sexta-feira, 31 de maio de 2013

MANUAL PARA PEQUENOS GRUPOS.



“a igreja necessita de uma nova estrutura de vida congregacional que viabilize encontros genuínos entre pessoas, despidas de suas máscaras e desconfianças, num ambiente em que os relacionamentos interpessoais se dão no nível da verdadeira humanidade de Cristo”.



PEQUENOS GRUPOS: CRESCIMENTO DA IGREJA INTEGRALMENTE.


O QUE É PEQUENO GRUPO?

É uma modalidade  de grupo que congrega uma pequena quantidade de pessoas, tendo como motivação um objetivo comum a seus participantes. Além dessa busca de um objetivo comum, existem outras características que definem um grupo como tal, a saber: a interação entre os membros, o dinamismo específico de cada grupo e a comunhão.
Ou: “uma pequena quantidade de pessoas que se reúnem regularmente, em ambiente de comunhão, com propósitos diversos, como os de estudar a Palavra de Deus, compartilhar experiências de vida e orar, tendo como em vista a formação de verdadeiros seguidores de Jesus Cristo”.

O PEQUENO GRUPO  NO NOVO TESTAMENTO.

O pequeno grupo e Jesus.

Um pequeno grupo de doze apóstolos, discípulos, foi o meio que Jesus utilizou  para estender seu cuidado às multidões errantes e aflitas. Nas palavras de Robert Colleman, “sua única esperança consistia em obter homens imbuídos de sua vida, que fizessem isso por ele. Por essa razão, ele concentrou os seus esforços sobre aqueles que seriam os primeiros líderes de seu reino”.  Portanto, manifesta-se no pequeno grupo escolhido por Cristo sua principal estratégia evangelística: a formação de líderes que pudessem conduzir o povo para a consolidação do seu reino.

Jesus instruiu seus discípulos didaticamente e com se próprio exemplo. Assim, Jesus tornou-se “o conteúdo, o mestre, o ambiente e a verdade visível na formação do pequeno grupo  que elegera”. O pequeno grupo de discípulos era levado a aprender a vida que seu mestre vivia, para só então, com o exemplo de suas vidas, formarem outros discípulos ( Mt 28:19-20).

Várias vezes, Jesus instruiu, particularmente, os doze apóstolos em casas (Mc 4:10-20; 7:17; 9:28, 33-37; 10.10-12; 14.1-14). Também ensinou e ministrou na casa de fariseus e de amigos, em contexto de pequeno grupo (Mc 14:3-9; Lc 7:36-50; 10:38-42; 14.1-14). Além disso, ensinou em casa de pecadores e publicanos, enquanto comia com eles (Mt 8:14; Mc 1:29-31; Lc 15.1-31; 19.5-10).

O Senhor Jesus estava ensinando em uma casa, quando lhe trouxeram um paralítico para ser curado (Mc 2.1-12). Em certa ocasião, quando se encontrava na casa de Pedro, ele curou a sogra dele (Mc 1:29-31). Em outro momento, na casa de Jairo, Jesus ressuscitou sua filha, na presença de um pequeno grupo de pessoas – Pedro, Tiago, João e os pais da menina (Mc 5:37-43). 

Jesus usou as casas como centros de ensino, discipulado, evangelismo, cura, intimidade e serviço. E ensinou os discípulos, os doze e os setenta (e nós) a fazerem o mesmo.

O pequeno grupo na igreja primitiva.

A narrativa do evangelista Lucas sobre a vida dos primeiros cristãos, registradas no Livro de Atos, revela o quanto as casas foram úteis para a consolidação e expansão de sua fé. Os lares de cristãos eram usados para reuniões de oração, para ocasiões de comunhão, para o partir do pão – Santa Ceia -, para celebração e ensino, evangelização, debates, bem como outras finalidades que contribuíam para a consolidação do cristianismo. 

Analisando os relatos sobre a igreja primitiva, percebemos que existiam certos objetivos que norteavam a constituição e o funcionamento de seus pequenos grupos. Um dos elementos indispensáveis nas reuniões caseiras dos primeiros cristãos era a oração. Como exemplo deste fato, temos o caso da libertação de Pedro da prisão mediante a oração de um pequeno grupo de fiéis, que se encontrava para interceder por ele na casa de Maria – mãe de João, chamado também de Marcos (Atos 12.12-17). Havia também os períodos de oração doméstica em que os discípulos se encontravam, após a ascensão de Cristo e no dia de Pentecostes (Atos 1: 12-14; 2.1-4).

Foi nos lares, em pequenos grupos, que os primeiros cristãos vivenciaram, enfaticamente, uma genuína comunhão: “e perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações. (...) todos os que creram estavam juntos, e tinham tudo em comum (...) Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa, e tomavam as suas refeições com alegria e singela de coração” (Atos 2:42,44,46). 

Na igreja primitiva, também o ensino sobre o reino de Deus aconteceu com maior ênfase em grupos pequenos, no contexto dos lares. Vejamos os seguintes exemplos: (1) Pedro e João, mesmo tendo sido presos e açoitados, não cessaram de pregar diariamente no templo e de casa em casa sobre  as boas novas de salvação (Atos 5:42); (2) Paulo estava ensinando no cenáculo de uma casa, em Troâde, quando na ocasião ressuscitou Êutico, que caíra de uma janela do terceiro andar da casa (Atos 20:7-12); (3) ao se despedir dos presbíteros de Èfeso, Paulo lembrou-lhes de os haver ensinado publicamente e de casa em casa (Atos 20:20); (4) também Paulo, quando preso em uma casa em Roma, ali debateu sobre a salvação em Cristo, tendo como convidados líderes judeus (Atos 28:16).

São vários os exemplos de pequenos grupos em lares com objetivos evangelísticos. A casa de Jason, em Tessalônica (Atos 17:5), e a de Ticio Justo, que se localiza em frente a sinagoga, em Corinto (Atos 18:7) foram utilizadas com esse fim. Por fim, Lucas revela que as casas dos primeiros cristãos foram muitas vezes o lugar onde aconteceram curas milagrosas (Atos 9:36-41) e batismos (Atos 9:17-19; 10:47-48; 16.30-33).

O PAPEL DO PEQUENO GRUPO PARA A FUNCIONALIDADE DA IGREJA.

            “a igreja necessita de uma nova estrutura de vida congregacional que viabilize encontros genuínos entre pessoas, despidas de suas máscaras e desconfianças, num ambiente em que os relacionamentos interpessoais se dão no nível da verdadeira humanidade de Cristo”.

A importância do pequeno grupo para a igreja local.

            A igreja atual contempla quatro conceitos centrais: o templo, o sábado cristão, o culto e o clero: “na prática, (1) ser igreja é ter terreno, ter prédio, estar sediado no que chamamos a casa de Deus, o templo. O que fazemos  por Deus fazemos lá. (2) ser igreja é guardar o domingo, o dia em que se centraliza nosso culto e serviço ao Senhor... (3) ser igreja é ter culto, ápice espiritual dos crentes e palco de Deus para o incrédulo. É no culto que encontramos Deus. É no culto que as pessoas são convertidas. E (4) ser igreja é ter clero que nos leva a Deus e traz Deus a nós. O pastor é o homem de Deus, profeta e intercessor do povo”.

            Esses conceitos são heranças do Antigo Testamento. A maneira de servir e cultuar a Deus no Antigo Testamento era centralizador: racialmente, nos judeus; geograficamente, em Israel, Jerusalém, o templo, o Santo dos Santos; temporalmente, no sábado e em certas festas religiosas; e, hierarquicamente, nos sacerdotes.
           
Contudo, o termo igreja provém do grego ecclesia, de ek kaleo, “chamar”, “chamar para fora”, “convocar”. No novo testamento, o termo assume várias acepções:

            Igreja local – círculo de crentes de uma localidade definida, independentemente do fato de esses cristãos estarem reunidos para culto ou não (Atos 5: 11; 11:26; 1 Co 11:18; 14.19,28,35; 16.1, etc);

            Igreja doméstica – a palavra indica o que se pode denominar ekklesia doméstica, igreja na casa de alguém (Rm 16:23; 1 Co 16:19; Cl 4:15; Fm 2);

            Igreja como totalidade do corpo – a palavra denota a totalidade do corpo em todo o mundo, daqueles que professam exteriormente a Cristo e se organizam para fins de culto, sob a direção de oficiais designados (1 Co 10:32; 11:22; 12:28; Ef 4:11-16);

            Igreja Universal – a palavra se refere a todo o corpo de fiéis, quer no céu quer na terra, que se uniram ou que se unirão a Cristo como seu salvador (Ef 1.22; 3:10,21; 5.23-25,27,32; Cl 1.18,24).

            Neste sentido, a igreja é vista como um organismo espiritual, composto de todos os regenerados através da fé em Cristo. Logo, podemos afirmar que a essência da igreja repousa no poder do evangelho de Jesus Cristo e, conseqüentemente, na atuação do Espírito Santo na vida dos regenerados. Desse modo, a igreja tem como meta a indicação do caminho da salvação, a advertência dos ímpios sobre a condenação que lhes sobrevirá, a consolação dos santos através das promessas de salvação, bem como o fortalecimento e encorajamento dos fracos e desanimados.

            A introdução de pequenos grupos numa estrutura eclesiástica pode ser uma forma de romper com o absolutismo dos modelos tradicionais de igreja. Além de possibilitar à igreja sair de seu confinamento nos prédios para reunir-se nos lares, ou em outros lugares, lhe propicia experimentar de forma mais intensa um dos fundamentos mais básicos do evangelho – a comunhão dos cristãos.  Nos pequenos grupos dar-se-á encontros genuínos entre pessoas, despidas de suas mascaras e desconfianças.
           
David Kornfield e Gemir Araújo identificam no pequeno grupo vários elementos fortalecedores e facilitadores de comunhão: maior intimidade, que gera e fortalece amizades; maior flexibilidade, que propicia a adequação do grupo a cada realidade; maior integração social, que contribui para a formação de uma relação familiar dentro de uma sociedade onde a família está sucumbindo; maior mobilidade, que possibilita a presença da igreja na comunidade; e maior sensibilidade, que evidencia à igreja os problemas que ocorrem na comunidade, possibilitando sua intervenção nestes.
           
Howard Snyder,  comentou: “tenho visto proporcionalmente mais vidas genuinamente convertidas em e por meio de reuniões de grupos pequenos para oração, estudo bíblico e comunhão de vida do que em organizações e atividades convencionais da igreja institucional”.

Além disso, esse tipo de grupo atua como elo entre os não-cristãos e a igreja, pois aqueles que dificilmente atenderiam a um convite para participar de um culto no templo, provavelmente, estariam mais abertos a um convite para reunir-se em casa de vizinhos ou amigos.

O estudo bíblico em ambiente de pequeno grupo.
           
Diferentemente de uma pregação-ensino para um grande grupo, o estudo bíblico em contexto de pequeno grupo tem por objetivo não somente compartilhar a verdade das Escrituras,  mas também estimular a troca de experiências e abordar questões relevantes a seus integrantes.
           
Tal método proporciona oportunidades para discussões práticas dos temas abordados nos encontros. Para tanto, a tarefa do líder no estudo bíblico é induzir os integrantes do grupo a manifestarem suas idéias sobre o que dizem as escrituras.
            O ensino da Palavra de Deus em ambiente de pequeno grupo tem de  penetrar as situações diárias e não ser mero apêndice de obrigações religiosas. Nesse sentido, a particularização das Escrituras nos pequenos grupos, ou seja, a aplicação da Palavra à situação de vida especifica de cada pessoa, é facilitada à medida que o estreitamento dos laços interpessoais possibilita o melhor conhecimento das necessidades individuais do grupo.
           
O estudo bíblico particularizado no pequeno grupo é de suma importancia, uma vez que somente através da apreensão e conseqüente prática da Palavra de Deus se pode formar verdadeiros discípulos de Cristo. Pois o discipulado consiste em compartilhar a vida, envolvendo-se num relacionamento pessoal, à luz da Palavra de Deus, para que o Espírito Santo possa transformar o estilo de vida dos discípulos. Tal processo se evidenciava no comissionamento de Jesus aos seus discípulos, na qual ele os instruiu a ensinar a guardar todas as coisas que lhe tinha ordenado (Mt 28:20).

O pequeno grupo como estratégia para a obra missionária.

O que é missão? Alguns missiólogos distinguem os termos missão e missões. Assim, missão diz respeito à atividade do Pai, do Filho e do Espírito Santo no mundo para a glorificação do Deus Trino (missio Dei); enquanto missões (missio eclesiae) refere-se ao engajamento da igreja na missão de Deus. Logo, a missio eclesiae deve existir em função da missio Dei, ou seja,  para alcançar seu objetivo maior, a glorificação de Deus, igreja deve viabilizar a evangelização, o discipulado, a implantação de novas igrejas , os serviços sociais, educativos e culturais, entre outros.

            Somente a igreja fracionada em pequenos grupos pode experimentar a plenitude do que o Novo Testamento chama de Ekklesia. Enquanto mutualidade entre os cristãos, não há igreja, há evento. Enquanto não há multiplicidade de ministérios e serviços a partir da comunidade cristã, não há igreja em missão, há igreja em reunião.

O FUNCIONAMENTO DO PEQUENO GRUPO

            Ao se constituir um pequeno grupo, uma das questões a se pensar é quanto à definição de seus objetivos. Um pequeno grupo que ajuda sua igreja a crescer integralmente deve ter como meta tanto a evangelização como o discipulado, tendo em vista que a própria ação  de discipular pressupõe a de evangelizar e que o processo de evangelização se dá de forma mais eficiente mediante o aperfeiçoamento da vida cristã.

            A composição desse modelo de grupo não deve exceder o número ideal de quinze pessoas, uma vez que um número maior de componentes dificulta sua dinâmica interna. Assim, ao ultrapassar o numero de quinze membros, aconselha-se a divisão do grupo, formando assim um novo grupo liderado pelo co-líder do grupo de origem. É interessante que, dos quinze membros, inicialmente, no máximo sete sejam crentes, com vistas a uma maior abertura à participação de não-crentes.

            As reuniões do grupo deve ter duração média de uma hora. Os encontros não devem ser muito longos, sob pena de ser tornarem enfadonhos, mas necessitam de tempo suficiente para um bom termo atividades de forma eficaz. Sugere-se que a reunião seja dividida em cinco momentos, os quais abordaremos a seguir.

A dinâmica de apresentação  é o primeiro momento e tem o objetivo de quebrar o gelo, proporcionando maior descontração e envolvimento dos membros nas demais etapas do encontro. É importante que todos os participantes se sentem em círculo. O líder da reunião deve orientá-los a se apresentarem, falando o nome e o que gosta de fazer, por exemplo.

A seguir vem o período de louvor e/ou adoração.  Para que ele torna-se mais participativo, recomendamos o uso de instrumentos musicais (preferencialmente violão) e apresentação das letras dos cânticos.

O estudo bíblico, momento central, deve ser de natureza indutiva (perguntas) e abordar temas livres, de acordo com a necessidade do participante. O método indutivo leva o participante a descobrir por si mesmo, através de perguntas, o significado do texto bíblico em estudo e a relacionar suas descobertas com as situações particulares da vida cotidiana.  Assim, o líder do pequeno grupo não deve revelar a interpretação do texto em estudo previamente, mas conduzir os participantes à descoberta do sentido do texto.

As perguntas não podem ser elaboradas aleatoriamente. O líder precisa saber onde quer chegar com cada pergunta, lembrando que elas são úteis para conduzir os participantes do estudo à interpretação textual, além de contribuir para a expressão de suas idéias e sentimentos.

            Assim, por exemplo, a finalidade da primeira pergunta é abrir discussão sobre o assunto em questão. É quebrar o gelo, motivando os componentes a participarem do estudo. Objetiva levá-los a expressar seu conhecimento sobre o assunto.

            O objetivo da segunda pergunta é conduzir os participantes ao texto. Ela atua como elo entre o conhecimento que eles tem sobre o assunto e o posicionamento bíblico sobre a questão. Procura mostrar aos participantes que a Bíblia trata de assuntos que envolvem o cotidiano deles.

            A terceira pergunta é de natureza conclusiva. Ela conduz o participante ao clímax da discussão, preparando-o para conclusão do assunto. Leva-o a perceber a presença de Deus na vida diária do homem, o que ele quer fazer pelo ser humano.

            O quarto momento, o compartilhamento de bênçãos e necessidades pessoais, concede espaço aos participantes para compartilhar bênçãos alcançadas como fruto das orações do grupo e apresentar suas necessidades pessoais.

            A oração de intercessão ou agradecimento constitui o último momento, reservado para se interceder a Deus em favor das necessidades apresentadas e/ou agradecer pelas bênçãos alcançadas. O líder do grupo pode fazer a oração ou indicar os participantes que possam fazê-lo. Geralmente, os participantes ficam de pé e de mãos dadas.



Exemplo 
Texto: João 21.1-14.
Tema: Os resultados da obediência.
Perguntas:
1)      O que faz voce obedecer à ordem de alguém?

2)      O que levou os discípulos a obedecerem à ordem de Jesus?

3)      Quais os resultados da obediência dos discípulos?


Bibliografia: Pequenos grupos: para a igreja crescer integralmente, Cruz Valberto da e Ramos Fabiana – editora ultimato, primeira edição, dezembro de 2007.



            

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