domingo, 15 de dezembro de 2013

A tentação de Jesus Mc 1:12-13.



A ocasião (Mc 1.12)

·                    Marcos inicia, dizendo: “E logo o Espírito o impeliu para o deserto” (1.12). Esta expressão “e logo” kai euthys é uma das grandes palavras de Marcos. Ele a usa 41 vezes. Não houve nenhum intervalo entre a glória do batismo de Cristo e a dureza da sua tentação. Jesus vai repentinamente do sorriso aprovador do Pai para as ciladas do maligno. Jesus saiu da água do batismo para o fogo da tentação. Jesus passou imediatamente da glória do batismo à prova da tentação. Consagração e provação foram os dois elementos da inauguração do ministério de Jesus.

·                    A plenitude do Espírito e o agrado do Pai não são garantias de uma vida fácil nem um salvo-conduto para a comodidade. Em vez da unção do Espírito e o agrado do Pai o levar para uma vida palaciana, O levou para o deserto da tentação. Muitas vezes, a vontade do Espírito de Deus nos conduzirá como conduziu a Jesus, para os lugares que nós precisamos ir, muito embora eles possam ser lugares perigosos.

O agente (Mc 1.12)
·                    O Espírito Santo foi quem impeliu Jesus a ir ao deserto para ser tentado. Podemos substituir a tradução “impeliu” ekbállei por: encheu-o com uma grande urgência, moveu-o. Esta palavra é extremamente forte. Ela foi usada onze vezes por Jesus para expelir os demônios (1.34,39).

·                    O mesmo Espírito que desceu sobre Jesus como uma pomba, agora o impele para o deserto, com o impulso de um leão, na força das asas de uma águia para ser tentado. O propósito dessa batalha espiritual era para que Jesus não apenas tivesse a natureza humana, mas também a experiência humana (Hb 2:17-18).

·                    É importante observar que a iniciativa da tentação foi do próprio Deus. Não é propriamente Satanás quem está atacando Jesus, é Jesus quem está invadindo o seu território. Jesus é quem está empurrando as portas do inferno. Jesus está atacando o dono da casa (3.27). O Reino de Deus não pode vir a não ser com confronto, pois não penetra em espaço sem dono.

·                    A tentação de Jesus não procedia de dentro dele, da sua mente, mas totalmente de fora, da insuflação de Satanás. Jesus em tudo foi semelhante a nós, exceto no pecado. Nós somos tentados por nossa cobiça (Tg 1.14). Quando Satanás sussurra em nossos ouvidos uma tentação, um desejo interior nos aguça a dar ouvido a essa tentação. A cobiça, dessa forma, nos atrai e seduz e nos leva a cair na tentação. Com Cristo não aconteceu assim, pois o incentivo interior ao mal, ou o desejo para cooperar com a voz tentadora, não existia.

O tentador (1.13)
· Ele é um anjo caído, um ser maligno, perverso, assassino, ladrão e mentiroso. Ele é a antiga serpente, o dragão vermelho, o leão que ruge, o destruidor, o deus deste século, o príncipe da potestade do ar, o espírito que atua nos filhos da desobediência. Esse ser maligno age sem trégua procurando por todos os meios, atingir a todas as pessoas, em todos os lugares, em todos os tempos. Seu grande alvo é perseguir o amado Filho de Deus e sua noiva, a Igreja. Sua obsessão é frustrar o soberano propósito de Deus.

· Esse arquiinimigo foi quem tentou Adão e Eva no jardim e os persuadiu a pecar. Foi ele quem tentou Jesus no deserto e foi derrotado. O primeiro Adão fracassou num jardim, o último Adão triunfou no deserto.

O conteúdo
·A primeira tentação apelou para as necessidades físicas. Jesus estava jejuando havia quarenta dias. Seu corpo estava debilitado e a fome lhe castigava. Satanás propôs a Jesus usar seu próprio poder para satisfazer sua necessidade, ou seja, fazer uma coisa boa, de um modo errado: mitigar a fome atendendo a voz do diabo. Satanás pôs em dúvida a bondade e a providência de Deus, abrindo-lhe outro caminho para atender suas necessidades imediatas. Ele tentou a Jesus no ponto fraco, a fome e no ponto forte, a consciência de sua filiação divina. Jesus triunfa sobre Satanás, citando as Escrituras e dizendo que não só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que procede da boca do Senhor (Dt 8.3).

·A segunda tentação apelou para o orgulho espiritual. Na primeira tentação, Satanás tentou induzir Jesus a desconfiar da providência de Deus; na segunda, tentou levá-lo à presunção, à confiança falsa e temerária na proteção divina. Satanás tentou induzir Jesus a pular do pináculo do templo para ser sustentado pelos anjos. Satanás torceu o sentido do texto bíblico e omitiu outra parte. Ele usou a Bíblia para tentar a Jesus.
·A terceira tentação apelou para a ambição e o amor ao poder. Satanás percebeu que Jesus estava focado no Reino de Deus. Então, lhe ofereceu um reino sem cruz, desde que Jesus o adorasse. Jesus rebateu-o fortemente, empunhando a adaga do Espírito, citando as Escrituras, dizendo que só Deus é digno de ser adorado.


O propósito
Em primeiro lugar, Jesus foi tentado para provar sua perfeita humanidade. Porque Jesus era perfeitamente homem, Ele foi realmente tentado. Suas tentações foram reais. Ele se tornou semelhante a nós em todas as coisas, exceto no pecado (Hb 2.17). Ele foi tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado (Hb 4.15). Jesus não foi tentado para revelar-nos a possibilidade de pecar, mas para provar-nos sua vitória sobre o diabo e o pecado.

Em segundo lugar, Jesus foi tentado para ser o nosso exemplo. Jesus nos socorre em nossas fraquezas porque conhece o que passamos e também porque venceu as mesmas tentações que nos assediam. Assim, Ele pode compadecer-se de nós.

Em terceiro lugar, Jesus foi tentado para derrotar o diabo. Lutamos contra um inimigo derrotado. Jesus já triunfou sobre ele. O evangelho de Marcos apresenta o rei vitorioso sobre a natureza, o diabo, as enfermidades e a morte. Porque Jesus venceu Satanás, podemos cantar enquanto lutamos.

As armas da vitória

·Em primeiro lugar, a oração. A razão da vitória de Jesus estava na sua intimidadse com o Pai. O que leva as pessoas à derrota não é a presença do inimigo, mas a ausência de Deus. Se estamos na presença do Pai, triunfamos sobre o inimigo. Jesus transformou o deserto da tentação em jardim da comunhão. Quando oramos, prevalecemos.

·Em segundo lugar, o jejum. Jesus iniciou o seu ministério terreno com quarenta dias de oração e jejum. Quem jejua tem saudade de Deus e nele se deleita. O jejum tira os nossos olhos das outras coisas e nos faz concentrar em Deus. O jejum transformou a aridez do deserto num jardim de oração. Jejum é fome de Deus, é desespero por Deus. O apóstolo Paulo diz que nós comemos e jejuamos para a glória de Deus (1Co 10.31). Charles Spurgeon diz que os tempos mais gloriosos vividos pela sua igreja em Londres, foram nos períodos que a igreja se dedicou aos períodos de oração e jejum.

·Em terceiro lugar, a Palavra de Deus. Jesus triunfou sobre o diabo com a espada do Espírito, a Palavra de Deus. Ele rebateu todas as tentações com a Palavra: Está escrito! Vivemos hoje o drama do analfabetismo bíblico. Crentes ignorantes são presas fáceis do diabo. Vivemos ainda o drama da substituição da Palavra pelo misticismo sincrético. Muitos crentes estão usando armas fabricadas pelo próprio homem, armas carnais e não aquelas que são poderosas em Deus para destruir fortalezas e anular sofismas (2Co 10.4).

CONCLUSÃO:
A vitória sobre a tentação
A vitória de Jesus sobre a tentação revela-nos alguns pontos importantes:
Em primeiro lugar, Jesus venceu a tentação por causa do seu caráter santo. O príncipe deste mundo veio, mas nada tinha com ele. Robert McCheyne diz que um homem piedoso é uma poderosa arma nas mãos de Deus.97

Em segundo lugar, Jesus venceu a tentação por uma resoluta e determinada resistência. A Palavra de Deus ensina: “Resisti ao diabo, e ele fugirá de vós” (Tg 4.7). Não podemos deixar brechas em nossa vida nem abrigar pecado em nosso coração, se quisermos vencer essa batalha espiritual.

Em terceiro lugar, Jesus venceu a tentação porque conhecia a Palavra de Deus. Satanás venceu Eva no jardim, porque torceu a Palavra de Deus e ela não se acautelou. Satanás citou a Bíblia para Jesus e novamente ele torceu o texto do Salmo 91, mas Jesus o retrucou e o venceu dando a verdadeira interpretação das Escrituras. O diabo é um mau exegeta. Ele torce a Palavra. A Palavra de Deus na boca do diabo é palavra do diabo e não Palavra de Deus.

Em quarto lugar, Jesus resistiu o diabo e foi servido pelos anjos. O ministério dos anjos é algo glorioso na vida de Jesus. Eles anunciaram o seu nascimento, serviram-no na sua tentação. Confortaram-no em sua agonia. Os anjos serviram a Jesus do seu nascimento à sua agonia, da sua agonia à sua ressurreição e ascensão.

Embora os evangelhos não mencionem o tipo de serviço que foi executado pelos anjos, podemos inferir que esse serviço diekónoun incluiria provisão para a nutrição do corpo.Adolf Pohl é mais enfático: “Servir aqui indica trazer alimento (1.31), não ajuda na luta. É tema para o fim do jejum. Ficamos, então, com o quadro do paraíso. Os anjos colocaram de lado as espadas desembainhadas de Gênesis 3.24 e trazem ao novo Adão as provisões do Pai Celestial”. J. R. Thompson diz que os anjos serviram uma mesa para Jesus no deserto. Eles devem ter sido os garçons de Jesus no deserto.

De acordo com Mateus 4.11, o serviço dos anjos foi prestado a Jesus depois que o diabo foi completamente derrotado. John Henry Burn diz que há conexão entre os três mundos: terra, céu e inferno estão mais próximos do que imaginamos. Devemos nos regozijar na onipotência do Pai, no socorro do Filho, na direção do Espírito e no ministério desses amigos invisíveis (Hb 1.14) a fim de banirmos todo medo dos nossos inimigos espirituais.

Concluindo, podemos tirar algumas lições práticas:
Em primeiro lugar, todo cristão deve esperar tempos de prova. Deus nos prova, Satanás nos tenta. Satanás busca nos destruir, Deus nos edificar.

Em segundo lugar, todo cristão deve estar atento aos diversos métodos de Satanás. Satanás usou diversos estratagemas para tentar Jesus. Devemos ficar atentos às ciladas do diabo. Ele conhece os nossos pontos vulneráveis bem como os nossos pontos fortes. Ele explora ambos.

Em terceiro lugar, todo cristão deve acautelar-se acerca da perseverança de Satanás. Ele tentou Jesus durante quarenta dias. Mesmo depois de derrotado em todas as investidas, voltou com outras armas em outras ocasiões.

Em quarto lugar, todo cristão precisa estar preparado para os dias de provas. Jesus estava cheio do Espírito e foi guiado pelo Espírito. Ele estava se deleitando no amor do Pai e tinha comunhão com o Pai pela oração e jejum, mas tudo isso não o isentou da tentação.

Em quinto lugar, todo cristão deve buscar em Jesus exemplo e socorro na hora das tentações. Jesus foi tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, por isso Ele pode nos entender e nos socorrer.


Em sexto lugar, todo cristão precisa compreender que Deus não nos permite sermos provados além das nossas forças. Temos uma gloriosa promessa em relação às tentações de toda sorte: “Não vos sobreveio tentação que não fosse humana; mas Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados além das vossas forças; pelo contrário, juntamente com a tentação, vos proverá livramento, de sorte que a possais suportar” (1Co 10.13).

Em sétimo lugar, todo cristão precisa resistir o diabo. Devemos, também, seguir a orientação de Jesus: “Vigiai e orai para que não entreis em tentação” (Mt 26.41). De semelhante modo, Tiago nos exorta: “Resisti ao diabo, e ele fugirá de vós” (Tg 4.7).









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