A conversão mais importante da
história – Atos 9:1-9
Introdução. Poema: “O cão de caça do Céu” – Francis
Thompson.
“Dele fugi, noites e dias
adentro;
Dele fugi, pelos arcos dos anos;
Dele fugi, pelos caminhos dos
labirintos
De minha própria mente; e no meio de
lágrimas
Dele me ocultei, e sob riso
incessante.
Por sobre esperanças panorâmicas
corri;
E lancei-me, precipitado, Para baixo de titânicas trevas e temores
abissais,
Para longe daqueles fortes Pés que
seguiam, seguiam após mim.
Mas com desapressada perseguição, E
com inabalável ritmo,
Deliberada velocidade, majestade
urgência,
Eles marcavam os passos – e uma Voz
insistia
Mais urgente que os Pés: Todas as
coisas traem a ti, que traíste a Mim”.
1)
Paulo, o perseguidor (Atos 9.1,2).
Paulo, uma fera selvagem. Paulo fora um perseguidor implacável. Estava
determinado a banir da terra o cristianismo. Não aceitava que um nazareno, crucificado como um criminoso,
pudesse ser o Messias prometido por Deus. Paulo mesmo dá esse testemunho
perante o rei Agripa (Atos 26.11); Paulo estava por trás do apedrejamento de
Estevão (Atos 22.20).
A igreja de Jerusalém foi duramente perseguida (Atos 8.3), e
muitos cristãos fugiram, pregando o evangelho (Atos 8.4). Alguns deles, foram
para Damasco, onde havia muitas sinagogas. Paulo, ainda respirando ameaças e
morte contra os discípulos do Senhor,
dispõe a ir a Damasco para trazer/prender e arrastar para Jerusalém aqueles que
confessavam o nome de Jesus. Entre Jerusalém e Damasco havia por volta de 230
Km. A viagem levava quase uma semana. A expressão “...respirando ameaças e morte” (Atos 9.1) faz alusão ao arfar e ao
bufar dos animais selvagens. Paulo parecia mais um animal selvagem do que um
homem.
Paulo, um caçador
implacável (Atos 9.2). Seu ódio, na verdade, não era
propriamente contra os cristãos, mas contra Cristo. Paulo testemunha ao rei
Agripa (Atos 26.9). Escrevendo a seu filho Timóteo, Paulo confessa: a mim, que, noutro tempo, era blasfemo, e
perseguidor, e insolente... (1 Tm 1.13). Seu coração estava cheio de ódio e
sua mente estava envenenada por preconceitos. Em suas próprias palavras, ele estava demasiadamente enfurecido
(Atos 26.11).
Ao perseguir a igreja, Paulo estava perseguindo o proprio
Cristo. Por isso, ao aparecer a ele no caminho para Damasco, Jesus pergunta:
...Saulo, Saulo, por que me persegues? (Atos 9.4). Ele, então, retruca: Quem és
tu, Senhor? E obtém a resposta: Eu sou Jesus, o Nazareno a quem tu persegues
(Atos 9.5; Atos 9.21).
Paulo, um malfeitor
impiedoso. O zelo sem
entendimento pode levar um homem a fazer loucuras. Paulo atacou furiosamente os
cristãos. Ananias disse ao Senhor acerca dele (Atos 9.13,14). O proprio Paulo
testemunhou ao Sinédrio sua truculência contra os cristãos: Senhor... eu encerrava em prisão, e nas
sinagogas, açoitava os que criam em ti (Atos 22.19). Escrevendo aos Galátas, Paulo relata seu
procedimento no judaísmo (Gl 1.13).
Paulo, um torturador
desumano. O ódio de
Paulo contra Cristo era tão impetuoso que ele não se satisfazia apenas em manietar
e encerrar em prisões aqueles que confessavam o nome de Cristo, mas ele também
os castigava por todas as sinagogas, obrigando-os a blasfemar (Atos 26.11). A
única maneira de forçar uma pessoa a blasfemar seria por meio de tortura.
Paulo, um assassino
truculento. Paulo
perseguia, açoitava, prendia, obrigava as pessoas a blasfemar, e dava seu voto
pra matar os cristãos. Ele consentiu na morte de Estevão (Atos 8.1) e
testemunhou diante do rei Agripa (Atos 26.9,10).
2) Paulo, resistindo a Jesus.
A conversão de Paulo não se deu repentinamente. Foi um longo
processo, conforme Atos 26.14: “Todos
caímos por terra. Então ouvi uma voz que me dizia em aramaico: Saulo, Saulo,
por que você está me perseguindo? Resistir ao aguilhão só lhe trará dor!”.
A palavra grega Kentron poderia ser
traduzida como “espora”, “chicote” ou “aguilhão”. Veja Provérbios 26:3: “o
chicote é para o cavalo, o freio para o jumento, e a vara, para as costas do tolo”.
Ao falar com Saulo, Jesus estava se comparando a um
fazendeiro incitando um boi recalcitrante ou a um treinador de cavalos domando
um potro selvagem. Jesus estava perseguindo, cutucando e espetando Saulo. Mas
ele estava resistindo a pressão, e era
difícil, doloroso e até mesmo fútil para ele resistir aos aguilhões. Quais,
eram, portanto, os aguilhões com os quais Jesus Cristo estava cutucando Saulo
de Tarso?
Jesus estava
cutucando Saulo em sua mente. Saulo fora educado em Jerusalém aos pés de Gamaliel,
provavelmente o professor judeu mais celebrado de todo o primeiro século da era
cristã. Portanto, Saulo tinha um conhecimento vasto da lei de Deus. Ele
acreditava, pelo que aprendera, que Jesus era um impostor. Pois a lei dizia que
“qualquer que for pendurado num madeiro está debaixo da maldição de Deus” (Dt
21.23). Desse modo, Saulo via como parte de sua tarefa opor-se a Jesus de
Nazaré e perseguir seus seguidores. Essa era a sua convicção. No entanto, tinha
algumas dúvidas por causa dos rumores que circulavam acerca de Jesus: a
humildade e a mansidão do seu
caráter,seus feitos poderosos de cura e algumas pessoas diziam que Jesus tinha
ressuscitado.
Jesus estava cutucando
em sua memória. Saulo estivera presente no
julgamento, diante do Sinédrio, de um líder cristão chamado Estevão, a quem
Lucas descreveu como “homem cheio de fé e do Espírito Santo” (Atos 6.5). Saulo
vira com os próprios olhos a face de Estevão brilhando como a face de um anjo
(Atos 6.15). Ele ouvira com os próprios ouvidos a defesa de Estevão, ao final
da qual ele afirmara ver a glória de Deus e “o Filho do homem em pé, à direita
de Deus” (Atos 7.55,56). Arrastaram Estevão para fora da cidade e o apedrejaram
até a morte, colocaram suas vestes aos pés de Saulo. Lucas continua sua descrição:
“Enquanto apedrejavam Estevão, este orava: “Senhor Jesus, recebe o meu
espírito. Então caiu de joelhos e bradou: Senhor,não os considere culpados
deste pecado. E, tendo disto isso adormeceu (Atos 7.59-60).
Saulo deve ter dito para si mesmo: “Há algo inexplicável a respeito desses cristãos. Eles estão
convencidos de que Jesus de Nazaré é o Messias e tem a coragem de suas
convicções; estão preparados para morrer por elas. Além disso, recusam-se a
retaliar seus inimigos; ao contrário, oram por eles”.
Jesus estava cutucando
Saulo em sua consciência. Saulo era um homem extremamente piedoso, como todos os fariseus eram. Vivia uma vida
irrepreensível e tinha uma reputação sem
mancha. Assim como escreveu em suas cartas, no que diz respeito à justiça da
Lei, ele era irrepreensível (Fl 3.6). Interiormente, no entanto, em sua
consciência, ele sabia que era pecador (Rm 7.7-9). Ele poderia ter dito como
C.S. Lewis escreveu anos mais tarde: “Pela primeira vez examinei a mim mesmo
com um propósito seriamente prático. E ali encontrei o que me assustou: um
bestiário de luxúrias, um hospício de
ambições, um canteiro de medos, um harém de ódios mimados. Meu nome era
legião”.
Jesus estava cutucando
em seu espírito. Saulo
havia servir a Deus na juventude com uma consciência limpa, e ainda assim sabia
que estava separado do Deus em quem cria. Ele acreditava nele, mas não o
conhecia. Estava longe de Deus, conforme
ele afirma: “...morto em suas transgressões, estranho ao Deus doador da vida
(Ef. 2.1)”.
3)
Paulo,
convertido.
Paulo viu uma luz (Atos
22.6,11). Subitamente uma grande luz do céu brilhou ao
seu redor, tão forte que lhe abriu os olhos da alma e lhe tirou a visão física.
Os olhos espirituais de Paulo foram abertos, mas seus olhos físicos foram
fechados.
Paulo caiu por terra (Atos 22.7). o touro furioso, selvagem e
indomável estava subjulgado. Aquele que prendia, estava preso. Aquele que
encerrava em prisão, estava dominado. O Senhor Jesus quebrou todas as
resistências.
Paulo ouviu uma voz (Atos 22.7). “...Saulo, Saulo, por que me
persegues? Dura coisa te é recalcitrares contra os aguilhões (Atos 26.14). A
voz do Senhor é poderosa. Ela despede chama de fogo. Faz tremer o deserto.
Paulo, então, pergunta: “quem és tu, Senhor? Ao que respondeu: Eu sou Jesus, o Nazareno,
a quem tu persegues (Atos 22.8).
Conclusão: Paulo reconhece que Jesus é o Senhor (Atos 22.8). Paulo
reconhece que é pecador (Atos 22.8).Paulo reconhece que precisa ser guiado pelo
Senhor. A autossuficiênciade Paulo acaba
no caminho de Damasco. Ele agora pergunta: “Que farei, Senhor?”.
Ao ler o poema de abertura lembrei-me de "Por que Sou Cristão" de John Stott, ele abre seu livro com tal escrito. Por sinal, retrata ipsis litteris a conversão de Paulo. Pra mim Paulo ao lado (pari passu) de AGOSTINHO me humilham! Sinto-me humilhado diante da sabedoria e temor desses homens de Deus! Não sei porque, mas a história da conversão de um me leva ao outro e ambos a C. S. Lewis. Bom, conversão bonita é interessante é a de Lee Strobel (jornalista do Chicago Tribune e advogado) de Chicago relata em sua obra "Em Defesa da Fé Cristã."
ResponderExcluirAinda sobre o texto in quaestio, destaquei isso "Paulo, um malfeitor impiedoso. O zelo sem entendimento pode levar um homem a fazer loucuras" porque me lembrou dos agostiniana e abaditinos quando defendem: "Fé sem questionamento não é fé, é fundamentalismo". Contrapondo dizem os jesuítas: "Credo quia absurdum". Briga boa, neh!? De minha parte dou razão aos dois e fico Albert Stein: "O importante é sempre continuar perguntando."
Não sei se Paulo o apóstolo teve um encontro com o Cristo ressurrecto no deserto ou se aquele momento foi o ápice dum processo regenerador do Espírito Santo nele que o fez entender a "graça maravilhosa de Deus" (segundo Brennan Manning), o que sei é que dali adiante a Graça superabundou na vida do apóstolo - expressão Paulina em Carta aos Romanos.
"A grandeza do homem é grande por ele conhecer-se miserável; uma árvore não se conhece miserável", disse o saudoso filósofo e teólogo francês Blaise Pascal, e eh isso que Paulo, Lewis, Agostinho e outros tantos homens de fé souberam reconhecer. Que eles não eram nada, mas através da graça do Cristo ressuscitado poderiam se tornar grandes a serviço em Defesa do Evangelho imaculado de Jesus.
Grato pelas considerações lançadas no texto sobre Paulo, o "apóstolo separado para o Evangelho de Deus" (Romanos 1)!
Que Deus o abençoe mais, tio!
Abraços.