terça-feira, 13 de outubro de 2015

A espiritualidade de Jeremias. Jr 15.10-21


Introdução: Sem dúvida alguma, as pessoas famosas suscitam a nossa curiosidade. Como serão elas interiormente? O que será que elas fazem quando não estão sendo observadas? O que acontece em suas vidas privadas? Com frequência, essa curiosidade tem origem em nosso desejo mesquinho de reduzir as pessoas ao nosso nível, de modo a não ficarmos embaraçados diante de nossa própria pequenez. “Se tenho que me resignar a ser um pequeno morro, espero viver num lugar totalmente plano”.

Como Jeremias era na realidade de seu intimo? O que ele fazia quando estava sozinho? Como era seu comportamento quando ninguém estava olhando? O que ele fazia quando não havia ouvintes para escutá-lo? Como ele utilizava seu tempo quando não estava envolvido em alguma confrontação com os líderes religiosos de Jerusalém? O que fazia quando não estava profetizando ao povo, confrontando os oficiais do Templo ou desafiando os religiosos?

1)    Um profeta de oração.
Resposta: ele orava. Há sete passagens no livro de Jeremias que são denominadas “confessionais” (Jr 8.18; 9.3; 11.18-23; 12.1-6; Jr 15.10-12, 15-21; 17.14-18; Jr 18.18-23; Jr 20.7-18). Em cada uma delas, o profeta fala na primeira pessoa, abrindo o seu coração. Ele revela o que está acontecendo no seu intimo enquanto os fogos de artifícios são disparados exteriormente.

Quando Jeremias encontrava-se distante dos olhos do povo, ele estava em profunda comunhão com Deus, em oração. A oração é o meio pela qual nos aproximamos de Deus, como um ser pessoal, como alguém com quem se pode conversar, não como um objeto sobre o qual falamos a respeito. “Creio que falar com Deus é sempre melhor do que falar sobre Deus; aquelas conversas piedosas. Há sempre um ar de auto-aprovação”. Orar, portanto, é dar atenção para Aquele que nos escuta e assiste. É a decisão de nos aproximarmos de Deus como pessoa central, como nosso Senhor e Salvador (Mt 6.5-6).

1.1)         A intimidade da oração.
A oração nunca ocorre na mais completa e absoluta solidão, mas na intimidade, cuidadosamente protegida e habilmente mantida. A oração é o desejo de ouvir a Deus, de falar com Ele, em primeira mão, e então, estabelecer um tempo reservado e fazer os arranjos para realizá-lo.  Quando nos aprofundamos neste texto, vemos um Jeremias assustado, solitário, ferido e irado (Jr 15.15). Uma outra tradução traz mais luz a este texto: “Por sua paciência estou sendo destruído! Considere! Por tua causa estou sofrendo abusos”.

Há um tom de desespero nesta frase. Os moinhos da ação divina giram morosamente, enquanto os motores da perseguição operam de forma frenética. Nosso tempo compulsivo colide frontalmente com o tempo da providencia divina.

1.2)         Solidão.
A seguir, Jeremias expressa a solidão que sentia: “Achadas as tuas palavras, logo as comi; as tuas palavras me foram gozo e alegria para o coração, pois pelo teu nome sou chamado, ó Senhor, Deus dos Exércitos. Nunca me assentei na roda dos que se alegram, nem me regozijei; oprimido por tua mão, eu me assentei solitário, pois já estou de posse das tuas ameaças” ( Jr 15.16,17). Primeiro, Jeremias recebeu a Palavra de Deus com desmedido entusiasmo. Deve ser uma referencia à descoberta no Templo do rolo contendo o livro de Deuteronômio, o qual Jeremias acolheu.

Segundo, era um trabalho encantador, porém solitário. Isso significa anos de solidão. A maioria das pessoas seguia o seu próprio caminho, enquanto Jeremias seguia sua solitária jornada de reflexão, de descoberta do significado da Palavra de Deus, de pregação da verdade viva.  UMA VEZ, TENDO PROVADO O GOSTO SUPREMO DA PALAVRA DE DEUS, ELE NÃO PODIA RETORNAR À INSÍPIDA DIETA DE FOFOCAS E BOATOS. ERA UMA JORNADA SEM VOLTA E SOLITÁRIA.


1.3)         Sofrimento.
Jeremias prossegue em oração, expressando todo o seu sofrimento: “Porque dura a minha dor continuamente, e a minha ferida me dói e não admite cura? (Jr 15.18).  As blasfêmias o feriam; as rebeliões provocavam-lhe hematomas. Em vão, o profeta procurava por sinais de sincera conversão.


1.4)         Ira.
A oração ganha intensidade. Agora, deixando o seu sofrimento, Jeremias, em um impulso, expressa toda a sua ira: “Seria tu para mim como ilusório ribeiro, como águas que enganam”(Jr 15.18 b). Ele chama Deus para O censurar. Como Jeremias já havia pregado que Deus era “o manancial de águas vivas” (Jr 2.13). Agora, o profeta O acusa de ser “um ribeiro ilusório, como um desses pequenos cursos d´água que, à distancia, parecem existir no deserto, mas quando se chega mais próximo de suas mensagens, descobre-se que o leito está seco.  O que Jeremias está dizendo é: “Deus, você me enganou. Voce não cumpriu as suas promessas”.


Até mesmo uma ousada acusação surgiu mais tarde, quando sua ira intensificou-se: “Persuadiste-me, ó Senhor, e persuadido fiquei; mais forte foste do que eu e prevaleceste” (Jr 20.7). Ou, em outras palavras: “Primeiro você me seduziu, depois me violentou. Voce me atraiu com palavras sedutoras, então me tomou à força e submeteu-me às suas vontades”.  Assim, era Jeremias em oração: assustado, solitário, ferido, irado.

2)    Quando Jeremias se cala, Deus fala. 

Jeremias para de falar, mas a oração prossegue, porque ela não termina quando cessamos nossa fala (Jr 15.19). Arrependimento/retorno.  Deus responde: “Eu compreendo toda a sua dor, solidão, sofrimento e ira, mas não serei indulgente com você com base nisso. Não se agarre em demasia a tais coisas. Abandone-as e arrependa-se. Se você parar com tal conversa, então Eu te restaurarei, o farei voltar ao oficio profético”.  Deus sente as nossas dores, mas Ele não é indulgente com a nossa autopiedade. Deus foi tão severo com Jeremias como este o era com o povo: “Arrependa-se. Desvie-se deste tipo de sentimentos, pois são destrutivos. Então, Eu o restaurarei, o colocarei em pé, pronto a servir novamente, em minha presença”.

A resposta de Deus prossegue: “Se apartares o precioso do vil, serás a minha boca; e eles se tornarão a ti, mas tu não passarás para o lado deles” (Jr 15.19).  Ou seja, deixa que o povo mude para o seu lado, não passe para o lado deles.  Jeremias estava preocupado com o que as pessoas estavam dizendo a seu respeito. Ele não deveria se importar com estas coisas, mas sim com Deus.  Pergunta: QUEM ESTÁ EM PRIMEIRO LUGAR AQUI? Deus ou o povo? Se Deus é quem tem a primazia, as queixas expressam apenas o que está envolvido em um trabalho difícil.

Jeremias continua a escutar e ouve estas palavras (Jr 15.20-21). Jeremias já havia ouvido estas palavras antes, em sua juventude (Jr 1.18-19). Tudo o que Deus disse Ele continuava afirmando. Não basta apenas lembrar, precisamos OUVIR novamente. A oração é o ato  no qual ouvimos de novo.  Tres verbos, de alguma forma sinônimos, concluem esta promessa: salvar, livrar e arrebatar.

Conclusão: A maratona da cidade de Boston costuma atrair os melhores maratonistas do planeta. Na primavera de 1980, Rosie Ruiz foi a primeira mulher a cruzar a linha de chegada. Ela recebeu a coroa de louros em meio a centenas de aplausos e cumprimentos. De repente, alguém reparou em suas pernas – a pele flácida e a presença de celulite. Ninguém a havia visto ao longo de todo o percurso de 42 Km. Então, a verdade apareceu: ela juntou-se aos competidores somente nos últimos 1.600 metros da prova! Assim também, tem muita gente na igreja que deseja cruzar a linha de chegada, porém sem participar de toda a prova. 




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