A absoluta importância
do motivo
O que Deus leva em conta, em cada conduta nossa, é a
motivação pela qual realizamos algo. O que fazemos é menos importante do que o
motivo pelo qual fazemos. Por esta razão, qualquer coisa que realizamos, por
melhor que seja seu resultado, se for praticada por motivos torpes, então não
terá validade alguma para o Reino de Deus. Toda ação realizada por ira,
despeito, inveja, cobiça ou interesse por reconhecimento (que é vaidade), é
completamente contrária ao Senhor.
Nesta relação de motivos egocêntricos, os fariseus nos
deixaram exemplos claros. Eles continuam sendo o mais triste exemplo de
fracasso no relacionamento com Deus, mas não por causa de erros doutrinários,
nem porque eram pessoas de vida abertamente pecaminosa. Todo o problema deles
estava na qualidade dos seus motivos: Oravam, mas para serem ouvidos pelos
homens, e, deste modo, suas motivações arruinavam as suas orações e as tornavam
inúteis; contribuíam para o serviço do templo, porém, muitas vezes o faziam
para escapar do seu dever para com os seus pais, e não para estar, de fato,
cuidando das coisas de Deus; condenavam o pecado e se levantavam contra ele
quando o viam nos outros, mas agiam assim motivados por sua justiça própria e
por sua dureza de coração. Isso caracterizava tudo o que faziam. Suas ações
eram sempre cercadas por aparências de santidade; e essas mesmas atividades, se
fossem realizadas simplesmente para agradar o coração do Pai, seriam realmente
boas e louváveis. Todavia, a fraqueza dos fariseus estava no fato deles
buscarem a aplauso e o respeito humano, ou seja, ansiavam agradar a seu próprio
ego mais do que satisfazer o coração de Deus.
Isso não é insignificante, antes é algo sério e precisa
ser bem discernido e tratado. Afinal, o egocentrismo é o estilo de vida típico
daqueles religiosos formais e ortodoxos que continuaram em sua cegueira até
finalmente crucificarem o Senhor da glória, sem qualquer noção da gravidade do
seu crime. Isso significa que motivações carnais não nos permitirão alcançar a
revelação do Senhor, nos impedirão de vê-Lo como quem Ele realmente é. Jesus
estava no meio dos fariseus, e apesar disto eles não O puderam reconhecer,
porque estavam voltados somente para seus interesses pessoais, indiferentes aos
reais interesses do Senhor.
Atos
religiosos praticados por motivos vis são duplamente maus – maus em si mesmos e
maus por serem praticados em nome do Senhor. Isto equivale a pecar em nome
dAquele Ser que é impecável, a mentir em nome dAquele que não pode mentir e a
odiar em nome dAquele cuja natureza é amor.
Por tudo isso, é extremamente necessário que os crentes,
especialmente os mais ativos, freqüentemente separem um tempo para sondar a sua
alma, a fim de certificarem-se dos seus motivos.
Muitos louvores são cantados para exibição; muitos
sermões são pregados para mostrar talento; muitas igrejas são fundadas como um
insulto contra outra igreja. Mesmo a atividade missionária pode tornar-se
competitiva, e a conquista de almas pode degenerar, tornando-se uma espécie de
marketing eclesiástico para satisfazer a carne. Não nos esqueçamos que os
fariseus eram grandes missionários e rodavam o mar e a terra para fazer um
converso.
Um bom modo de evitar a armadilha da atividade religiosa
vazia é comparecer diante de Deus com a Bíblia aberta em I Coríntios 13. Esta
passagem, embora seja considerada uma das mais belas da Bíblia, é também uma
das mais severas dentre as que se acham nas Escrituras Sagradas. O apóstolo
toma o serviço religioso mais elevado e o rebaixa à futilidade, se não for
motivado pelo amor. Sem amor, os profetas, mestres, oradores, filantropos e
mártires são despedidos sem recompensas.
Enfim, podemos dizer que, aos olhos de Deus, somos
julgados não tanto pelo que fazemos e sim por nosso motivos para fazê-lo. Não
“o quê” mas “por quê” será a pergunta importante que ouviremos, quando nós, os
santos, comparecermos ao tribunal de Cristo, a fim de prestarmos contas dos
atos praticados enquanto estivemos no Corpo.
Então, que desde já possamos ser achados como homens e
mulheres que sempre perguntam: “Pai, qual minha efetiva motivação para agir
desta maneira? Por que quero realizar tal procedimento em Sua casa? O que
anseio receber em troca de tal ação?”. Que o Espírito Santo venha nos revelar
nossos próprios corações.
A. W. Tozer
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