terça-feira, 21 de abril de 2015

A conversão mais importante da história – Atos 9:1-9



Introdução.  Poema: “O cão de caça do Céu” – Francis Thompson.

“Dele fugi, noites e dias adentro; 
Dele fugi, pelos arcos dos anos;
Dele fugi, pelos caminhos dos labirintos
De minha própria mente; e no meio de lágrimas
Dele me ocultei, e sob riso incessante.
Por sobre esperanças panorâmicas corri;
E lancei-me, precipitado,  Para baixo de titânicas trevas e temores abissais,
Para longe daqueles fortes Pés que seguiam, seguiam após mim.
Mas com desapressada perseguição, E com inabalável ritmo,
Deliberada velocidade, majestade urgência,
Eles marcavam os passos – e uma Voz insistia
Mais urgente que os Pés: Todas as coisas traem a ti, que traíste a Mim”.

1)    Paulo, o perseguidor (Atos 9.1,2). 



Paulo, uma fera  selvagem. Paulo fora um perseguidor implacável. Estava determinado a banir da terra o cristianismo. Não aceitava que um  nazareno, crucificado como um criminoso, pudesse ser o Messias prometido por Deus. Paulo mesmo dá esse testemunho perante o rei Agripa (Atos 26.11); Paulo estava por trás do apedrejamento de Estevão (Atos 22.20).

A igreja de Jerusalém foi duramente perseguida (Atos 8.3), e muitos cristãos fugiram, pregando o evangelho (Atos 8.4). Alguns deles, foram para Damasco, onde havia muitas sinagogas. Paulo, ainda respirando ameaças e morte contra os  discípulos do Senhor, dispõe a ir a Damasco para trazer/prender e arrastar para Jerusalém aqueles que confessavam o nome de Jesus. Entre Jerusalém e Damasco havia por volta de 230 Km. A viagem levava quase uma semana. A expressão “...respirando ameaças e morte” (Atos 9.1) faz alusão ao arfar e ao bufar dos animais selvagens. Paulo parecia mais um animal selvagem do que um homem.

Paulo, um caçador implacável (Atos 9.2). Seu ódio, na verdade, não  era propriamente contra os cristãos, mas contra Cristo. Paulo testemunha ao rei Agripa (Atos 26.9). Escrevendo a seu filho Timóteo, Paulo confessa: a mim, que, noutro tempo, era blasfemo, e perseguidor, e insolente... (1 Tm 1.13). Seu coração estava cheio de ódio e sua mente estava envenenada por preconceitos. Em suas próprias palavras, ele estava demasiadamente enfurecido (Atos 26.11).

Ao perseguir a igreja, Paulo estava perseguindo o proprio Cristo. Por isso, ao aparecer a ele no caminho para Damasco, Jesus pergunta: ...Saulo, Saulo, por que me persegues? (Atos 9.4). Ele, então, retruca: Quem és tu, Senhor? E obtém a resposta: Eu sou Jesus, o Nazareno a quem tu persegues (Atos 9.5; Atos 9.21).

Paulo, um malfeitor impiedoso. O zelo sem entendimento pode levar um homem a fazer loucuras. Paulo atacou furiosamente os cristãos. Ananias disse ao Senhor acerca dele (Atos 9.13,14). O proprio Paulo testemunhou ao Sinédrio sua truculência contra os cristãos: Senhor... eu encerrava em prisão, e nas sinagogas, açoitava os que criam em ti (Atos 22.19).  Escrevendo aos Galátas, Paulo relata seu procedimento no judaísmo (Gl 1.13).

Paulo, um torturador desumano. O ódio de Paulo contra Cristo era tão impetuoso que ele não se satisfazia apenas em manietar e encerrar em prisões aqueles que confessavam o nome de Cristo, mas ele também os castigava por todas as sinagogas, obrigando-os a blasfemar (Atos 26.11). A única maneira de forçar uma pessoa a blasfemar seria por meio de tortura.

Paulo, um assassino truculento. Paulo perseguia, açoitava, prendia, obrigava as pessoas a blasfemar, e dava seu voto pra matar os cristãos. Ele consentiu na morte de Estevão (Atos 8.1) e testemunhou diante do rei Agripa (Atos 26.9,10).

2)    Paulo, resistindo a Jesus.

A conversão de Paulo não se deu repentinamente. Foi um longo processo, conforme Atos 26.14: “Todos caímos por terra. Então ouvi uma voz que me dizia em aramaico: Saulo, Saulo, por que você está me perseguindo? Resistir ao aguilhão só lhe trará dor!”. A palavra grega Kentron poderia ser traduzida como “espora”, “chicote” ou “aguilhão”. Veja Provérbios 26:3: “o chicote é para o cavalo, o freio para o jumento, e a vara,  para as costas do tolo”.

Ao falar com Saulo, Jesus estava se comparando a um fazendeiro incitando um boi recalcitrante ou a um treinador de cavalos domando um potro selvagem. Jesus estava perseguindo, cutucando e espetando Saulo. Mas ele  estava resistindo a pressão, e era difícil, doloroso e até mesmo fútil para ele resistir aos aguilhões. Quais, eram, portanto, os aguilhões com os quais Jesus Cristo estava cutucando Saulo de Tarso?

Jesus estava cutucando Saulo em sua mente. Saulo fora educado em Jerusalém aos pés de Gamaliel, provavelmente o professor judeu mais celebrado de todo o primeiro século da era cristã. Portanto, Saulo tinha um conhecimento vasto da lei de Deus. Ele acreditava, pelo que aprendera, que Jesus era um impostor. Pois a lei dizia que “qualquer que for pendurado num madeiro está debaixo da maldição de Deus” (Dt 21.23). Desse modo, Saulo via como parte de sua tarefa opor-se a Jesus de Nazaré e perseguir seus seguidores. Essa era a sua convicção. No entanto, tinha algumas dúvidas por causa dos rumores que circulavam acerca de Jesus: a humildade e a mansidão  do seu caráter,seus feitos poderosos de cura e algumas pessoas diziam que Jesus tinha ressuscitado.

Jesus estava cutucando em sua memória.  Saulo estivera presente no julgamento, diante do Sinédrio, de um líder cristão chamado Estevão, a quem Lucas descreveu como “homem cheio de fé e do Espírito Santo” (Atos 6.5). Saulo vira com os próprios olhos a face de Estevão brilhando como a face de um anjo (Atos 6.15). Ele ouvira com os próprios ouvidos a defesa de Estevão, ao final da qual ele afirmara ver a glória de Deus e “o Filho do homem em pé, à direita de Deus” (Atos 7.55,56). Arrastaram Estevão para fora da cidade e o apedrejaram até a morte, colocaram suas vestes aos pés de Saulo. Lucas continua sua descrição: “Enquanto apedrejavam Estevão, este orava: “Senhor Jesus, recebe o meu espírito. Então caiu de joelhos e bradou: Senhor,não os considere culpados deste pecado. E, tendo disto isso adormeceu (Atos 7.59-60).
Saulo deve ter dito para si mesmo: “Há algo inexplicável a respeito desses cristãos. Eles estão convencidos de que Jesus de Nazaré é o Messias e tem a coragem de suas convicções; estão preparados para morrer por elas. Além disso, recusam-se a retaliar seus inimigos; ao contrário, oram por eles”.

Jesus estava cutucando Saulo em sua consciência. Saulo era um homem extremamente piedoso, como  todos os fariseus eram. Vivia uma vida irrepreensível e tinha uma  reputação sem mancha. Assim como escreveu em suas cartas, no que diz respeito à justiça da Lei, ele era irrepreensível (Fl 3.6). Interiormente, no entanto, em sua consciência, ele sabia que era pecador (Rm 7.7-9). Ele poderia ter dito como C.S. Lewis escreveu anos mais tarde: “Pela primeira vez examinei a mim mesmo com um propósito seriamente prático. E ali encontrei o que me assustou: um bestiário de  luxúrias, um hospício de ambições, um canteiro de medos, um harém de ódios mimados. Meu nome era legião”.

Jesus estava cutucando em seu espírito. Saulo havia servir a Deus na juventude com uma consciência limpa, e ainda assim sabia que estava separado do Deus em quem cria. Ele acreditava nele, mas não o conhecia. Estava  longe de Deus, conforme ele afirma: “...morto em suas transgressões, estranho ao Deus doador da vida (Ef. 2.1)”.
3)    Paulo, convertido.

Paulo viu uma luz (Atos 22.6,11).  Subitamente uma grande luz do céu brilhou ao seu redor, tão forte que lhe abriu os olhos da alma e lhe tirou a visão física. Os olhos espirituais de Paulo foram abertos, mas seus olhos físicos foram fechados.

Paulo caiu por terra (Atos 22.7). o touro furioso, selvagem e indomável estava subjulgado. Aquele que prendia, estava preso. Aquele que encerrava em prisão, estava dominado. O Senhor Jesus quebrou todas as resistências.

Paulo ouviu uma voz (Atos 22.7). “...Saulo, Saulo, por que me persegues? Dura coisa te é recalcitrares contra os aguilhões (Atos 26.14). A voz do Senhor é poderosa. Ela despede chama de fogo. Faz tremer o deserto. Paulo, então, pergunta: “quem és tu, Senhor? Ao que respondeu: Eu sou Jesus, o Nazareno, a quem tu persegues (Atos 22.8).

Conclusão: Paulo reconhece que Jesus é o Senhor (Atos 22.8). Paulo reconhece que é pecador (Atos 22.8).Paulo reconhece que precisa ser guiado pelo Senhor. A  autossuficiênciade Paulo acaba no caminho de Damasco. Ele agora pergunta: “Que farei, Senhor?”. 



Um comentário:

  1. Ao ler o poema de abertura lembrei-me de "Por que Sou Cristão" de John Stott, ele abre seu livro com tal escrito. Por sinal, retrata ipsis litteris a conversão de Paulo. Pra mim Paulo ao lado (pari passu) de AGOSTINHO me humilham! Sinto-me humilhado diante da sabedoria e temor desses homens de Deus! Não sei porque, mas a história da conversão de um me leva ao outro e ambos a C. S. Lewis. Bom, conversão bonita é interessante é a de Lee Strobel (jornalista do Chicago Tribune e advogado) de Chicago relata em sua obra "Em Defesa da Fé Cristã."

    Ainda sobre o texto in quaestio, destaquei isso "Paulo, um malfeitor impiedoso. O zelo sem entendimento pode levar um homem a fazer loucuras" porque me lembrou dos agostiniana e abaditinos quando defendem: "Fé sem questionamento não é fé, é fundamentalismo". Contrapondo dizem os jesuítas: "Credo quia absurdum". Briga boa, neh!? De minha parte dou razão aos dois e fico Albert Stein: "O importante é sempre continuar perguntando."

    Não sei se Paulo o apóstolo teve um encontro com o Cristo ressurrecto no deserto ou se aquele momento foi o ápice dum processo regenerador do Espírito Santo nele que o fez entender a "graça maravilhosa de Deus" (segundo Brennan Manning), o que sei é que dali adiante a Graça superabundou na vida do apóstolo - expressão Paulina em Carta aos Romanos.

    "A grandeza do homem é grande por ele conhecer-se miserável; uma árvore não se conhece miserável", disse o saudoso filósofo e teólogo francês Blaise Pascal, e eh isso que Paulo, Lewis, Agostinho e outros tantos homens de fé souberam reconhecer. Que eles não eram nada, mas através da graça do Cristo ressuscitado poderiam se tornar grandes a serviço em Defesa do Evangelho imaculado de Jesus.

    Grato pelas considerações lançadas no texto sobre Paulo, o "apóstolo separado para o Evangelho de Deus" (Romanos 1)!

    Que Deus o abençoe mais, tio!

    Abraços.

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