguiu para empreender a sua reforma. Jeremias cresceu com este livro, como Charles Spurgeon meditou mais de duzentas vezes no livro O Peregrino, meditou sobre suas palavras. Tres elementos desempenharam papel de destaque em sua leitura.

Primeiro, ao ler Deuteronômio, Jeremias adquiriu uma memória, pois este livro recapitula, na totalidade, qual o significado de pertencer ao povo de Deus. Escrito na forma de um discurso proferido por Moisés na fronteira entre o deserto e a Terra Prometida, ele revive a experiência de ser retirado do Egito, preservado no deserto e receber a promessa de uma vida plena de bênçãos.

Segundo, Jeremias adquiriu também uma base teológica. Ele aprendeu a pensar em Deus de uma forma relacional, abrangente e regular. O livro de Deuteronômio apresenta Deus em um relacionamento de amor leal e comprometido com Seu povo.

Terceiro, Jeremias tornou-se responsável em função da enorme quantidade de mandamentos presentes. O mandamento é uma palavra que nos convida a viver além do que compreendemos, sentimos ou desejamos. O mandamento eleva as pessoas da animalidade para a humanidade. A primeira palavra que Deus dirigiu a Adão foi um mandamento (Gn 1.28).

2)    A machadinha de Jeremias.
Assim como o livro de Deuteronômio recapitula a mensagem pregada por Moisés a um povo que perdeu o contato com o antigo líder, Jeremias recapitula a mensagem de Deuteronômio para um povo que estava à deriva, distante do porto original.  O rei Josias, já não estava mais presente, fora morto na batalha do Megido. O trono agora era ocupado por seu filho, Jeoaquim, que não demonstrava sinais de ter ouvido falar do livro que orientou a vida do pai. A corrupção e a falta de direção estavam de volta.

“No momento, quando é, remotamente, possível que toda uma geração tenha aprendido algo sobre a teoria e a prática, os estudiosos e seu saber foram levados pela morte, e a Igreja é confrontada com a necessidade de começar da estaca zero, novamente. Todo o esforço e trabalho de regeneração da humanidade tem de ser reiniciado a cada trinta anos ou pouco mais. Neste caso, o período foi de 17 anos”. Jeremias foi instruído (Jr 36,2-3). 



“Toma um rolo, um livro...”. A palavra está para ser escrita em um material comum, ou seja, um pergaminho ou papiro. Então, o processo é delineado: escrever desenvolve-se em escutar, que por sua vez transforma-se em mudar e, depois, em perdoar, como última etapa deste processo.

O sermão que nos levou ao arrependimento dez anos atrás, foi esquecido pela pressão dos negócios. A oração que nos encheu de renovada esperança durante um período de crise, encontra-se enterrada em uma montanha de falhas e desapontamentos.

3)    Um mundo em crise. 

Os exércitos babilônicos estavam chegando em Jerusalém, chegavam noticias que eles haviam reduzido a cidade costeira de Asquelom a ruínas. O rei estava apreensivo, o povo temia por suas vidas. Portanto, um dia de jejum foi convocado em conseqüência da crise, a cidade estava ansiosa e pessoas oravam (Jr 36.6).  O momento era perfeito. A crise havia levado as pessoas a dobrar os joelhos diante de Deus.

Jeremias fora proibido de falar em público pelo rei Jeoaquim. Mas sua mensagem estava escrita, de modo que podia ser expressa por outra pessoa. Assim, Baruque levou o rolo ao templo e o leu em voz alta diante do povo ali reunido (Jr 36.4-10). Um jovem, chamado Micaías, ouviu as palavras que Baruque lia do rolo ditado por Jeremias e tornou-se um verdadeiro ouvinte. Correu para junto do seu pai e contou-lhe todo o que havia escutado. Seu pai, com outros membros do governo, mandou chamar Baruque para que lesse o rolo diante deles, o que aconteceu pouco depois. Assim como o filho, o pai ficou impressionado; os demais ouvintes, também foram atingidos  por aquelas palavras (Jr 36.16). Portanto, eles ouviram a verdade e sentiram-se confrontados por ela. todos eram homens responsáveis e sabiam que suas vidas, bem como a vida da nação, haviam sido advertidas por esta Palavra de Deus.

Esses homens tinham consciência de que o rei precisava ser informado do ocorrido. No entanto, sabiam que no momento em que o rei ouvisse tais palavras, Jeremias e Baruque poderiam ser considerar mortos. Assim, aqueles oficiais recomendaram que os dois permanecessem em local seguro e ignorado. O rei já tinha mandado matar um profeta, Urias, que ousou enfrentá-lo (Jr 26.20-33). Com certeza, não hesitaria em matar mais um.

4)    O rolo é lançado ao fogo. 

Agora, era a hora do rei ouvir a leitura do rolo. Jeoaquim estava em sua casa de inverno, especialmente construída  para este período (era o mês de dezembro), e havia uma lareira acesa no aposento em que o rei estava, para manter o ambiente aquecido. Ele enviou um servo, Jeudi, para apanhar o rolo e Lê-lo diante dele. O rei tinha um canivete em sua mão. Quando o servo terminou de ler a terceira ou quarta folha do livro, o rei, com desdém e ar de sarcasmo, cortou o rolo com canivete, lançando-o, a seguir na lareira acesa. O rolo foi lido e destruído, coluna por coluna foi reduzida a tiras e queimada no fogo.

Conclusão: Diferenças entre Josias (pai) e Jeoaquim ( filho).

Dezessete anos antes, o pai de Jeoaquim, Josias, recebeu das mãos do escrivão Safã um rolo e ordenou que o lessem em voz alta para ele. Sua reação foi penitencial – “ele rasgou suas vestes”. Josias reconheceu aquele rolo como a Palavra do Deus verdadeiro e compreendeu a vida de pecado que todo o povo incluisive ele, na ignorância, estava vivendo. Hulda, uma profetisa, descreveu a reação de Deus ao arrependimento de Josias ( 2 Rs 22.19).

Agora, uma geração depois, a mesma cena se repete. Jeoaquim, o filho de Josias, é apresentado ao rolo pelo filho de Safã, Gemarias. A reação de Jeoaquim também foi imediata, porém o que havia em seu interior era escárnio e desprezo por aquela palavra. Ao invés de rasgar as suas vestes em sinal de arrependimento, como seu pai fizera, ele rasgou o livro, ridicularizando-o. Há uma palavra profética que termina esta narrativa, mas ao contrário das palavras de aprovação expressas por Hulda, é uma profecia sobre a condenação de Jeoaquim (Jr 36.29-30).


A palavra chave para a aprovação de Josias foi “ouviste o que falei”; a palavra chave para a condenação de Jeoaquim e sua descendência foi “não ouviram” (Jr 36.31).


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