terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

À espera do Pentecoste (Atos 1:6-15)



            Antes do dia de Pentecoste haveria um tempo de espera, quarenta dias entre a ressurreição e ascensão de Jesus (Atos 1.3), e mais dez entre a ascensão e o Pentecoste. As instruções de Jesus foram cristalinas, primeiro no evangelho de Lucas e, depois, no início de Atos: “Permanecei, pois, na cidade até que do alto sejais revestidos de poder” (Lc 24.49 e Atos 1.4). Durante os cinqüenta dias de espera, porém, eles não permaneceram inativos. Pelo contrário, Lucas seleciona e comenta quatro eventos importantes.

            Primeiro, eles foram comissionados (Atos 1:6-8). Segundo, eles viram Jesus ser elevado às alturas (Atos 1:9-12). Terceiro, eles perseveravam juntos em oração, provavelmente para que o Espírito viesse (Atos 1:13-14).

1)    Eles foram comissionados (Atos 1:6-8).

Lucas indica aquilo que o Senhor lhes ensinou durante os quarenta dias em que, ressurreto, “se apresentou” aos apóstolos, dando “muitas provas incontestáveis” de que estava vivo (v.3). Primeiro, Jesus lhes falou do “reino de Deus” (v.3), o qual tinha sido o centro da sua mensagem durante seu ministério público e após a sua ressurreição. Segundo, Jesus lhes ordenou que esperassem pela dádiva do batismo do Espírito, prometido por ele, por seu Pai e também por João Batista, e que iriam receber “não muito depois destes dias” (VS. 4-5 e Joel 2.28-32, Jo 14.16, Jo 15.26 e Jo 16.7).

1.1)         O reino de Deus.
“Senhor, será esse o tempo em que restaure o reino a Israel?” (Atos 1.4).  A pergunta dos discípulos deve ter deixado Jesus muito desanimado. João Calvino comenta: “os erros são tantos quantas são as palavras. O verbo, o objeto e o advérbio dessa frase, todos eles demonstram uma confusão doutrinária sobre o reino de Deus . O verbo RESTAURES mostra que eles estavam esperando um reino político e territorial; o objeto ISRAEL, que eles estavam esperando um reino nacional; e SERÁ ESTE O TEMPO, que estavam esperando uma restauração imediata. Em sua resposta (VS. 7-8), Jesus corrigiu essas noções falsas da natureza e extensão e chegada do reino.

ü O reino de Deus é espiritual quanto ao caráter. O reino de Deus não é um conceito territorial. O reino de Deus não é terreno mas espiritual. Seu trono é estabelecido no coração das pessoas, não nas embaixadas do governo. Onde um escravo do pecado é libertado e onde um súdito do reino das trevas é transportado pra o reino da luz, aí se estabelece o reino de Deus.

ü O reino de Deus é internacional quanto a seus membros. Jesus prometeu que o Espírito Santo lhes daria o poder de serem suas testemunhas. Começariam em Jerusalém, depois Judéia, depois Samaria e até os confins da terra. Os capítulos 1-7 descrevem os acontecimentos em Jerusalém; o capítulo 8 menciona os discípulos se espalham pela Judéia e Samaria (Atos 8.1) e relata a evangelização de uma cidade samaritana por meio de Felipe (8:5-24); enquanto que a conversão de Saulo, no capítulo 9, conduz a uma série de expedições missionárias, e finalmente sua viagem para Roma, relatadas no restante do livro.

ü O reino de Deus é gradual quanto à expansão. “É agora que o Senhor vai devolver o Reino de Deus ao povo de Israel”? A resposta de Jesus foi dupla. Em primeiro lugar, não vos compete conhecer tempos ou épocas que o Pai reservou para sua exclusiva autoridade (v.7). “Tempos” (chronoi) ou “épocas” (Kairoi), juntos, formam o plano de Deus. OU SEJA, NÃO VOS COMPETE CONHECER. Os mistérios pertencem a Deus e não cabe a nós espreitá-los; são as coisas reveladas que nos pertencem e devemos nos contentar com elas (Dt 29.29). Em segundo lugar, os discípulos precisavam saber que receberiam poder para que, no período entre a vinda do Espírito e a segunda vinda do Filho, pudessem ser suas testemunhas, em círculos cada vez maiores. Na verdade, todo período entre o Pentecoste e a Parousia deve ser preenchido com a missão mundial da igreja no poder do Espírito Santo.

2)    Os discípulos viram Jesus subir ao céu (Atos 1:9-12).
ü “Varões galileus, por que estais olhando para as alturas? Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu, assim virá do modo como o viste subir” (v.11). “Esse mesmo Jesus”, certamente indica que a sua vinda será pessoal, o Filho Eterno ainda em posse da natureza e do corpo humano glorificado. E “do mesmo modo como” indica que a sua vinda também será visível e gloriosa. Eles viram sua partida; eles veriam a sua volta (Lc 21.27). Mas haverá algumas diferenças importantes entre a partida de Jesus e o seu retorno. Sua volta será pessoal, mas ela não será vista por poucos, como na ascensão. Mas quando ele voltar “todo olho o verá” (Ap 1.7). Em vez de voltar sozinho (como partiu), milhões de santos – humanos e angelicais – formarão sua comitiva (Lc 9.26). Em vez de ser uma volta restrista a um local, será  “assim como o relâmpago, fuzilando, brilha de uma à outra extremidade do céu” (Lc 17.23-24).

ü Era fundamentalmente anormal ficarem a olhar para o céu, quando tinham sido comissionados para irem até aos confins da terra. A terra, e não o céu deveria ser o centro de sua preocupação. Eles tinham sido chamados para serem testemunhas, não vasculhadores do céu. A visão que eles deveriam cultivar não era a vertical, de nostalgia do céu onde Jesus foi recebido, mas, sim, a horizontal, de compaixão pelo mundo perdido que precisava dele.  A idéia é essa: Primeiro, Jesus voltou ao céu (ascensão). Segundo, veio o Espírito Santo (Pentecoste). Terceiro, a igreja sai para ser testemunha (missão). Quarto, Jesus voltará (Parusia).

3)    Eles oraram pela chegada do Espírito (Atos 1:12-14). Quatro pontos:
ü Em primeiro lugar, a volta (Atos 1.12). Jesus ascendeu ao céu do monte das Oliveiras, cerca de um quilometro e pouco da cidade de Jerusalém. Essa volta foi com grande júbilo.

ü Em segundo lugar, o local (Atos 1.13). Quando ali entraram, subiram para o cenáculo... O cenáculo foi o palco das promessas e o lugar da busca. Ali Jesus orou pelos discípulos e ali os discípulos oraram pelo derramamento do Espírito.

ü Em terceiro lugar, os integrantes (Atos 1.13b, 14b). o grupo reunido somava umas 120 pessoas (Atos 1.15). Ali estava o colégio apostólico, a familia de Jesus, outras mulheres e outros irmãos. Não havia entre eles nenhuma supremacia de Pedro ou Maria. Todos estavam unidos na mesma condição e com o mesmo propósito. Vale ressaltar que esta é a ultima referencia das Escrituras a Maria, mãe de Jesus.

ü Em quarto lugar, a oração (Atos 1.14ª). Todos estes perseveravam unânimes em oração. Aqueles 120 irmãos reunidos não estavam mais, como os apóstolos, trancados com medo dos judeus, porém aguardavam o revestimento de poder. O grupo estava unido na busca e manteve-se perseverante na oração até que todos foram revestidos de poder.


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