sexta-feira, 13 de julho de 2012


Arranca     Arrancando Baal das nossas entranhas!
Lá em casa é comum encontrar um texto na porta da geladeira. Geralmente é algo que algum de nós escreveu e gostaria que os outros dessem uma olhada para se pensar e conversar.
Outro dia “ruminamos” um texto em que o Marcos Davi, nosso terceiro filho, convida um grupo de pessoas para acompanhá-lo num desses processos de reflexão. Hoje, formado em artes cênicas, ele dirige o Grupo IDE, da nossa igreja, que tem, como ele mesmo diz, “a idéia de criar um teatro com qualidade artística e profundidade teológica”. Agora ele quer escrever e dirigir uma peça a partir da vida dos profetas.
É melhor deixar ele falar:
Venho tentando dar forma a um projeto sobre os profetas. Algumas questões estavam claras. Primeiro, eu queria falar sobre a pessoa do profeta, muito mais do que sobre suas profecias, mas sem fazer uma peça histórica. Como é esse negócio de receber de Deus a missão de falar coisas que vêm do coração dele, e que vão contra um sistema instituído? O que isso significou para Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel? Segundo, para falar dos profetas hoje, é preciso falar sobre hoje. Quais são as nossas idolatrias e doenças? O que Deus teria para nos dizer hoje?

Certo dia um amigo trouxe para nossa célula uma carta intitulada Estou cansado!2, do Ricardo Gondim. No dia seguinte levei-a para o ensaio do grupo IDE. Então algumas coisas começaram a se esclarecer. As doenças da igreja são as doenças do mundo. Não falo de mundo num sentido maniqueísta (igreja versus mundo), mas como toda a realidade na qual vivemos.
 Baal, um deus contra o qual os profetas lutavam, não era o problema do povo de Israel ou um costume do mundo que estava invadindo o povo escolhido. Baal era a doença do mundo, que Israel não tinha força para rejeitar. É preciso, pois, falar de Baal não como uma espécie de moralismo purista para a igreja, mas porque Baal machuca o mundo — e a igreja quando ela não tem humildade para se voltar de novo a Deus para que ele a livre sempre de novo do mal.

Durante um encontro nacional de jovens, ouvi Marcelo Gualberto compartilhar da sua crise com a igreja em nosso país. Ele falou de uma geração que surgiu na década de 70 e que se colocou diante da igreja e que lutou pelo que achava essencial que ela vivesse. Contou como esse movimento trouxe bênçãos para a igreja, mas também como alguns resultados desse movimento estão se tornando, hoje, as doenças da igreja evangélica no Brasil. Segundo Marcelo, desde então não surgiu outro movimento que se colocasse como liderança para a igreja, lutando pelo que acreditasse. Ele falou sobre os grandes males do louvor individualista e da validação individualista dos processos espirituais. Ou seja, o culto foi bom se eu me senti tocado; o louvor foi bom se me emocionei; minha igreja é boa se eu me sinto bem.

Depois da palestra, nos pequenos grupos, o que ouvi das pessoas me chocou: ‘A partir de hoje vou louvar diferente, vou ouvir a Palavra diferente, vou mudar minha atitude...’. Era eu, eu, eu! Não se cura ego com ego! Pareceu-me que, depois daquele desabafo, o que deveríamos nos perguntar era: ‘O que a nossa geração pode fazer pela igreja evangélica hoje?’.

Mas nesse dia ficou claro para mim que a carta do Gondim não era uma expressão isolada e que existe hoje, entre nós, um movimento de pessoas que estão cansadas. Cansadas de ver Baal na igreja evangélica brasileira. Isso foi muito significativo para mim, pois uma importante pergunta que eu tinha era como trabalhar a dimensão profética da arte sem cair no pecado do orgulho, do ego, sem achar que eu, por ser artista, tenho a resposta para os problemas da igreja.
 Ao mesmo tempo, como não se deixar enganar por uma visão romântica do profeta, aquele em quem “baixa um espírito” e ele começa a falar palavras que não conhece? Afinal, estou falando de homens que começavam seus textos com: ‘Assim diz o Senhor’! É claro que a primeira resposta é: precisamos agir debaixo de muita oração, leitura responsável da Bíblia e temor a Deus. Mas de repente percebi a possibilidade de inserir esse trabalho numa linha, num movimento de pessoas sérias e dedicadas a Deus, e ouvir o que elas pensam que Deus tem a dizer à igreja evangélica brasileira hoje.”

O texto do Marcos era um convite para algumas pessoas acompanharem o grupo IDE no esforço de transformar essa reflexão numa peça de teatro. Mas o objetivo maior, expresso na pergunta: Quais são as nossas idolatrias e doenças hoje, o Baal do mundo que não temos força para rejeitar?, era discernir o que Deus quer dizer a esta geração.

Essa pergunta deveria marcar todas as gerações. Todas as nossas igrejas precisam ser confrontadas com essa voz profética que denuncia a idolatria, o consumo religioso e o insaciável apetite pelo bem-estar (uma idolatria do ego que só busca uma religiosidade que nos satisfaça).

Os nossos altares de ídolos estão lá fora com suas sedutoras exposições ao deus do consumo insaciável. Mas também estão perto de nós, presentes nas nossas “ofertas de sacrifícios” em forma de louvores desencarnados e expressões religiosas de mero consumo espiritualizante. Nas orações que só buscam o bem-estar pessoal e o sucesso econômico. Nas pregações que nos alisam o ego sem confrontar-nos com nosso pecado pessoal e coletivo e sem denunciar a idolatria e a injustiça que estão dentro e fora dos nossos templos. Nas “palavras proféticas” que fazem o nosso eu narcisista chorar de emoção, mas não de arrependimento.

Como na história de Israel, esses altares a Baal precisam ser derrubados. Precisamos erguer novos altares que representem o que Deus espera de nós: “Ele mostrou a você, ó homem, o que é bom e o que o Senhor exige: pratique a justiça, ame a fidelidade e ande humildemente com o seu Deus” (Mq 6.8). Revista Ultimato. 

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